quinta-feira, 30 de maio de 2013

Adeus, poeta Jurandir Bezerra!






Cunha e Silva Filho





Novamente o telefone toca em minha casa. Meu filho Alexandre atende. Alguém do outro lado da linha, lhe passa um recado: “O poeta Jurandir Bezerra, natural do Pará, faleceu ontem, dia 29  de maio, aos oitenta e cinco anos.” Jurandir nasceu em 13 de março de 1928.

Sinto-me abalado, sem rumo, amargurado. Nossa cultura ocidental não se alegra com os mortos, como o fazem algumas culturas orientais.O que poderemos fazer senão chorar no silêncio de nossa dor profunda, incomensurável.

Não foi um falecimento de um desconhecido que nunca vimos nem com quem nunca tivemos qualquer contato pessoal. Foi a morte de um poeta, um grande poeta não só paraense, mas brasileiro.

Jurandir só teve um livro editado, com este título que parece vir dos eleitos de Deus, de um lugar encantado onde só a pureza tem seu assento.: Os limites do pássaro (Belém: Editora CEJUP, 67 p.,1993), com orelhas de Leonam Cruz e introdução de Fagundes de Menezes.
Esta obra foi lançada na VI Bienal Internacional do Livro, Rio de Janeiro (1993) e na II Feira do Livro do Pará, em novembro (1993). Os limites do pássaro, ainda na condição de inédito, recebeu 3 prêmios nacionais: “Prêmio Guararapes”, da União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro como o melhor livro inédito de autor inédito em livro(1986), Comissão Julgadora: Fagundes de Menezes, Stella Leonardos e Reynaldo Valinho; 2º lugar do “Prêmio Carlos Drummond de Andrade (1991, Conselho Estadual de Cultura, Rio de Janeiro; 2º lugar no Concurso Nacional de Poesia Ruth Scott, do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro(1993).

Muito bem recebido pela crítica, não só em Belém, mas também no Rio de Janeiro. Recebeu elogios de Antonio Olinto (1919-2009) do crítico Antonio Carlos Secchim, ambos membros da Academia Brasileira de Letras.

Algumas de suas poesias foram premiadas em concurso nacional e nternacional, como o da Revista “Leitura”, Rio de Janeiro(1957) ainda quando residia em Belém; “Pastorela, quase cantiga”, 3º lugar entre 486 candidatos, tendo na comissão julgadora nomes do quilate intelectual de Carlos Drummond de Andrade, Adonias Filho e Antônio Olinto; 2º lugar, entre centenas de candidatos, no I Concurso Nacional de Poesia de Uberlândia, Minas Gerais, com o poema”Criação do Mito”(1984); 2º lugar em Concurso Nacional da Hebraica, Rio de Janeiro, com o poema “A espuma” (1991); menção honrosa, entre 1.047 inscritos, n o VII Concurso Nacional de Poesia Aríete Vilela (2000), do jornal Letras Literárias, Maceió, Alagoas, com os poemas “Plenitude”, “Noturno”, “Poesia quase de solidão”; em 2005, em concurso internacional, na Itália (Premio letterario “Il Molinello”) teve escolhida seu poema “Infância”. Alem disso, 3 poemas seus foram selecionados e publicados em “Poesia Sepre, da Fundação Biblioteca Nacional (2002). Com o seu poema “infância” participou de uma antologia de Rapolao Terem, província de Siena, Itália.

Juradir Bezerra teve alguns poemas traduzidos para o inglês por Cunha e Silva Filho e Yacilton Almeida, e para o italiano pelos professores Guido Alberto Bonomini e Marines Lima Cardoso.

Precoce, Jurandir Bezerra ingressou na Academia Paraense de Letras aos 18 anos.Pertenceu a uma geração de grandes intelectuais paraenses, muitos dos quais alcançaram renome nacional, como Benedito Nunes, Max Martins, Haroldo Maranhão e tantos outros que, junto com ele, e tendo Jurandir apenas 14 anos, fundaram a Academia dos Novos.

Jurandir Bezerra foi ainda professor de português, jornalista e exerceu atividades sindicais na área do jornalismo, como delegado por várias vezes de Congressos Nacionais de Jornalistas representando o estado do Pará. Alem disso, foi funcionário público federal do Ministério da Saúde atingindo altas funções na área administrativa

O poeta deixou inéditos 8 livros de poesia: As águas de Mara , que recebeu menção honrosa no citado Concurso do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro; A lâmina convexa, menção especial do Prêmio Ribeiro Couto, da União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro (1997); Configurações, Superfície, O Rio de minha Aldeia ( em conclusão); O signo convexo (em elaboração), Sombra submersa, recordações da Amazônia (em elaboração); O verbo não conjugado, uma antologia de poemas dos livros supracitados.

Jurandir era muito criterioso com a sua poesia e, por isso, me falou que havia feito consideráveis modificações na ordem da antologia O verbo não conjugado, retirando e colocando poemas, além de refundir mesmo partes da estrutura de alguns poemas. Não lhe pude acompanhar os últimos tempos de sua existência a fim de saber como tinha ficado o livro a ser editado pela Litteris Editora.. A demora desta publicação levará, deste modo, a um lançamento póstumo, infelizmente.

Após esses dados biobibliográficos, me permita o leitor algumas palavras de amigo do poeta para finalizar esta coluna de saudade. Não posso deixar de fazer referência a uma circunstância que me levou a conhecer Jurandir Bezerra. Foi através de um dos filhos do poeta, o Walter Ivan, hoje advogado e professor, que vim a conhecer o grande poeta. Meu filho sempre me falava que o pai de um amigo dele era poeta. Nunca atinava que esse poeta fosse de tão alto nível. e um poeta premiado. Jurandir residia no subúrbio do Rio de Janeiro, no conhecido bairro da Vila da Penha, bairro onde morei também durante muito temo. Daí o contato e conseqüente aproximação.Eu, porém, nunca fui apresentado a ele, nem por meu filho, nem pelo Walter. Quando fazia o meu mestrado, um dia, saindo da Faculdade de Letras da UFRJ, no campus do Fundão. em direção ao ponto de ônibus, vi um senhor de estatura mediana, franzinho, de cor clara e já calvo, mas ainda cheio de saúde. Suas feições me lembravam as do poeta Drummond. Sempre bem vestido, usando camisa de mangas compridas por dentro da calça, mas com os punhos fechados, isso lhe dava um ar de refinamento, de aristocracia de gestos mas ao mesmo tempo de um finura, de uma delicadeza que me surpreendia ainda poder ver em alguém. Já disse para muita gente que Jurandir foi a pessoa mais educada que conheci nesta vida. Jurandir tinha ido assistir a um Congresso ou a uma palestra na Faculdade.

Não sei por que, um de nós falou alguma coisa e daí se encetou uma breve conversa que o levou a me dizer das razões de sua ida à Faculdade. Com o continuar da conversa, e com a troca de dados pessoais que nos demos, viemos a ser que os nossos filhos, o Francisco Neto e o filho dele, o Walter, eram amigos e colegas, estudantes de Direito da Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. Foi esse o início de nossa grande amizade, que data do início dos anos de 1990. A amizade se estreitou e durou até esta data de seu falecimento.

Nossa amizade não se fez com muita frequência na casa de um ou de outro. Sempre que havia alguma data comemorando aniversário meu, o casal Bezerra lá estava no playground do meu prédio. Trazia-me sempre um presente, que, com o passar do tempo, eu já sabia qual era: uma obra de poesia, e sempre de grande poesia: Cristal, de Paul Celan, Um Escrito sobre Jade, poesia clássica chinesa reimaginada por Haroldo de Campos, uma coletânea composta de de quatro volumes respectivamente de poesia catalã, galega, espanhola, e basca traduzidas e organizadas por Fábio Aristimunha, Vargas.

Era assim Jurandir, um amigo onde a poesia estava sempre presente, seja pelos presentes de livros que me deu com lindas dedicatórias, seja pelas nossas conversas sobre o tema central de sua vida, a poesia, seja pelas nossas conversas pelo telefone, na maior parte falando sobre poesia, autores, temas ligados à técnica poética, ` criação literária, aos planos dele com respeito à sua produção e publicação, aos seus poetas preferidos, Cecília Meireles, Carlos Drummond, Manuel Bandeira, entre outros, à sua mudança de jovem poeta provinciano ainda preso ao cânone tradicional da poesia metrificada e rimada para a sua adesão consciente e progressiva às formas livres da poesia brasileira, do Modernismo até à contemporaneidade, à  sua admiração por poetas como Saint—John Perse (1887-1975) Paul Celan (1920-1970), Trakl (1887-1914) Mário Faustino (1930-1962, ) que conheceu em Belém e com quem falou algumas vezes, o  crítico e ensaísta Benedito Nunes, já faleicdo,   o  seu conterrâneo poeta, para ele, um dos maiores do Pará, Max Nunes,   também  falecido. Além disso, Jurandir Bezerra tinha profundo interesse por tudo que se relacionava com a teoria poética, com a crítica literária, com o ensaio.  Lia sempre e continuamente poesia, combinada com ficção e ensaios, com traduções de poesia do que de melhor  fez  a humanidade. Era muito seletivo nas suas leituras e, nos últimos tempos, me falava que a poesia, a grande poesia, está impregnada de musicalidade, de ritmos e sonoridades.

Sua poesia era formal, hermética, ambígua, quase inabordável. Fora este, segundo ele, o caminho por que enveredou na sua composição poética influenciada pelos grandes poemas universais da modernidade.A confissão a frustração, os problemas pessoais, quando transmudados em poesia, são figurados sobremodo pela metaforização, pela opacidade. O poeta, assim, se esconde do confessional, da poesia realista, mimética. Seu caminho deve ser o da imagem, do símbolo, do mito, da formalização de estofo estético, daí o hermetismo e a sensação ao mesmo tempo da fruição do poema pelo poema em si e pelo que ele desperta no leitor tantas realidades imaginadas, imaginárias, inconscientes, subconscientes, em que os sentidos procurados escapam das vistas do leitor e se ocultam numa concha onde poderia estar tanto o mistério da poesia quanto o significado da vida e do universo.

Dá-me a sua poesia a sensação, guardadas as proporções de diferenças e de estilos literários, da evanescência dos simbolistas, do sofrimento oculto, das dores sufocadas mas sempre presentes e de um vigoroso por vezes sensualismo também mascarado pelo formalismo esteticista de aristocraticante elaboração dos versos e por um imagismo multifacetado quer da natureza física, quer de natureza humana, do corpo, da beleza feminina , do sentimento cristão, da cadência bíblica de alguns poemas evidentes pela sua formação católica, mas sem exageros eclesiais.Poesia “mentada”, reflexiva, trabalhada com a pertinácia de cada vez mais exprimir-se pelas indefinições, pelos ocultamentos e admirável discrição no trato dos temas e dos recursos poéticos de que  lançou mão com a avidez do conhecimento técnico necessário e contínuo no seu ofício de poeta. Julgo, por fim, que a poesia de Jurandir Bezerra bem se poderia alinhar àquela forma de construção artística contemporânea que se realiza não contra a história, a vida social, mas se configura e se forma desse veio poético voltado mais para o conteúdo material e formal da linguagem (Terry Eagleton) que é o próprio ato poético como tema mais caro de transmitir sentidos.

Para terminar este depoimento no momento em que seu corpo desce à sepultura, no Cemitério de Irajá, no Rio de Janeiro, quero registrar ao leitor este pequeno poema, “Encantamento” (p.32) que se encontra na contracapa do seu livro Os limites do Pássaro:



ENCANTAMENTO



Os pássaros entenderam
Tua mensagem
como pássaros.
E vieram dizer-me que eras sempre.
Abri os olhos como se houvesse
noite e não destroços.
Já não estavas mais
nem andorinha
nem relva
nem pedra (preciosa).
Havias amanhecido.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Tradução de um poema de Charles-Pierre Baudelaire(1821-1867): "L'Ennemi"




L’Ennemi



Ma jeunesse ne fut qu’un ténebreux orage,
Traversé çà e là par de brillants soleils;
Le tonnerre et la pluie ont fait um tel ravage
Qu’il reste en mon jardin bien peu de fruits vermeils.

Voilà que j’ai touché l’automne des idées,
Et qu’il faut employer la pelle et les râteaux
Pour rassembler à neuf les terres inondées,
Où l’eau creuse des trous grands comme des tombeaux.

Et qui sait si les fleurs nouvelles que je rêve
Trouveront dans ce sol, lave come une grève
Le mystique aliment qui ferait leur vigueur?

-- Ô douleur! ô douleur! Le Tempos manga ela vie,
Et l’obscur Ennemi que nous ronge le coeur
Du sang que nous perdons croît e se fortifie!





O Inimigo



Não mais do que uma borrasca foi minha juventude,
Cruzada aqui e ali por sóis brilhantes
Um tal estrago fizeram o trovão e a chuva
Que, no meu jardim, quase nada há de vermelhos frutos.


E veja que das ideias o outono atingi,
Sendo mister usar da pá e dos ancinhos
Pra recolher e renovar as terras inundadas,
Onde buracos tumulares a água escava.

Quem sabe as novas flores do meu sonho
Neste solo lavado qual cascalho hão de encontrar
O místico alimento vivificador?

-- Ó dolorida dor! O Tempo a vida tragando,
O Inimigo oculto nosso coração corroendo
Com o sangue derramado, cresce e revigora!



                                                                               (Trad. de Cunha e Silva Filho)







quinta-feira, 23 de maio de 2013

A linguagem mascarada ou o lobo no cordeiro




Cunha e Silva Filho


Em entrevista recente (seção Mundo, Folha de São Paulo, 19/05/2013), ao New York Time, o famigerado ditador sírio, Bashar-al-Assad, demonstra, mais uma vez, sua contumaz impassibilidade diante da tragédia que se abate sobre o seu país, não se importando com as milhares de mortes causadas sobretudo pelas armas pesadas de seu poderoso exército, e sabendo por experiência de usuário da sua língua do que é possível fazer para retoricamente afirmar o que lhe é conveniente a fim de dar uma aparência de verdade às suas mistificações dos fatos e da real situação vivida pela Síria,

Suas resposta às indagações do repórter são calculadas, bem fundamentadas nas suas invencionices de cinismos ditatoriais chegando ao acúmulo de chamar os rebeldes contra a ditadura de “terroristas”, infiltrados de outros “ inimigos” que agrupados estão lutando para derrubar um governo eleito pelo povo! Ora, sabemos que a história política da Síria, a partir  de seu pai, Hafez al-Assad,  não é mais do que o continuísmo de uma oligarquia que se apoderou do poder na Síria pelo Partido Socialista(sic!) Árabe Ba’ath para ali se perpetuar e se beneficiar das delícias do poder sem limites. Riqueza, fausto, viagens aos países civilizados, ai se incluindo sua esposa de  cidadania  inglesa e origem síria, é o que no centro do poder ditatorial não faltam, tendo tudo isso um corolário formado de um rastro de barbárie e de derramamento de sangue sem precedente no país.

Se autodefinindo, a esta altura da carnificina, como o “capitão do navio,” para a reportagem declara que não arredará pé enquanto poder de fogo tenha para repelir os “terroristas” Negando ser um historiador para ter visão mais apurada dos grandes desastres humanos da História, como foi o Holocausto, ele próprio se perde na sua argumentação quando diz que fatos narrados pela história “... dependem” de quem os escreve e “.. a história às vezes pode ser falsificada.” O que, em síntese, quer significar é sua recusa em não reconhecer como um acontecimento verdadeiro o Holocausto. Ao trazer à baila um outro episódio lamentável, que foi o ataque das forças aliadas contra o Iraque, que, para mim foi um ato de natureza genocida de governos ocidentais, sobretudo da responsabilidade de presidente George W. Bush filho, o ditador desloca o centro de seu desgoverno e da sua tirania para aparentar um senso de justiça que na verdade não possui.

Ajudado pelos governos da Rússia e do Irã, e tendo apoio da China, o ditador sírio emprega sua retórica de governo coitadinho a fim de captar a simpatia da comunidade internacional que, no geral, repudia as ignomínias, as atrocidades,, até possível uso de armas químicas contra a oposição que resiste, firme, aos bombardeios ordenados pelo ditador sem levar em conta que não somente está ceifando milhares de inocentes sírios, aí incluindo crianças, jovens,, adultos e velhos, além de estar destroçando a infraestrutura do país . A Síria, hoje, é uma terra arrasada pela determinação de um autocrata que, por cima de tudo, ainda se define como “capitão de navio”. Só se for de um navio de tripulantes sanguinários levando a pique os inocentes passageiros, um “capitão” sem leme nem destino certo, um criminoso prestes a ser destronado pelo heroísmo resistente da oposição que não lhe dá trégua e que o fará decerto desistir do posto.

Parte de seu exército já o abandonou, dezenas de sírios saíram do país e foram para a Turquia ou outras paragens como refugiados. A Síria é uma terá solitária, isolada, abandonada. Por isso, neste artigo não quero fazer nenhuma referência a organismos internacionais que se proclamam asseguradores da pax universalis. Estou cansado do jogo de palavras e de afirmações de cunho apenas diplomático.

Até que ponto um a ditadura é capaz de provocar ações reprováveis, como a daquele rebelde do Exército Sírio Livre, de nome Abu Sakkar, que, canibalizou o pulmão de um militar de Bashar al-Assad, cena que apareceu em vídeo na internet há poucos dias. O rebelde da Província de Homs asseverou que não se recusaria a ser julgado pelo ato praticado, mas o fez levado pela indignação dos crimes do ditador sírio contra mulheres e crianças. Abu, desesperado, confessa que, enquanto os crimes da ditador continuarem sendo cometidos, “... cada sírio vai se tornar um Abu Sakkar” Ele mesmo pôs na internet o vídeo e é importante frisar que ele comandava, na condição de rebelde, a Província de Homs.

Fico imaginando como cidadãos da mesma pátria, falando língua comum, vivenciando experiências iguais ou diferentes, sendo todos, cada qual a seu modo, sujeitos da formação social e histórica de seu país podem se tornar tão hostis e indiferentes entre si, posicionando-se uns a favor da barbárie e outros a favor da liberdade e de melhores condições de vida. Se alguns afagam e apoiam os tiranos, outros são por este trucidados. A pátria, pois, se forma não só da união de irmãos mas das repudiáveis diferenças de ideias, de interesses, de ambições e, acima de tudo, de individualismos que teimam em se aliar, vendendo a alma aos deuses de barro para manterem-se em suas riquezas, privilégios e egoísmos. Os outros, os que estão fora do poder feito da violência política e armada, da submissão imposta a ferro e fogo, esses são os chamados “rebeldes”, “terroristas”, “inimigos do governo,.”
 Essa é a retórica do lobo travestido em cordeiro. Ela se mostra em toda a parte, mesmo em países que se dizem democráticos. Neste ponto, se põe a ideia de definirmos o que seja o conceito de concidadão, de compatriota, de nacional, de nação, de pátria. Onde estaria situado o elemento agregador e solidário quantos aos valores morais, de compreensão, de amizade, de união? O que unificaria os homens de um país a fim de que fossem levados ao pleno conceito de cidadãos irmanados, com suas diferenças sociais, culturais mas sem nunca alcançar o limite perigoso da hostilidade que leva a guerras civis, último estágio do radicalismo que explode nas tiranias e nas ditaduras em qualquer parte onde faleçam os valores espirituais do entendimento do ser para outro ser, de carne e osso, não de abstração e distanciamentos com pruridos de comiseração hipócrita de quem está bem confortavelmente refestelado em poltronas do elitismo cultural e meramente  acadêmico?


domingo, 19 de maio de 2013

Brazil' Overview Corner: Two epilogues for dictators




BRAZIL’ S OVERVIEW CORNER: Two epilogues for dictators

( Apreentamos uma tradução em português  deste artigo  logo após o texto em inglês)


By Cunha e Silva Filho


There are no differences among dictators in their fundamental aspects of the persona they are vested with. In Latin America, for example, it all indicates that practically they are disappearing from the scene, and the tendency is that, with their deaths, they will be vanished from the so-called democratic societies. In Brazil if there had been punishment right after redemocratization of our political life and institutions, the culprits of military repression would eventually be punished more accurately, and the responsible authorities for the autocratic regime would have received their due penalties, no matter the rank they held.

Some of our military dictators regarded more authoritarian together with some civilians holding high relevance positions in the federal government were actually to be considered blamed for the repression actions the country went through. However, amongst us, all the military presidents are already dead.

How could they now be judged by crimes against Mankind or by tortures against opponents of the regime, whether they were military or civilians? Of course just too few of the civilians who supported the military regime are still alive and to this date they have remained unharmed. In truth, part of Brazilian society was on behalf of the regime. Consequently, it is almost an abstraction to try to punish the bulk of society who supported dictatorship.

The role of the National Truth Commission, which was determined by the President Dilma Rousseff, is in charge to debate the situation and outline some measures to be taken in order to find those that must be blamed for the missing of political militants, for those murdered or tortured during repression period, The President herself, according to her public declaration, was a victim of torture. Thus, the Commission from the start shows itself a rather weak instrument to give a secure step ahead in this issue owing to a lot of difficulties and  hindrances  to collect evidences that might lead to the right responsible for the several types of human rights infringements on the part of repression members, in whose group could be included both men from the Armed Forces and from the civil police. Moreover, it is known, the highest members to be held responsible are already dead and buried.

The Amnesty Law, which came to reconcile the military and civilian sectors, i.e., was made to give back Brazilians their political rights which had been suspended by the military regime. .A great part of them was living in exile. They were teachers, professors, scientists, writers, artists, in short, people from several professional activities. In spite of this, relatives of the victims and crimes of repression are entitled to claim for the whereabouts of the missing and murdered beloved ones, and, as a result, they also have a right to plead for the punishment of declared torturers. Obviously, this requires a thorough investigation of each case so as to avoid a hurried action that might punish innocent people or people who, for some reason or another, were not duly investigated and wrongly labeled guilty.

Torture, whatever form it has, psychological, physical, is such a vile and abject act that does not  fit with human rationality and so it should not be practiced though it may be done by following orders of superiors in hierarchical power. In case it behaves like that, it is because hierarchy has ceased to be valid and became brute force, bestial and hideous. Such was the case with Nazism during the Holocaust. I mean, torture, on being committed, is blind to the limits of respect for the human being and acts like monsters bereft of elevated feelings.

I believe military of the new generations have another view of the atrocities done during the so-called “Plumb Years.”( 1964-1974), i.e., the most repressive period of Brazil’s military governments. Now they are young officers with another political and historical education. I even go further to say that at present they dream about playing their role in defending the country concerning Brazil’s vast territory, as well as its political and institutional structure. This is an effective role to be played by them in the contemporary context.

The long dictatorship period Brazilians experienced in the past has set the Armed Forces a regrettable example never to be repeated in this historical stage in which the country sees the stability of its natural democratic aspirations as a nation  in  its almost full maturity of a developing nation to be modeled by other countries in the world that have not yet reached  this level of progress.
I presume the National Truth Commission does have a delicate challenge ahead and will surely find a way to comply with the claims of those who survived violence of the regime of force and of those who lost their loved ones, very often through unfair and unreasonable means. Everything should be measured and any decision that may lead to excesses must be hampered, mainly because we are very far in time from the gloomy beginning of an era which we do not want to live again.

If men of laws do not solve some crimes that remain unpunished, due to frailties of institutions, the criminals and torturers, deep inside their hearts, in their conscience-stricken caused by their wrongdoings, when old age comes nearer, followed by all sort of diseases and lack of honor on the part of society, they are actually punished by themselves. There is no worse penalty than guilty conscience, a conscience aware of being beheld by others like a disgusted criminal.







Dois epílogos para os ditadores





Cunha e Silva Filho


Não existem diferenças entre os ditadores no que há de essencial nos aspectos da persona que encarnam. Na América Latina, por exemplo, tudo indica que praticamente estão saindo de cena, e a tendência é que, com a morte deles, sumam de cena das chamadas sociedades democráticas. No Brasil, tivesse havido punição logo após a redemocratização de nossa vida política e de nossas instituições, os culpados da repressão militar seriam punidos com mais propriedade, e as autoridades responsáveis pelo regime discricionário  teriam  recebido suas punições, seja qual fosse a patente que detinham.

Alguns de nosso ditadores militares considerados mais autoritários juntamente com alguns civis que exerciam funções de relevo no governo federal foram na realidade considerados culpados pela ações repressoras pelas quais o país passou. No entanto, entre nós, todos os presidentes militares já são falecidos.

De que modo poderiam eles agora serem  julgados por crimes contra a humanidade ou por torturas contra os adversários do regime, quer fossem militares, quer civis? Obviamente, somente us poucos dos civis que apoiaram o regime militar ainda se encontram vivos e até hoje permanecem ilesos.Para falar a verdade, parte da sociedade brasileira esteve ao lado do regime. Por conseguinte, torna-se quase uma abstração procurar punir a massa da sociedade que apoiou a ditadura.

O papel da Comissão Nacional da Verdade, autorizada pela presidente Dilma Rousseff, tem o compromisso de discutir a situação e de traçar planos de medidas a serem adotadas a fim de encontrar aqueles que devem ser responsabilizados pelo desaparecimento de militantes políticos, pelos que foram assassinados e torturados durante a repressão. A própria presidente Dilma Rousseff foi vítima da tortura, segundo declaração feita em público. Desta forma, a Comissão de saída mostra-se um instrumento um tanto enfraquecido para dar um passo decisivo no avançar desta questão devido a muitas dificuldades e óbices para reunir provas que chegassem aos responsáveis diretos pelos vários tipos de violação dos direitos humanos por parte dos membros de repressão, em cujo grupo poder-se-iam incluir tanto homens das forças aramadas como da polícia civil.

Além disso, é notório que os membros mais elevados sobre os quais recaem as responsabilidades já se encontram mortos e sepultados.

A Lei da Anistia veio para reconciliar os segmentos militares e civis, ou seja, instalou-se para restituir os direitos políticos de brasileiros cassados pela ditadura militar. Parte considerável deles vivia no exílio, Eram professores secundários, professores universitários, cientistas, escritores, artistas, em suma, gente oriunda das várias atividades profissionais.A despeito disso, parentes das vítimas, e mortos  pela repressão têm direito de reivindicar o paradeiro dos entes queridos desaparecidos e assassinados, e, como tal, igualmente têm o direito de exigir punição para torturadores declarados. Obviamente, isto exige profunda investigação para cada caso de modo a evitar-se ações atabalhoadas que poderiam penalizar inocentes ou pessoas que, por um motivo ou outro, não fossem devidamente investigadas e consideradas erroneamente como  culpadas.

A tortura, seja qual forma assuma, psicológica, física, é um ato tão vil e abjeto que não se coaduna com a racionalidade humana e, por isso, não deve ser praticada ainda que seja por ordem de superiores na hierarquia do poder. Se ela se comporta assim é porque a hierarquia deixou de ter validade e transformou-se em força bruta, animalesca, covarde e abominável . Tal se deu com o nazismo, nos crimes do Holocausto, Quer dizer, ao ser praticada, ela esquece os limites do respeito ao ser humano e age como monstros destituídos de sentimentos elevados.

Acredito que os militares das novas gerações tenham uma outra visão das atrocidades cometidas durante os “anos  de chumbo” (1968-1974), i.e., o período mais repressivo dos governos militares. São jovens com outra formação político-histórica. Creio mesmo que hoje só aspiram desempenhar seu papel em defesa do território brasileiro e da estrutura político-institucional. Este é o papel que efetivamente lhes cabe na conjuntura contemporânea.

A longa experiência ditatorial que tivemos serviu às Forças Armadas como um exemplo deplorável que jamais se deve repetir numa fase histórica em que o pais está consolidando sua vocação democrática  e seu quase pleno  amadurecimento de nação  em desenvolvimento servindo de modelo a outros países do mundo que não alcançaram esse nível de progresso.
Julgo que a Comissão Nacional da Verdade tem um desafio delicado pela frente e há de encontrar uma maneira de atender aos apelos dos que sobreviveram à violência de um regime de força e dos que perderam seus entes queridos, muitas vezes de forma injusta e descabida. Tudo deverá ser medido e qualquer decisão que peque por excessos deverá ser evitada, principalmente porque estamos muito distantes do início sombrio de uma era que não queremos mais ver se repetir.

Se os homens da lei não resolvem alguns crimes que permanecem impunes, por fraqueza das instituições, os criminosos e torturadores, no íntimo de seus seres, na consciência pesada de seus delitos, e com a chegada da velhice, dos achaques e da falta de reconhecimento da sociedade, são por eles mesmos punidos. Não há sentença pior do que a consciência pesada dos que são contemplados pelos outros como um abominável criminoso.



sexta-feira, 17 de maio de 2013

"A Rosa da Paz", de William Butler Yeats ( 1865-1939)




          The Rose of Peace

If  Michael, leader of God’s host
When Heaven and Hell are met,
Looked down on you from Heaven’s door-post
He would his deeds forget.

Brooding no more upon God’ wars
In is Divine homestead,
He would go weave out of the stars
A chaplet for your head.

And all folk seeing him bow down,
And white stars tell your praise,
Would come at last to God’s great town,
Led on by gentle ways;

And God would bid His warfare cease.
Saying all things were well,
And softly make rosy peace
A peace of Heaven with Hell.



                  A Rosa da Paz


Se São Miguel, chefe do exército de Deus
Num encontro do Céu com o Inferno,
Com desdém te olhasse da ombreira Celestial,
Anular-se-iam seus feitos.



Meditando triste e com vagar sobre as guerras de Deus
Em seu Divino abrigo,
Das estrelas teceria
Uma grinalda na tua fronte .



E todos, vendo-o inclinar-se em reverência,
Louvando-te com níveas estrelas,
Para a grande cidade de Deus, enfim, dirigiram-se,
Por tamanha gentileza impulsionados.



Decretou Deus o fim das Suas guerras,
A harmonia total declarando
E de uma rosa fez suavemente a paz,
Uma paz entre o Céu e o Inferno.



                                                                          (Trad. de Cunha e Silva Filho)





domingo, 12 de maio de 2013

Praticando a escrita na Internet




Cunha e Silva Filho



Há algum tempo já se falou que nossos alunos não escreviam redações porque não tinham suficiente prática de expor-se pela palavra escrita. Mesmo alguns professores – e me refiro principalmente aos de língua portuguesa - pouco ou nada escreviam a não ser para algumas finalidades básicas da vida cotidiana. Os professores desta disciplina, sobretudo os do ensino fundamental ou médio, o que mais desenvolviam em atividade envolvendo   a habilidade da escrita,  quando o  faziam na verdade,  era ler e corrigir  redações de seus alunos, i.e., eram profissionais que corrigiam aquilo que, na prática, eles próprios não faziam. Alguns deles me confessavam que    não tinham  talento  para escrever, até mesmo do ponto de vista teórico!
É possível corrigir bem uma redação sem que o que corrige domine bem a habilidade escrita? Não há aí uma certa contradictio in teminis? Como exigir do aluno uma boa redação se o próprio educador não a tem no exercício de ensinar a língua portuguesa e, no caso específico, de ensinar redação?

Corrigir redação não se cinge a reconhecer os erros de gramática do aluno, mas sim avaliar a capacidade de desenvolvimento do pensamento crítico do discente ao se lhe propor um tema para expor com originalidade e discernimento.

É óbvio que o professor de língua portuguesa,com seu tirocínio, a sua experiência de leitor observará que um texto escrito não se limita a construções da língua normativa, mas a elementos essenciais que estão implicados na construção de um texto: a capacidade de criatividade, o horizonte cultural do aluno, a coerência textual, a coesão, um bom ou ótimo domínio da articulação das ideias com a habilidade de a elas dar uma forma  determinada.

Na realidade, há muitos professores que leem bem, mas escrevem mal, o que me leva a supor que existe alguma tendência ou vocação para escrever bem, não obstante haja  linguistas que não veem a questão sob este ângulo especulativo ou teórico. Eles, os linguistas (principalmente),  possivlemente alguns   gramáticos, e filólogos (estes últimos, infelizmene,  não estão mais em moda nos estudos de linguagem, sobretudo com a chegada da linguística, ciência da linguagem que se constituiu no final do século 19), negam  essa tndência inata para  escrever  bem. Alegam que, se bem  orientados e se bem  expostos  à prática da língua escrita,  será possível  alguém  melhorar  sua  capacidade  de  escrever
 Tudo dependeeria de uma  efetiva e fucional  forma de  ensino de redação,  mostrando ao discente  como  funciona  internamente o mecanismo  da estruturação   de um texto, através de estratégias linguísticas  aplicadas  que  proporcionem ao estudante   o que  tanto os linguístas   gostam  de  frisar  : a consciência  metalinguística  que os alunos devem ter  na elaboração  de  qualquer texto,  mesmo  que sejam  textos não-literários.
Meu pai, que foi um jornalista muito produtivo, costumava afirmar, citando provavelmente o velho gramático paulista Eduardo Carlos Pereira, que “Só se aprende a escrever, escrevendo.” Ou seja, é no batente do exercício da redação que se vai aprendendo e aperfeiçoando  a composição escrita. Eu diria, acrescentando, que esse aprendizado deve pressupor um background cultural do aprendiz, quer dizer, o aluno vai melhorando sua capacidade escrita com um combustível essencial: a constância da leitura de bons autores em língua portuguesa: ficcionistas, poetas, contistas, dramaturgos, em suma, de autores que saibam lidar com a habilidade  da  escrita, ainda que não só necessariamente escritores, ficcionistas ou poetas, mas historiadores, filósofos, matemáticos, físicos etc, ensaístas não apenas do âmbito literário estritamente falando, mas também do campo científico. O ato de escrever bem e com elegância e respeitando a variabilidade de natureza do texto pode ser executado por toda pessoa que tenha  adquirido a habilidade da escrita. Quem deseja aperfeiçoar a sua maneira de escrever também passa pela prática constante de ler bons jornais e revistas de alto nível no uso da competência linguística. O grande crítico Antonio Candido, certa vez, recomendou a leitura, diária se possível, de jornais para quem desejasse nutrir-se culturalmente e ao mesmo tempo aprimorar sua capacidade de escrita.

No domínio da Internet, tenho verificado que, ao contrário do que algumas pessoas andaram prognosticando ou apregoando, os seus usuários, sobretudo utilizando-se do Facebook e do e-mail, têm dado provas evidentes de exercitar a complexa atividade da escrita. Por um razão bem simples: quando o usuário da Internet recebe um e-mail, por exemplo, e vai  dar-lhe resposta,  estará empregando todo o seu esforço intelectivo  para  dar uma resposta bem clara e, quanto possível, bem organizada, e é aí que passa a desempenhar seu papel de autor de um texto que, tanto melhor será expresso quanto maior for seu repertório informativo-cultural. É lógico que não me atenho aqui àquele usuário amante e devoto das linguagens cifradas ( porém claríssimas para a faixa de jovens, principalmente no que concerne a abreviaturas, relaxamento da construção sintática e desprezo pela forma normativa de escrever).

Nesta situação pode-se falar de mau uso da comunicação escrita via Internet. No entanto, se o jovem ou o adulto precisam se exprimir por essa forma virtual, nada melhor do que aprimorar o domínio do texto escrito ao enviar e-mail ou ao escrever suas mensagens no Facebook., espaço virtual que, por sinal, tornou-se uma espécie de fórum em escala global para a expressão da troca de informações entre as pessoas e oportuna maneira de, sem que se perceba o fato,  atuar dinamicamente no processo da escrita, porquanto aquele espaço virtual muitas vezes tem virado verdadeira coluna de jornal com a finalidade de transmitir opiniões,  informação, tornando-se, assim,    locus propício para diálogos entre interlocutores em diversas áreas e riqueza de variabilidade de temas. Sem sombra de dúvida, têm sido agora esses espaços virtuais grandes estimuladores de melhoria de qualidade da escrita e de fonte contínua de ensejo para leituras e reflexões entre as pessoas.Ou, por outro lado, a  constância de fazer uso da escrita, por si só, se torna um inestimável espaço. Louvável se fez esse canal de comunicação escrita que só tem aumentado a possibilidade de transmitir ideias e pensamentos na prática da escrita, a grande vencedora em termos de melhoria de qualidade na práxis de provocar e de habituar seu usuário a redigir textos. Essa foi sua grande vitória  no campo virtual.

Reconheço, ademais, que a prática da redação foi grandemente melhorada com o avanço e desenvolvimento de campos de investigação da linguagem e entendimento de textos, como a análise do discurso, a  linguística textual. Novos aspectos do estudo da linguagem foram surgindo e se tornando  decisivos para a melhoria    de técnicas de redação. Só para ficar em alguns  exemplos, mencionaria  o estudo da constituição do parágrafo, a identificação do chamado tópico-frasal, a classificação de tipos diversos de parágrafos, o estudos dos conectores e de sua gama de sentidos, os quais  contribuíram sobejamente para o incremento do ato de redigir não só para fins de comunicação literária e não-literária, mas também para tornar os estudantes muito mais metalinguisticamente conscientes do “como” e do “por quê” no uso adequado de todos os elementos gramaticais e semânticos na estruturação adequada e na eficácia de um parágrafo e do todo de um texto. Grande conquista essa dos modernos estudos de língua e da linguagem! No exemplo acima, não cabe esquecer o grande contributo que deu para o ensino de redação no Brasil o professor e ensaísta Othon M.Garcia com o seu clássico livro Comunicação em prosa moderna ( Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1967). há poucos anos ainda muito recomendado a alunos de jornalismo. A originalidade do estudo aprofundado do parágrafo não foi dele, ele a trouxe dos americanos e, no país, teve uma fortuna crítica admirável avançando, desta maneira, os estudos de linguagem escrita e, portanto, de redação entre nós.

Lembro-me muito bem de um professor, que nem mesmo era formado em língua portuguesa, mas exercia a  função de professor desta disciplina num cursinho pré-vestibular. No Piauí, adolescente, já havia publicado diversos artigos em jornais, mas, apesar de tudo isso, ao redigir um texto sobre um tema proposto por aquele professor, a primeira coisa para qual me chamou a atenção foi, na folha escrita à  mão, a minha ausência de “dar margem aos parágrafos. Ora, nos jornais que publicava os meus artigos em Teresina esta minha “ausência” era corrigida na própria redação do periódico. Escritores antigos não tinham nenhuma noção linguísticamente orientada da importância de um parágrafo bem estruturado. Eles conseguiam formular seus enunciados graças ao talento, à observação meticulosa dos exemplos dos melhores autores, mas lhes faltava ainda a consciência metalinguística para estas noções da escrita.







quarta-feira, 8 de maio de 2013

O cheiro da grama:um instante da memória







O cheiro da grama: um flashback da memória:



Cunha e Silva Filho


Já me encontrava com Elza, a minha mulher, no interior de um ônibus.Num banco pouco atrás de nós, estava meu filho Alexandre; íamos de volta pra casa. De chofre, ao dobrar a esquina para entrar na Marechal Câmara, pela abertura da janela do veículo, numa bela manhã de sol temperado, chegou-me até as narinas um cheiro gostoso de grama verde, circunvizinha daquele espaço de construção onde ficava o chamado Calabouço, o famoso restaurante dos estudantes no tempo da ditadura militar. Estudantes pobres ali tinham um lugar seguro onde podiam almoçar e jantar por um preço simbólico.

Um outro Rio era aquele dos período da ditadura militar a partir de 1964. As imagens jorram para trás no tempo provocadas pelo cheiro repentino que exalou num instante de menos de um minuto, talvez alguns segundos. Olhei, então, para o lado esquerdo da paisagem que dá para os velhos prédios da Avenida Beira-Mar, com aquela calçada que, uma vez, pisei pela primeira vez em direção ao conhecido restaurante. As  árvores, em frente dos prédios ainda ali estão, sempre dando sombra, generosa sombra, testemunha de tantas visões, movimentos, vozes e pensamentos diluídos pelo tempo.

Mas, o marco certo no qual ficava o restaurante está vazio das pessoas que naquele ano ali comiam, conversavam sobre política, sobre o futuro. Éramos muito jovens mesmo. A vida, uma incerteza. Os sonhos da juventude fervilhavam. Tinha poucos dias que chegara ao Rio e, ali, no Calabouço, à sua entrada, levava um documento, uns papéis.

Não me lembro para que eram. De repente, juntando-se a mim estavam outros piauienses que chegaram à cidade antes de mim. Um deles, malvadamente, tomou de mim aquele documento, que era para eu entregar a alguém, em algum lugar. O conterrâneo malvado, que havia sido colega meu no Liceu Piauiense, aos risos, se afastou sem me entregar de volta o documento.

Essa foi a pior impressão que tive de um conterrâneo de má índole. Não mais me avistei com ele para lhe cobrar o documento. Só o tempo cuidaria do mau-caráter. Deu péssimo exemplo de falta de solidariedade a um jovem recém-chegado em terra estranha. Não consigo esquecer as ações desonestas (que me perdoe Álvaro Moreyra, poeta, cronista e jornalista nascido em 1888 e falecido em 1964)) que me fazem. De um colega que morou na mesma Casa de Estudante que eu, a CESB, ouvi a seguinte afirmação: “Quando uma porta se fecha, outra se abre.”

Esse colega, o Anastácio Ferreira Morgado, leitor assíduo, na época, de Jiddu Krishinamurti (1895-1986), filósofo, escritor e educador indiano,da mesma forma, por coincidência estudou, no mesmo ano que eu, num curso preparatório a vestibular de medicina, jovem inteligente e muito estudioso, hoje, segundo me informaram, é um pesquisador de renome. O curso preparatório chamava-se “Curso Arquimedes, cujos professores eram jovens estudantes de medicina,” e ficava num dos andares do velho Edifício Santos Vale ( que vi citado numa obra de Álvaro Lins (1912-1970), Missão em Portugal: diário de uma experiência diplomática – I, 1960) numa conhecida rua do Centro, a Senador Dantas. Por mera falta de motivação, larguei o “Curso Arquimedes” no meio do ano.

No Calabouço, encontrei outros jovens, inclusive um piauiense, o Ribamar Garcia, que se tornou advogado trabalhista, escritor de ficção, com pelo menos, uma dezena de obras editadas. Um ano mais jovem do que eu, Garcia também conheci no Calabouço e logo fizemos amizade, amizade que começara pelo nosso interesse mútuo pela língua inglesa (ele estudava na Cultura Inglesa). Passei uns tempos sem ter notícias dele. Depois, por acaso, o reencontrei numa rua do Centro. Já era advogado militante. Retomamos a amizade até hoje.

.No restaurante tive o prazer de conhecer o Ary Medeiros. Ele trabalhava  na parte de assistência social do restaurante.. Ary se tornou professor da UFRJ, na área de Assistência Social. Aposentou-se, mas ainda tem vínculo docente com a universidade.È meu amgo até hoje.

Do ônibus, avisto agora, apenas uma passarela que dá para o Aeroporto Santos Dumont e, embaixo dela, abriram há tempos uma pista que segue pelo belo Aterro do Flamengo em direção a bairros da Zona Sul, como o Flamengo, Botafogo, Urca, Copacabana etc. O prédio do Calabouço, além do espaço destinado ao restaurante, oferecia, nos fundos, outros serviços, como lavanderia e diferentes lojinhas comerciais.

As gerações mais novas não sabem nada sobre aquele tempo do Calabouço, lugar muito associado aos rumos da política brasileira. Lá se misturavam estudantes apolíticos, estudantes da esquerda, militantes políticos contra a ditadura. O restaurante mereceu até um livro de um colega meu, que foi diretor da CESB, o Dirceu, um baiano amante da oratória e da poesia de Castro Alves, para ele o maior poeta que o país já deu.

Dirceu era emotivo, dinâmico, franco, solidário. Seu livro sobre o restaurante teve por título O canto do Calabouço. Não tive acesso ao livro, infelizmente.  Dirceu me deu uma demonstração de rara alegria e felicidade por saber que eu havia sido aprovado, em 1966, para o curso de Letras da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, depois chamada Universidade Federal do Rio de Janeiro.Até hoje, não esqueci o abraço caloroso deste jovem destemido e de temperamento político, combatente da ditadura. Tempos depois, soube que tinha ingressado no curso de Filosofia da Universidade Gama Filho.

A ditadura continuou, acabou e não mais tive nenhuma notícia do jovem e vibrante Dirceu, amante da cultura e da literatura, Um vez, conseguiu publicar um pequeno jornal da CESB, no qual entrei com um artigo,  de cujo tema não me lembro mais agora, afinal já se passaram quarenta e oito anos!. Outra vez, realizou uma noite literária, com discurso, declamações de poemas. Nesta noite, declamei o famoso soneto “Saudade”, do poeta piauiense Da Costa e Silva (1885-1950). Mal sabia eu que, anos mais tarde, escreveria uma dissertação de Mestrado enfocando  aspectos da obra do mais aclamado  poeta do Piauí,  Da Costa e Silva: uma leitura da saudade,  que, em 19996, seria publicada em livro pela Academia Piauiense de Letras em convênio com a Universidade Federal do Piauí, com prefácio da minha ex-professora de literatura brasileira do  Mestrado, Gilda Salem, já falecida.



domingo, 5 de maio de 2013

Brazil's Overview Corner: Reduction of full legal age for young killers

(Há uma tradução deste texto  para o português logo abaixo do texto em inglês)
                                                                                   "To know is to distinguish." (Croce)

By Cunha e Silva Filho


Four major problems Brazilians are facing nowadays: transportation, health, education and security, being this last one the most controversial issue in my country social life. Therefore, let me try to explain to you, reader, in more details. Unlike what statistics rates show – one should not always trust in statistics literally -, Brazil is going through its worst form of criminality, chiefly in the so called axis Rio de Janeiro-São Paulo. Going to a newsstand in my city section, a striking headline printed on the cover of a nationwide well-read Brazilian magazine titled Isto é, which was hanging from one of the lateral side of the newsstand, a headline struck my attention: “Reduction of full legal age.” I haven’t bought the magazine latest number, but I thought to myself, this will be the subject of this article.

It is known that society is divided as to agree or disagree with the possibility of reducing full legal age bracket, but for sure most people are on behalf of this reduction of age bracket for criminal who are threatening the stability of normal life, mainly in big cities. At present young boys or girls in my country are only imprisoned from eighteen years on. Society, however, wants them to go to jail as from sixteen years old, since it is claimed that at sixteen they are entitled to vote for a President candidate or other political mandates As it is, if they vote they can be also held responsible for their crimes and cruel deeds.

People expect the federal government should urgently take a stand as far as the country high level of criminality is concerned. So far, Brazilian haven’ had any word from the President Dilma Rousself, who, it seems to us, is not giving the issue its due and timely attention. In her latest address to celebrate one more Labor Day, no words were heard from her concerning this troublesome issue, undeniably the greatest challenge in my country put forward to a Chief of State’s concern.

It was a speech in which she pointed out the most important achievements her mandate has been able to carry out. Notwithstanding some positive gains in the domain of the economy and other social goals, she has forgotten to report the actual poor results in other dimensions of her government, i.e., she has disregarded to bring up some issues that seem to be dragging on for ever in Brazilian society, being the worst one the highest level of criminality in my country, chiefly the numberless cases of murders committed by teens to such an extent that Brazilian society no longer can stand this situation.

We have come to a climax of criminality brought about juvenile delinquency! What’s worse, Brazilian families are frightened at this wave of violence that seems endless. We have lost a meaningful number of people of all ages who have been recently killed by monsters who take advantage of their age bracket to act criminally.

By being aware they won’t be arrested and later sent to prison, as they are legally protected by a statute for minors, to commit a cruel and hideous crime, as was the case of a female dentist was caught up by a gang of three or four who entered her office, set fire to her body and burnt her alive! I cannot help reporting that the victimized dentist was the only supporter of her family You see, reader, one of the murderers was an under-age young boy.

Among lawmakers in Brazil’s House of Deputies and in the Senate it all seems this issue does not touch their political sensitivity inasmuch as I haven’t seen so far any movement of congressmen towards presenting an urgent bill related to the reduction of full age bracket as urgently as possible so as to give an expected and firm answer to society who is crying for help in all corners of Brazil. It’s up to politicians, men of laws, lawyers, jurists, public attorneys to take the lead  in  the reduction of full penal  law for under-age killers, and mainly it is up to President Dilma Rousseff to take short term measures in order to give the first steps towards solving this unbearable social problem.

On the other hand, I have seen people related to the judicial power who are against the general cry of Brazilian society with regard to this issue of age reduction for young murderers. On my part, I remind them of the circumstance of the fact that in this particular matter, their viewpoints, supported by arguments grounded on juridical knowledge, does not allow them to be the only ones to give the last word about an issue that is beyond sheer juridical domains but pervades other fields of knowledge such as sociology, anthropology, psychology, psychiatry etc. Moreover, an non-theoretical view of a layman does not mean it is not helpful and valid, as it is based on life experience that we as individuals are imbued with

One thing, however, should not be neglected: Brazilians, through several channels of mobilizations, such as some Ongs( (Portuguese acronym for NGO), OAB ( Portuguese acronym for Brazilian Bar Association, BBA), religious leaders, the population as a whole, ought to unite around this issue and ought to demand from congressmen immediate change in the Penal Code and especially in the Statute of Minors. We cannot put off the solution of this problem, otherwise society will still see gloomy days ahead. Society has come to a state of helplessness. I even go further in my opinion, the large – scale of violence that is disturbing Brazil today if not fought in time as hard as possible, will have unprecedented social economical and political consequences.

I remind our authorities that our country will soon be the host of important megaevents, such as, among others, the World Cup and the Olympic Games. Of course, the presence of policemen and other forces of security, even federal ones, should not only come to help us during these events, thus giving foreigners the impression that we live in a paradise surrounded by policemen everywhere ready to save us from criminality. What society actually needs is a prompt answer on the part of our highest authority, President Dilma Rousseff. The ultimate action must come from her government. She is the people’s last hope in this connection. She has all the available tools to face and fight violence and criminality in Brazil. It’s in her hand the solution to this afflictive problem. May she not disappoint us on this sad and tragic moment the country is going through..




Redução da maioridade penal de menores infratores

                                                                           "Saber é distinguir." (Croce)


Cunha e Silva Filho

                                                                               
Quatro grandes problemas enfrentam os brasileiros atualmente: transporte, saúde, educação e segurança, sendo o último o mais polêmico na vida social do país. Permita-me, leitor, explicitá-lo com mais pormenores. Ao contrário do que as estatísticas demonstram –nem sempre se deveria confiar literalmente nos dados estatísticas -, o Brasil atravessa sua pior fase de criminalidade, notadamente no chamado eixo Rio de Janeiro- São Paulo. Passando por uma banca de jornal do meu bairro, uma manchete na capa deu uma revista de circulação nacional, a  Isto é, que estava pendurada num dos lados da banca,  me chamou atenção: “Redução da maioridade penal.” Não comprei este mais recente número da revista, porém pensei comigo, este será o assunto do meu artigo.

Sabe-se que a sociedade encontra-se dividida quanto à concordância ou discordância da possibilidade de redução penal para criminosos de menor idade, mas a maioria do povo é favorável à redução da maioridade criminal para jovens de ambos os sexos que estão ameaçando a estabilidade da vida normal, sobretudo nas grandes cidades.

No país só vão para a prisão jovens a partir de dezoito anos. A sociedade, entretanto, quer que eles sejam mandados para prisões, já que se alega que, aos dezesseis anos, também podem votar em eleições para Presidente ou para outros cargos políticos. Desta maneira, podem ser responsabilizados pelos crimes e ações cruéis cometidos.

Espera-se que o governo federal urgentemente se posicione no que concerne ao elevado nível de criminalidade do país.

Até hoje, os brasileiros não tiveram sequer um palavra da Presidente Dilma Rousseff a este respeito. Ao que parece, não está dando a devida atenção ao assunto. Em seu mais recente pronunciamento, na televisão, em homenagem a mais um Dia do Trabalho, nenhuma afirmação se ouviu da parte dela no que diz respeito ao maior desafio a ser enfrentado por um Chefe de Estado, inegavelmente sua questão mais preocupante mais atual.

No pronunciamento, ela ressaltou os mais importantes êxitos de seu mandato. Apesar dessas vitórias favoráveis no campo da economia e em outros objetivos alcançados, ela esqueceu de fazer referência aos medíocres e reais resultados em outras dimensões do seu governo, isto e, não fez menção a alguns problemas que parecem se arrastar cronicamente na sociedade brasileira, sendo o pior deles o altíssimo índice de criminalidade, mormente os inúmeros casos de assassínios perpetrados por adolescentes em tal magnitude que a sociedade não mais consegue suportar tal situação.

Atingimos o clímax da criminalidade de delinqüência juvenil! O que é mais grave, os brasileiros estão acuados com a onda de violência que parece não ter fim. Perdemos um número considerável de pessoas de todas as idades recentemente ceifadas por monstros que se aproveitam da sua faixa de idade para agir criminosamente.

Tendo consciência de que não serão apreendidos nem depois encarcerados, pois têm a proteção do Estatuto do Menor, põem-se a cometer crimes hediondos, como foi o caso da dentista queimada viva em seu próprio consultório por uma quadrilha de três ou quatro facínoras! Não se pode deixar de mencionar que a dentista assassinada era arrimo de família. Veja, leitor, um dos criminosos era de menor!

Entre os legisladores do país na Câmara dos Deputados e no Senado, nos parece que esta questão não toca sua sensibilidade política, visto que, até esta data, não vi movimento algum de congressistas no sentido de apresentar um projeto de redução de maioridade penal com urgência urgentíssima de modo a dar uma satisfação esperada e firme a um a sociedade que clama por socorro por todos os lados do país. Cabe ao políticos, homens de leis, advogados, juristas, promotores  leavarem  adiante a ideia da redução da mioridade penal e principalmente compete  à Presidente Dilma Rousseff tomar as medidas a curto prazo com vistas a resolver este insuportável problema social.

Por outro lado, tenho visto pessoas ligadas ao poder judiciário que se colocam contra o grito geral da sociedade brasileira no que diz respeito a esta questão de redução de maioridade para jovens assassinos. Da minha parte, lembro-lhes de que a circunstância do fato que neste assunto particular, seus pontos-de-vista, alicerçados por argumentos consubstanciados no conhecimento jurídico, não lhes permite ser as únicas pessoas a dar a última plavra acerca de uma questão que se situa acima dos meros domínios jurídicos, mas permeia outros campos do conhecimento tais como sociologia, antropologia, psicologia, psiquiatria etc. Ademais, uma visão não teórica de um leigo não significa que ela não seja útil e válida, visto que se fundamenta na experiência de vida da qual os indivíduos estão imbuídos.

No entanto, não se deve ignorar uma coisa: os brasileiros, através de vários canais de mobilização, tais como ONGs, OAB, lideres religiosos, a população como um todo, deveriam unir-se em torno desta questão e exigir dos congressistas alteração imediata no Código Penal e em especial no Estatuto do Menor. Não se pode postergar a solução deste problema, senão a sociedade ainda verá dias sombrios no futuro. A sociedade atingiu um estágio de desamparo . Eu mesmo levaria mais adiante meu ponte de vista, a violência em larga escala, que está perturbando o Brasil atualmente, se não for combatida a tempo e de maneira tanto quanto possível rigorosa, terá consequências sociais, econômicas e políticas imprevisíveis.

Lembro às nossas autoridades que nosso país brevemente será o anfitrião de importantes megaeventos, como, entre outros, a Copa Mundial e os Jogos Olímpicos. Decerto a presença de policiais e outras forças de segurança, mesmo as federais, não deveriam acudir-nos não apenas durante aqueles eventos, dando, assim, a impressão de que vivemos num paraíso cercado de policiamento por toda a parte e pronto a salvar-nos  da criminalidade.

O que a sociedade na realidade precisa é de uma pronta resposta da parte de nossas mais alta autoridade, a Presidente Dilma Roussseff. A última providência deve partir do seu governo. Ela é a última esperança nesta direção. Dispõe de todos os instrumentos para enfrentar e combater a violência e a criminalidade no Brasil. Em suas mãos está a solução para este aflitivo problema, Que não nos desaponte nesta triste e trágico momento que o país está atravessando.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Tradução de um poema de Stéphane Mallarmé (1842-1898)




Soupir



Mon âme vers ton front où, ô calme soeur,
Un automne jonché de taches de rousseur,
Et vers le ciel errant de ton oeil angélique
Monte, comme dans un  jardin mélancolique,
Fidèle, um blanc  jet d’eau soupire vers l’Azur!
-- Vers l’Azur attendri d’Octobre pâle et pur
Qui mire aux grands basins sa languer infinie
Et laisse, sur l’eau où la fauve agonie
Des feuilles erre au vent, et creuse un froid silon,
Se trainer le soleil d’un long rayon.




                          Suspiro



Volta-se minh’alma pra tua fonte, onde sonha, ó serena irmã,
De manchas de sardas um outono juncado,
Rumo ao céu errante de teu olhar  angélico,
Se ergue, qual um jardim melancólico,
Fiel, suspirando num branco jato d'água rumo ao Azul!
-- Rumo ao Azul de pálido e puro mitigado Outubro
Apontando às grandes bacias o infinito langor,
Deixando, por cima d'água morta onde a agonia ruiva
Ao vento das folhas vaga, cavando  um frio sulco,
Arrastar-se com um longo raio o amarelo sol.



                                                                            (Trad. de Cunha e Silva Filho)