domingo, 29 de novembro de 2015

Elmar Carvalho: Poemas Inéditos*




                                                           Cunha  e Silva Filho

           No meu  ensaio de introdução à Lira dos cinquentanos[1] de Elmar Carvalho, antologia poética, não levei em conta o conjunto  de poemas da seção “Poemas Inéditos,” porque só fui conhecê-los depois de publicada a antologia. São nove poemas inseridos no corpus de poemas enfeixados na antologia.
        Desses  poemas quatro aparecem com data de composição, ou seja, “Chuva” (p.97), de 2002; “A cova do palhaço”(p.107-108), de 2005 e “Simbolismo” (p.111), de 1978, curiosamente, como  se vê, um poema antigo.
         “Pinheiros vistos  da janela” (p.109), “A um ganancioso morto” (113), “Guernica” (p.105-106),  Autoantropofagia” (p. 110), “Te(n)tação (p. 112) e “Viagem” (p. 114-118) não vêm com a data  em  que foram  escritos   os poema.. À vista desses dados informativos, me cabe fazer algumas  ponderações  de ordem crítica acerca desse  conjunto de poemas e ao mesmo  tempo procurar situá-los no conjunto geral  da produção poética do  autor.
    Da leitura desses  inéditos  há um aspecto que devo  apontar na  poética de Elmar Carvalho, i.e., vejo com satisfação que,  excetuando “Simbolismo,” de datação bastante antiga, segundo  assinalei atrás, embora seja um  poema de bom nível, os oito  poemas mais novos – pois  me parecem que os não datados são também  de fatura recente –  se me afiguram  sinalizar uma ultrapassagem de nível no trato do autor com o exercício da poesia. Vejamos por quê.
   Na ordem  em que os poemas aparecem na  seção de “Poemas Inéditos,” vemos, inicialmente, “Chuva,” um longo  poema, verdadeiro  hino à natureza, particularmente exemplificada no elemento “Chuva.” O poema me sugere uma sinfonia, uma orquestração formada de estrofes nas quais a extensão do  olhar do sujeito lírico abrange a paisagem humana e sobretudo o conjunto de objetos e seres da natureza em todos os seus ângulos e espaços  considerados.
       Entretanto, é  na dimensão da linguagem  poética  - fator determinante da sua  qualidade  – que, a meu ver,  o poema se qualifica como peça literária  original e de acabamento  refinado. Não hesitaria em considerá-lo um grande momento da lírica de Elmar, da mesma forma que no  poema  “Viagem,” que mais adiante comentarei,me deparo com outro  grande instante de puro e profundo  mergulho lírico  conseguido pelo  poeta, Em “Chuva”, todo o  poema se assenta nas suas múltiplas  possibilidades rítmicas, melódica,, musicais e sinestésicas.
       Aqui o poeta me parece ter logrado o enlace perfeito entre o significado das ideias e sua  forma de expressão  linguística. É bem verdade que Elmar, em  poemas anteriores, já tenha  empregado alguns   recursos estilísticos que se constituem em marcas  inconfundíveis de sua  poética, como  o ludismo sonoro-plástico-gráfico-sinestésico., o gosto pelas paronomásias, a palavra-puxa-palavra, a obsessão,  às vezes, exagerada pelas aliterações.
       O poema “Chuva” se distingue,segundo  acentuei anteriormente, pela sua  riqueza de sonoridades, de onmatopeias, sem se falar  no recorrente uso intertextual,  quer dizer, do diálogo com  outros  poetas, como é exemplo o verso “foi-não foi, foi-não foi tirado do poema de Manuel Bandeira (1886-1968), “Os sapos” da obra  Carnaval (1919),[2] através do qual, no Modernismo de 1922, o poeta pernambucano ironizava o Parnasianismo e principalmente, segundo Mário da Silva Brito,  "o pós-parnasianismo,” visando a alguns  poeta  conhecidos,  inclusive Olavo Bilac(1865-1918), numa das noites da Semana de Arte Moderna , no Teatro Municipal de São Paulo.
    A propósito,   esse  poema bandeiriano,  naquela Semana modernista, foi declamado  pelo também  poeta, diplomata e historiador  literário Ronald de Carvalho (1893-1935). Numa declamação feita sob os assobios, as zombarias do público reacionário que repetia em coro “foi, não foi.” O fato é narrado pelo  próprio Bandeira n o seu  Itinerário  de Pasárgada. [3]
       No segundo poema, “Canção Pastoiril de um Urbanóide,” o poeta  põe-se em choque com a modernidade  estabelecendo, ao final  do  poema, um contraponto a um tempo irônico e elegíaco entre as delícias e naturalidade da vida do campo e a solidão do concreto armado das grandes cidades.
       Em “Guernica,”  defrontamo-nos com outra alusão  intertextual, numa veemente crítica ao absurdo das guerras e da insanidade dos homens, destacando-se a estrofe com  palavras iniciadas,  iconicamente, pelo fonema velar sonoro, formando uma inventiva  estrofe aliterada quase  por inteiro, à semelhança   do célebre verso “vozes,  veladas,  veludosas vozes,”   que fazem parte de Faróis (1900) de Cruz e Sousa (1861-1898).
       Em “Pinheiro visto da janela,” de volta à natureza e a seus  elementos multifários, encontramos o lirismo como sinônimo de musicalidade, de sonoridades,  em versos cuja arquitetura vai ao encontro de imagens focadas nos seres inanimados, à procura de um sentido, cuja chave se encontra no próprio jogo das palavras  pelas palavras.
       Em “Autoantropofagia,” a lírica se desliriciza num  poema de corte surreal. No poema “Simbolismo,” com data, conforme indiquei anteriormente, de 1978, tem-se uma peça que se utiliza do recurso intertextual de cunho histórico, em que a longeva e milenar imagem da Esfinge egípcia, cuja figura aprendemos nos livros de História, ou mesmo  nas telas  do cinema, serve como  pretexto para uma  reflexão derivada de uma motivação também surrealista.
       Em “A cova do palhaço,” recorrendo também à citação alusiva (Heine), Elmar põe  em cena a figura de um  palhaço eslavo reduzida a um destino nostálgico e irremediavelmente  solitário. 
       O poemeto “Teia de te(n)tação, de recorte concretista, chama a atenção pelos recursos grafemáticos e espaciais, cujo epicentro do significado repousa na exploração de uma lubricidade porosa, solta, mas de grande efeito semântico-humorístico: “tateando/tenteando/tintilando/tuas tetas/caí em te(n)tação, entrei em tantação.” De resto, essa dimensão  jogando com o erótico- humorístico   já aparece  em outros  poemas de sua obra. Vejam-se-lhe os poemas  “Sex Appeal” (p51) “A ero moça” (p.56), “Sexo”(p.66) [4]       
       “A um ganancioso morto.” nos defrontamos com um  poema de clave filosófica, no qual se fala de alguém que, sendo ambicioso, de nada lhe valeu o apego à matéria.
       No último poema da seção “Viagem,” o poeta, mais uma vez,  escreve um longo e denso trabalho  de dimensão cósmica, universal. Poema abrangente, de andamento  épico -  recurso por ele já testado com sucesso mais de uma vez – no qual o sujeito lírico empreende uma “viagem” que vai dos elementos minimamente  divisíveis da matéria física, dos átomos, dos minúsculos recantos da natureza animal, vegetal e mineral, das superfícies da Terra às profundezas  oceânicas, da solidão do nosso  planeta às culminâncias planetárias, do profano  ao sagrado, da realidade histórica aos mitos. Não satisfeito, o poeta adentra o universo misterioso e encantatório da astrologia, criando magníficas imagens para cada  signo do Zodíaco.  
       São tantas as incursões em universo  vários  que esse  poema nos lembra o complexo universo das partículas  quânticas. Penso que esse  bem urdido  poema, pela ascendência literária,  tem  um  pouco a dever, mutatis mutandi,  em inspiração e tema ao Zodíaco (1917) de Da Costa e Silva (1885-1959).
       Digo  isso porque o poema de Elmar consegue combinar componentes   e aspectos diversos da natureza, emprestando-lhes alcance universal e sentido de ubiquidade. Entretanto,  essa “viagem” cósmica, entremostrada pela sua   poesia, não o leva a uma postura  cética de criação do Universo. Sua poesia vai -  célere -  a um encontro de natureza confessadamente  cristã. Sua  viagem é cósmica – devemos reconhecer -, mas seu encontro é com  Deus.
       Os poemas que aqui apenas  esquematicamente  comento dão, sim, sinais evidentes de que Elmar Carvalho – um dos melhores  poeta contemporâneos do Piauí - , ainda demonstra  muito  vigor e veia  poética para novas   incursões nos domínios do verso de qualidade.




[1] CARVALHO, Elmar. Lira dos   cinquentanos. 1. ed. Teresina: Fundação de Apoio Cultural do Piauí – FUNDAPI, 2006.
[2] BANDEIRA, Manuel. “Os sapos.” In: ___. Carnaval. (1919). Cf. BANDEIRA,   Manuel. Poesia  completa e prossa . Org. pelo autor.  Rio de Janeiro: Editora  Nova  Aguilar S.A, 1986. p. 158-159.
[3] Idem, p. 59.
[4] CARVALHO, Elmar. Rosa dos ventos  gerais. 2. ed. rev. aumentada e melhorada. Teresina: SEGRAUS – Serviços Gráficos do Tribunal de Justiça do Piauí, 2002.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Uma tragédia à brasileira



 Cunha e Silva Filho

          Tudo quase se falou sobre os rompimentos de duas barragens em Mariana, Minas Gerais. No Facebook foram inúmeras as postagens,  vídeos, comentários,  críticas contundentes a possíveis responsáveis pelo que ocorreu  com   os lugarejos de Mariana afundados em lama apinhada  de rejeitos  de minérios poluentes e  mortíferos,  para cuja    extração se usam  substâncias  perigosas à saúde humana,  à fauna e flora, como   soda cáustica,  mercúrio e outras substâncias  de alto risco para o meio ambiente.  Segundo os especialistas,   o desastre vai  ter  consequências nocivas  de, pelo menos,  um século por onde  a lama assassina tem passado e  já atingindo o  Estado  do Espírito  Santo,  destruindo tudo pela  frente:  gente,  peixes,  flora e a preciosa água fluvial. Sem se falar que  a lama mortífera vai atingir  o mar no Espírito Santo, causando, por sua vez,  danos  terríveis à fauna marinha.
      A lama gigantesca ainda se move de mistura com  as águas cristalinas do Rio Doce, hoje, um simulacro de rio  brasileiro,  outrora sustentáculo   contra a sede dos habitantes  que dele se beneficiam e derrocada  dos pescadores, agora privados pela tragédia vergonhosa  que se abateu no país, país já maltratado em tantas dimensões materiais  e imateriais.
           E por falar em fluvial,   já se constata em parte   a morte do belo  Rio Doce  atingido em cheio  pela vagalhão  lamacento, num desastre ecológico   nunca visto  em território nacional e poucas vezes no mundo.. Talvez, segundo  um  especialista,  o quinto maior desastre  contra a natureza  do planeta  Terra.
         Além de ter  ceifado  dezenas de vidas humanas, transformando  o extenso   percurso   danificado  pela  mar de lama, o desastre incomum  equivale,   mutatis mutandi,  a uma  explosão  de uma  usina  nuclear, ou mesmo a  certas consequências para o ser humano de   bombas  lançadas  em  Hiroshima e Nagasaki.
        Se em Paris houve o terrorismo do Estado  Islâmico, aqui, em Minas Gerais,  houve  o terrorismo contra  as águas do Rio Doce  e todo o entorno   ambiental  violentamente afetado. Foram,  por assim dizer,  dois  atentados imperdoáveis do ponto de vista  das responsabilidades que cabem aos dirigentes da mineradora  Samarco, da Vale (estatal responsável))  e das afiliadas estrangeiras.
         Felizmente,  o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) não está vivo  para  sentir  o pavor, a “terra arrasada,” de tudo isso, sobretudo  por ser  um mineiro da gema e um  poeta  antenado com  o que  de errado  acontecia no país. Haja vista o que ele  vociferou  contra  Sete Quedas e tantos desmandos  perpetrados   pelos governos federais, dos quais foi  contemporâneo o “poeta nacional” com justiça  definido  pelo crítico,  ensaísta,  historiador   literário e diplomata   José Guilherme Merquior (1941-1991).
        O povo brasileiro  ainda  não se deu conta,  presumo, do que  significa a destruição de um rio, da flora e fauna de uma região. Faltam vozes mais   firmes para denunciar  essa tragédia mineira, diria à brasileira porque me fundamento  na natureza  do desastre e, assim sendo,   na  s razões  de culpabilidade  que pairam   ainda   impunes  dos responsáveis diretos pela tragédia  ecológica.
          Não é possível que mais um “malfeito” fique  inócuo. Um tipo de  desastre dessas proporções,   em país  sério,  derrubaria  ministros e até  governos. Aqui, nada acontece. Podem até pensar que foi um act of God e não  uma  consequência   acarretada   por  incompetência  de gerenciamento de uma mineradora e sobretudo    desídia  dos aparelhos    estatais  diretamente    responsáveis  pela fiscalização do  nosso  território, das nossas fontes  hídricas e da segurança   e  manutenção   da normalidade  do que se constrói  de engenharia  de barragens, tão  distante  do know-how  do que se vê  na Holanda e em outros países   comprometidos  com   a segurança   de seus compatriotas.
      É  hora  de  o governo federal  ir atrás  dos reais  culpados  pela tragédia em Minas Gerais. Não é  correto da parte do governo  federal e estadual (de Minas Gerais) deixar  incólume  esse crime ambiental. Os males que está causando  às populações  envolvidas   pela tragédia em dois estados  brasileiros precisam  de ser  claramente   explicitados  pelos  atuais   Ministérios, notadamente de  Minas e Energia e  do Meio Ambiente e  da presidente da República  sejam cobradas soluções  rigorosas e   veementes.
      Não pode haver  silêncio  e  manipulações para  evitarem  que culpados  fiquem   impunes  e se dê a um crime dessas proporções  uma importância  menor. Pelo contrário,  é urgente que  o desastre de Mariana  receba do governo federal  toda a logística  possível, que às populações  afetadas   sejam  propiciadas condições financeiras  e de sobrevivência  para  poderem tocarem  suas vidas sem  se transformarem em párias   de crimes de lesa-pátria.
        O Estado  brasileiro  é a instância maior  nessa questão  tão  delicada e por esse motivo  tem que estar presente  com recursos  orçamentários  de molde a  minimizar  o sofrimentos  das cidades   criminosamente afetadas   pela incúria dos que  diretamente  têm a ver com  o rompimento das barragens. Os lucros já auferidos  pelo  governo federal  e pelas empresas mineradoras  não devem  se sobrepor  às aflições e aos prejuízos  de  que se tornaram  vítimas  sem culpa   as populações  mineiras e capixabas. Que – reitero – os culpados sejam   exemplarmente   penalizados  e  mais esse crime não permaneça   na indiferença  das autoridades federal e  estadual e na apatia  crônica de alguns brasileiros  cegos pelas paixões ideológicas.   

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domingo, 15 de novembro de 2015

Paris não é uma festa









                                             Cunha   e Silva Filho


           Mexer com Paris  é como  ferir  um botão de rosa. Ninguém deveria  machucar  essa Cidade-Luz, encanto  de todos os povos que amam  a cultura, os museus, as artes,  suas célebres universidades,  o cinema, a história, a língua e a literatura francesa, sua civilização,  “ a vitrine do mundo,”   segundo a denominou, se não me engano,  o crítico e historiador  literário  Afrânio Coutinho (2011-2000).
          Montesquieu (1689-1755))  uma vez  num texto afirmou que  os parisienses  são “de uma curiosidade que vai à extravagância.” Como fica essa curiosidade agora que a bela cidade de  um país de grandes escritores, tais como Victor Hugo (1802-1885), Lamartine (1790-1820), Proust (1871-1922), Mallarmé ( 1842-1898), não está precisando   dessa peculiaridade  coletiva  do espírito  parisiense,  visto que o terror  que a abateu  não deixa espaço para a curiosidade saudável, mas  para a apreensão, a tristeza,  o luto,  a rosa ferida,  a nação  despedaçada  pela tragédia  - fruto da ignomínia  de  bárbaros saídos   dos confins   das trevas para virem   cobrir de sangue inocente  a cidade amada dos  escritores, dos  filósofos, dos intelectuais, dos estudiosos,  dos  estudantes,  dos turistas do mundo inteiro que a procuram  por ela ser  a metrópole mais  visitada  do mundo.
       Paris não é uma festa. Com dois massacres   pusilânimes num só ano e, anteriormente,  com um histórico de atentados,  se tornou uma cidade  que merece, sob todos os aspectos ligados à segurança,  ser  mais bem preservada  pelas  autoridades federais  que devem, urgentemente,   aumentar  por mil   a vigilância  da entrada de  imigrantes, sobretudo  vindos  do Oriente Médio.
      Não somente   a linda e  elegante  Paris, mas a França na sua inteireza territorial. Sua liberdade, sua fraternidade,  sua igualdade  já não podem ser praticadas  tanto em  tempos  de terrorismo,  de insegurança e de explosões. Tudo tem limites,  É hora de cuidarmos  mais  das suas ruas, praças,  monumentos,  museus,  enfim,  de todos os lugares, tanto no centro, quanto nos  banlieues.
      Paris não é uma festa.  Os bárbaros não a podem  invadir nem a podem  deixar  assim,  em estado  de  melancolia,  de incerteza,   de tensão, de um   metróple  à mercê de  sanguinários .
    Cada vez mais me convenço  de que  a política de imigração  tem  quer  ser cautelosa, criteriosa, da mesma forma que  para os franceses  natos  deve haver  vigilância nos limites da lei,  a fim de  separarmos o trigo do joio,  quer dizer,    deve-se estar atento àqueles franceses  que deixam seu país para se aliarem  a terroristas.
   Há alguma coisa errada com o sentimento de patriotismo  francês, que não estou  entendendo, mas que,  repito,  muito está  conexionada a uma formação  cultural frouxa e permissiva. Isso tem a ver, de alguma  maneira,  com  a questão  de entrada  de  outros povos, etnias,  não  querendo se afirmar aqui que  o país se feche   a refugiados, a imigrantes ou  se torne   presa de xenofobia. Longe disso.
   Há que  repensar  profundamente essa questão   de melting  pot. Nos Estados Unidos  surgiram  alguns  problemas que ainda preocupam o modus vivendi americano.Haja vista às ondas recorrentes de  preconceitos   raciais com mortes de negros inocentes  assassinados por policiais  brancos, os quais não aprenderam  ainda   as lições de Martin  Luther  King  (1929-1968) infelizmente, e num segundo mandato   de um  presidente   negro e ainda por cima  um  ganhador do Nobel  da Paz.
    Isso é grave.  No Brasil,  idem, pois não podemos   assegurar que aqui  estamos  vivendo uma democracia  racial. Há ainda grandes entraves  implícitos, nós não  desatados  em benefício de uma   vida civilizada  e democrática do ponto de vista   étnico-cultural-religioso.
  Num  mundo globalizado,   virtualmente   interligado,   alguns  prováveis conflitos  surgem  com  essa nova realidade  pós-moderna de deslocamentos  mais  rápidos e contínuos entre  povos  e civilizações diferentes.  
  Há algo  errado que está acontecendo com a formação da cidadania francesa, com a educação  dos franceses que não pode ser relegada a plano secundário a ponto de   jovens franceses  se bandearem  para  grupos  terroristas   que confundem  religião mal assimilada com   o islamismo   professado  para o bem. Esse ensinamento   desvirtuado  das fontes genuínas  do islamismo  não pode ser  digerido  pela mentalidade pela juventude francesa.
   O massacre no Bataclan em Paris é fruto desse desvirtuamento. Se planos terroristas são arquitetados dentro  de Paris ou fora do país é porque  os terroristas  têm  conhecimento  de lugares-alvos de sua  carnificinas.
    O que não se pode tolerar é que jovens  que estão se divertindo ,como é próprio  da sua idade,  sejam   alvos  de ataques   macabros,    sem sentido,   sem justificativa.
    É hora de o governo francês e de outras nações que combatem  o terrorismo do anárquico Estado Islâmico e de outros grupos  terroristas  repensarem    formas de   conterem    esses atentados no Ocidente  europeu.
   Até agora, não vi nenhum pronunciamento  por parte da ONU e do seu Conselho de Segurança. Não adianta  lamentar o que ocorreu em Paris. Urge  planejar formas de   dissuadir  novos atentados com firmeza  e  inteligência. Na Segunda Guerra Mundial não  conseguimos  conter  as forças  inimigas do nazifascismo?
   Por que um  bando  de  sanguinários,  formados  de  fanáticos  religiosos, de assassinos a sangue  frio não foram ainda debelados, quando  hoje  dispomos  de sofisticados   equipamentos  bélicos?
   A França mais uma vez subestimou a ousadia  dos  terroristas. Isso é suficiente para  dar-se  uma basta   a essas iniquidades praticadas contra a “humanidade,” como  assim definiu o Presidente Barack Obama.  O Ocidente não pode  permanecer refém  de potenciais   ataques terroristas.
   Paris não é uma festa. Precisa de todos aqueles  que, um dia,   a visitaram  e se  deslumbraram  para sempre com  a sua beleza  física e sobretudo  cultural.  Paris é de nós todos e, por amarmos  a cultura francesa,  estamos igualmente  enlutados e prontos a defender a Cidade-Luz. Com os franceses nos solidarizamos pinçando essa legenda que vi na tevê   numa  camiseta de uma jovem  francesa: "Je suis  Paris."
    
   



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domingo, 8 de novembro de 2015

Uma questão recorrente







                                      Cunha  e Silva Filho



Por mais que não deseje voltar ao tema, o dever de cidadão brasileiro  fala mais alto e é por isso que volto  à tona   discutindo  a violência  generalizada no país, não só nas megalópoles Rio e São Paulo, como também   nas outras capitais  e mesmo no interior. O meu afastamento  da questão não significa que esteja  pacífico em relação a ela.
Ao contrário, tenho  acompanhado pelos canais de  TV e pelos jornais o noticiário da criminalidade. Ela se alojou no  seio da sociedade  indefesa, abandonada  pelas autoridades  de segurança. Até parece que  esse mal  instalado  serve a interesses   escusos, já que  não atacando  a criminalidade  brasileira,  equivale a cooptá-la  do ponto de vista   da solução  do problema.
Continuam a se multiplicar os casos de  violência Ela  penetra em  todos os setores   da vida em sociedade: nos lares,  na rua,  na indústria,  no comércio, nos serviços diversos, nas padarias,  nos shoppings,  nos bancos – todos  esses  espaços  são  alvos  de  bandidos à cata do dinheiro  fácil acobertado  pela infame   impunidade   e   descaso   dos órgãos  de repressão policial,  dos departamentos  de segurança,  do Ministério da  Justiça. Tenho a impressão às vezes  de que  o país vive um período  de  longa  treva fatídica  de  alheamento  do governo  federal  para com  a questão  da criminalidade.  Mais ainda,  tenho   a impressão de que há um  vazio  de governança  no Brasil que não se restringe tão-somente  à discussão   ora levantada  neste artigo. Esse vazio  se denomina  falta de comando,  de vontade  política para cuidar  profundamente  da segurança  do povo brasileiro.
Não é possível que  vozes  de homens  sérios deste país  sucumbam  à passividade,  à estagnação no tocante  a   pôr esse quesito  em evidência e como  um  dos maiores  problemas que   o país  deve enfrentar.
Será que não se deram ainda conta  de que  estão  matando  nosso  jovens,  nossas crianças, nosso adultos,  nosso velhos entregues à própria sorte e vivendo   sob  um estado de terror que se está banalizando?
       Onde estão os órgãos mais  decisivos  da Justiça  Brasileira que  não  se  debruçam  de vez sobre  as vítimas  da  delinquência,   dos homicídios  diuturnos,  dos assaltos  a bancos e a outros  lugares -  reitero -,  a ponto  de   não mais  a população acreditar  que  somos  uma  nação  relativamente   desenvolvida  e que,  por esta   razão,   não deveria  estar vivendo  um clima  catastrófico  de  verdadeiro genocídio de suas  população  indefesa?
          Os senhores   do poder  não se pejam  de que  a imagem do país  está cada vez mais desgastada diante  dos olhos de países desenvolvidos,  seja que forma  de governo tenham?
 Isso não acontece na China,  no Japão, nos Estados Unidos,  na Suécia,  na Suíça, até em Cuba ou na Rússia? E aqui não estamos em guerra civil,  não sofremos  do terrorismo    islâmico,  não somos bombardeados  por aviões não-tripulados, não sofremos uma intervenção de um país  estrangeiro, nem fomos    invadidos  pela  tristeza  dos imigrantes  vindos  da Síria e de outras   regiões  do mundo em  guerras   civis e outros tipos  de  sofrimentos.   
O que nos falta  para   iniciarmos  uma combate sem trégua  à criminalidade  no país? Vontade política,   decisões firmes  de um  governo  federal que  deu as costas  para essa questão  vital  e inadiável.
O povo brasileiro  não dispõe de segurança armada  particular   para poder  ir às ruas   sem medo. A Presidente da República tem sua segurança ao seu lado, os governadores, os prefeitos, os  ricos, os ministros, os deputados e senadores, os desembargadores, juízes,  idem. E a  patuleia,  que tem que enfrentar  o metrô,  os ônibus,    os trens,  o dia-a-dia  com todos os  altos riscos de vida,    que tem de enfrentar   os centros  das cidades  e as periferias? Quem vai socorrer toda essa gente de  classes desfavorecidas e de classe média?
Deixem só de  lengalenga  tentando descobrir  quem é mais   desonesto na politica nacional e levantem os olhos   de forma  patriótica para salvar  a sociedade  de malfeitores, de  delinquentes armados e  protegidos  pelos direitos  humanos,  de assaltantes que matam   sem misericórdia  os cidadão  trabalhadores  de bem deste país   desmoralizado pela   escândalos  de roubalheiras  de  big shots de parte das grandes empreiteiras   mancomunados com  a  setor  público  do Estado  Brasileiro.
Criem leis que salvem  os  brasileiros   abandonados  pela segurança   pública incompetente.  Revejam  a maioridade  penal nos casos de  criminosos,  de maior  ou de menor, que  estão   assassinando  o nosso  povo de forma brutal  caracterizando   crimes  hediondos.
Se os governantes  ou  os  responsáveis  pelas penalidades  infligidas  a  facínoras  incorrigíveis, verdadeiros monstros  saídos  do Hades, não  alteram   o Código  Penal  em alguns  quesitos   importantes,   se  acreditam que a culpa de   delinquentes   se deve à situação social   do povo, à pobreza,   às desigualdades,  por que não lutam  para   combater  os governos que ainda mantêm  populações   vivendo em verdadeiros  guetos, em comunidades  lideradas  por  traficantes e   bandidos   armados  com   poder de   destruição   igual  ou superior aos das  Polícias  Militar, Civil, Polícia  Federal e Forças Armadas?
Se todos os pobres em conjunto  fossem  bandidos,  seria  a derrocada  do país,  porquanto  não haveria  como   resistir  às numerosas  formações de gangues, de máfias, de milícias  e de outros grupos  de fora da lei. Não,  ao criminalidade  não advém somente  do fator  pobreza.
 Ela se  origina  em outras   fontes realimentadoras  do crime: a educação pública   sucateada, o alastramento  do uso das drogas,   a co-participação dos  consumidores   de drogas  das classes privilegiadas  que sustentam o grosso   da traficância,  a falta  de  vigilância  nas nossas  fronteiras  com   a facilitação da entrada de armas  pesadas  em solo  brasileiro, a parte podre  da segurança   pública.
Estes e outros  são   elementos  determinantes   do recrudescimento da escalada sem-fim da criminalidade  no país.  No entanto,  o que  mais fica evidente  como    solução a médio  prazo  é  o investi mento   maciço  na educação  das crianças e adolescentes,  o real   aumento de emprego  e de maior renda  para a média da  população  ativa, a melhoria  de nossa saúde pública,  dos nossos  transportes  de massa,   de campanhas   direcionadas   à prática de esportes e de áreas de lazer  nas comunidades,  de possibilidades de acesso aos bens imateriais  instilando nos  jovens a fruição  das produções artísticas: dança,  teatro,   literatura.

Creio  que só  na possibilidade de propiciar  às crianças e jovens carentes os benefícios mencionados  se poderia  mudar substancialmente    o quadro da miséria  espiritual  e da   tentação dos jovens  para o mundo do crime  e da dissolução dos costumes. Educação e cultura são o binômio para  redirecionar  esse país   manchado  pela  impunidade,  pelo descaso   público  e pelo mau exemplo crônico – não é só de hoje -   que nos vem do topo da pirâmide social.