terça-feira, 30 de julho de 2013

BRAZIL'S OVERVIEW CORNER: Wars that have proven useless


 [This article is followed by a translation into Portuguese after this text]

                                                By Cunha e Silva Filho

             The American  presence in Iraq, even  with the withdrawal of the majority  of military  force still  deployed in the country,  has not  prevented  the  continuous  intolerance  among  rival factions, i.e., among  Xiitas and Sunitas.
             The extremists   go on with  their attacks, without truce, with neither side  wishing a dialog, word which, as it seems,  is not to be found in the dictionary  of civil war tragedies   that leave behind  more  dead bodies, car-bombs,  bloodshed and losses  of lives and destruction in  cities and  towns. It all   points at a lack of control on the part of  country living  in fratricidal  conflicts, whether in Egypt, in Syria,  in  Iraq or other regions. It even looks as if  we do not  possess any more  international  peace organisms that would   have the  main  purpose  to  reduce  conflicts among nations  which destroy  one  another  in order to take power  by means  of  bloody  religiosity  and  by other unknown   arguments. I wonder if we have come to a degree in which  struggling nations are doomed to  destruction  without having  anyone  to  help them  concretely solve their problems and lead them  towards  achieving  peace.
               Governments have been   ravaged,   their leaders dead.  New  leaders  have  been  taken over by elections or by coups who, in turn,  have not got to maintain   the  integrity  of their  people or their unity  as a nation.  This is  a stage  of Mankind History which is not at all  the best  one  to please  nations  and  peoples. Far otherwise.

             At this gloomy moment for the human being universally  taken,  it would be  necessary to  draw water out of stone, never say die, never fall into   lassitude and call together all good hearted-men of the Planet so that they may have their voices  heard and taken into account by those who  are daily killing one another led by  extremisms,  partisanship, intolerance, fanaticism -- these great evil human  creature is sometimes  unfortunately  endowed with.
         The History of the peoples do not have so far been serviceable   as a lesson to all nations in   conflict,   inasmuch   as the atrocities of civil wars go on among several  peoples. How can one  build a city, a state, a country in a solid ground and with  lasting  peace if  guerillas, wars, battles, terrorism – this  last one the most  inhuman  tool of cowardice  that  in our days   human kind  has ever give as an   example!
        To be quite frank,   international security organisms, like UN, NATO and others,   little success   have actually  obtained in the dialogs and negotiations  made with   countries’ delegations in  warfare. I can only see a way signaling some hope: a spiritual dimension without fanaticism: a balance with  transcendental force that may turn fanaticism, intolerance and terrorism into attitudes taken by man   which, without forgetting the logical limits of human condition, manage to  lead peoples towards  a frank dialog, open-minded  to mutual  concessions, by recognizing differences  and  diversified world views. I understand that, by  compromising  a part of  their opposing views, there shall be a way which may be opened to a universal understanding. If man, for example,  is able to learn a foreign  language,   like English,  Spanish or other widely  spoken language, and get his meaning across other  peoples,  why couldn’t he do so as far as peace  goals are concerned among nations and children of the  same country?
               There exists a kind of Babel Tower that is still very active in our contemporary time: the diversity  of voices and political, ideological and religious views. However, this confusion of  languages, here metaphorically  considered,   that troubles the coming of peace  could well be a sort of solution, the  decisive tool of  a  universal human language, i.e., the use of  a dialog, as I suggested some lines  behind, but an unbiased use of communication, without subterfuges, without an attempt to  hide  unwanted  intentions, a dialog in which would be no  room for  one  of the biggest evils of life: hypocrisy.  Indeed, this dialog would be a way out  towards sharing understanding others without hegemonic connotations of whatever nature,  without submissions and  opportunism. That would not  be a Utopian ideal  of a young man, because this columnist is no longer a youngtster, but  just someone whose greatest aspiration is to see the world, the nations, the Planet in a time ruled by lasting  peace.

 Guerras  inúteis

                                                 Cunha e Silva Filho


                           A presença  americana no Iraque, mesmo com  o afastamento  da maior parte da força militar lá instalada,  não tem  impedido a continuidade  da intolerância entre facções  opostas, ou seja,  entre  xiitas e sunitas.
Os extremistas  persistem, não dão trégua,  nenhum dos dois lados  deseja o diálogo,  palavra que, ao que tudo indica,  não se encontra no dicionário  da  tragédia da guerra civil que  se alastra com mais mortes, carros-bombas,  derramamento de sangue e perdas de vidas  com destruição  das cidades. Tudo  aponta para  um descontrole  de países  em  conflitos   fratricidas, seja no Egito,  na Síria, no Iraque e em  outros  regiões Até parece que não mais existem organismos  de paz  internacionais que serviriam   para  dirimir  conflitos entre  nações  que se matam por tomada de poder,  por religiões  sangrentas,  por outras razões  desconhecidas. Será que chegamos a um ponto em que  as nações  tendem a se destroçar sem que ninguém  faça algo  concreto em direção  à paz?
Governos  foram  destruídos,  mortos  seus líderes, os quais foram substituídos  por outros que,  por sua vez,  não  têm  contentado  a unidades dos povos.   É uma fase  da História da Humanidade  nada alvissareira. Ao contrário.
Neste momento  triste para o ser humano  universal é preciso  extrair água  da pedra, não desanimar,  não cair  na indiferença e conclamar  todos os homens de bem  do Planeta  a fim de que possam  ter sua voz  ouvida e  tomada em consideração  por  aqueles que diariamente  estão se matando levados  por extremismos,  facciosismos,  intolerância,  fanatismo  esses grandes  males  de que a criatura humana  mostra-se  por vezes  dotada.
A História dos povos  não tem, até agora,  servido de lição às nações  em conflito, já que  as atrocidades da guerra  civil  prossegue  entre  vários  povos. Como se poderá construir  uma  cidade, um estado, um país de forma sólida e de paz duradoura  se  as guerrilhas,  as guerras,  os combates,   o terrorismo – este o mais desumano  instrumento de   covardia  de que deu exemplo o ser humano em tempos atuais.
Ora, se os organismos de segurança mundial, como a ONU, a OTAN  e outros,  pouco  têm   atualmente   obtido sucessos  no diálogo e na  negociação  entre  conflagrações  de países,  só vejo  um caminho  com alguma  esperança: a dimensão  espiritual  sem  fanatismos:  um equilíbrio   com força  transcendental  que  possa  transformar  o fanatismo,  a intolerância e o terrorismo  em   atitudes   tomadas pelo  homem  que, sem abdicar  dos limites  lógicos   da condição humana,  consigam  levar  os povos  ao diálogo franco e aberto às concessões mútuas, reconhecendo  diferenças  e  visões  díspares. Contudo, entendo que, cedendo  uma parte  de suas  divergências,  há de se encontrar um caminho   que  tenha   uma abertura ao entendimento   universal. Se o homem é capaz de aprender e se comunicar  num  língua, como  o inglês ou o espanhol, ou outra língua  bastante falada  por habitantes   do Planeta,  por que não o poderia fazer   no tocante  à consecução da paz  entre as nações e entre os filhos de uma mesma nação?
Existe uma espécie de Torre  de Babel  que ainda está muito atuante na contemporaneidade: a diversidade de vozes e  visões  políticas, ideológicas  e religiosas. Porém,  essa confusão  de vozes, aqui considerada metaforicamente,   que atrapalha  a chegada  da paz  pode bem ter  como  forma de  solução,  o instrumento  decisivo  da linguagem  humana universal, i.e., o uso  do diálogo, segundo  já sugeri linhas  acima, mas o uso  sem preconceitos,  nem subterfúgios,   nem   tentativas de  ocultar   intenções escusas,  um diálogo onde não haveria espaço  para  um dos grandes  males  da vida, a hipocrisia. Este diálogo, sim,   seria uma saída para a partilha,   a compreensão  do outro  sem conotações  hegemônicas,    sem sujeições e oportunismos.Isso não é uma  utopia de um jovem,  porque não o sou, apenas alguém   cuja aspiração maior   é ver  o mundo, as nações, o Planeta num tempo   no qual  reine  duradoura  paz.


sexta-feira, 26 de julho de 2013

Quanta inveja do Papa Francisco!




                                                        Cunha e Silva Filho


               Imagino o que se passa na cabeça de tantos governantes brasileiros nesta semana em que o Papa  visita o nosso país  e leva a multidão de fiéis ao delírio graças ao seu carisma,  à ternura que  transmite ao  povo brasileiro de todas as classes sociais. Não foi um só dia essa apoteose em que se transformou  a presença do Papa  em terras cariocas. Até as manifestações  das ruas contra  o governador  fluminense e contra  a política brasileira  diminuíram. A cidade parece encantada. Aleluia! Aleluia! Deixem o Papa  passar com o seu sorriso constante, o seu  olhar doce, o seu abraço, beijos e carícias nas cabecinhas das crianças. “Sinite parvulos venire ad me.” Seria um slogan  bem apropriado  à sua figura  e aos seu modos  angelicais. Papa dos pobres, desde os  tempos argentinos. Não falando bem  português, mas lendo a nossa língua  bem razoavelmente,  pode se comunicar à vontade com  o brasileiro.
Creio que em popularidade   já superou  o grande  João Paulo II, cuja presença no  Brasil  foi também admirável e  fez muito bem ao povo. Entretanto,  Papa Francisco é diferente. Está  conquistando  o coração  dos brasileiros.
A imprensa  vinha  declarando que  seus pronunciamentos, suas homilias,    teriam um  tom incisivo no que concerne à situação social  brasileira. Explicitamente,   isso passou pra muitos  despercebido. Se, no entanto,  olharmos  mais fundo,  as entrelinhas  dirão muito sobre  questões  sociais e sobre  o sofrimento  de parte do povo  brasileiro e, particularmente, do  carioca.. Pois Francisco andou  falando  em  segurança,  saúde,   fome,  pobreza,  abandono  das  classes  desfavorecidas, consumismo, falta de solidariedade  e corrupção. É só prestar  muita atenção  em  algumas  frases  por ele proferidas dirigindo-se  aos necessitados, seja,  na visita a uma casa humilde em Varginha,  conjunto  de favelas de Manguinhos,  seja em homilias,  seja na magnífico evento  em Copacabana, na Tijuca, quando ali  foi  assistir a uma inauguração  de  um hospital para dependente químicos, seja em outros   lugares.
Com cuidado diplomático,  vai ele,   aqui e ali,  soltando  algumas pistas de  seus  pronunciamentos  à população  jovem e aos adultos. Ele sabe de tudo,  utiliza  a internet, o twitter e de aceno à direita e à esquerda no seu papa-móvel aberto  e sem blindados,  vai  semeando  seus grãos  de   esperança,  de entusiasmo e de  desejos  de mudanças para a humanidade, sobretudo  quando estão em  jogo    os injustiçados,  os deficientes,   os velhos, os marginalizados,   as crianças  indefesas e,  principalmente,  os humildes.   É difícil  expor tantos ângulos  dessa personalidade e dessa viagem  ao encontro da juventude  mundial.
Papa Francisco marcará  o coração  de todos os brasileiros de forma  indelével. Sua presença  é uma  epifania. Veio ao Rio em momento delicado e conturbado.  Sua passagem tem sido um oásis,  um brisa  acalentadora e, enquanto estiver  no Rio,   a esperança  se espalhará   pelos quatro canos do país.
Papa Francisco, nos atos  litúrgicos,  permanece  sério e compenetrado,  no semblante  do qual  podemos  vislumbrar  a profunda   preocupação  com a  dimensão  transcendente  do que lhe vai na alma. Disso deu mostra  em Aparecida diante  da festada imagem de Nossa Senhora, ou dentro da capelinha  simples de Varginha, ou nos momentos  de orações em Copacabana,  na Catedral com os jovens argentinos. Fora  desse contexto  sagrado,  volta à  alegria  que lhe é  característica,  nos abraços,  nos apertos de mãos,  nos acenos  de bênçãos ao povo.   
Todos lhe querem  estender  a mão,  tocá-lo, falar  com ele,   dizer-lhe  do amor e  afeto  que por ele sentem. São milhares, milhões de mãos estendidas,  desejosas  de um toque que seja, de um olhar que seja,  de um sorriso que seja. E aí vai  esse  senhor  setentão  conquistando os corações  de todos e até de pessoas de outras religiões.

Não creio que  sua passagem  pelo Rio de Janeiro e, por extensão,  pelo  Brasil,   ficará   em vão. Papa Francisco  tem o  dom de  entrar  na vida interior das pessoas,  instilar   em nossas  vidas   confiança  de dias melhores  não só para o Brasil mas para o mundo inteiro. Num país  em que  praticamente  não temos  um líder  com a envergadura  moral,   a simpatia,  o carisma e a simplicidade  natural  desse Sumo Pontífice,  é de esperar  que  o povo brasileiro  se tenha  apegado tanto  a ele. Tenho certeza de que da parte   dele  levará  do nosso  povo  uma imensa  alegria do tamanho  da Mundo.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Como conciliar o inconciliável: Papa Francisco e os governos do Brasil





                                                                  Cunha e Silva Filho

                     Ontem  estive  preso à tela da tevê, acompanhando  tudo o que dizia respeito  à vinda do Papa Francisco ao Brasil. Do avião ainda em  voo até  o  pouso lento e bem conduzido em avião da Alitalia. Foram  horas de voo com o Sumo Pontífice, sua comitiva eclesial,  os seguranças e  jornalistas credenciados.
Enfim,   do avião desce o Papa Francisco,  um argentino  descendente de italiano. Sorriso  largo,  simpático,  de estatura mediana.. Lá vem ele, em  movimentos   firmes,  descendo a escada encostada à porta do avião. No outro  extremo do avião   de outra porta  haviam  primeiro saído os homens de segurança.
 Papa Francisco chega   ao  país   em   momento  difícil  por que  passa  a sua  população, aquela que saiu  às ruas  gritando por mais justiça em todos os aspectos  da estrutura do Estado brasileiro.
Aguardavam-no as autoridades locais e nacionais. Todos bem vestidos  e  compenetrados. Entre uns e outros,  havia um homem  amável,  carismático,  observador, de voz  mansa e frágil. Na sua agenda,  o objetivo mais  elevado  dele seria  estar com  os jovens  de diversas partes do mundo. Jovens que vieram ao Rio para  se alegrarem com a  presença e  a mensagem  do Sumo Pontífice nos dias em que acontecerá a Jornada Mundial da Juventude. Portanto,  na  realidade, o  Papa Francisco aqui veio  para esse encontro  multirracial. O Brasil serviu apenas  de  espaço na geografia  do Planeta  Terra.
A figura  de um Papa  traz por si  mesma  um  clima de  festa,  de paz,  de esperança. Por isso,  é bem-vinda. Eu me lembro  do tempo em que  João  Paulo Segundo esteve no Rio de Janeiro. Foi uma  comoção geral. Uma semana  de  tranquilidade, de  união  de pessoas,  de todas as idades. Nem  se falava em  violência. Desconfio até de  que os próprios  marginais  se recolheram,  fugindo aos seus  hábitos  selvagens. Tudo em nome de um homem  que  representa  o  líder máximo da religião católica. Não há quem  não se sinta  emocionado  com  essa figura  do Vaticano conquanto se sabe que  o catolicismo  não vai bem em muitos aspectos  da vida  material, moral    e espiritual.O momento da visita  do Papa,  contudo,  apazigua, infunde  um clima  inédito  de  esperança  e  fraternidade.
Papa  Francisco,  cujo  nome  foi tão bem escolhido para o  momento  conturbado  universal, ao chegar ao Brasil, traz  novas energias de certeza de que  alguma  coisa tem que ser  feita ou mudada para o bem  do  povo brasileiro que,  a um tempo  que  se torna  enfurecido,  como  dissera bem ontem  uma    manchete  de jornal   inglês, sabe  também se comportar  com  espírito  pacífico,  alegria,   brandura e carinho.
Vejo como  o  povo é sábio no que faz por vezes.Sabe ser  grande hospitaleiro,  carinhoso, cuidados  com  essa figura  frágil  do Papa  Francisco cuja atuação  como  líder   do catolicismo  tem-se pautado  por  uma  postura  de decisões   firmes  e de humildade na função  que ocupa   na Igreja.
Desde  aquele  momento em que  ficou  ouvindo, no aeroporto,   o coral de crianças cantando uma canção  em sua homenagem, em português,  espanhol e, se não me engano, em inglês,  até o seu  deslocamento do Aeroporto do Galeão  em direção  ao Centro do Rio de Janeiro presenciou-se  um exemplo do quanto o brasileiro se  sente órfão  de afeto  de líderes  que merecem  respeito e em quem  confiam de alma  aberta. A multidão  que o cercou  na Avenida  Presidente Vargas,  cada qual querendo segurar-lhe a mão,  dar-lhe um abraço e dizer-lhe palavras  afetuosas  é uma cena  de encantamento da  alma simples  do povo brasileiro,  de todas as idades e  níveis sociais. O povo sabe a quem  prestar  tributo, essa é uma lição que  tiro  da  permanência  do Papa Francisco em  solo brasileiro.
Por outro lado,  fico imaginando  a distante  grande  entre o afeto  dedicado ao  Papa e  a indiferença  do povo em geral  pelas autoridades. Não há o menor sinal  de  admiração  pelos governantes e por toda   a estrutura do  poder  público. No caso do Rio de Janeiro,  temos  o exemplo   de divórcio  completo  de laços de   consideração  e respeito  entre  o povo e o governador atual.
O encontro  do Papa Francisco no Palácio das Laranjeiras,  residência oficial do governador,  é que se pode  ver com  nitidez o poço fundo  entre  o  governador  e o  povo. Lá dentro,  no palácio,   os discursos   incompatíveis  entre  o que  a Presidente  da República disse sobre o seu governo  e a realidade  que  o país   está atravessando. O grupo seleto,  lá dentro,  não  representa  de forma  alguma  as aspirações  do povo  brasileiro. Lá fora,  o aparato  policial  pronto para qualquer eventualidade a serviço do poder.
Os discursos  não passam de formalidades  diplomáticas  entre  dois chefes de Estado, visto que a   verdade da nação  ali  não se encontra, mas  sim nas ruas,  no grupo de manifestantes  pacíficos que não podia   se aproximar  do Papa Francisco. O boneco  de pano  queimado  simbolizando a figura  impopular do governador  é o maior testemunho  de  quanto  o anfitrião fluminense  está  distante  das aspirações   populares.
Como deve ser triste e solitário o mundo interior  de um  governante    detestado  por considerável parte dos  habitantes  do Estado que  dirige!
                    A presença  do Papa Francisco, pelo que  traz de alegria,  paz e verdade humana e espiritual,  destoa em todos  os sentidos  do grupo  de  representantes  do  poder  do Estado.Brasileiro.


sábado, 20 de julho de 2013

Crime de lesa-língua?!



                                               Cunha e Silva Filho



            Não sei se meus leitores  ficaram sabendo  de uma  Lei  Federal,  a de Nº 12.605, de 03 de abril de 2012, que dispõe  sobre a forma gramatical de, nos  diplomas do ensino superior brasileiro, referir-se ao diplomado ou graduado através de desinência  de gênero pela  troca  do morfema –o pelo morfema –a, assim  simplesmente e elaborada ao arrepio  de   fundamentação  linguísitca e de respeito  à índole da língua portuguesa e de sua  formação  histórica, ou melhor dizendo,  do  português brasileiro, sintagma  classificatório  que, a meu ver,  melhor  se adapta  às modalidades  e variantes  léxico-prosódicas  do português lusitano,  matriz  primeira  da língua  portuguesa.
Em questões  de ortografia  e morfologia,  não se alteram  formas  linguísitcas  ao bel-prazer  de alguém ou de uma autoridade,  ainda que  essa autoridade seja   o/a  Presidente da República.O fato  me recorda o tempo  da Reforma Ortográfica de 1943,  quando, por razões  de bairrismo,  inseriu-se a letra “h” no vocábulo  “Baía” para  designar  o  Estado nordestino apenas para  se atender  a um sentimento  de um imortal  ilustre  da Academia Brasileira de Letras  na época  em que era dela presidente José Carlos Macedo Soares, signatário do documento “Das Instruções  para a Organização do Vocabulário Ortográfico da Língua Nacional, 12 de agosto de 1943),  natural  daquele  estado.Ora,  isso não tem cabimento nem a mínima   base  científica, porquanto,  para  designar  o natural  da Bahia,  o locativo  “baiano,”  não  se grafa com  um “h” epentético.
Vejam, leitores, o que  com justa  razão, para  reforçar o que  relatei acima,    afirmaram  sobre  esse  fato  o eminente professor  Enéas Martins e Barros e o  distinto  filólogo  e gramático  Modesto  de Abreu a propósito da Reforma Ortográfica  de 1943:

(...) “ Na reforma de 1943, até o bairrismo imperou. Por proposta de um acadêmico baiano, a palavra Bahia manteve o h, contra todos os princípios em que se  louvava a citada reforma, para satisfazer um único imortal, como se essas questões secundárias pudessem  influir num assunto de fundo científico (itálicos dos autores. Cf. M. Barros, Enéias e ABREU,  Modesto de. Curso de Português. 7 ed. Primeira série,Curso  Colegial. São Paulo: Editora do Brasil, 1958, p.154).

O que  fica  evidente  é sanção    de uma Lei  que  “aprova’  o uso  de um  erro gramatical para designar  os gênero  masculino e feminino em  substantivos  considerados do gênero  comum de dois, cuja   forma  de designar  o masculino   deve ser  pelo   uso  do artigo  ou adjetivo   masculino ou feminino,  conforme o caso, como,   por exemplo,  “motorista,”  “dentista”,  “presidente’ etc.
Entretanto,  ao tomar  posse na Presidência da República a Sra.  Dilma Rousseff   fez questão  de “ inovar’  o português  brasileiro, ao se dar  o tratamento  de “Presidenta”, enfatizando  a flexão feminina em ” -a “ como se fora  correto  esse uso designativo  de sexo para a relevante  função pública. Exemplo de “feminismo”? De parecer  diferente  por ser a primeira mulher  brasileira a assumir  o mais alto  cargo  do país? A mim  pareceu apenas  um mero  capricho  de exibição do poder  da mulher, algo  bizarro, sem   importância alguma. Quanto à sua entourage,  essa  se  superou  no aulicismo,  na  bajulação palaciana  de serem  os primeiros  a empregar  o substantivo  no feminino. Felizmente,  o  jornalismo  não  aderiu  a essa bizarrice  infundida  de  parti-pris de estofo  petista.
Um tipo de Lei  assim é aprovada, não tem repercussão e não me consta  que algum  estudioso  da língua portuguesa  tenha  feito  algum  comentário  sobre  ela. Não  é possível que tenham  ficado  calados os lingüistas,  os filólogos e os nossos gramáticos.  Não sei tampouco  que atitudes tiveram os membros  da Academia Brasileira  de Filologia ou outras entidades   ligadas  aos estudos   linguísticos e filológicos, tendo à frente a Academia  Brasileira de Letras.
Conforme  li  num texto  da internet,  será que, de agora em diante,  teremos   gente  que,  aderindo  a essa  excrescência de Lei,  irá  empregar, aproveitando os esquema de abusos contra  o nosso idioma cometidos  por  ignorantes (deputados federais )  dos usos  linguístico-gramaticais,   substantivos, para  designar  os dois gêneros no que diz  respeito a profissões e formas de tratamento   oficiais,  em moldes  bizarros tais como  “o dentisto,  a dentista,    o oftalmologisto, a oftalmologista,  o motoristo, a motorista, ou,  quem sabe, o presidento para combinar com a presidenta, conforme  ironizou um amigo espirituoso e criativo.. Eu não sabia que o português brasileiro era uma terra de ninguém, um vale-tudo, um samba de crioulo doido.

Têm a palavra  os gramáticos,  os linguistas e os filólogos. O que não  se  pode  continuar   é  com esse  tratamento  sem base científica e sem  o devido respeito  ao uso   escrito  de nossa  língua,  agora  submetida  a  humores e  caprichos  excêntricos  e fascistas, interferindo atabalhoadamente em campos de estudos  de linguagem  dos quais  não têm  nenhuma  formação sólida. Por acaso, foram consultados  os especialistas no  assunto   ou deles foram  solicitadas  opiniões criteriosas e  abalizadas? Creio que não. Daí o absurdo da Lei.Nº 12.603.
Pergunto-me: que ideia estapafúrdia é essa  de o  Congresso decretar  e a Presidente sancionar  uma lei  dessas?  Ou, como um  amigo  me  confidenciou: o Governo não tem coisas mais  importantes e urgentes a fazer, por exemplo,  - acrescento eu -, atender  aos  gritos  das manifestações nas ruas? 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Tradução do poema "Because I Could Not Stop for Death," de Emily Dickinson (1830-1886)-





Because I Could  Not  Stop for Death


Because I could not stop for Death—
He kindly stopped for me—
The Carriage held but just Ourselves—
And Immortality.

We slowly drove—He knew no haste
And I had put away
My labor and my leisure too,
For His Civility—

We passed the School, where Children strove
At  Recess—in the Ring—
We passed the Fields of Grazing Grain—
We passed the Setting Sun—


Or rather—He passed Us—
The Dews drew quivering and chill—
For only Gossamer, my Gown—
My Tippet—only Tulle—

We passed before a House  that seemed
A Swelling of the  Ground—
The Roof was scarcely visible
The Cornice—in the Ground—

Since then—‘tis Centuries—and yet
Feels shorter than the Day
I first surmised the Horses’ Heads
Were towards Eternity—


Porque não poderia temer  a Morte

A morte temer   não poderia
Já que amavelmente à minha  espera  estava.
Na Carruagem lugar havia só pra Nós duas
Mais a Imortalidade.

Vagarosamente, andamos. Ela, sem  pressa.
Para trás  igualmente, intactos,  deixei
Trabalho e diversão
Só para a  Gentileza atender.

Pela  Escola  passamos, na qual Crianças competiam
No Recreio – no Pátio
Campos e Pastagens  de Cereais atravessamos.
O  Poente  passamos.

Ou melhor: Ele por Nós passou.
Trêmulos e friorentos  surgiram  os orvalhos.
Só um Leve  Vestido trajava
Com uma Echarpe de Tule.

Estacamos  diante de uma Casa que  semelhava
Um Inchaço do Chão.
Mal lhe víamos o Telhado.
No Chão,  uma Cornija

Dali em diante – durante  séculos, contudo,
Mais curto que o Dia  tudo parecia.
Desconfiei logo de que as Cabeças  dos Cavalos
A caminho  estavam da Eternidade.


                                                                   (Trad. de Cunha e Silva Filho)

Tradução do poema "Because I Could Not Stop for Death," de Emily Dickinson (1830-1886)-





Because I Could  Not  Stop for Death


Because I could not stop for Death—
He kindly stopped for me—
The Carriage held but just Ourselves—
And Immortality.

We slowly drove—He knew no haste
And I had put away
My labor and my leisure too,
For His Civility—

We passed the School, where Children strove
At  Recess—in the Ring—
We passed the Fields of Grazing Grain—
We passed the Setting Sun—


Or rather—He passed Us—
The Dews drew quivering and chill—
For only Gossamer, my Gown—
My Tippet—only Tulle—

We passed before a House  that seemed
A Swelling of the  Ground—
The Roof was scarcely visible
The Cornice—in the Ground—

Since then—‘tis Centuries—and yet
Feels shorter than the Day
I first surmised the Horses’ Heads
Were towards Eternity—


Porque não poderia temer  a Morte

A morte temer   não poderia
Já que amavelmente à minha  espera  estava.
Na Carruagem lugar havia só pra Nós duas
Mais a Imortalidade.

Vagarosamente, andamos. Ela, sem  pressa.
Para trás  igualmente, intactos,  deixei
Trabalho e diversão
Só para a  Gentileza atender.

Pela  Escola  passamos, na qual Crianças competiam
No Recreio – no Pátio
Campos e Pastagens  de Cereais atravessamos.
O  Poente  passamos.

Ou melhor: Ele por Nós passou.
Trêmulos e friorentos  surgiram  os orvalhos.
Só um Leve  Vestido trajava
Com uma Echarpe de Tule.

Estacamos  diante de uma Casa que  semelhava
Um Inchaço do Chão.
Mal lhe víamos o Telhado.
No Chão,  uma Cornija

Dali em diante – durante  séculos, contudo,
Mais curto que o Dia  tudo parecia.
Desconfiei logo de que as Cabeças  dos Cavalos
A caminho  estavam da Eternidade.


                                                                   (Trad. de Cunha e Silva Filho)

terça-feira, 16 de julho de 2013

BRAZIL'S OVERVIEW CORNER: Hasn't violence issue counted in Brazil's latest protest on the streets?

[A translation  in Portuguese of this article  is given  after the  English  text]


                                                                      By Cunha e Silva Filho

               Here is  a  fact  that  has  practically  been unnoticed in the  demonstrations  on the streets against  Brazilian  social   situation. People have claimed against the increase of buses  fares and other  means of transportation, against  political  corruption,  against the  corroded levels of     primary and  secondary   public and in some  cases private  educational system, against   health  low patterns. However, violence   issue  has been  suppressed. Maybe because  all these   justified  and urgent claims, when  not  taken   in to due  account by   Brazilian authorities, become themselves  indirect    types of violence.
The   claim  against  violence  as an  important  issue  in the  protests on the street  has become one of the  most  pressing one  and,  as far as I know,  nothing has been effectively  made  on the part  of  Brazil’s  authorities  to  reduce it. He who  regards  as yellow press the  violence TV  programs  which daily   inform  people  of what is going  on   with the  individuals’ security in big cities and also  in the  countryside,  is losing the  opportunity  to be  aware of the  pains and  afflictions   of families who are daily bereft of their beloved ones as forlorn  victims  of  abominable  crimes, and this  includes children, youths and adults in an unprecedented scale  of  savagery nationwide..
Therefore,  not  caring  about this  state  of  things   is equivalent  to show  indifference and lack of sensitivity  towards the  pains  and sufferings of  Brazilian society. What is worse,  other  people’s  distress can  turn into your  own  suffering, since we are on the same boat which,  instantly  and anywhere,  can become a revolting  tragedy stage.
Violence problem permeates all of us and society ought to unite massively to   present   proposal to  the Brazilian  State, in all   instances  of  powers,  to demand  immediate and  effective solutions,  chiefly  taking  into account  the  fair outcry for  solving the shortcomings  in   our  public  security   sectors
To moralize our military  police, as well as civil police,  is a must, as well as   to   dismiss bad and corrupted   professionals of this institution, the evil-minded  elements who, according to   press  information sources,   are  accomplices with  wrongdoers, gun traffickers, drug traffickers,   unlawful paramilitary  groups and all derived  components who are sometimes   secretly installed  in our    official drug fighting  departments, as well as in the military  police, among  politicians (aldernen)  of  our  municipal  chamber, in short,   in all  channels,  public and  private,  which   possibly  could work out as underworld connections for  the practice of  varied  sorts of crimes against society,  individually  or collectively  taken.
This level of   violence   exhibited by   Brazil -   a shame  on us  before  some  civilized  countries with low rates of violence -,  is not  exclusively  a Brazilian  evil. There are other countries with high rates of violence, like Mexico,  some   African  countries and some  countries  in Latin America,  for  instance.
Only  effective and relentless  changes   in our  infrastructure of  security, together with   the Armed Forces watching our  frontiers to  prevent   guns from   entering  our country  will be able  to  reduce the  afflictions  of families    who,  at all times,  are  crying,  helpless, for  measures  to be taken  by   the authorities to get the country  rid of  this  chronic  gloomy   reality,  undoubtedly one of the  biggest  challenges   currently faced by Brazil.
As long as  deep  changes are not  undergone as quickly as possible, such as  the  reduction  of age bracket  penalty  for  hardened   criminals,  an   updated Brazilian Penal Code, and the   use of  life sentence  for the  abominable  crimes against  human beings, Brazilians  will live amidst despair,  insecure as to  their  physical  integrity and hopeless   for  actual  steps from  the federal  government.
That  is why during  nationwide  protests  on the streets last  month, I wondered   why the  high  violence issue has not been  claimed by   civil society.
I expect that in future   demonstrations   on behalf of the  well-being  of Brazilians, posters may  be carried by the crowd  exhibiting   slogans alluding to the  theme of violence  



A  questão da violência  não contou nas manifestações das ruas?


                                                        Cunha e Silva Filho


             Eis aí um fato  que passou  praticamente invisível nas manifestações das ruas contra   a situação social  brasileira. Clamaram  contra o aumento   das tarifas de  ônibus e outros  meios de transporte, contra a corrupção  política,  contra a  o descalabro da educação  fundamental e média  pública e  privada, contra a saúde, mas  a violência  ficou de fora. Talvez, quem, sabe seja   porque  todas essas  reclamações  justas,  quando  não atendidas,   se tornam,  por si sós,   tipos  indiretos de violência.
A bandeira,  porém, da violência nas ruas  é das mais  urgentes, e, ao que  parece,  nada se tem feito  concretamente para  minimizá-la. Quem  considera  sensacionalistas  jornais  ou  programas de TV que  se dedicam  a  informar  ao público   o que está  acontecendo com  a segurança do  indivíduo nas metrópoles e mesmo  no interior, está perdendo a  oportunidade  de  tomar  ciência   das dores e aflições de famílias que  perdem seus entes queridos diariamente,   assim como  são vítimas   de todas as formas  de violência  crianças,  adolescentes e adultos  em escala sem precedente  pelo  país afora. Portanto,  não  se importar com  esse estado  de coisa  se afigura  indiferença  e  insensibilidade da parte da sociedade brasileira. O que  é pior,   a dor alheia  pode se transformar  na sua  própria dor, já que todos estamos  inseridos no mesmo  contexto   que,  a qualquer instante,  pode ser  palco de tragédia inominável. O problema da violência  é de todos nós e a sociedade  deve se  unir  maciçamente para  encaminhar    propostas de soluções ao Estado  brasileiro,  em todas as instâncias  de seus poderes,  sobretudo  levando em conta  as gritantes  deficiências de  nosso  órgãos de segurança pública.
É preciso   moralizar  a polícia  militar, a  polícia civil,  excluindo dessas instituições os maus profissionais,  os corruptos,   os elementos  perniciosos  que,  de acordo com  fontes  de informação da imprensa, estejam  conluiados  com  malfeitores,  com  o  tráfico de  armas e  de  drogas, com as chamadas milícias e todos  os  derivativos  que se  incrustam  em nosso   órgãos   de combate ao crime,  na  política   estadual, na política  municipal, enfim, em todos os canais,  públicos   ou privados,  que  podem  servir  de elos  subterrâneos  para a prática  de variados   tipos de  crimes  contra a sociedade,  individual  ou coletivamente  considerada.
Esse nível de violência  que o Brasil   ostenta,  para vergonha  de alguns países   civilizados com  baixa  taxa de violência, não é exclusividade  brasileira. Há outros  países   com altos índices  de violência, como o  México, alguns  países africanos, alguns países da América Latina, por exemplo.
Só mudanças  efetivas e contínuas  no seio da  própria infra-estrutura  da segurança  brasileira e com  o apoio das forças armadas  no caso  da vigilância das fronteiras a fim de   impedir   a entrada de armas  que vão  parar a nas mãos de  quadrilhas e facções  criminosas poderão  reduzir  a angústia das famílias  no país, sobretudo das mães   que, a toda  hora,  clamam, indefesas, por medidas  das autoridades que venham  livrar  o  país  dessa  realidade   que  já se tornou  crônica como um dos  maiores   desafios  que  os brasileiros  enfrentam.
 Enquanto  alterações   nas leis  não forem    feitas  de imediato, como  redução da maioridade  criminal, atualização do Código Penal  e implantação da prisão perpétua  para  os  mais  abomináveis  crimes contra  a pessoa  humana, os brasileiros   viverão  no meio do  desespero,  inseguros  quanto   à sua integridade física e sem esperança contra  reais  providências dos governos feral e  estaduais.
Por  esta razão é que,  durante as manifestações  nas ruas   no mês  passado, e em todo  o  Brasil,  me perguntei  por que  a questão da  alta violência   não foi  tão  reivindicada  pela sociedade civil.
Aguardo  que,  em outras   manifestações  pelo  bem  do  Brasil   a bandeira da violência    seja  um   dos temas anunciados em cartazes  pela multidão  nas ruas.    

     

sábado, 13 de julho de 2013

O mordomo, o salário e o senador




                                                        Cunha e Silva Filho



                   Eu me pergunto: será que um país  assim  tem  conserto? Creio que não. Quantos anos,  ou mesmo  um século,  serão necessários para que  um político brasileiro  possa  ser  levado a sério?  A curto e médio  prazos, não há vislumbre de que  alguma coisa  boa  surja da vida  política  nacional.
                  Não há manifestação  nas praças, nas avenidas,  nos morros, no planalto, na planície,  no mar, no ar, na terra que consiga   reformar  a ética e a prepotência  de quem  foi   eleito pelo povo e praticamente  nada tenha  feito  à sociedade. Mesmo quando saem de cena,  os  políticos  brasileiros deixam  seus  rebentos incrustados nos feudos   palacianos, dando continuidade à  fanfarra das mordomias,   das manobras,   das tergiversações, das  falcatruas praticada  contra  o  Erário  Público.
                Ainda este ano  saiu uma notícia   no jornal O Globo informando  ao leitor  que  o atual  Presidente do Senado,  figura  da  política  nacional  por demais  respeitada  desde os tempos  do  governo  Collor e das  rocambolecas   histórias amorosas,  além de outras  implicações de conduta  no bolo  do escândalo do Mensalão,  prodigaliza  a um  mordomo um salário  faraônico de  dezoito  mil reais,  quando  um médico,  um professor com mestrado e doutorado nem sonham  em terem  tamanho  salário  e o salário mínimo do  povão e os proventos  dos aposentados do INSS  estão  sempre aquém  de um patamar  de uma  vida  digna.              
                  Ora,  para  dar  esse salário a um mordomo  seria preciso que este  entendesse   do riscado, fosse fluente  pelo menos  em duas línguas modernas,  tivesse domínio  dos protocolos  sociais, fosse discreto,  observador, fiel, amigo da família,    e familiarizado com  todas  as  etiquetas   daqueles  velhos   mordomos   da aristocracia  inglesa. Um completo  butler, em suma.
                Este  mesmo  senador  é aquele que há poucos dias  viajou  com amigos  num  avião da FAB para  comparecer a um  casamento ou coisa  parecida. O Brasil  é uma  República ou  pensa ainda que  esteja nos tempos dos  nobres do primeiro e segundo  impérios ?
         Este ex-ministro da justiça  semelha ter  saído das páginas da ficção  dos bruzundangas  limabarretianos. Não me parece  uma pessoa física, com  nome  em cartório de registro. Para  sustentar um mordomo  deste tipo,  é mister que  o senador   ganhe rios de  dinheiro, sendo que, no caso  dele,  o dinheiro escorre  com facilidade   dos cofres  públicos...
Por que estou  implicando com  o salário  de um simples  mordomo   de um  palaciano? Simplesmente  porque,  ao conceder  um salário  nesta  proporção, o senador  brasileiro dá um  exemplo  inconteste  de  quanto  está distante   do  interesse  que  revela ter pela coletividade,  sabendo  ele que o brasileiro,   em várias  profissões,  é mal  remunerado,  pouco  valorizado, a quem  faltam hospitais,   segurança,  educação  de qualidade e transporte  de massa  à altura    do  gigantesco  número de usuários principalmente  nas grandes cidades  brasileira.
O país se revela por metonímia. Para  entender  o todo,  cumpre atentar para a parte  e é por esta que chegamos  às entranhas do todo. O exemplo do mordomo é aquela parte do iceberg, cujo  tamanho  se  esconde  até o fundo do mar (de lama, bem entendido). Juntadas  as partes, atingiremos  o todo  que nos  oferece uma triste fisionomia.
 São as partes  que devemos  examinar  com  cuidado e com profundidade e, ao  alcançarmos  o fundo do mar,  perceberemos   quão  imoral, injusto,  defeituoso  se nos apresenta. É do fundo do mar que veremos,  transparente,  todos  os  “malfeitos” (do jargão da Presidenta Dilma)  da nação, o lodo,  a sujeira, os escolhos,   o lixo  chafurdando  no lamaçal   de ausência   de  ética,    falta   de vontade  política,  protelações para que  mudanças   substanciais  nunca  ocorram e  deixem  tudo  como  está   visto que  a memória do povo  é curta e poderá  ser  presa de   sucessivas  péssimas escolhas   de  novos candidatos  que, em eleições futuras, comporão  a  política  do país.
O que não pode é mudar para melhor  a vida do brasileiro. Por isso,  a reforma  política, tanto  quanto  possível,  será  adiada e, caso não  o fosse,  como  a realizaríamos com  o conjunto  de políticos  de  fancaria de   que, em geral,  dispomos na Câmara e no Senado? Se questões de grande urgência não  serão tão cedo  discutidas  para  aprovação,  como a  reforma e atualização  do  Código  Penal,  por exemplo, assim como  leis que  venham  beneficiar  os quatro setores da  vida  nacional  (saúde, segurança,  educação e transporte ) que  exigem  dos governos federal, estadual e municipal  soluções  urgentíssimas.

Um  país tal qual o  nosso,  que tem  uma sociedade  bastante dividida socialmente - classe  miserável, classe  média,  classe burguesa,  elite econômica – não terá  nunca  força  suficiente para  se unir  e  ser solidária entre si. Se os restaurantes de alto  luxo  estão  cheios,  e cheios estão os shopping centers,  e o consumismo  dos que  têm poder de compra   continua  rolando  solto,  quando é  que  encontraremos  um  ponto   certo  para  fazermos valer  nossas reivindicações? A divisão de classes  e de níveis  culturais  faz   a felicidade  da politicalha  e, por tabela, é um porto seguro  para  a continuidade   e inalterabilidade do status quo  vigente. Ó bendita  divisão de classes, deleite dos que implantaram  o cinismo e a falta de vergonha como a melhor forma  de  governança dos tempos contemporâneos!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

             Literatura e política



                                                        Cunha e Silva Filho


            Em razões de pesquisa que ando fazendo,  me deparo com um comentário  de Afrânio Coutinho (1911-2000),  importante crítico literário, historiador e teórico da literatura brasileira, na obra Correntes Cruzadas – questões de literatura (Rio de Janeiro; A Noite, 1953)) que, a certa altura  desse livro faz um  comentário que, por analogia,  me leva a refletir sobre a questão, de resto, sempre controvertida das relações entre  o escritor e  a  política.
         Coutinho  faz afirmações favoráveis ao tipo de  políticos  que, na década de  40 e 50, se distinguiam em geral  por  posturas e comportamentos, segundo ele,  em geral   exemplares, ou  seja,  bons  políticos  que aliavam  integridade moral e preparo  intelectual. Aproveitava  o crítico   para  fazer um cotejo entre  a integridade  moral  daqueles  políticos   e certos  grupos   de homens de letras  que faziam da  vida literária  um  terreno   infestado  de  oportunistas,  medíocres  e inimigos   da seriedade,  do estudo  em profundidade, transformando  o   cenário da vida intelectual, sobretudo  no âmbito da crítica literária,  num estéril   espaço de compadrio, de elogios  mútuos e de ausência  absoluta de  critérios  objetivos  em lidar com  a produção literária  brasileira.
          Quem não estivesse  dentro  do  grupo ou grupos dominantes  sofreria   pressões  e indiferença, restando   duas alternativas  ao  escritor que aspirasse  a ingressar   na vida  intelectual,   desistir ou lutar com   os grupos  que dominavam  a vida  intelectual  brasileira,  principalmente  nos dois maiores  grandes centros,   Rio e Janeiro e São Paulo.Era uma  época atravessada  por  inúmeras polêmicas  entre  escritores, cada  qual   cuidando de seus interesses  individuais visando a uma posição de destaque  no domínio  da literatura, tendo à frente  a crítica literária.
            Ora,  se  pensarmos   maduramente  no que ocorria naqueles tempos   e  fizermos  um paralelo com a situação   vivida agora  pelo país,  vemos  logo   um dado   que  não podemos   deixar de lado:  há uma  nítida  inversão  de valores  se compararmos  os políticos de hoje com  os dos períodos   acima-mencionados  Diria  que  a política  atual  sofre  da ausência de  grandes figuras  de homens públicos para dirigir   os destinos  do país. Quer dizer, a representatividade   de nossos  deputados e senadores  não está  à altura  do que  o país  exige  diante da crise   de   imoralidade, corrupção  e  indiferença  sem precedente   demonstradas  pelos políticos  em geral.
Assistimos  a uma deplorável  estado  de  cinismo  de nossa  elite  política ante as pressões  justas  nas ruas  do Brasil,  clamando, em curto  prazo,  por  mudanças  de  comportamentos éticos  de  quem  tem mandato  na Câmara e no  Senado. Vejo  como fato  deplorável    os  homens  que ali  estão  eleitos  pelo  povo.   Teimam em   não se dar conta da gravidade  que  pesa sobre os seus ombros de forma  inexorável, convocando-os todos a  terem  vergonha  na cara  e a perceberem que o povo  brasileiro não se deixará  mais  enganar  com qualquer   arrivista  em pele de  salvador da pátria  que  surja  no cenário  da  vida política nacional.
Por outro lado,  vejo  que  da parte da intelectualidade brasileira, há um fosso  que se estabeleceu  entre   os  escritores e  a política, i.e.,  há uma  indigência de vozes    da elite intelectual   que venha  a campo  se juntar aos reclamos do povo  por  novos  padrões de comportamento    moral   de que  a nossa   prática  política  tanto   necessita e de que está tão  pobre e tão órfã. Onde estão os  escritores, os intelectuais  de visão  aberta  e  com coragem   de  agregar  força e  ânimo  para compor a unidade   de vozes   contra  a corrompida    política brasileira? Onde estão os   intelectuais  como  o foram   um Barbosa Lima Sobrinho,  um  Mocyr  Werneck de Castro,  um Nelson Werneck  Sodré,  um Tristão de Athayde,   um Fausto Wolff, entre tantos outros  em diferentes    épocas  da vida  social  brasileira?  
Os intelectuais jovens,  os de meia idade  e até os mais velhos estão muito calados,  muito  acomodados,  muito aburguesados   diante  das incertezas do presente. Será que só  pensam  em suas  carreiras   de escritores, presos apenas  ao mundo da ficção, da poesia, do ensaio  e do teatro  edulcorado, cuidando  somente  de  sua produção e do seu  sucesso  editorial? Não sabem  que  a vida literária não se  concretiza  apenas  no isolamento  das questões   sociais, que a literatura  não  é apenas   imaginação,  criação   de uma realidade   possível? Se é isso que lhes basta,  que  até podem alegar  ser  a criação artística uma forma  de   conscientização  dos problemas  sociais  e das injustiças  do mundo, e que por isso   já estão implicitamente  fazendo sua parte  no combate contra  a prepotência do poder  e  a ignomínia   dos governantes  quando    publicam    suas obras, não  o é para mim. No meu  modesto   juízo,   penso que  os intelectuais   devem, sim,   juntar-se  aos apelos  da população,  ainda que seja  através  de uma coluna de jornal,  de um blog   na internet,  de um programa   no rádio, numa  entrevista  na  TV.
 Permanecerem,  porém, em silêncio,  de alguma forma  me  parece    inaceitável, dando  azo  a que  os rotulemos    de  indiferentes ao que  nos cerca, ao que  está   acontecendo  no país. Seria o mesmo que cruzar os braços,  lavar  as mãos,  afundar-se na indiferença, numa  posição  cômoda   e cinzenta Nisto  incluiria  todo e qualquer   intelectual, jovem, moço  ou velho, nos muros da universidade  ou fora deles.        


terça-feira, 9 de julho de 2013

Tradução do poema "When we two parted", de Lord Byron (1788-1824)





          
 When we  two parted
 

When we two parted
   In silence and tears;
Half broken-hearted
    To sever for years
Pale grew thy cheek and cold,
     Colder thy kiss;
Truly that hour foretold
     Sorrow to this.

The dew of the  morning
    Sunk chill on my brow –
It felt like the warning
    Of  what I feel now,
Thy vows are all broken,
    And light is thy fame;
I hear thy name spoken,
    And share in  its shame.

They name thee before me,
   A knell to mine ear;
A shudder comes o’er me –
     Why  wert thou so dear?
They know not I know thee
Who knows thee too well –
Long, long shall I rue thee,
     Too deeply to tell.

In secret we met –
    In silence I grieve,
That thy heart could forget,
     Thy spirit deceive,
If I should meet  thee
     After long years,
How should I greet thee? –
     With silence and tears.

       Separação

Quando nos separamos
     No  silêncio e nas lágrimas,
Corações ao meio estraçalhados
    Para uma longa ausência.
Tua face pálida e fria se fez,
    Mais gélido  teu beijo;
Prenunciava aquele momento 
   Tristeza  igual a esta.

Minha fronte fria
    Invadida foi pelo orvalho da manhã.
Parecia um sinal
   Do que agora sentindo estou.
Fracassaram todas as tuas  promessas
   Apequenou-se teu bom nome 
Por toda a parte teu nome  ouço
   De tudo isso vergonha  tenho.

Diante de mim, de ti falaram.
   Pesar  pros meus  ouvidos;
Preso sou  dum estremecimento –
   Por que tão  amada  foste?
Não  sabem eles que a ti conheço
   E como!
Por muito, muito tempo hei de lamentar-te
   Difícil me parece confessá-lo.

Às ocultas, nos encontramos
   Em silêncio, me aflijo
Por ter teu coração me   esquecido
   E teu espírito me  enganado.
Fosse eu ao teu encontro
  Após  tardos anos,
Como  falar-te deveria? –
  Com silêncio e lágrimas.

                                                    (Trad. de Cunha e Silva Filho)

 








    





domingo, 7 de julho de 2013

Os escândalos do governo federal continuam




Cunha e Silva Filho



Não bastassem as imoralidades do governo federal apontadas pelo clamor das manifestações das ruas, os homens do poder atual ainda teimam e insistem em atos ilegais e danosos ao Erário Público, como foram os dois recentíssimos incidentes implicando os presidentes da Câmara e do Senado viajando de graça em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para fins particulares e, portanto, alheios às atribuições de seus cargos. Um e outro ainda tentaram justificar-se diante da imprensa sobre possíveis direitos que tinham por força do exercício de suas funções, porém logo se deram conta de que estavam errados e procuraram ressarcir os cofres públicos no valor dos gastos feitos..

Os homens do poder, não satisfeitos com o que de errado vêm praticando ao arrepio da lei, em outro setor do governo, o Tribunal de Contas da União(TCU), órgão que deveria dar o exemplo de lisura na fiscalização dos gastos públicos, surge como atores também envolvidos em abusos de gastança de marajás e mordomias em benefício próprio, concedendo-se recebimentos de quantias destinadas - pasme, leitor! – "a auxílio-alimentação" (sic!), além de diferenças salariais retroativas, totalizando milhões de reais para atenderem a todos os membros e servidores do órgão,ativos e inativos.

Ora, os membros do TCU já ganham altos salários para trabalharem pela fiscalização do dinheiros gasto pelo governo federal. Não são barnabés que ganham migalhas e, aí sim, necessitariam de auxílio-alimentação. Não eles, membros do TCU, ativos e aposentados. O pior é que foi com verba destinada à fiscalização que deslocaram para se darem aumentos e benefícios pecuniários de marajás. Agora, pergunto: como, então, se pode confiar em homens que ali estão para serem os guardiões das contas públicas se eles mesmos procedem desta maneira?

Outros servidores da União, em diversos setores, quando solicitam retificação de erros de níveis salariais a que têm direito, com muito custo conseguem – quando o conseguem - terem retificados seus vencimentos de direito e de fato. Os processos demoram em serem solucionados e bem assim os atrasados correspondentes, ao passo que os privilegiados membros do TCU resolvem tudo de seus interesses intramuros e com rapidez de solução. .Desta forma, como não gritar nas ruas por justiça social, por melhorias de vida e por um país que não tem interesse político de eliminar ou minimizar a corrupção em vários segmentos da máquina do Estado?

A não eliminação de regalias é um forma de crime sem punição. Ipso facto, cá embaixo, o mundo dos mortais da criminalidade e da violência, que grassam soltas pelo país todo, não deixa de ser reflexo do cinismo de nossa política e de nossas instituições públicas e privadas. Quando nos falecem modelos de ética e de moralidade da parte da superestrutura, quando o poder público está contaminado pelo vírus da indecência, da imoralidade, da arrogância e do cinismo deslavado, não podemos esperar, fora dos governos, um povo que se orgulhe de sua pátria, de sua identidade e de suas potencialidades nos diversos campos da atividade humana.

O cinismo, a indiferença e o desprezo pelos anseios justos da população são fatores geradores de autoritarismo e de prepotência - um caminho fácil para a instalação das ditaduras e dos regimes discricionários que voltam as costas para a sociedade e para os direitos de cidadania.

Sei que não foram vãos os gritos  nas ruas da população brasileira, sobretudo dos jovens que se sentem espezinhados nos seus direitos e nos seus desejos de bem-estar e de verem um país cujo governo trabalhe efetivamente para propiciar ao povo as reivindicações básicas e inadiáveis :nos setores da educação, do transporte, da saúde, da segurança e de outros domínios da vida pública e privada. Um governo que atenda a esses objetivos terá sucesso e apoio irrestrito da sociedade. Há muito tempo - nem mesmo sei se já o tivemos alguma vez - não temos no país um governo, no âmbito federal, estadual e municipal, que se enquadre na concretização dessas exigências e direitos fundamentais do povo brasileiro.









sexta-feira, 5 de julho de 2013

O sentido das manifestações populares no país





Cunha e Silva Filho


Somos um pais dividido no qual as classes sociais, consciente ou inconscientemente, têm seus padrões de comportamento e de visões múltiplas para o bem ou para o mal. Aí talvez resida algum perigo sempre que os brasileiros são convocados para as manifestações contra o establisment vigente.Quer dizer, não há nunca uma unidade sólida congregando a todos indistintamente.

Quem está no alto da pirâmide, não participa das manifestações que ocorrem, desejosas de mudanças. Quem está no nível de classe média pode reprovar o que vê de errado nas instituições governamentais, mas não deseja se expor.

Talvez, seus filhos, por influência da educação que recebem na escola, não acompanhem os pais já acomodados em sua vidinha sem grandes sonhos, a não ser aqueles que provêm do atrativo consumismo, de seus almoços de fins de semana, de seus carros comprados a prestação, de suas viagens à Disnneylândia, dos seus churrascos em casa, de suas conversas recheadas de futilidades, de suas conquistas amorosas, suas traições, seu bovarismo, suas mesquinharias, seu individualismo bastardo, seu fanatismo futebolístico, sua escola de samba, seu jogo de bicho, suas fofocas sobre marcas de produtos (tênis, roupas, modas, perfumes, salões de beleza, revistas de celebridades etc, etc) que compram com sacrifícios e de suas pretensões miméticas de aparentarem pertencer à burguesia endinheirada e vazia de ideais de transformações sociais.” Classe mérdea,” diria com sarcasmo o grande contista João Antônio (1937-1996).

Os milionários estão pouco se lixando para qualquer coisa ou para as questões sociais ou de mudanças de melhoria do povo em geral. Seus bens estão sólidos, seu dinheiro está bem guardado nos paraísos fiscais. Em qualquer grande reviravolta que suceder no país, eles estarão prontos  para fazer as malas e embarcar para o exterior deixando para trás as agruras e os sofrimentos do povão que não está nos seus planos, destituídos eles em geral de solidariedade e de cumplicidade. A elite está acima do bem e do mal. O que lhe interessa é manter-se onde está com o poder e a força advindos dos lucros do capitalismo globalizado. Seu ambiente social é outro, pois se faz de festas, de jóias, de viagens e de luxo.

O povão, a massa ignara, a turba, a patuleia continua a lutar apenas pela sobvrevivência,  vivendo no imediatismo das sobras das  outras  classes mais  aquinhoadas, sem leitura, sem estudos, sem nada.

Enquanto isso, o país se afunda na corrupção que parece uma “causa pétrea.” O clamor das manifestações nas ruas, por menor que tenha sido, pelo menos serviu para mostrar que o povo  -, a massa, a multidão -  não está mais disposto  a sofrer diante de tantos descalabros da superestrutura. Há um limite de desespero e de insatisfação além do qual tudo pode acontecer. O cinismo deslavado dos políticos, que ainda teimam em exibir uma postura impassível e pretensiosa diante do gritos das ruas, já começa a dar sinais de que alguma mudança considerável terá que se efetuada. Do contrário, os ânimos populares se acirrarão ainda mais, podendo resultar numa situação de desordem e de anarquia e, dessa forma, produzir outros efeitos inimagináveis no centro do poder.

Nossa democracia está em perigo. Se o sistema político brasileiro persistir na sua  prepotência e na certeza de impunidade de seus erros contabilizados ao longo de tantos anos de desprezo aos reclamos da sociedade civil, nas próximas eleições o povo alijará do poder parte significativa de nosso representantes na Câmara dos Deputados e no Senado.

A Presidente Dilma, diante dos últimos acontecimentos, tendo já sofrido uma queda vertiginosa de aceitação do povo, dificilmente conseguirá se reeleger. Se nos meses que lhe restam de mandato não lograr dar uma guinada de substanciais alterações no seu governo que se traduzam em melhoria concreta e a curto prazo em muitos setores do governo, sua candidatura terá insucesso. E o pior é que não se vislumbram outras alternativas de políticos que possam preencher tantos anseios de melhoria há longo tempo acalentados no tocante a setores vitais para um país que aspira a ter aprimoradas sua segurança, saúde, educação pública, sobretudo do ensino fundamental e médio, sua habitação para as classes menos favorecidas e outros setores da vida social.

O sentido das manifestações nas ruas do Brasil está claramente direcionado para todas essas carências e distorções perfeitamente identificadas pela povo. O governo federal, no conjunto de todos os seus três poderes, já tem o recado . Só lhe cabe, agora, apressar-se em dar pronta e imediata solução às grandes causas de nossas misérias e injustiças gritantes. Enfim, só há duas saídas para os que estão no poder atual: a  possiblilidade de contribuir para a  conquista da cidadania ou o caos social.