segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Leitor de colunas de jornais em tempos variados e com minhas omissões involuntárias




                                                     Cunha e Silva Filho


            As minhas  lembranças de leitor de colunas de autores, regionais ou  nacionais,  que estimava com certeza  não  foram  as mesmas  de outras  leitores da minha geração. No meu caso particular,  remontam  aos jornais de Teresina  a partir  principalmente na década de 1960.
           Na realidade não me  ligava muito  a leituras de jornais, mas a de livros, revistas em quadrinhos e até fotonovelas.No entanto,   me lembro de  que  o primeiro  colunista  que  tive a honra  de  ler fora o meu próprio  pai. Eu tinha uns   catorze anos e lia os seus artigos  estampados em O Dia, de Mundico Santilho, o diretor e proprietário que, segundo  meu pai,   estivera  uns tempos na Alemanha. Santilho   tinha um defeito  numa das mãos, ou em ambas,  não me  recordo  bem. Na mocidade,  dizia-se que era um jovem de boa  aparência.
          Gordo, carequinha e, embora  me parecesse sério,  era pessoa  simpática.Muitas vezes,  ao buscar  as provas  de um artigo de papai,  na  sala  de  impressão  do  jornal,  ele  se  mostrava  sem camisa, provavelmente devido ao calorão  teresinense.Meu pai  me dizia  que ele ainda falava um pouco  o alemão. Sempre  que possível,  meu pai  me mandava  lá, ou para buscar a prova  do artigo, ou  pra  devolvê-la  ao jornal.
          Quem escreveu  muito também  nesse jornal  foi  o meu  antigo  professor de literatura,  o  A. Tito Filho, famoso por suas  boas aulas  que cativavam  os  estudantes. Anos depois,  com  ele meu  pai travou  uma breve mas   célebre e acirrada  polêmica. Creio que saiu  vencedor  meu pai,  espírito inclinado  às refregas  políticas e dotado  de uma veia satírica   incomum. Ambos,  todavia,  poucos anos depois, creio,  reataram  a amizade.          
           Mais tarde,  li colunistas  da página  de Literatura do jornal, se não incorro em erro,  Folha da Manhã. Neste jornal e em outros colaborei  com  artigos juvenis. Li, então,   artigos  de  escritores  e  intelectuais   de renome,  como  Celso Barros Coelho.  Depois que vim  para o Rio de Janeiro,  estimulando sempre por meu  pai,  retomei  a  escrita de artigos sobre literatura e publiquei umas duas ou três traduções  do inglês e do  francês. Naquela  época,  gostava de ler a revista O Cruzeiro e três colunistas  me prendiam a atenção: Rachel   de Queiroz, na coluna chamada, se não  me falha a memória,   “A Última Página,”  Gilberto Freyre e Austregésilo de Athayde, com a sua coluna  Vana Verba. Em Teresina, ainda  li  uns poucos   artigos de Tristão de Athayde. Da mesma sorte,   me deliciava com  as histórias do cartunista   Péricles de título   “Os Amigo da Onça.”
          Na verdade,  a minha maior constância  de leituras se deu mais  tarde, após a minha chegada ao Rio, em 1964 – data, para mim,   que abre uma  nova fase de minha vida em todos os sentidos. Daí em diante,  comecei a ler  colunistas  do Jornal do Brasil,  do Correio da Manhã, do  Diário de Notícias.  Mais tarde, da Última Hora, do Globo, Tribuna da Imprensa.
        No Jornal do Brasil,  tornei-me assíduo da coluna de  Tristão de Athayde, por seus  temas  políticos enfocando o período difícil da Ditadura Militar, de temas filosóficos e sobretudo  literários.Deste jornal  me  fascinaram  também os artigos de  Moacyr Werneck de Castro; mais tarde,  as  crônicas  do poeta Carlos Drummond de Andrade,de José Guilherme Merquior (já na  época do  caderno Ideias) e, nos últimos dias do jornal,  os  duríssimos artigos de Fausto Wolff, sobretudo  do lamentável “Escândalo do Mensalão,”    Durante muito tempo,  lia também  os artigos bem  feitos do arcebispo Dom Eugênio Sales. Do Globo,  estimava  ler  Otto Lara  Resende,  com as suas  crônicas   cheias  de variações temáticas, assim também li   por muito tempo as de  Fernando Sabino; mais tarde,  estive lendo, por algum tempo,  o ficcionista  João Ubaldo.
          Do Correio da Manhã, os  artigos de Carlos Heitor Cony, que me  agradavam muito  mais do  que os que vêm escrevendo, nos dias de hoje,   na Folha de São Paulo.    Da Última   Hora,  lia com  prazer  uma colunista  muito  polêmica,   Sandra  Cavalcanti, que escrevia  com perfeição,  o crítico literário e historiador Afrânio Coutinho (sobretudo  tratando de teoria  literária,  crítica  literária e assuntos mais gerais). Costumava ler, na Tribuna  da Imprensa,  os a longos e incisivos   artigos de  Hélio Fernandes. Anos mais tarde,  lia  com   muito proveito  a coluna  de José Guilherme  Merquior.
       No Rio de Janeiro, por muito tempo,  lia o  prestigioso   Jornal de Letras,  dos  irmãos  Condé. Foi, então,  que passei a admirar  os  bons   ensaios de Assis Brasil,  publicados   mensalmente, na sua coluna sobre  literatura brasileira que se ocupava de autores  brasileiros novos e mais  velhos  em ensaios  longos, publicados em sequência,     bem como  autores  de grande  relevo que lá colaboravam. Esse mensário faz falta  hoje em dia. O que o substituiu, com o mesmo nome,  em termos  de   qualidade,   está muito longe de atingir  o  alto nível  do antigo  Jornal de Letras.
     Atualmente,  leio dois  jornais,  a Folha de São Paulo, aos domingos  e o  Globo (aos sábados), principalmente  porque  são  jornais  que,  no Rio, felizmente, ainda  oferecem, no Rio,  páginas  falando de literatura  e cultura em geral. Como   não alardeio que  leio vários jornais( ?)  completo  leituras   pela  internet. De colunistas do primeiro,  li muito  Elio Guaspari,  Jânio Freitas, Carlos  Heitor Cony, Marcelo  Glazer, e Ferrira Gullar; do segundo,  leio, sobre  política,  Merval  Pereira, toda a página de Opinião,  as crônicas de Zuenir Ventura, os bons artigos de Cristóvam Buarque, de Ségio  Magalhães sobre arquitetura e urbanismo, as colunas de José Miguel  Wisnik e de Arnaldo  Bloch. Obviamente,  leio outros colunistas, mas  sem  uma frequência  maior.  Omissões  certamente  as fiz. Sei  que  o leitor  de colunas, eu, pelo menos,  às vezes  deixa a  desejar,  ou seja,  deveria  ser mais   assíduo  com  muita gente que merece  nosso  tempo   de leitura  de um  jornal.O ideal do  bom leitor, de jornal ou  não,  é ler tudo, sem preconceitos, porquanto  é na variação  das leituras  que  se vai sedimentando  a cultura  do  indivíduo.Todavia,  entre o ideal  da leitura  intensiva  e extensiva e o leitor há algumas barreiras:  tempo,  outras  obrigações,  saúde,  vista  boa e paciência.


Nenhum comentário:

Postar um comentário