sexta-feira, 25 de abril de 2014

A Princesinha do Mar e o trágico quotidiano brasileiro




                                                        Cunha e Silva Filho


        Copacabana, o mais  conhecido bairro  carioca e um dos mais famosos do mundo por tantos   motivos,  beleza, praias,  lindas mulheres,   sol de verão, gente de todo o  mundo,  esconde, entretanto,  uma  face assombrosa: a violência, que se encontra agora, sobretudo nos morros e também no asfalto. Entretanto,  convém, para elucidação dos fatos,   saber que tipo de violência  existe e em que circunstâncias  ela se mostra,  agora,  atuante.
Sabe-se que, onde há favelas, há tráfico de drogas e somente isso  já é fator determinante  de  violência. Na favela Pavão-Pavãozinho,  um dos morros de Copacabana, existe uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) que tem sua razão de ser: a proteção  da comunidade que ali  vive. Ocorre que um incidente levou  os moradores  à indignação   pela morte de um  dançarino, o Douglas, que naquela favela já morou e, depois,  mudou-se  de lá  para viver  em outro lugar. O dançarino,  um jovem,  alegre,   pessoa querida de muita gente,  de vez em quando,  ia ao Pavão- Pavãozinho a fim de visitar um filho pequeno que mora com a sua  ex-mulher.
Douglas DG,  fazia parte dos dançarinos  de um programa da Rede Globo  apresentado pela conhecida  atriz  Regina Cazé. Participou também  de um  filme-documentário sobre  violência em morro do Rio de Janeiro onde, como personagem,  termina sendo assassinado    pela polícia, se não me engano.A ficção  virou  realidade  no seu caso.
 Um  homem, um  morador de rua, em Copacabana,  no mesmo  dia em que o dançarino foi morto,   foi vítima de bala perdida não se sabe se da polícia ou dos traficantes.
O trágico  incidente    foi um confronto  entre  blitz da polícia militar e traficantes  do  mencionado  morro. Tudo indica que Douglas, para fugir do tiroteio,  pulara um muro, mas mesmo assim  foi  assassinado, alguns dizem  por engano por ser confundido com um  bandido, outros, falam que foi  assassinado  por policiais.
A mãe de Douglas  abriu a boca e denunciou, diante de câmeras de televisão, que  os culpados  foram  policiais. Mãe corajosa,  articulada,   que, agora,   desconsolada, com a brutal  morte do filho querido, está decidida a lutar para que  os responsáveis pelo crime sejam  exemplarmente  punidos.
É mais um  lamentável  caso  da violência  crescente  no  Brasil, sobretudo no  Rio e São Paulo, mas que se alastra com seus tentáculos  sanguinários pelo país todo. Já fiz vários artigos  tratando do mais grave problema  brasileiro  contemporâneo, que é a falta  de  segurança  para proteção do cidadão brasileiro em todas as faixas etárias.
Ninguém pode  desconhecer que as UPPs  têm sido  úteis  às populações  que  moram em comunidades  carentes. Contudo,  há um lado  podre  da  polícia  que, atuando nas UPPs,  segundo  a imprensa  tem divulgado continuamente,  comete  abusos  de autoridade e provoca   mal-estar  em razão do comportamento de policiais despreparados  para atuarem  no contexto social   das favelas  cariocas. Conversando  com  pessoas  que  já moraram em  favelas, grande parte   delas não confiam  na polícia.Veem   essa instituição  como  inimiga  e mesmo, em alguns casos,   cúmplice  de  grupos  de milicianos que mandam e desmandam  em  comunidades  cariocas.
O governo  estadual  se revela,  pois,  incompetente  para  solucionar   essas mazelas  embutidas na violência. Enquanto isso,  o crime, os assaltos de todas as espécies cometidos por menores e adultos campeiam aterrorizando a sociedade carioca que, assim, se vê acuada,   órfã   de ações efetivas  do poder de segurança  pública. Os limites  suportáveis já  foram  ultrapassados e a cidade do Rio de Janeiro está cercada de  favelas onde  grassam a desordem,  a violência e o tráfico de drogas, assim como a ausência de um  poder   público que  não sabe enfrentar  com  vigor e  inteligência  uma cidade  partida em  três  grupos  de gente: a das pessoas de bem, os traficantes  e a polícia  despreparada e, muitas vezes,  conivente com  a criminalidade.
A maior parte do noticiário  jornalístico, no rádio,  na televisão diz respeito  a esse quotidiano em que  a criminalidade  galopante  parece  já estar naturalizada, como que  fazendo  parte  da cultura do povo brasileiro. Quando  um  país chega  a este estágio de barbárie,  de  impotência  dos governantes  para  diminuir  a nocividade  do crime de todos os tipos e níveis  de perversidade contra o cidadão brasileiro,  é  porque  é   um país  que dá provas   irrefutáveis  de  sua   completa   indiferença pela proteção  da sociedade. É tempo de mudarmos, de sairmos  dessa encruzilhada  de  maldades sociais,  de desgoverno,  de desídia  em administrar os estados que  formam a Nação.
As estatísticas estão aí para mostrarem  o número  de mortes  pela mão  nefanda do crime  organizado  ou não. Como querem os governante  se elegerem à Presidência,   a governadores, diante  da  situação  caótica  da sociedade  amedrontada diuturnamente com  criminosos  à espreita  de  ceifarem vidas  de inocentes? Com que cara irão enfrentar  os comícios e os programas  de televisão quando começarem os debates  dos candidatos,   sobretudo para  candidatos que aspiram  a reeleições? Terão  a cara de pau os que estão no poder e  desejam  nele continuar?  Será muito constrangedor  a um candidato tentar  justificar-se  diante  dos  crimes hediondos cometidos no país  e com  muitos dos seus  algozes  ainda  em liberdade e menores  bandidos e sanguinários  que matam  indefesos mesmo que  estes  não tenham   esboçado  nenhum reação  contra eles. Estão matando,  a sangue frio,  pessoas   de bem, trabalhadores,  profissionais,  homens ainda  com muito  tempo   de vida  útil  e  produtiva em todos os  campos de atividade.
O escandaloso  número de  pessoas  vítimas de criminoso  impiedosos equivale  a um país em guerra civil.  Este é o retrato  de um país  que está sediando  a Copa Mundial  de Futebol e, depois, as Olimpíadas.
Acordem,  políticos  e governantes,  porque a hora   do debate e de enfrentar  os votos  caminha  a passos largos.
Ou atacaremos  os problemas  nacionais  mais críticos, como a violência, a saúde, a educação pública  fundamental e média e os transportes, ou  estaremos   fadados  à perda  da governança patriótica,  séria e competente. Ou  tornamos  rigorosas as  penas contra  criminosos  hediondos, muito frequentes  no país,  ou  a Nação perderá  o controle de governabilidade. Ou  modificaremos  de imediato  a penalidade  para menores   do crime, ou  seremos  responsabilizados  pelos  crimes de omissão no exercício do poder  público.
Ou criaremos vergonha na cara – e aqui me refiro à classe  política em todos os níveis - ,  ou  perderemos a oportunidade  de sermos  uma  pátria  digna do aplauso e da admiração  das nações  do mundo  que conseguiram  entrar efetivamente  na maioridade  de uma democracia  verdadeira, na qual  a sociedade  seja   a parte essencial  e determinante na mudança  de escolhas  de governantes que tenham  como  objetivo  mais alto  o bem-estar do seu povo.


domingo, 20 de abril de 2014

Pátrias divididas







                             Cunha e Silva Filho

        O exemplo da Ucrânia,  com a anexação  da Crimeia à Rússia,  é mais um  exemplo  histórico de que  um pais,  um  povo  se acha dividido. O incidente  não é fortuito. Sãos múltiplos os exemplos  de separações,  por sangrentas  guerras civis,  caso  dos Estados Unidos, cujo  exemplo maior  foi a Guerra  da Secessão (1861-1865) entre  estados do Norte e do Sul.  
       Por desagregações dos povos por motivos  de imperialismo  e colonização de  estados mais  belicamente poderosos, como foram  os  do Império  Romano,  senhor todo poderoso  de parte do mundo antigo, as conquistas   de  Alexandre, o Grande,  as invasões napoleônicas, a tentativa  nazi-fascista de Hitler na Segunda Guerra Mundial, cuja sequela  mais  aviltante foi  o Holocausto ainda hoje  negado  por  energúmenos  de todos os quadrantes.
       Outros ainda por  razões ideológicas, linguísticas  ou religiosas foram   fundamentos   desencadeadores  de  separações,  anexações   manu  militari, e que são  feridas  não  totalmente  cicatrizadas   a divisão  da Alemanha,  do Coreia, do Vietnam.
      No cerne de todas essas tormentas  está  mente  deformada  ou  a cupidez  dos  homens,  sempre  nos surpreendendo com   decisões que, tomadas,  vão  prejudicar  povos , nações no mundo  inteiro.
Preocupa-me, agora,  o exemplo da Crimeia, preocupa-me também  a situação político-econômica de Portugal, assim como  de algumas regiões da África, da Venezuela. Imagine-se se não fossem os organismos  de paz  e  de mediação  de que ainda  dispomos que, bem ou mal,  conseguem  algumas pequenas   vitórias  entre  nações  que  teimam  em  permanecer em   eterno  estado  de tensões ou iminências  bélicas, fratricidas ou não,  por razões  várias e sobretudo  econômicas e políticas e hegemônicas.
Como está visto,  este mal  tendente ao confronto  ou a provocações,  caso   da Coreia do Norte, parece não ter fim, assim como  outros males  internos  de nações  que, sozinhas,  não chegam  a acordos  de paz no sentido mais  geral do termo. Memso no  campo cultural, da criação  literária,  nações como  a Cuba,  China e até a Rússia atual, ainda  não vêem com bons olhos   os escritores que,  na literatura   focalizam   ângulos sociais  e condições  de vida  de seus  povos que não  se alinham  pela cartilhas   do que  o dictatat  inquisitorial  impõe  seu dedo de censura.
Ora,  a literatura  é uma  arte, a da palavra ,  que,  para ser  originalmente   criadora,  precisa de  respirar  ares  de liberdade. Por mais que alguém possa  subestimar o caráter  social ou político  de uma  obra literária,  a própria  estrutura  narrativa já embute  esse componente sem o qual  a literatura  seria  mera abstração  de um significante carente   de uma  significado.
Numa entrevista  concedida por telefone, de Nova Iorque, ao jornalista  Leonardo Cazes do Prosa  &Verso (jornal  O Globo, p. 2-3) de ontem,  19 de abril, a ensaísta americana, de  origem turca,  Elif Batuman,  especialista em literatura  russa, e ela mesma  também  ficcionista,   faz um  comentário que,  nem  por  ser assim  tão original,  é bom  de se ouvir de  um intelectual:  “A literatura  é uma forma de compreender as complexidades de um  país. É uma maneira de enxergar as suas contradições, independentemente do valor  que uma nação  dê  à literatura.”
Na mesma entrevista  a ensaísta comenta  sobre a situação política  da Rússia e da Turquia atual, sobretudo dos seus   respectivos líderes,  Putin e Erdogan, que, para ela,  são dois líderes  “controversos”,  os quais têm “em comum,” segundo ela, sedução do nacionalismo. Ainda  acrescenta  ela, os dois  são “autocráticos”,  têm apoio  popular e   alimentam  “ antigas glórias imperiais”. É, portanto, sintomático o recente episódio  de tropas  russas na  Crimeia  seguidas  de  anexação  à Rússia.
Por falar  em apoio  popular  a governos  fortes, autoritários explicita ou  implicitamente  e, ademais,  com  autoritarismos  setorizados que se alastram  por certos   governos  estaduais  e municipais, essa realidade  que se pode  perceber  até entre nós,  tem  uma dimensão de risco a uma democracia   verdadeira.
Vejo  como  oportuna   a conclusão que  o crítico  inglês  Terrry  Eagleton  faz sobre o estágio  atual  da crítica literária  e suas  aporias, tendo  por  premissa  aquele entendimento  a que aludi  acima sobre  a estrutura da  obra  literária:”A crítica moderna teve origem na luta contra o estado  absolutista; a menos  que seu futuro não se defina como uma luta  contra o estado  burguês,  seria bem  possível   que nenhum futuro para ela se vislumbre." ((The function of  criticism – from the Specator to Post-Structuralism. London: Verso Editions  and NLB,  1984, p. 124).
Uma nação nunca  foi nem tampouco seria um mar de rosa  ideologicamente falando. Nelas existem  continuamente  tensões,  internas na  estrutura  do poder  e lá fora,  entre o povo,  nas suas várias  classes sociais,  nos seus  diversos  interesses pessoais,  cada qual  parecendo  ser,  aos olhos  de um observador,   um vulcão  adormecido que,  ainda que dure  por muito tempo,  pode, um dia,   entrar em atividade.
As nações são, por conseguinte,  aparentemente  unidas, mas não o são sob condições   adversas  de conflitos  e manipulações  das forças do poder  dominante e do poder  na expectativa  de   domínio. É nessa ciranda, sob corda bamba,  que  vivem as nações precariamente.


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sexta-feira, 18 de abril de 2014

Fragmentos de hoje (ontem)







                                               Cunha e Silva Filho


1)  A TV  informa que Gabriel  Garcia Márquez  faleceu.  Cem anos  de solidão vendeu  milhões de cópias no mundo e foi traduzido em, pelo menos,  trinta línguas. O escritor foi  considerado  um grande da literatura  universal. Ganhador do Nobel  de literatura. em 1982. Deixou  tudo para se dedicar só à literatura de ficção. Eu me pergunto: o que faz o escritor  um gênio em seu gênero  literário? Será a forma original da  narrativa, a linguagem-objeto, no caso dele,  parte escrita no  realismo  mágico, parte,  como disse,  com  estórias  fincadas  na realidade dos homens? São perguntas  difíceis de   responder.Fica a Colômbia  e sua Macondo  na solidão de sua partida. Pelo alto  nível de sua obra, uns trinta  livros, já foi  comparado  ao talento do autor de  Dom  Quixote.  Uma pessoa da minha  intimidade uma vez me falou: “Eu gostaria  de ser um famoso escritor,  viver  só do que  escrevesse, viver do que inventasse, ser senhor da minha escolha, sem precisar de ter um emprego com compromissos de  horários, sem ser mais um na engrenagem káfico-burocrático-empresarial. Essa é uma liberdade  de que desfrutam  os  criadores  de realidades  possíveis, os artistas da palavra, inventores  de vidas e de gente tão verossímeis quanto  a realidade  empírica.

2) Gostoso  é saber  que se vai  ganhar  um  livro  que queremos ler, de um autor que admiramos, que nos fez crescer intelectualmente, uma forma  de moldar   o lado  letrado de  nossa personalidade.

3) A Rússia  há pouco,  através da fala de Putin, não quer saber de confronto  armado com  os Estados Unidos, segundo ele,  muito mais  poderoso belicamente.Conversações entre autoridades russas e europeias,  e bem  assim com a  presença  de Obama estão surtindo  algum efeito para amenizar as tensões entre irmãos que têm  posições  a favor  ou  contra a Rússia, como é o que está ocorrendo com a Ucrânia. Já pensou  se todas as ex- Repúblicas, de repente  desejassem  ficar  atreladas ao governo  russo? Como  conciliar  a Rússia  capitalista  com  os fantasmas  do comunismo  da ex-União Soviética?

4) O Brasil é mesmo  caleidoscópico. A inflação,  dizem os economistas, está crescendo. A Presidente Dilma está caindo nas pesquisas e o  engraçado é que cai mas vai  ganhar  um novo  mandato. Estão distantes dela no páreo presidencial o Aécio Neves e, bem mais  embaixo,  o pernambucano   Campos.Os preços  dos alimentos, remédios,  roupas etc  estão  altos, mas, nos fins de semana,  os restaurantes estão cheios, causando  problemas de estacionamento nas  ruas  vicinais. Assim também os shoppins centers, apinhados de gente  comendo nas  praças da alimentação, um lugar  certo de encontro de pessoas estranhas vindas de vários bairros.

5) O papa  Francisco, mais uma vez,  alinhando-se à tradição da Igreja Católica,  reafirma   a manutenção do celibato  no clero.Como  pensariam  os padres, sobretudo aqueles  de bela aparência, vendendo  saúde  e sendo admirados  pelas fiéis? Não seria lutar contra  na natureza  reprodutora do  homem? Deixo a questão em aberto.

6) Vou passar uns tempos sem ver novelas. Ficamos  presos aos  folhetins eletrônicos quando  a novela é boa e seduz os telespectadores.É voz corrente que  intelectuais não vêem  novelas. É verdade ?

7) Os dias passam no  Brasil e o problema gravíssimo da violência continua. Violência dos assaltos na rua,  dos latrocínios e, com alguma frequência,  os crimes de pais contra filhos ou vice-versa. Crimes macabros, horripilantes, cometidos por motivos   passionais,  com envolvimento  de pai, madrasta. O pais estã,   neste aspecto,  de ponta cabeça. Enquanto isso,  mata-se e o criminoso continua  tendo  penas brandas. Direitos humanos, diz a voz do povo,   são para os bandidos e assassinos, os pivetes, os de menor,  que  assassinam barbaramente mesmo quando a vítima não reage. A sociedade  grita por  mudanças no  Código Penal. A vida do cidadão, do jovem, da criança, do idoso não vale um tostão.
8) A pendenga da Petrobrás  continua. Fontes jornalística afirma que houve  prejuízos para  essa importante  empresa brasileira. Ex-altos funcionários  estão sendo  investigados pela  Polícia Federal. Algumas evidências  já são suficientes para prender  culpados. Vai mesmo  haver  CPI da Petrobrás?  E como fica a Presidente  Dilma nisso  tudo? O certo é que houve  compra  da refinaria  em Pasadena, Estados Unidos, e nessa compra o dinheiro  foi  gasto  inutilmente porque o negócio não  deu certo. No país milhões de  reais ou mesmo dólares  são  gastos em negociatas,  vão para as mãos do corruptos e ladrões e fica por isso mesmo. O governo  provoca prejuízos de milhões ou mesmo  bilhões de reais em maus negócios e tudo fica  por ismo mesmo. Toda esse dinheirama  daria  para  melhorar  grande parte  dos serviços  públicos  de saúde,  habitação,  segurança,  educação e tantos outros setores da máquina do Estado.

9) O país é real ou mágico? Eis a questão. Eis o busílis da história, ou estória?

10) No Brasil tudo se admite, menos a prisão perpétua, prisão fechada,   sem  brechas, sem a ajuda dos antigos meirinhos que  percorriam  o  velho  Rio de Janeiro do vice-reinado, com  os soldados de guarda do rei  no velho  Paço,dormindo e certamente roncando, enquanto  a banda passava lépida e solta, seguida da gargalhada  galhofeira dos moleques de rua joaninas no tempo do temível  Major Vidigal desse romance  meio picaresco,  que são  as deliciosas Memórias de um sargento de milícias, de  Manuel  Antônio de Almeida (1831-1861) esse prógono da linhagem  da narrativa da malandragem  da literatura brasileira.

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AO PÉ DA PÁGINA


O CRISTIANISMO

                           Cunha e Silva


"O Cristianismo é o conjunto de preceitos e ensinamentos morais e religiosos legados por Jesus Cristo e seus apóstolos à humanidade há mais de dois mil anos. O Cristianismo espancou as trevas do paganismo no Império Romano e fora dele com o sacrifício do primeiro Papa, São Pedro, em Roma. Alguns imperadores romanos, entre os quais Nero, Domiciano e Calígula perseguiram ferozmente os cristãos que, inabaláveis na sua fé e no seu amor a Cristo, não se temiam dos seus algozes, cantando e rezando diante das fogueiras e de outros suplícios. O Cristianismo elevou as condições sociais em orais da  mulher e de todos os que a ele se abrigaram. Somente no reinado de Constantino, o Cristianismo começou a ser tolerado e seguido sem o perigo das torturas e perseguições.
                                              (...)

O Cristianismo prega o amor ao próximo, desfralda a bandeira da fraternidade e da solidariedade entre os homens. O Cristianismo é a maior força moral e espiritual da humanidade. Se esta seguisse à risca os seus princípios e ideais sublimes, os homens não se digladiariam jamais, as guerras e revoluções fratricidas desapareceriam da face da Terra, o Cristianismo só exalta o bem e a virtude, só tem ensinamentos que dignificam o homem e o aproximam mais de Deus

Nota do Blog: O artigo acima foi  provavelmente  publicado no jornal  Estado do Piauí. O recorte em meus arquivos infelizmente não contém a data.

domingo, 13 de abril de 2014

A política partidária é fanatismo ou jogo de interesses?






                                               Cunha   e Silva Filho


             O tema   é difícil e cercado de  labirintos. Mas,  dentro  desses labirintos podemos  inferir alguns  fatos  e tentativas de  buscas  de verdades humanas na relatividade em que o tema  a elas conduz  o observador atento e ávido de  penetrar-lhes  os  segredos ou mistérios.
Umas das inferências possui até o seu tanto  de  truísmo, ou de obviedade: como  pode  um homem  culto,   competente em sua área principal de  atuação  profissional, quer artística, quer não-artística, quer filosófica,  quer  não-filosófica ou de outra   natureza  disciplinar  ou  teórica, sustentar   o indefensável levado - sabe Deus por que  motivo –  a defender  cegamente   pretensas  verdades doutrinárias?
Como  pode um  ser dotado  de  conhecimentos vastos, experiência e saberes pender,  por facciosismo ou  parcialismo intencional,    para a direita ou a esquerda, ou  para o centro  ou  qualquer posição  ideológica, e não enxergar os  erros e os  ações  desonrosos  de um partido e permanecer   empedernido e  preso  a programas  políticos  que,  na  prática,  escamoteiam seus  princípios e agem  de forma  contrária? Onde fica aí a ética individual, ou do  grupo  partidário?
Se um partido  político  tem um suposto  programa  de governo a oferecer  à sociedade, através de  ações materializadas  que levam  ao descrédito  mesmo  daqueles que, afastados ou indiferentes,  estão  das questões  políticas,  não temos  aí  um  exemplo de  fanatismo?  Este comportamento indicia  na  verdade,  um cegueira,  um modo de ver e sentir a realidade e toda a sua  complexidade dos dias de hoje de forma  falaciosa e seu seguidor não passaria de um simulacro no jogo   político.
Quando se torna   impossível  ver  os fatos  e as circunstâncias  mostrando-se  contrários  aos  princípios  e regras  de um partido que  não  pretende  modificar  ou  realinhar-se de modo a  dar conta  das principais  carências e  reclamos da  sociedade é porque  alguma  coisa  transmite  falsidade e seus líderes  não  passam  de  cabotinos e enganadores  da coletividade e os  próprios   sectários vivem a  ilusão de ótica e,  por  essa razão,   contribuem como co-agenciadores  dos simulacros   criados   por lideranças   fantoches, por  malabaristas e saltimbancos  travestidos de  políticos  cuja conduta  leva  o país  à derrocada  na sua  forma  mais cruel: a da corrupção,  do cinismo  e  da indiferença  aos males da sociedade.
Donde se conclui que  o fanatismo  trabalha em favor  de quem  o produz: o partido sem ética  nem dignidade. Assim  o fanático  partidário  é um cego que não  deseja  ver além do seu  próprio  engano.
Quanto ao  jogo de interesses a que o título deste artigo  alude como  alternativa, ele  está imbuído  dos  mesmos procedimentos  do embuste  e  da felonia e sua  característica primordial  é transformar a  política da retidão  e da  ética, da moralidade  e  do bem-estar  da nação  em  balcão de interesses  os mais  perniciosos  possíveis, já que  este tipo de “política”  perde  todos  os  fundamentos necessários  à práxis  política e à assunção  de seus  ideário  em prol da  coletividade,  Tudo  que  desse simulacro  resulte  não será  mais  do que  uma luta  de  interesses  mesquinhos  fora da órbita  das práticas  políticas sérias e pautadas  pela dignidade  da  Política com  p maiúsculo.
Um  tal estado de coisas, se permanecer por muito tempo,   pode descambar  facilmente  para   situações ainda de maior   risco não  desejável  por qualquer  cidadão  de bem.  O agenciamento de atores  que   se servem  dos mandatos  políticos  como  manobra  de enriquecimento  a todo custo  leva o eleitor  a descrer  da  política  correta, dos  homens  públicos e do desprezo  pelo ato  de votar.
No  Brasil  da atualidade  vislumbro   com clareza  estas duas alternativas colocadas     ao debate  público. Na verdade, ambas  se interpenetram insidiosamente e terminam, por  contaminação, se equivalendo em  alguns  aspectos, visto que  a cegueira do fanatismo  concorre para  a prática   ignominiosa da segunda alternativa. São dois lados  da mesma  moeda  podre do fanatismo  e do  jogo  sujo da  política nacional.
O leitor atento  sabe de quem falo  e do que  deixo  implícito a fim de que, meditando sobre  o tema,  tire suas  ilações. Sei que  estou dialogando  com  vários interlocutores  de pensamentos e posições  que  podem  ou  não coincidir  com o que exponho neste artigo. É bom que assim o seja. Não se mudam  da noite  para o dia   os princípios  enraizados  profundamente na alma  do fanatismo, seja,  o  político,  o religioso,  o esportista.
É preciso  que  do esclarecimento,  da  procura  de posições  abertas  se extraia  uma fresta da luz da razão e da  imparcialidade, livrando  os  indivíduos  dos males dos  preconceitos  e  das visões  distorcidas que  existem  no letrado e no ignorante.
Não custa  nada  de minha parte  suscitar  reflexões  que  levem  ao caminho  de  um viver  sem tantas angústias  e perplexidade  que  a sociedade contemporânea, no Ocidente principalmente,  mas também  já no  Oriente, sob o império da mídia, da globalização, do brilho falso   do  sucesso financeiro  inopinado  e da mistificação  em escala quase  mundial, tanto  centros  urbanos como nas periferias,  tão bem  manipula  as gerações mais novas e até, por  contágio,  os adultos e velhos sobreviventes  de hoje.

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AO PÉ DA PÁGINA



 A psicologia das revoluções

       
                                    
                                              Cunha e Silva


“A psicologia das revoluções é bastante complexa. Não confundamos revoluções com  golpes militares e de Estado, com  badernas, quarteladas e simples  motins populares. As revoluções de caráter  político e social são mais  profundas e legítimas, desde que atendam às aspirações populares, à queda de tiranias e despotismos. A revolta dos plebeus contra os patrícios em Roma milênios atrás, foi   uma autêntica  revolução. As revoluções, como as operações cirúrgicas, são medidas drásticas, violentas e, às vezes,  cruéis, mas necessárias e oportunas. Se não cortar a perna de pessoa – ameaçada de gangrena – com o bisturi do cirurgião, a pessoa  morre, na certa,. Assim se dá com  o país  com a revolução quando  o país está em grave crise social e política na iminência de entrar em guerra civil, a solução imediata é deflagrar a revolução, sangrenta ou não,  a fim de se evitar que  o  país caia no abismo e no caos ou se despenhe no desfiladeiro sombrio da convulsão social.

Nota do Blog: Artigo   possivelmente  publicado no jornal  Estado do Piauí, Teresina, PI., O recorte não traz a data.










 




  








 
  





 
  













 


terça-feira, 8 de abril de 2014

Para onde vai o Brasil?



                     Cunha e Silva Filho



              Numa entrevista  de televisão  feita com  o  já saudoso  ator  José Wilker,  a certa altura de suas  respostas à entrevistadora, o ator, refletindo sobre o  que pensava  do país,  confessara que, nas suas andanças  por dever do ofício de artista,  passando  por vários  estados brasileiros,  sentia  ser o Brasil um lugar  dividido em  quatro  países.
           Cada um desses países singularizava-se  por suas    diferenças,  costumes,  cultura, níveis sociais  etc. Pouco tempo depois,  - acrescentou -  com as mudanças  grandes  operadas  na estrutura   da nação,  com mais   progresso,   melhoria de comunicações, entre  outros aspectos novos, sua opinião  era outra, i.e.,  já  pensava  no país  como  um todo, porém  não um todo  que lhe viesse dar  satisfação  e alegria.
            O país era um só, mas o ator  não via  no horizonte  nenhuma    possibilidade  definida  de uma  estado de melhoria das condições diversas  do país. Havia em suas palavras o tom de  sinceridade e ao mesmo tempo de perplexidade  no que diz respeito a um caminho  mais definido para a solução dos problemas nacionais. Para Wilker, não havia o mínimo vislumbre de uma  saída,  de uma via  em direção  a uma realidade  futura   e de bem-estar  para o  povo. Percebi que  o ator  não estava contente com  o país e o tom  de suas   palavras era de permanecer  por enquanto  na indagação,  na dúvida,  na expectativa  de  não  divisar  um horizonte.
Foram suas palavras  inquiridoras,  inteligentes,  lúcidas que me inspiraram  a escrever   esta crônica. E, pegando  aquele  gancho  indefinido  do que falara  Wilker, também aqui  me dirijo a tantas  perplexidade diante do que  vemos  no país contemporâneo.
Sem  fazer  nenhuma previsão  geral  quanto ao destino  que  está  reservado  ao meu país, não posso deixar de repisar  questões  que cada vez mais  me  deixam  indignado, sendo a primeira delas  a da insegurança,  na qual vive o país. Continuo a afirmar que nosso  problema  nº 1 é a violência contra  as  pessoas no país afora, e não serão as Forças Armadas que darão cabo  dessa anomalia  onivora que está   matando  o resto  da esperança  do povo brasileiro.
 As Forças Amadas, por melhor boa vontade que tenham, ora  incumbidas de proteger  uma  parte das favelas cariocas,  com data até julho  deste ano, apenas  atenderão a razões  mais  da  imagem do pais com as proximidades da  Copa  Mundial.
Quando as tropas  se retirarem, os velhos hábitos  do crime  retornarão com  toda a força e perversidade nas favelas   temporariamente monitoradas.  Pouco  ou quase nada  vão fazer os militares  para  minimizar  os massacres cometidos pela criminalidade, principalmente  porque as Forças Armadas não  têm  experiência  e know-how nessa  área de atuação. Não é sua  seara específica e constitucional.
 Ontem mesmo,  às  oito horas da manhã,  um  professor de  educação física, no bairro da Tijuca,   foi mais um número  fatal da  estatística  de uma país  de altíssimo nível de   violência. Depois de tomar um cafezinho   numa padaria  perto da academia em que  trabalhava, na saída,  foi surpreendido na calçada  por  dois  meliantes adultos, um deles magro  e baixo e o outro um  homem  grande e massudo.  Usavam bicicletas. Exigiram-lhe  um relógio e  um cordão de ouro  (“Perdeu! Perdeu!," a macabra expressão  usada  por criminosos), que usava no pescoço.
 O professor, de cinquenta e cinco anos,  respondeu-lhe  com um palavrão e avançou contra  os facínoras, um dos quais  lhe atirou à queima-roupa no peito, ou no pescoço. Levaram  o professor a um pronto-socorro mais  próximo, porém  era tarde. Já  estava morto. Uma câmara,  certamente a da padaria, filmou toda a cena  assustadora  e covarde e, assim, pudemos constatar que, enquanto  o adulto magro anunciava o assalto com uma arma de fogo  em punho, o homem  grande e massudo veio  por detrás atacar  o professor  tentando dar-lhe  um golpe no   pescoço.
 Não há um só dia, leitor,  em que  a  TV brasileira  não  reporte uma agressão, um assalto, um homicídio, acontecido no eixo Rio - São Paulo ou em outras regiões do país. Grande parte dos assassínios é cometida  por  menores, que ficam impunes e voltam a matar outras pessoas,  outros brasileiros, jovens,  adultos,  velhos e até crianças.
O país  exige reformas  urgentíssimas no Código Penal e da mesma maneira  exige dos legisladores  aprovação de leis  que  diminuam a maioridade  penal a fim de que  tirem  o país  dessa fase  espantosa  de crimes e de impunidades. O país  exige  que  se implante  a prisão perpétua para  crimes  hediondos.
O povo  não mais  suporta  tanta  sangue derramado  por inocentes na rua, em casa,  em qualquer parte. Urge dar-se,  com rigor,  um freio  nessa deplorável   passividade  do poder  público  diante  do que está  ocorrendo  em todo o território nacional. Não é bom para o estrangeiro que veja toda essa carnificina   cometida  em nosso  país. 
Os nosso  legisladores  em Brasília  precisam  entender  de uma vez que o Brasil  não é terra de ninguém, que  tem  condições de impor  leis  severas contra  quem  é bandido, seja  de menor idade, seja  adultos.Todos os  brasileiros  conscientes  estamos   esperando  uma  posição  da Presidente da República a fim de que  ela  se sensibilize cm  o inferno em que se transformou  o país   nessa escalada  interminável  de violência  contra  inocentes, cujo  número de mortes  equivaleria  a verdadeiras   guerra civis.
Que não venham  os  sabichões do direito,  da sociologia e da antropologia  com discursos   elitistas,  segundo o qual a violência  tem causas   assim e assado.  O discurso  esotérico  de especialistas  não  pega mais nem convence a ninguém.   
Desejamos, sim, ações  concretas,   palpáveis e   decisivas  que alterem o status quo da legislação penal  no combate à criminalidade e que  revertam  com   políticas de segurança pública viabilizadas,  dando  satisfação aos anseios  do povo clamando  por justiça, justiça, justiça contra  o crime. 
Desejamos, enfim, que o  cidadão em casa ou na rua,  em qualquer parte do país,  na cidade e no campo, nas megalópoles ou “monstrópoles,”  palavra cunhada  recentemente em  notável  e patriótico artigo publicado  em O Globo (“Concerto das cidades”) pelo ilustre  senador   Cristóvão Buarque  para designar  estas grandes urbes  infernais em que  se transformaram  São Paulo,  o Rio de Janeiro e outras capitais.  Somente desejamos que o povo tenha  sossego, paz e confiança  em que  este país melhore, ou se não,  vai cair  no  poço  do caos  e da  anarquia. 






Ao pé da página

                  
             
               Cunha e Silva

“Os representantes federais do PDS, no Congresso Nacional, são atuantes na tribuna parlamentar e nos trabalhos das Comissões  Técnicas da Câmara e do Senado Federal. A tarefa deles não passa daí. Não se movem, entretanto,  no Palácio do Planalto, nos Ministérios e Autarquias para tratarem de assuntos referentes aos Estados que representam, ganhando gordos subsídios e vantagens outras” (...)
Nota do Blog: Artigo  publicado no jornal  Folha  do Piauí, s.d., Teresina, PI. (Editoral, de título  “Bate o Recorde”)




        


sexta-feira, 4 de abril de 2014

Fragmentos da infância




                                               Cunha e Silva Filho


1.  Uma criança de aproximadamente cinco anos  entra por alguma  razão numa casa velha de corredor assombrado. A criança  entra   correndo e sai  da mesma forma correndo quando  se choca com uma mulher de idade difusa. Com o choque, a criança derruba a mulher que estava no seu caminho. Como a  era pequena,  passou  praticamente por entre as pernas da mulher. A criança  ouve  palavras  grosseiras ou, como disse um gramático  tradicional,  intraduzíveis na linguagem educada.

2. Uma criança  estava lá fora de casa, não muito afastada. No momento estava tentando brincar com um jumento de rua. A criança  puxou-lhe o rabo uma vez, duas vezes; na terceira vez,  de repente leva um coice da alimária que a deixa  tonta,  quase caindo. A dor era aguda e de imediato  volta  pra casa  chorando  e  procurando  pela mãe.

3.Era  uma zona rural,  onde se podiam ver tratores,  jeeps e pessoas. A criança estava com o pai e dois  irmãos maiores. O lugar era bonito,  talvez uma fazenda para onde foram  colegas do pai da criança a passeio. A criança se aproxima de um carro  em movimento.  O carro, um jeep americano, de repente para. A criança de olho no carro. Ela está parada no descampado por onde passam  carros e pessoas. A criança avança em direção  ao carro. Ela, por ser pequena,  não pôde ser vista pelo  motorista, que resolveu dar uma marcha à  ré logo no momento em que a criança  desejou  subir por detrás do carro. Sua testa  levou  uma pancada forte  que a derrubou. Gritos de toda a parte   foram ouvidos. O motorista deu  uma freada, mas a criança já estava estendida no chão quente de um calor  tropical. Um homem a colocou  nos braços e a levou  para dentro da casa da fazenda. Colocaram-lhe  gelo na testa, que continuava doendo e ficara inchada. O pai da criança, os irmãos  ficaram  atônitos,  preocupados, sem saber o que fazer. Seus colegas   pediram calma. Não tinha sido  coisa  tão séria a ponto de ter que  leva o menino a um hospital.

4.  Estava tudo combinado.  Eles,  inclusive a criança,   iriam à Praça  no centro  de Teresina  pedir esmola só de brincadeira. Assim o fizeram. Postaram-se  num canto de uma esquina e começaram  a desempenhar  o papel de mendigos pedindo  moedas  por amor de Deus.

5. O pai da criança recebeu uma visita de um conhecido. O pai apresentou  os filhos  àquele senhor ainda  novo. “Este se chama fulano,  este beltrano,   este  sicrano e assim  sucessivamente. O visitante ficou  calado olhando para cada uma das crianças e começou a fazer  elogios : “Esta é bonita,  esta também, até chegar a vez  da criança (a mesma  da relação   desses fragmentos), esta é feia.” A  criança, sem  vacilar,  na velocidade de um  raio,  deu  uma  tapa na cara do visitante, que nunca,  supõe-se,  esperaria  tal reação.Constrangimento geral. O pai da criança não sabia onde meter a cara de tanta vergonha. O visitante, idem.

6. A criança, uma vez, saindo de casa,  toda bem vestida,  com uma  camisa  de  jérsei  usada pela primeira vez, encontrou  pela frente um colega  da vizinhança. Com ele,  conversou por alguns  instantes e, inopinadamente,  o  colega acertou-lhe um  tapa  na cara. O colega,  da mesma idade, era bem mais forte e mais alto. A criança nunca  soube por que  razão o colega  tinha feito aquilo. Fora um absurdo,  uma covardia, pensava a criança.

7.Estavam armando um  circo improvisado num  terreno baldio, perto da casa da criança. Eram todos colegas, um deles era primo da criança e mais velho uns  seis anos. Iam  brincar de circo naquele lugar, bem perto da casa do menino que  havia  batido na criança sem  motivo  algum.Estavam todos  alegres com o que estavam   preparando. O primo mais velho  procurava  fixar uma estaca alta no chão do  terreno. A criança  olhava   para o que  o primo  estava fazendo e,  num dado  momento,  a estaca  caiu e foi  atingir  a parte  posterior da cabeça da criança. Era uma estaca grossa  e pesada. A dor foi  lancinante e da cabeça da criança  começou a jorrar sangue, muito sangue. A criança  voltou correndo para a casa e a mãe,  aflita diante do sangue,  do jeito que estava, levou  o menino  a um médico  famoso  da cidade, que era, por sinal,  parente da família. O médico  cuidou dos ferimentos e prescreveu  um remédio  para compar na farmácia.

8. Naquele dia  abençoado,  o pai da criança   levou-a  uma procissão  no tempo em que  Nossa  Senhora de Fátima  visitava  Teresina. Usando terno completo, de cor clara,  o pai acompanhou  a procissão. Assistiu a uma missa,  orou, acendeu vela. Fizera uma promessa  para que   deixasse de   lado um comportamento   que só estava  prejudicando ele mesmo e a família, sobretudo a mãe da criança. Cumpriu a promessa e tudo  melhorou  dali a diante. Nunca  mais  desagradara à  mãe da criança e a vida em família    reinou em paz para sempre.

9.A criança  estava  passando  por uma  calçada onde havia,   em frente a uma  casa de classe média, senhoras sentadas (costume da época) conversando alegremente e observando  o que  se passava na rua. Vem a criança de volta  da redação  de um jornal  importante de Teresina  e, ao passar  pela calçada, ouvira de uma das senhoras: “Este menino parece um  príncipe, olha como   anda. Que elegância,  que porte!”

10. Foi terrível aquele dia em que  a mãe  da criança,  na cozinha,  preparava um alfinim quando, por descuido,  caiu-lhe por um  lado da fronte o tacho com  a  rapadura   derretida. Mamãe chorava em desespero e logo a levaram   ao pronto-socorro da Avenida  Frei  Serafim. Foi um alvoroço para a toda a família e  aquela foi  uma das vezes   que mais sofrera a criança   preocupada  com  a saúde da mãe.

12. Algumas vezes,  em tempo  muito quente,  a mãe da criança ia visitar uma  tia que morava pelos lados   dos fundos do Liceu Piauiense.  A criança costumava  voltar sem a roupa,  andando  como veio  ao mundo.

13. A mãe da  criança  tinha  dado à  luz um filho. O pai, bem moço ainda,  depois  da jornada  de trabalho, ia fazer algumas tarefas  domésticas. Por exemplo,  encher os potes d’água e outros afazeres  mais pesados, uma vez que  não  tinha um empregada para o  dia todo e que dormisse em casa. Só de dia  havia alguém  para  cuidar  do almoço da família e do preparo da galinha   guisada, de sabor  delicioso, sem tempero e com pirão para a mãe de resguardo. Todos os irmãos  queriam provar um pouco  da galinha e do pirão  

14.A criança sempre atenta ao que o pai  fazia  :  preparar aula   falando em voz alta. O pai, os livros, as leituras de jornais, a atividade  escrita  para os jornais durante  toda a vida..A ida às escolas, sempre  a pé de um lugar para outro, o dia todo, a noite também.