quinta-feira, 28 de abril de 2016

SOMOS TODOS ANÔNIMOS




                                                     Cunha   e Silva Filho



          No decorrer do tempo, a visibilidade de uma autor, seja critico, cronista, articulista,  ficcionista,  dramaturgo,  gramático, filólogo, tradutor, o que seja no domínio  da escrita literária, se apaga, passa ao limbo à medida que os anos e os séculos se inscrevem no tempo  decorrido.  O tempo é como um  grande  romance conhecido de Machado de Assis (1839-1908), tudo devora,  pois é uma sucessão de passamentos que valem, a meu ver,  por uma definição, ou melhor,  uma  concepção algo  pessimista  da vida. Todos  somos tragados, pulverizados pelo silêncio  do tempo, da época. Ninguém quase escapa dessa condição humana auto-refletida na vaidade e na rapidez enlouquecida dos tempos  pós-modernos. 
       Certa feita, um professor universitário, diante de seus alunos,confessou essa situação da existência contingencial diante  dos valores  conhecidos e incensados numa data etapa, valores em geral  constitutivos de nichos,  de grupos, que têm muito em comum,  até as práticas  acadêmicas,  as pesquisas semelhantes,  os interesses intelectuais,  os  postos de comando. Diria  o professor: ”Ele tem o seu grupo, os seus  seguidores. Nós (não sei a que grupo ele quis se referir  para si) temos o nosso. Isso nos basta. Cada um fica na sua fronteira,  no seu espaço conquistado. Não me importo se eles me estimam ou não. Não quero saber  disso. Faço a minha parte.” 
      Se a vida literária nas décadas de 1930, 1940, 1950, somente para  recortar  um  bom  período de tempo em que  houve tantas  lutas,  polêmicas,   injustiças a autores,   má  interpretação de outros, cabotinismo, estrelismo,  luta  pelo  poder  das ideias  literárias   ou de métodos  críticos  ou de  práticas  estéticas  vigentes  na produção  literária  brasileira, é caracterizada  por marchas e contramarchas,  por  grupos a favor  disso ou  daquilo  no âmbito da literatura  ou de grupos  contra  o establishment  literária, é bem visível  igualmente que a voragem do tempo foi   devastadora.[1]
     Um crítico marxista, em livro,  afirmou que  um determinado  crítico brasileiro  não valia  a pena ser mais lido. Já não falava mais nada no tocante às suas ideias  sobre literatura. Vejo, diante de um fato dessa natureza, que  a visibilidade é realmente  uma leve brisa que passa e se fixa no passado sepultada até que, por uma circunstância ou outra,  sai do limbo.
    Ora,  esta condição de ser um  sujeito  efêmero na atividade  literária de alguma maneira   tem um efeito salutarmente   pedagógico  àquelas figuras  que se  julgam  ou são  consideradas  por seus  simpatizantes, seus contemporâneos,  seus incensadores, ou endeusadores de suas qualidades ímpares   muito acima da mediania visto que  lhes fazem  despertar  para  as condições impostas  pelo dinamismo de mudanças  e multiplicidades de  concepções e de ideias. A história literária mostra que a contemporaneidade   é apenas uma fase  transitória  que logo é atropelada  por novos ventos que se lhe opõem ou a superam.  Diria Gilbert Frankau (1884-1952): “For all heights are lonely”[2].
      Serve, então,  de alívio  àqueles que, por diversas  razões  ou  condicionantes de vida, nunca se tornaram  figuras marcantes  ou foram  mal  julgadas  ou rejeitadas na sua  época. A historiografia   literária está repleta de  exemplos  que se  encaixam nessas condições  de escassa  visibilidade.  
     Por outro lado,  é confortador   que  o julgamento  alheio  jamais será  um indicador  imparcial  de  valorização  de autores em qualquer gênero. Os autores que se julgam  subestimados  não devem ter uma  postura acabrunhante a ponto de  desejarem   desistir de seus objetivos  ou projetos  traçados no terreno  da produção  de sua obra. Muito ao contrário,   deveriam ter sempre ao seu alcance  sua  utopia, o acalanto de um  sonho  que se realizará  a despeito  dos  espinhos e dos  dissabores   que   terão que enfrentar.
    Sua grande saída  é revestir-se de uma  grande   força de vontade  e de desprendimento  sem sinalizar  nenhuma  marca  de desânimo e de abandonar  o percurso   já conquistado com ou sem  visibilidade. Todo o seu esforço deve ser em direção ao auto-aperfeiçoamento contínuo, resistindo a tudo e a todos e tendo sempre em mente  a ideias de que todos os seus pares, mais conhecidos ou menos conhecidos,   conhecerão  o ocaso  do esquecimento e da ultrapassagem dos novos, numa sucessão incansável de perdas e ganhos. A metáfora  dessa fase de  ultrapassagem ou superação das novas gerações  está bem descrita pelo  hoje esquecido  escritor  Origens Lessa (1903-1986), precisamente  nas páginas  finais  de seu  romance O feijão e o sonho[3] obra que,  por sinal,  foi adaptada ao cinema. A metáfora a que aludi constitui parte ponderável dos últimos  capítulos da obra. Vejamos uma citação que representaria bem  a glória  literária e a sua  decadência, que chamei de ultrapassagem:

         [...] Todo o alto castelo  que construíra com lágrimas, com sofrimento, com paixão, esbarrondava ao simples sopro de uma geração que o demolia, como ele tentara  demolir trinta anos antes, com a mocidade do seu  tempo, as glórias  encontradas.”




NOTAS:

[1] Cf. Acerca da vida literária   duas obras,  a meu  ver,  são fundamentais  ao conhecimento da vida  literária  brasileira  quanto ao recorte  temporal  de cada uma.. Ver BROCA,  Brito. A vida literária no Brasil -1900.   3 ed.   Introdução de Francisco de Assis Brasil Rio de Janeiro: Livraria  José Olympio Editora/PROLIVRO, 1975 e COUTINHO, Afrânio. No hospital das letras.  Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro,  1963.A primeira  se notabiliza pela notável abrangência de  exposição e de fatos ; a segunda,   pelo  tom  polêmico e contundência da exposição.
[2]  Ver o ensaio desse autor, ”I am a lowbrow.” Apud ECKERSLEY,  C.E. Brighter English. Revised edition. London: Longmans, 1964, p. 217. .
[3]  LESSA,  Orígenes. O feijão e o sonho. 6. edição. rev. Biografia de Renard Perez  e Introdução e notas de Ivan Cavalcanti Proença.. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1968, p. 200.

terça-feira, 26 de abril de 2016

O RIO DE JANEIRO NÃO ESTÁ BEM








                                              CUNHA E SILVA FILHO



          A “Cidade Maravilhosa,”  se não tiver cuidado,  vai  perder  essa mundialmente  conhecida antonomásia, se não se cuidar a tempo. Cercada de violência nas favelas,  nas ruas, nos bairros,  na zonas sul, no centro,  na periferia, na Baixada Fluminense, na zona oeste, super-povoamento, calor insuportável (efeito estufa),   com sistema de saúde   precário,  violência nas escolas, cidade  marcada  por acidentes injustificáveis e vítimas fatais, como o trágico desabamento da pista de ciclovia  em São Conrado, na Avenida Niemeyer, vandalismo  de  adolescentes em ônibus etc, etc.    
        Há limites para tudo,  até para chamar alguém  de “lindo/a” com  outras   frases,  muitas vezes, meramente  formais.  Não quero insinuar que, quando  chamo alguém de “linda,” esteja  sendo apenas  cortês. Prefiro  usar o o elogio de forma indireta  ou com  outros torneios  retóricos e sutis.
       Contudo,  noto que alguns exageros há, sobretudo via  redes sociais, o Face, por exemplo,  em que chamar  alguém de “lindo/a” virou  uma banalidade. Todos nos tornamos lindos, lindos, lindos! Haja lindeza! Por favor,  não vão enganar a autoestima  do/a amigo/a só por educação  ou hipocrisia “educada”, ou, o que, em velhos tempos, se denominavam “mentiras convencionais de nossa  civilização.” Por outro lado, não me venham definir como  casmurro, resmungão, chato. Performo e constato – eis o que faz a linguagem literária ou não (J.L.Austin).
      Certa dia de aula no mestrado,  um  poeta e estudante desse curso,  não sei por que cargas d’água,  sapecou  o termo “resmungão”para definir o grande poeta Carlos Drummond de  Drummond (1902-1987). Ninguém, ao redor da grande mesa retangular  da sala de aula, mostrou qualquer  concordância. Ainda bem, eu inclusive. Fiquei calado e me arrependo de que tenha  feito isso. Devia sair em defesa do bardo de Itabira.
      Drummond merecia  uma defesa, sobretudo  porque era a matéria prima  do curso que estava  sendo  ministrado pela  saudosa  professora  Gilda Sizklo. O mesmo poeta que também  lecionava (é falecido)  numa  universidade  particular do Rio, em outra  ocasião do mesmo curso, reclamou  de que a professora Gilda, na bibliografia  passiva de Drummond,  incluía  mais estudos  de autores  judeus (Gilda, por sinal,  era judia).
       Mas,  retomemos o tema desta crônica, o Rio de Janeiro, não só a cidade, mas  o estado  todo. Primeiro,  me vem à tona  a situação  angustiante  e injusta em  que estão  vivendo no momento os funcionários aposentados do  estado.  Um caso sério, que merece toda a nossa  indignação, o nosso  repúdio.
       Vou dar dois exemplos: o daquele policial  aposentado  que está sem receber seus proventos, não tem  dinheiro  para comprar  os remédios de que precisa  mensalmente e nem pode comprar o básico da sua alimentação. Ou o daquela  senhora  professora que se queixava de ter dedicado a vida inteira ao ensino e agora não pode  pagar  suas dívidas, seusustento, seu aluguel. Aproveitou para mostrar à repórter  o estado em que se encontrava sua geladeira: praticamente vazia de tudo. Esses dois exemplos são emblemáticos  para   traduzirem  o desmantelo das finanças  estaduais  do Rio de Janeiro.
     O governador, se não me engano, ainda está doente. Substituiu-lhe o velho político  Francisco Dornellles, vice-governador, de  81 anos. Como economista que é, mostrou-se solidário com  a gravíssima  situação de falta de pagamento  dos barnabés estaduais e surpreendeu-me ao afirmar: “Jamais vi uma  situação  financeira tão  delicada, tão trágica,  quanto  a que está atravessando  o estado do Rio de Janeiro.”  Dornelles, com  modos  cansados, e  aparentando ter mais idade, não tinha nada de alvissareiro a declarar sobre  quando  os atrasos  salariais serão normalizados.  
       Agora, vou problematizar  o questão  da falta de dinheiro  no governo estadual. Ora,  não é tão  complexo  assinalar  alguns  motivos  da  quebradeira  fluminense. Primeiro,  os gastos astronômicos feitos pelo governador   Sérgio Cabral  no tempo da Copa Mundial.
         Em seguida,  os gastos  gigantescos com a preparação para os Jogos  Olímpicos que seriam bem-vindos ao país se não houvesse  uma falta de  infraestrutura   para a cidade merecer  sediar  os jogos, agravada com a crise  econômico-fananceira que assola o país  sem misericórdia e com  efeitos  colaterais  sem precedentes,  fazendo-se sentir mais  em alguns estados brasileiros, como  o Rio de Janeiro,  o Rio Grande do Sul.
        Obras  faraônicas realizadas no Rio de Janeiro  com vistas  aos Jogos  Olímpicos necessariamente redundariam em  abalos  nos cofres  fluminenses,  sem se falar   em  possíveis superfaturamentos governamentais a serem  investigados  pelo Ministério Público, Polícia Federal  e outros  órgãos competentes.Do meu ponto de vista,  ousaria afirmar que a crise estadual se embrica  profundamente na crise econômica do governo  federal.
     Mais um ponto de convergência à prática de ilicitudes pode ser rastreado nos gastos da campanha política que deu vitória ao governador  Pezão. Possivelmente,  o seu antecessor já tinha legado ao atual governador uma situação  financeira  falimentar.
       Existe algo de sumamente injusto  na questão de atraso de pagamento  no  Rio de Janeiro. Os  altos cargos do executivo,  do legislativo e do judiciário  não sofreram nenhum atraso  de pagamentos.
     Ora,  os ocupantes desses  cargos, tendo salários elevados,  são os primeiros a receberem  integralmente  seus  vencimentos. Continuam recebendo  em dia, o que  configura, a meu ver,  um despropósito, uma covardia e   uma flagrante  injustiça  praticada contra quem  ganha  menos ou percebe baixos salários, ou ainda  está  na condição  sem voz,  que são os aposentados  de categorias  mais humildes.
      Mesmo recorrendo à Justiça  para obrigar o governo a pagar seus vencimentos,  o funcionalismo   ainda tem suas reivindicações justas indeferidas  pelos  órgãos  oficiais. Ou seja, quem não tem voz, como os menos afortunados  barnabés, vai ter que  passar privações aflitivas  ou até se endividar   com possíveis cantos de sereia que, nas horas de aperto, se aproveitam  do infortúnio alheio e,  com as garras afiadas de Shylocks,  ficam espreitando a primeira  presa  que encontram.

        

sexta-feira, 22 de abril de 2016

MEU ANTIGO HOBBY: LIVROS PERDIDOS







  


                                    Cunha e Silva Filho


         Quem é meu leitor de há tempos talvez se recorde de que, depois que vim para o Rio de Janeiro, anos mais tarde, nessa cidade de  delícias e de tristezas (veja o  recente desabamento, com vítimas fatais, da ciclovia na Avenida Niemayer, para não  relembrar outra tragédias  ocorridas ao longo da história dessa cidade paradisíaca por natureza), procurei  recuperar meu  livros perdidos  na adolescência em Teresina e nos restos de juventude  de vida  carioca.
         Tenho uma boa notícia: estou dando que por encerrado esse velho  hobby. Fiz as contas,  considerei  algumas perdas talvez  sem volta, como aquele livrinho de expressões idiomática da língua inglesa,  de Neif Antonio Alem, publicado pela Melhoramentos, São Paulo;  a 3 ª série La grammaire par la langue, (Editora Globo), do famoso  professor do Colégio Militar do Rio de Janeiro, o filólogo Julio de Matos Ibiapina (1890-1947);  um volume da 1ª série colegial (científico) de um autor com nome  difícil de que não me lembro (acho que da Editora do Brasil, não estou bem certo); uma coleção ginasial  do King’s English, de Harold Howard Binns (Companhia Editora Nacional), assim como dele um  livro de inglês comercial, da mesma editora; uma gramática latina de Mendes de Aguiar.
        A gramática de Mendes de Aguiar propriamente  não perdi, mas   havia  ofertado  meu exemplar trazido  comigo de Teresina a um amigo no Rio de Janeiro, um colega da CESB (Casa do Estudante Secundário Do Brasil).
     Aquela gramática latina, aliás, era de meu pai, uma lamentável  perda pela qual  assumo  toda a culpa. Havia ainda uma autora francesa de um bom livro ginasiano. Infelizmente, não me recordo do nome dela. Se, por acaso o ler,  decerto  me vou  lembrar do livro.
    Também  perdi um pequeno  volume de idiomatismos do inglês em forma de diálogos, Humorous dialogues,  do velho e conhecido  autor de uma  obra para o ensino do inglês,  vendida em todo o país nos velhos tempos, que é The English gymnasium grammmar, de Hubert Coventry Bethell. Assim jamais encontrei à venda  a chave de exercícios da citada gramática desse autor, que  escreveu ainda outras obras para o ensino  do inglês.
      Outro livro que não consegui  encontrar foi a chave da excelente gramática inglesa, A new practical English course for students, da autora portuguesa Maria Manuela Teixeira de Oliveira. Minha edição é a 6, ª da editora Gomes e Rodrigues LTDA, s.d., Lisboa. A autora  publicou  vários outros  livros para o ensino  da língua   inglesa.  
     Ainda tenho a gramática daquela excelente autoradidática portuguesa. Meu livro de espanhol do curso científico, cujo autor não me vem à lembrança, ainda estou  procurando.Um boa antologia de espanhol  ainda vou adquirir, pois sei que existem no  sebo  virtual. Outros livros da Coleção da antiga  F.T.D. de língua  inglesa,  francesa ando  procurando. Contudo,  é provável que os encontre no sebo  virtual.
    Quando nessa crônica falo de livros perdidos aí igualmente incluo outras obras didáticas escritas pelos meus autores  lidos  no Piauí no ginásio e científico.
      Há tempos tinha  pensado em escrever a história do s autores de língua  inglesa no Brasil. Seria algo  em formato de um  dicionário,  com  dados  pessoais do autor, sua formação  intelectual e sua bibliografia.  Seria escrito em forma bilíngue. Pensei numa obra dessa natureza tendo em vista que sempre me  chamou a atenção  o fato de os autores didáticos  serem  tão cedo  esquecidos tanto  por estudantes quanto  por professores. 
     Sempre tive um especial carinho  pelos autores didáticos dado que  neles vejo  a importância que  tiveram na minha formação  intelectual (e seguramente de muita gente através das gerações) em consideração as bases em que se estribou  essa formação.
      Por outro lado, tive sempre em conta a importância de livros que tivessem  a chave dos  exercícios propostos,  expediente didático que  primeiro  observei na velha coleção da F.T.D, de resto, já citada  aqui. Muitos professores eram contra essas chaves, para mim  de grande valia. Até na universidade, não se viam com bons olhos as chaves, mas logo eu  percebi o quanto  elas são  decisivas, sobretudo para os alunos que gostam de concluir  independentemente (fui um deles) seus estudos, tanto no  ensino  fundamental e médio quanto, em alguns casos,  no ensino superior.
     No meu curso de Letras (UFRJ), uma professora  a Klara Wirz, já falecida. Era suíça, ou, no mínimo, uma descendente de suíços. Ela  elaborou uma excelente  apostila sobre versão inglesa, disciplina que lecionava magnificamente.Com o tempo, organizou  outras apostilas, todas mimeografas. Iam do nível intermediário  até ao nível avançado. Durante algum tempo,  prometia que ia publicá-las e, se fossem publicadas em livro,  prepararia  uma chave  para cada volume. Suponho que  ela não chegou a editá-las comercialmente.
      De início,  o que seriam as  futuras apostilas, eram folhas grampeadas distribuídas aos alunos.A matéria abrangia frase do inglês coloquial, algumas  curiosas e cheias de humor,  como se fossem  diálogos vivos, mas eram frases nas quais de propósito punha situações vividas na  conversação diária. Muitas frase ela criava durante as aulas. Anotava, certamente visando ao aperfeiçoamento  das apostilas.
 Da professora ilustre, Klara Wirz,  tenho ainda comigo três apostilas, com o mesmo título, Exercises for translation into English, correspondentes aos  anos de 1971, 1972 e 1973 e editadas pela Faculdade  de Letras da UFRJ.
    Tenho uma forte vocação para os estudos  independentes e não tenho  pejo de  expressar a minha admiração pelos estudos autodidáticos. Já dizia um romancista  e crítico  brasileiro,  Adonias Filhos (195-1990)  que  à uma certa altura de nossa vida  intelectual,  o caminho  seguro são os estudos autônomos, sem receio de ser tachado de anacrônico.
      Hoje em dia,  no Brasil,  tornou-se uma regra áurea as outrora criticadas  chaves  de exercícios de livros didáticos, as quais tanto  têm auxiliado, a meu ver,  os professores   brasileiros. Livros para o ensino de línguas  estrangeiras,  pensando nos  estudantes ou aprendizes  que têm vocação  para serem  independentes em seus estudos, apresentam geralmente  as chaves dos exercícios, até no caso de gramáticas,  além de utilizarem outro  material  de grande alcance  pedagógico nos estudos de línguas,  os chamados CDs com os diálogos gravados  na língua  estrangeira.

     Ora,  esse é um passo  de alta  relevância  aos estudos  de idiomas. Na minha época havia professores de língua estrangeira que poucas vezes tiveram a  oportunidade de  ouvir a língua que lecionavam. Oh,  como são felizardos  os estudantes de hoje! E muitos nem se dão conta  desse desenvolvimento  no ensino nem sabem  aproveitá-lo em tempo certo.Não sabem o que estão perdendo, desperdiçando o tempo útil e a idade que têm. Oxalá consiga  atingir meu  objetivo de dar por encerrado o meu  antigo hobby. ´É hora de escolher  outro hobby que me venha trazer  tanto   prazer quanto me deram os meus  amados livros didáticos.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Num Shopping do Rio




  Cunha e Silva Filho



       Não é todo fim de semana que vou  a um shopping do meu bairro, a Tijuca.Com esse calorão insuportável,  o Shopping tem lá o seu valor porque, logo a partir da entrada,  já sentimos  a mudança da queda de temperatura. Lá fora,  o sol escaldante me lembra o sol de Teresina num ponto tão meu conhecido, a Avenida Frei Serafim, perto da linda e altaneira  Igreja de São Benedito, recanto que faz parte   ponderável do meu tempo em Teresina. Quantas  lembranças!  
       Ao ir ao shopping tenho três  missões: comprar um  jornal, entrar na livraria  Saraiva e completar o percurso  olhando as vitrines a pedido de Elza. Esse trajeto já se tornou  um hábito. A saída de casa é motivada também  pelo fato de termos que aproveitar o passeio para dar uma caminhada até ao shopping. Anteontem mesmo,  estive lá com Elza e Alexandre, um dos meus  filhos,  o mais novo. O mais velho,  o Francisco,continua  em Curitiba, lugar bonito,  arejado,  de bom clima.
     Comprei a Folha de São Paulo. Dei uma olhadela na primeira página, com as chamadas  principais,  uma das quais  era sobre a situação política do país. Para abreviar,  se concentrava  no governo Dilma e na votação do dia de abertura da sessão plenária para decidir  sobre o impeachment da presidente.  No Shopping  era pouco mais de meio dia.  Portanto, a votação não tinha ainda  iniciado. Seria às  2 horas.
     Olhando ao meu redor, vendo pessoas de todas as idades que iam e vinham pelos corredores  principais,  nada parecia indicar  que  o centro nervoso  do país,  Brasília,  ia esquentar.
       Gosto de ver  pessoas andando no anonimato de cada  uma. Percebi que  havia  pouca gente nos dois  principais corredores ladeados  por lojas  de bom gosto e com preços  caros, sobretudo as peças femininas. Olhei, então,  mais detidamente para o interior das lojas: quase não havia movimento. Em algumas lojas de gente só havia os vendedores...
      Depois de algum tempo em que me separei de Elza e do Alexandre, que foram para outros andares  do Shopping a fim de ver as vitrines, soube que, na praça da alimentação, havia muita gente.Ou seja,  inferi que as pessoas estavam mais para  comer do que para  fazer compras.  Pensei com meus botões: quem tem restaurantes  ou lanchonetes não  está mal  nessa  crise  tremenda  por que estamos  passando. Ninguém  vive sem comer, porém  pode viver sem  fazer algumas compras  supérfluas.
     A coisa mais difícil de explicar-se é o funcionamento  das diversas classes sociais  existentes aqui no país, das mais baixas até as médias. Excluo os milionários e a burguesia marioandradiana porque esses são os que  pouco se importam  com  a alta  do custo de vida. Vivem sempre no paraíso, se movimentam  por toda a parte e o mundo global  é para eles  um lugar só onde o dinheiro  às mancheias é a porta de entrada para as delícias pantagruélicas.
     Essa realidade especial é comum nas megalópoles: Nova Iorque,  Paris,  Londres, São Paulo,  Rio de Janeiro. Os ricos não  se diferenciam. São globe trotters. Seu lema é o hedonismo. Seu limite é  o sem-limite de suas  mega-contas bancárias a peso de dólar. O paraíso  prometido  pelas igrejas cristãs é de outra ordem. É pós-morte e somente  acessível  aos justos e aos bons. Os maus  vão  para o inferno. Os menos  maus para  o purgatório e os bons para o Céu.
     Entrei  na Saraiva. Poucos compradores. Fui logo para a seção de dicionários e de línguas estrangeiras, depois,  para a prateleira  das obras  ensaísticas,  de crítica literária,  de língua  portuguesa -  velho hábito meu desde os tempos da universidade nas muitas passagens pelos sebos  cariocas. Mas, para a minha biografia,  o sebo da São José, hoje reduzido a livros jurídicos, numa espaço  pequeno da Rua da Quitanda, centro  do Rio,   foi o  que mais me atraiu, o  que mais  freqüentei por anos. Até do seu proprietário, o Germano,  me tornei  amigo de longa data. De vez em quando,  ainda passo  por lá a fim de recordar os velhos tempos  de um grande sebo  carioca.
    Não comprei  nada na Saraiva, embora não goste de entrar numa livraria sem comprar algum  livro. Procurei um autor e vi que não havia nenhum livro dele. Os que estavam  há uns  dois meses disponíveis  foram todos  vendidos. Se quiser comprá-los, tenho que recorrer diretamente à editora pela Internet. Certos livros que nos agradam devemos  comprá-los sem pestanejar. Do contrario,  muitas vezes não os achamos mais.
         Tenho verificado que livros novos estão muito  caros hoje com os nossos  salários  congelados pelo governo  Dilma. Só não  congelam os dos congressistas,  ministros  e o da presidente da República. Todos eles são  os que primeiro  determinam   o aumento anual, com crise ou sem ela,  de seus  polpudos salários.
        O funcionalismo, os barnabés, que se aguentem nas agruras  financeiras e até na falta de pagamento como está acontecendo no  desastroso  governo do Rio de Janeiro,  com os aposentados sofrendo  privações nunca antes vistas em governos passados. De falta de pagamento dos salários do funcionalismo, só me lembro de um governo, no caso  municipal, o do prefeito do Rio, Saturnino  Braga, que,  por incompetência,  afundou a prefeitura  carioca. Logo ele, um economista,  embora tivesse sido um parlamentar  digno.  Como esses aposentados,  pessoas idosas e frágeis, que percebem vencimentos baixos, poderão comprar  alimentos e remédios com preços que não  param de subir?  
        Isso é uma infâmia,  uma covardia  das autoridades  responsáveis. E a raiz dessa  situação desesperadora  de falta de pagamentos  está no  descalabro da administração federal que repercute nas finanças  estaduais e municipais.O mais  indecoroso é que os que ganham   os salários mais altos  são  pagos  regiamente  pelo governo  estadual  do Rio de Janeiro. Nestes se incluem,  o poder executivo,  o  legislativo,  o judiciário.
        Para eles não tem  crise nem  roubalheira  que impeçam o pagamento de seus salários em dia certo e líquido. E ainda há quem defenda a continuidade do governo federal. Esse defensores da presidente Dilma  não têm alma, não têm sensibilidade e sobretudo misericórdia dos desafortunados  barnabés? Não se dizem  defensores  dos injustiçados? Tudo balela de demagogos  contumazes. A mim não enganam nem com a gritaria e violência verbal que  fazem. Entram  por um ouvido e saem  por outro. Nem mesmo  chegam a entrar,  como  gostava de dizer um  amigo  meu  austríaco,  o velho Sr. Stéfano,  refugiado no  Brasil  no tempo da  Segunda  Guerra Mundial.
       Normalmente, não  me demoro muito no Shopping. Por vezes,  ao sair da livraria Saraiva,  me sento num banco  do lado de fora e perto dela. Abro o caderno Ilustrada, na coluna do poeta Ferreira Gullar (nos últimos  tempos assinando com frequência  artigos criticando argutamente o governo  Dilma e o petismo, com  um estilo de escrita  de alta qualidade  e com  ética jornalística) e, depois, folheio rapidamente  os artigos ou ensaios do caderno Ilustríssima. Gosto de ler também os créditos dos  colaboradores que mudam  a cada semana.

    Decidimos voltar pra casa,  sempre a pé, como  na ida.    No melhor dos lugares,   a nossa casa, irei ler  parte do jornal  O Globo, do dia anterior, sábado, Segundo caderno  Prosa & Verso e as duas páginas da seção  Opinião. Ainda no mesmo  domingo, leio os mencionados cadernos da Folha de São Paulo.   

sexta-feira, 8 de abril de 2016

ENTRE A LITERATURA E A SORDIDEZ POLÍTICA



                                             Cunha  e Silva Filho


        A agenda da vida literária e cultural  brasileira não deixa de manter-se fértil,  exuberante,  promissora,  com  datas de homenagens a grandes  escritores,   palestras,  em universidades, textos em sites e blogs, alguns  primorosos,  nacionais e internacionais,  em rede social,  como o conhecido  Facebook que se está transformando  em coluna  de alguns usuários e em  agenda de eventos  de literatura  e outros campos do conhecimento.
          Nunca pensei que ainda alcançaria  assistir a tudo isso  deslumbrado de ver  tanta coisa boa e útil à coletividade. Sabemos, por outro lado,  que  o Face tem lá seu lado  um tanto fútil, as o seu traço geral  não   o é com certeza. É, antes,  um  instrumento  utilíssimo  para  transmitir conhecimento,  trocas de ideias, de informações, de pontos de vista. Entre o lixo e o luxo cultural  o saldo positivo  fica para a segunda  alternativa.
           Assim é que me movo hoje, ora  exigindo de mim  a participação  produtiva  no terreno  literário,  ora  as exigências de me posicionar  politicamente  num Brasil  encharcado de informações e contra-informações, embaralhando até a cabeça dos mais conscientes  diante dos desatinos  da  administração  federal.
       Há um ponto de intersecção polarizadora, divisora,  numa clivagem  que, por chegar a um  ponto tal de ebulição, atingiu um dos sentimentos  que mais  prezo no relacionamento  entre pessoas: a amizade. Em tempo passado algum  da minha vida,  mesmo  no ápice  dos anos de chumbo, pude constatar  tanto  sentimento  de  aversão  mútua entre   filhos da   mesma  pátria.  
        No meu tempo de estudante de letras e mesmo muito antes, quando me preparava para o vestibular, não em cursinhos, porque me faltava  condição financeira, mas autodidaticamente, tive amigos reconhecidamente  socialistas e comunistas  ativos que, sabendo da minha, teoricamente,  posição apolítica ou absenteísta como querem  outros,   sempre me trataram  com  o devido  carinho e com uma amizade que me  comovia. Nunca  misturaram  os papéis, nunca deixaram de me tratar  como   qualquer brasileiro  cujo  objetivo primacial  era  vencer na grande  cidade do Rio de Janeiro.
       Nas condições odientas de hoje,  a realidade  é bem  outra: há um sentimento  de antagonismo  visceral, uma acrimônia sem limites  de uns contra os outros  jamais  sentidos  por mim  antes.  Imagine-se se vivêssemos numa  guerra civil, que é o último degrau  de uma antiga  convivência  pacífica entre filhos da mesma   pátria.
    Perdemos  um dos mais nobres  sentimentos  tão necessário aos laços entre  brasileiros e,  principalmente, entre supostos amigos, porquanto a amizade é um sentimento  que se preserva a todo custo e por cima das ideologias e visões da vida.
     Eu bem me lembro que,  um historiador  da literatura   brasileira,  por inimizade com  outro  que pesquisa na mesma  área, deixa de citar  o desafeto  intelectual, ou, quando muito,  faz-lhe referências  mínima. Para mim,  isso  podia-se denominar crime  cultural,  falta de dignidade  pessoal e desserviço  à evolução do conhecimento  humano. Subestimar  de propósito  um escritor  por inveja  ou  por razões  políticas é uma desatino  e uma imoralidade  flagrante, desprezível ao olhos da produção verdadeiramente  científica. Obviamente,  me   refiro àquele pesquisador que, sabendo do valor   maior  ou  menos valor de um autor,  passa batido e sonega  informações  que seriam  valiosas  à continuidade  do desenvolvimento  cultural.
     Nos tempos que correm da  produção digital, seja exemplo  o Facebook, já se tornou  um quase lugar-comum a quebra de amizades,  deletação ou apagamento  por motivos  políticos   no confronto  entre situacionistas  e oposicionistas, ou mesmo entre o situacionismo e  posições políticas apartidárias, independentes mas  frontalmente contrárias à conjuntura  política nacional.         
     Ora,  essa realidade nova e nefasta à sociabilidade  é um retrocesso  e um  exemplo de que  o ser individual não se aprimorou  como subjetividade  em relação às alteridades  diversas, pois está   levando a pique  uma das condições mais saudáveis  no relacionamento  interpessoal dos brasileiros.
   Só governos de estofo autoritário levam uma comunidade  a tal  ponto  de  ofuscamento  de uma   realidade que atormenta   há tempos  a vida  brasileira, colocando  o país  em sérias  dificuldades  nos diversos setores  da esfera  pública e privada.
     Quero  saber até aonde vai  a angustiante  vida  de alguns  brasileiros que perderam  emprego aos milhões, que estão sofrendo  com  um altíssimo custo de vida e com uma  violência  que atingiu o seu estado mais   sangrento. Haja vista o agora chamado  “novo cangaço,” com cidades do interior do país sendo invadidas por bandoleiros  - verdadeiros  outlaws dos tempos da conquista do Oeste norte-americano  tão aproveitados  pelos cinemas (e livros), os famosos  westerns, americanos de bangue-bangue – muito  mais armados do que os nossos  policiais, explodindo   bancos e pondo a população  em polvorosa e  em estado de choque. Veja-se como o país está  distante e atrasado  no setor da segurança  pública   se comparado com  outros  países  grandes e melhor  organizados.
   Na criminalidade em geral, na urbe e no interior,  o país está num lamentável e perigoso retrocesso. O que evidencia o quanto  o nosso país  sofre nos últimos  anos e de forma  crescente sem que  o governo federal  tenha tomado  decisões  firmes para conter  esses criminosos e puni-los severamente sem brechas de leis e benefícios  legais que deveriam urgentemente  ser eliminados  da nossa legislação  no âmbito da criminalidade de alto risco,  constituindo  mesmo  em  seguidos   crimes  de segurança nacional, ou seja numa situação  de   defesa dos brasileiros  e do seu  patrimônio material.
     Ora,  tal caos social  instalado  exigiria  o apoio urgentíssimo das forças federais, ou seja, da polícia  federal, da polícia civil e das forças armadas, com a necessária  logística  de estratégias e de armamento  moderno  pesado que possa debelar  os focos  desses “novos  cangaceiros”  movidos a granadas,  explosivos   e armamento  de guerra e atitudes de terroristas sangrentos  para com a  população.
     Em vez de milhões de reais  usados ilegalmente, conforme a mídia tem divulgado  recentemente,  pelo atual  governo  a fim de comprarem  votos  de oposicionistas  para sustar  o  impeachment da presidente Dilma Rousseff,  por que não canalizar aquele dinheiro  público  para  tantos setores públicos sucateados como,  além do horror da criminalidade galopante já mencionada, saúde,  educação, transporte, custo de vida,  juros altíssimos e falência  nos setores  industriais e comerciais.

    Esse seria  o papel  primordial  reservado a um  chefe de governo que  pensa  no bem-estar dos brasileiros. A presidente Dilma Rousseff está pensando apenas em manter-se no  poder, o que é, no mínimo, uma atitude  egoísta  e impatriótica.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Breve diálogo sem síntese (Não vale culpar Sócrates, o filósofo)




                                  Cunha e Silva Filho




*PO:    Sim
**PTA:  Não
PO:     Sim
PTA:   Não

PO:     Sim
PTA:   Não
PO:    Sim
PTA:  Não

PO:    Sim
PTA:  Não
PO:   Sim

PTA: Não
PO:   Sim

Sim
Não
Sim
Não
Sim
Não
Sim, sim, sim, fascista! Coxinha!
Não, não,  não, lula molusco! Petralha! Comunista!

UNHAPPY UNENDED

        AL
           VO
               RA
                     DA!!!
                          
           

             L
             I
             S
            A
            R
            B!
       
       Ubi estis?

 *Partidos da oposição.


* * Partido petista e aliados.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

O clima está quente demais: perigo




                                Cunha e Silva Filho


             O bem é que não andam  fazendo. Em 1964, quando vi para o Rio de Janeiro, a situação  meteorológica  na cidade  do Rio de Janeiro  era bem diferente da de hoje. Diferente porque a estações do ano  me pareciam  mais regulares, mais cíclicas. Era mais previsível  o tempo mais quente do mais frio e, neste último,  eu sentia  que tinha frio mesmo. Precisava de andar com roupa adequada no frio. Era obrigado a envergar uma japona,   ou um casaco para me resguardar  da baixa temperatura.
            Com os anos se passando,  sentia que  a cidade ia ficando mais quente. Alguns  leitores  bem se lembram do filme  “Rio, 40 graus", cujo roteiro e direção  é de Nelson Pereira dos Santos.. Ora,  hoje esse nível de calor  foi ultrapassado,  sem falar  na  sensação térmica, que não era tão  alta como agora. Gostava, no entanto,  quando vinham os meses de frio até chegar ao máximo no mês de junho e julho.
           A população hoje usa muito mais o ventilador  ou  o ar condicionado do que outrora. Os dias quentes são insuportáveis, ainda mais cm o reforço  do mormaço que  torna o ar  parado,  nos dando uma sensação de sufoco e nos forçando a sair de lugares fechados para ver se, lá fora,  podemos  respirar  melhor.
         Eu nunca gostei do calor,. Desde menino, acompanhando minha mãe ao Mercado Velho em Teresina, no Piauí,  mal me aguentava com  a temperatura   elevada. Andava me queixando com mamãe: ”Que caiô, danado.”  Ao chegar em casa, encontrando  meu pai, reclamava de novo com ele: “Que caiô, danado!” Este fato da infância refiro no meu livro de memórias Apenas memórias, ainda a ser lançado. Cresci,  assim, não  gostando  do calor e assim ainda hoje resmungo muito com as altas temperaturas   carioca, de tal sorte que, no tempo do verão, ou mesmo  ultrapassando este, durmo  ou com  ventilador o tempo todo ou com ar-condicionado.
          O calor não me deixa bem, me amolece o espírito,  com vontade de ficar sem fazer nada. Alguém já afirmou  que o Brasil não tem  grandes filósofos porque  a terra é quente na maior parte do país. Sei que isso  é uma balela, mas quando afirmam isso,  fazem uma exceção:  tivemos o Farias  Brito, filósofo espiritualista, autor de A finalidade do mundo (1895-1899-1905, em três volumes) e Mundo interior (1914) 
        Um amigo indiscreto  me sussurra ao ouvido: “Temos professores de filosofia, não filósofos.” Acho que está  sendo muito exigente, não? Porém, ele me  retruca  ressaltando que, no país, quem termina filosofia, malgrado tenha doutorado ou pós-doutorado,  é chamado em geral  de filósofo, ainda que  não tenha  formulado  uma  teoria  nova que pudesse avançar  os estudos  da  filosofia no mundo e entre nós.Creio, entretanto, que meu  amigo indiscreto tenha sido muito  exigente nesse aspecto,  pois o Brasil teve um  Miguel  Reale (1910-2006) e contar há muito tempo  com grandes   pensadores em várias áreas do conhecimento.
      Agora,  disponho de um forma antiga  de me sentir  refrescado,  o uso da rede, antigo costume  que tínhamos em  Teresina, cidade que registra sempre  uma temperatura  alta, quarenta graus  ou,   às vezes,  trinta e sete ou trinta e oito  graus.
     Só que,  em Teresina,  de manhã,  sopra  amiúde uma brisinha gostosa, o que  vem como  um bálsamo  para o corpo e a mente. A rede, sem dúvida,  é boa para o calor. Passei da infância até à adolescência  dormindo em rede. Só comecei a usar a cama aqui no Rio de Janeiro. Dizem que os nordestinos têm a cabeça, em geral, chata, porque dormiram muito  em rede. Isso não tem confirmação científica. Ou tem? Nunca me dei ao trabalho de era se existe algum estudo sobre  a forma da cabeça  chata
      Voltemos ao  calor, que é matéria  séria. Sem sombra de dúvida,  a o planeta Terra ficou muito mais  quente com tanta   coisa ruim que se fez com  esse maltrato  astro do universo. Além disso,  com o avanço  científico-tecnológico,  o aumento  de fábricas poluidoras  ao redor  do planeta, soltando  volumes gigantescos de gás carbônico, com  o gigantismo  de número de carros   poluentes descarregando  CO2, com as  inúmeras  experiências atômicas já realizadas por potências  militares, com as escavações funestas  e continuadas  no subsolo.
       Com as perfurações  de mineradoras  por toda a parte, a Terra  tem sofrido  o chamado efeito  estufa, cuja consequência mais  nefasta  é o aumento da temperatura  do nosso planeta. A par disso,  o aquecimento  terráqueo  está  produzindo  sérios transtornos nas regiões polares, com a consequente degelo  das calotas, as quais,   por seu turno,   vão   elevando  o volume do nível dos oceanos e mares.
      Alguns estudiosos subestimam  essas causas, talvez mais levados  por razões de ordem econômica mas perigosamente  negligenciando  os efeitos desastrosas ao meio ambiente e ao ecossistema.  As diversas  reuniões  de cúpulas  de organismos internacionais para debaterem as questões climáticas, sobretudo   da parte de países  mais poluidores (Estados Unidos, China, por exemplo) que não  desejam  ter  prejuízos econômicos,  parecem não ter tido, até agora, maiores sucessos a fim de reduzirem  substancialmente   os efeitos  danosos  ao clima  em escala global.
     Países em desenvolvimento como o Brasil e outros devem fazer  também seu dever de casa a fim de darem sua real contribuição   no sentido de evitarem  que o clima  no planeta  não se deteriore ainda mais.É bem verdade que sintomas  desse  desequilíbrio  meteorológico já está  dando  péssimos sinalizadores, segundo  podemos atestar com  situações  incomuns de inundações, chuvas  torrenciais, escassez de chuva em algumas partes do país,  desaparecimento de  fontes  hídricas,  diminuição do volume d’água de nossos rios, inclusive do rio São Francisco e de outras  rios  do país.
        Ninguém pode negar que  as condições climáticas  em nosso planeta  fogem  aos  parâmetros  de alguns  anos  passados, assim como  o aumento da temperatura   é algo  que nos  põe em alerta.
        Se não forem  contidas todas  as causas  provocadoras desses desastres climáticos e de uma espécie de  desarranjo das divisões periódicas das estações do ano no país e no mundo, a humanidade inteira sofrerá   grandes e incontornáveis transtornos diante de uma natureza  que, por assim dizer,  se vinga sempre que  ela for  vilipendiada  pelo  homem.
       Os avisos da própria natureza já são mais do que suficientes  para  que reflitamos  sobre o que nos poderá  acontecer caso persistamos  em destruir  o que a natureza  nos  prodigalizou. Não provoquemos a fúria da natureza, pois, na luta entre o homem e ela, vencedora será a Mãe-Natureza.