segunda-feira, 28 de julho de 2014

Observações à margem de uma paródia da Copa no Brasil


                                       
                                  Cunha e Silva Filho



   O Brasil, país do futebol, enfrenta uma ressaca. Não se  refez ainda  do massacre da Alemanha. Nosso futebol  está cabisbaixo, encolhido,  sem alma. Nos iutubis da vida,  vemos  vídeos até  de uma encenação paródica   de uma  reunião de Hitler com seus comandados, com toda aquela fisionomia  germânica dando  espinafração nos seus  técnicos sobre o resultado  do jogo  da Alemanha com o  Brasil.  O Füher não aceitava  que a Alemanha  tivesse vencido,  pois  queria que, no final,  jogassem o Brasil e a Argentina. O Brasil tinha gasto  bilhões para que as coisas saíssem conforme a sua vontade, segundo o apalavrado...
Hitler disparou  palavrões por toda a parte diante  do silêncio  amedrontado  de seus subordinados.Suas pretensões deram  errado.O que  queria mesmo era ver  o Brasil  perder para a Argentina. E, segundo ele,  perder para  esta  seria um  tristeza  maior do que reeleger  a Dilma  Rousseff...
Mas,  houve  o desvio de percurso do Neymar, que aumentou mais  a indignação  de Hitler. Mas, qual nada: Tudo,  como disse,  deu  errado. Todos  o  jogadores fizeram  o contrário do que se esperava, do que fora combinado. O técnico, o Neymar,  o Fred, o Hulk. E os alemães, idem.
Por mais que a Alemanha  não quisesse, conforme  era o combinado,  mais  ganhava do Brasil,  numa goleada infernal. Hitler, apoplético,  com a voz  gutural  e  esganiçada,   soltava  palavrões para todos os cantos. E ainda lamentava: “Não vai o Brasil  ter mais o seu   feriadão prolongado mergulhado  na pândega,  no carnaval e no samba caso  ganhasse  a Copa.
O que  Hitler queria   mesmo  era ver o circo pegar fogo.Para ele,   o Brasil  não funcionava  mesmo: na educação,  na saúde, nos transportes.Devia  milhões e o povo é que ia pagar o pato. Com toda essa desgraça, o pais ainda  festejava a Copa e até os alemães!
O mais divertido  é quando Hitler,  referindo-se ao time  alemão,   chega a um  ponto  hilário  de  lamentar por que um jogador alemão  não  fizera um  gol contra e deixasse a zaga “espalhada”...
Dizia e repetia o  Füher: “Não era para ganharmos.”  Palavrôes.O que  queríamos mesmo era  desprestigiar um país cheio de tantos erros, de  corrupção,  de só querer saber de futebol.
Agora,  que tudo  está consumado,   já nos vem  a campanha  presidencial. Expulsamos  o Felipão e sua equipe, com exceção de um  componente que, me parece,   vai ser mantido  com o novo  coach  brasileiro, o taciturno  Dunga.
A campanha  para a  Presidência promete ser dura   e, ao que tudo  indica,  vai ser   acirrada. Não vai ficar pedra sobre  pedra. O PT não vai  querer deixar  o osso, ou melhor,  o filet  mignon do poder  e do  mandar. Mas, que vai ser  acirrada, não tenha  dúvida. A roupa lavada de parte a parte não  vai ser lavada em casa, mas no microfone,  nos comícios,   nos palanques, nos debates de canais de televisão,  e as  discussões de   temas candentes  sobre  graves questões nacionais   vão incrementar  e elevar o tom  dos  competidores.
Desta vez,  há uma força poderosa que se vai  colocar em ação:  as redes sociais, à frente o Facebook,   os blogs,  os iutubis, afora os  tradicionais   meios  de  comunicação, o rádio,  o jornal,  a televisão,  o paródico  “Propaganda Eleitoral,” dando a fatia  maior  aos donos  do poder.
Já no momento   as redes sociais  estão pegando  fogo, os e-mails  cheios de  comunicações,   em geral  contra o governo Desta vez,   as campanhas sofrerão  os desdobramentos  das manifestações  que houve, pacíficas  ou violentas.
"Pra frente,  Brasil",  que  a Copa, agora,  são as urnas e os que  convencerem  o povo,  que é infelizmente, tão dividido, terão  assento  na Presidência,  no Senado e nos governos  estaduais. Desta vez,  pouco espaço vai sobrar para mistificações  e alegações de que  um candidato  não possui  televisão porque não teve ainda dinheiro  para comprá-la.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

BRAZIL'S OVERVIEW CORNER

Israel  is not setting a good example  
 [ A Portuguese  translation of this  article follows the English  text]


                                      by   Cunha e Silva Filho


                 Obviously Israel  must  defend  itself  against  rockets  launched by  Hamas groups   from  Gaza  Strip; it  is in its  duty to do so.
                However,  what is  to be  harshly criticized is  the way  and the  war power  Israeli armed forces  are using against the population  of  Gaza causing  an unprecedented  death  toll which amounts to  hundreds of  fatal victims,  including – what is  so  regrettable -   unprotected civilian children,  adults and  old people.   These actions are not sheer   war   actions   at all.  They rather  seem  to me  actions against  humanitarian  rights even  considering   two  fighting  peoples  in  the  gloomy  conflict.
                If Israel  people  could look back to the atrocities they were  victims of  during the Holocaust  days in  the Second World  War, they would   probably  seek to  change  their attitudes   now, as by so doing,  before the  eyes of  the  world  community,   their image has  been seriously damaged, especially having in  mind the historical  circumstance that the country   is worldwide known as theb  Holy Land, Christ’s  birthplace.  What about the place of  religion the aim of which is to  keep  peace and avoid violence among  people  and nations.
By setting the bad example of a fighting  merciless  country   launching   powerful missiles reaching  the  population   of Gaza, thus destroying  houses and  buildings by reducing  them  to havoc    in scenes that bring us to the  awful memories of  the  two world wars, Israel will never gain  the solidarity and  the approval  of  civilized  world nations. Far   otherwise.  They will be seen as a warlike  country   and even   as a nation   that does not  respect  universal  human  rights.
Of course,  the  position   taken  by  Israel’s government   has already  shown  some  bad  consequences of their acts:  plane  flights scheduled to destination  in  Tel Avis  have been  cancelled.  International  tourism  will  suffer a lot of  financial   losses. In my view, these are  some of the terrible consequences that  will  soon be felt  by Israelis, not to mention others.
According to international  analysts,  the  recent  incident  causing  destruction   of a school  building for refugees  maintained  by  U.N. shall have  a bad  aftermath, since  this  world  institution,   so to speak,  was disrespected in  what it  stands for  before  all nations  comprising  it.          
To make things worse,  Ygar Palmer, Israel’s Foreign Ministry  spokesman  came the point of  slamming   our   diplomacy  as  the “diplomacy of  dwarf!, thus  underestimating   Brazil’s international  position  for  recalling  his ambassador to Israel for consultation at the Itamaraty.
On the other hand, its is beyond my human  understanding that a country   whose people  preach   Judaism  is  able to   allow itself  to  these inhuman  military  actions. I do not   deny that  Hamas  groups are  blameless  either. They   too have their own   defects and   wrongdoings, but what  is at  stake is the  real fact that  there is a disproportional    degree of violence between  Israel and  Gaza  Strip. To give a simple  glimpse of  this disproportion,   I  may refer the reader to the present  casualties  between  the  two opposing  forces, and chiefly the  number of   dead  people   victims  of   Israel's  armed forces.
International   world organisms, such as  the U.N. should not   stand with  arms across before this carnage. Something   must be done   urgently and those who are to be  held   responsible  for the atrocities   must   be   rightly  punished for   their  deeds. And   believe the world shall not certainly comply with   these wrongdoings.
An immediate    U.N.  intervention   should take  place,  not  through  the use of force, unless  things  get  worse and  the amount of   victims increases endlessly. What   we cannot   stand   any longer  is the  present   unsustainable situation.
In view of all this  tense  moments  humanity  is going  through and which  does not  restrict itself  only to the regions of Gaza and Israel, I want to  believe  the organisms  of  peace and security shall  find a  way, firstly to an immediate cease   fire, secondly, to  a meeting   of  the Security Council  of  the United Nations  to  put and end to  the  unstable and  afflicting  situation The world is tired and revolted of ever  watching on TVs around the world the   regrettable scenes of  crowds carrying the corpses of their    beloved  ones on  pieces of wood like stretchers along the  roads in Gaza. 
There cannot be so distressing   scenes like   these   -  a shame  before the eyes of  mankind. And these  ghastly   scenes are a true  example  of how  far we are of    reaching   a  desired stage of  human  behavior precisely at   the  present  time  the world has  shown  such  tremendous advances  in the field of  science and technology, but at the same time has seen  a  very  dark and savage  stage of  living  without peace and  respect towards one’s fellow creatures. What a pity!  “Oh, mankind!,” Herman Melville (1819-1891), a north-American novelist, essayist and poet, would rightly say, to repeat what I use to write to express my indignation against violence and injustice anywhere.





Israel  não dá bom  exemplo


                                                Cunha e Silva filho

                   Israel  deve, sim, defender-se de foguetes lançados pelo  Hamas da Faixa de Gaza. Está no seu direito.
Entretanto,  o que não  posso  deixar de censurar duramente é a forma de  fazer guerra contra a população de Gaza, numa  estatística  de mortes sem precedente e lamentável por  fazer  vítimas de suas armas  crianças, adultos e velhos  desprotegidos. Tais ações não são meras  ações de guerra apenas. A mim me parecem antes  ações contra os direitos  humanitários, mesmo  se consideramos  que os dois  povos   se encontram  num   conflito  sombrio.
Se os israelenses pudessem  retroceder  às atrocidades de que foram vítimas  no Holocausto durante Segunda Guerra Mundial,  provavelmente   procurariam mudar  suas atitudes hoje, pois,  agindo como o fazem,  diante do olhar da comunidade mundial, sua imagem  tem sido   seriamente  prejudicada,  em especial  tendo  em mente  a circunstância histórica de que o país é   mundialmente  conhecido  como a  Terra Santa, o berço-natal  de Cristo.
Dando  um exemplo de país  beligerante e impiedoso, que lança mísseis  poderosos  atingindo  a população de Gaza, destruindo habitações e edifícios e os reduzindo  a escombros numa cena que nos traz à memória  horripilante  de duas guerras mundiais no passado,   Israel jamais  poderá  conseguir a solidariedade e a  aprovação   das nações   civilizadas do mundo. Muito ao contrário.  Serão vistos como  um país belicoso e até uma nação que  não respeita  os direitos humanos  universais.
Decerto, a posição  assumida pelo governo  de Israel já causou algumas  consequências  ruins   devido  às suas ações: voos marcados para Tel Aviv foram  cancelados. Assim, o turismo  internacional sofrerá  pesados prejuízos. A meu ver,  estas  são algumas das sérias  consequências   que logo  se  farão sentir, para não mencionar  outras.
De acordo com analistas internacionais,  o recente incidente  provocando  destruição  de uma  escola  para   refugiados  mantida pela  ONU, terá  péssimos  desdobramentos,  já que  essa  instituição  mundial, por assim dizer,  foi  desrespeitada no que  representa  diante  das nações que a constituem.  Para piorar  ainda mais,  o porta-voz do Ministério do Exterior  israelense, Igar Palmer, chegou ao ponto de chamar  a diplomacia  brasileira de “diplomacia de anão,” subestimando, dessa  maneira,  a posição brasileira  no que diz  respeito  ao conflito palestino –israelense e por haver   chamado  nosso  embaixador  em Israel  para consultas no Itamaraty.
Por outro lado,  está além da minha compreensão humana que um país cujo  povo  prega o judaísmo  seja  capaz de permitir-se estes atos militares desumanos. Não  nego que  o Hamas  seja  isento de culpas  tampouco. Ele tem igualmente  seus defeitos  e  ações  deletérias, porém  o que está em  discussão é o fato de que  há um grau  desproporcional  de violência entre Israel  e a Faixa de Gaza. Para  um simples  exemplo desta  desproporção,  chamo a atenção do leitor para  as baixas  atuais entre as dois forças adversárias,  e  sobretudo  o número de mortos vítimas das forças armadas  israelenses.
Organismos internacionais com as Nações Unidas não deveriam   ficar de braços cruzados diante desta  carnificina. Algo tem que ser feito  com urgência e os responsáveis  pelas   atrocidades  devem ser  punidos legalmente.
Uma  imediata  intervenção  das Nações  Unidas deve ser feita, não com o usos da força, a menos  que  as coisas  piorem e o número  de vítimas  aumente  indefinidamente, O que não se  pode  é suportar mais   esta situação   insustentável.
Diante  dos momentos de tensão  que a humanidade  atravessa e que não se restringe  apenas  às regiões de Gaza e Israel,  quero crer  que os organismos  de paz e segurança  hão de  encontrar  um caminho, prime iro a de um  cessar-fogo imediato,  depois,  uma reunião  do Conselho de Segurança  das Nações Unidas  a fim de pôr  termo a  esta situação  instável  e aflitiva.
O mundo está  cansado e revoltado  de assistir  continuamente  pela  TV  as cenas abomináveis de multidões  carregando  os corpos  de seus entes queridos sobre tábuas de madeira como se fossem macas pelas ruas  de  Gaza.    
Não podem existir cenas tão  angustiantes  como essas – uma vergonha diante dos olhos  da humanidade. E essas  cenas   terríveis são um  exemplo  autêntico de  quão distantes   estamos  de alcançar  um  estágio  desejado de comportamento  humano  exatamente  no momento  em que o mundo tem  mostrado  tantos  avanços   no campo  científico-tecnológico e,   de outro lado,   um estágio  sombrio e selvagem  de viver  sem paz e respeito para com  nossos semelhantes. Que pena! “Oh,  humanidade,!” diria  com  justiça Helman  Melville, escritor  norte-americano,  para repetir  o que costumo  escrever   a fim de expressar  minha indignidade  contra  a violência e a  injustiça  em toda a parte.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Genocídio no ar




                                     Cunha e Silva Filho


                  Não dá para acreditar mais nos organismos   internacionais de proteção  à paz. Não os vou citar  porque, em  muitos artigos que venho  escrevendo, os tenho mencionado  à exaustão. Ainda não se completaram  duas décadas e este nosso século XXI  persiste em conduzir-se pelo caminho errado da barbárie, da violência,  da quebra  de acordos de tréguas entre países rivais protagonizados  por  palestinos  e  judeus e mais  outro   exemplo, porém,  agora,  uma luta fratricida na Ucrânia.
               O recente abate de um avião de passageiros da Malaysia  Airlines,  que  atravessou  os céus da Ucrânia, sinaliza  mais um ato de selvageria inominável. E o pior é que  nenhum dos  lados  no conflito está disposto a   confessar a culpa  pela  desastre de uma ação covarde,  perversa perpetrada  contra  seres humanos, adultos,  crianças,  cientistas, pessoas de nacionalidades  diversas  que,  numa fração   mínima de tempo,  são  assassinados  por armas mortais  inventadas  pelo ser humano.
Parece que se está erradicando das mentes  (des)humanas o sentimento  de respeito  à vida de inocentes. Não é possível  que  a guerra civil entre ucranianos divididos  entre separatistas  pró-Rússia e  pró-Ucrânia descontem  suas divergências   econômicas,  políticas e ideológicas  detonando  aviões   de passageiros como se fossem meninos  brincando  de  jogos eletrônicos  para verem qual deles  mata mais  gente.
Organismos   de segurança  mundial -  perdoe-me, leitor,  se não cumpri com o que  afirmei no início deste artigo -   como   a ONU  estão  mais se  parecendo com  promessas  de políticos  brasileiros  quando,  sentados  em reuniões,  tomam posições  diferentes nas discussões e nada fazem de concreto  para  evitar ações  criminosas. A impunidade  já chegou  à ONU.                   Este  organismo  não se faz mais respeitado e  por isso  os mais  abomináveis  crimes  de guerra não são  punidos  por medidas   diversas que poderiam ser  tomadas. Não falo  de intervenções  militares à revelia das Leis do Direito  Internacional,  mas de sanções  que venham   doer  na  estrutura  econômica  de países   que cometem  crimes   contra a humanidade.
A ONU, através do seu  Conselho de Segurança,  deve agir  com  o máximo rigor contra  os inimigos  da humanidade. O genocídio  praticado  contra  os  tripulantes e  passageiros   da Malaysia Airlines não pode  ficar  sem resposta. A covardia  e  a atrocidade  contra os que morreram na derrubada do avião merecem  punição  exemplar, imediata das nações  civilizadas   que ainda  mantêm  um mínimo  de  respeito às leis internacionais.
No entanto,   tudo  indica  que cada vez mais  nações   necessitam  da ajuda   internacional  e nada se faz em socorro  delas. Enquanto isso,  os crimes entre  pessoas da  mesma  pátria  ou entre   nações continuam  ocorrendo   e banalizando as mortes  de  inocentes desprotegidos, naturalizando-as como se fossem  ações normais os crimes  hediondos. O mundo  põe-se em  estado de convulsão sob o império  das hostilidades,   da falta de diálogo e de soluções  de paz. As palavras  sábias e ponderadas do Papa Francisco  exortando a humanidade  à conciliação e ao fim  de conflitos,  guerras e terrorismos são  como  gritos  pedindo paz     na solidão dos desertos.
 Os exemplos estão aí: conflitos no Iraque,   na Síria,  no Egito,  no Afeganistão,  na Palestina,  em Israel e em outras regiões   do  mundo.
Os líderes dos  países em conflito  não   anelam  pela paz, já disse alhures, o  povo, sim. Quem mais é  vítima  das divergências  geopolíticas, econômicas e religiosas  é a população de cada país   em estado beligerante. Eis  por que  a paz fica cada vez mais distante,  quase impossível,  de ser  alcançada no contexto  mundial  contemporâneo.
Ameaças  de sanções  pouco  têm adiantado para as partes envolvidas  nos conflitos sangrentos,  seja  na  Ucrânia,  seja entre palestinos e Israel, seja na  Síria onde o mesmo  ditador  se disse eleito para poder   beneficiar-se  do cargo   que ocupa  com  mão de ferro  e  carregando nas costas a mancha infame  do sangue derramado  de   milhares  de  inocentes mortos  em decorrência  da guerra civil  entre o governo   e os  rebeldes. 
Porém, no  caso da Ucrânia,  não podemos  ficar  apenas atônitos diante  da carnificina  cometida   por  uma ordem  insana  partida do grupo   separatista  ou do  próprio governo. O Presidente Obama afirmou à imprensa que a derrubada da aeronave  partiu  de Moscou, ou seja,  do governo de Putin. Contudo,  não para sabe ainda quem  realmente disparou  o míssil fatídico  contra  o avião comercial.
 Há que se  descobrir quem foram  os culpados e o saldo de mortos é muito elevado  para  que  o mundo  se curve  diante  dos cadáveres empilhados  num trem-frigorífico   que os levará  para  complemento de  identificações. Essa  atrocidade  a que assistimos  pela  televisão e pela imprensa escrita e virtual  precisa   de ser  divulgada  e denunciada  por  alguma parte da   comunidade   internacional   que ainda  guarda um pouco  de sensibilidade nos corações  empedernidos  e anestesiados  por tanta miséria,  destruição  e mortes  de  inocentes.
Repito:não acredito mais nos organismos internacionais   de combate  aos crimes contra  o ser humano. Basta de conversa  mole e de promessas inócuas diante  dos horrores  que estão  acontecendo  em   regiões do planeta  Terra.
Onde estão a diplomacia mundial, os Tribunais  Internacionais para  tomarem  posições  rigorosas e urgentes contra  novos  holocaustos   da pós-modernidade? Não vejo  nenhuma  perspectiva   de melhorias  nesse   quadro  sombrio  de  assombrosa tensão  contínua entre   povos  do mesmo país  e  de países   diferentes  que  se digladiam como  loucos  sem cessar e se destroem  como   animais  selvagens famélicos  de sangue   de inocentes,  de crianças  mortas.  É mais do que  tempo de meditação em profundidade sobre o que estamos  atravessando em tão trágicos  dias do presente.





quinta-feira, 17 de julho de 2014

O olhar de um jovem mendigo


                                                              Cunha e Silva Filho


                 Ao sair da vetustíssima  Igreja de Santa Luzia,  Centro do Rio de Janeiro,  aonde fui  assistir a uma missa de Ação de Graças a Santo Expedito, me defrontei  com um  jovem negro, sentado num dos degraus  da entrada  daquele templo sagrado.
                O  jovem  não me pediu nada quando olhei para ele. Senti que  seu olhar  me pedia uma ajuda  financeira e aqui associo de imediato  o fato  àquele  provérbio  que aprendi  em inglês num  formoso livrinho didático, presente  de um vizinho e amigo  quitandeiro  da rua São Pedro,  esquina com a Arlindo Nogueira, em Teresina, Piauí, lá por volta  do  início dos anos de 1960.  Livrinho da antiga coleção FTD, ao qual, infelizmente,  faltavam  algumas páginas. O provérbio é este: “He who gives to the poor lends to God.”  (“Quem dá aos pobres empresta a Deus”).
                Minha reação foi  logo a de  retirar  do bolso  uma pequena    quantia que dei  ele. Mas,  não é a ação de caridade  que me importa    como matéria de  reflexão e, portanto,  não é  a discussão  de  dar esmola  ou não dar  esmola, nem  tampouco  me  importa se esse gesto  vai de encontro  ao pensamento, quase coletivo,  de que  dar esmola  é manter   o hábito errado e reprovado  de  que assim fazendo estamos  não ajudando  alguém  na penúria, mas  contribuindo  para  manter  indolentes   no estado em que estão.
O que  pretendo   comentar  é  o olhar do jovem  negro dirigido a  mim com tanta candura  e tanta pureza, com tanta  alegria que conseguia me passar pelo brilho   que me  transmitia  uma  expressão de ingenuidade,  de simplicidade, de pureza,de agradecimento, de gratidão, de  comunicação instantânea de uma alma para outra,  sem  nenhum outro  desejo senão o do olhar   de agradecimento e de simpatia  que me lançou e me comoveu  até às lágrimas, lágrimas não  realmente  derramadas mas sentidas,  que são  as mais   genuínas e as  mais  intensas.
Olhares  há  que se distinguem  do simples  olhar  da indiferença  que observamos   em nossos semelhante, no anonimato  da multidão. Esse  olhar  do desconhecido  não tem  nenhuma  significação  para nós, porque nada diz  dos sentimentos  verdadeiros, do que  brota da espontaneidade,  da gratuidade,  do querer ser  cúmplice  e solidário, ou seja, é um outro  olhar, é o olhar do jovem  mendigo. É esse olhar  que  nos  falta como seres   feitos de espírito e  de matéria física.
O  olhar do jovem  negro não é o de  ameaça,  de raiva,   de revolta. É, antes,  o olhar  do amor,  da alegria  sentida  por receber, num simples gesto  de uma pequena esmola,   algo  que conforta ainda que  por um curto  tempo. Não  foi a minha ajuda   dispensada àquele  jovem  que  irá   resolver a situação de mendicância dele. O que está em jogo é o  contentamento   demonstrado  por  ele através de um  olhar   amoroso  e empático,  olhar de quem  não  nos quer o mal, um olhar de quem  nos    deseja   felicidade   e alegria, olhar digno de uma  poética do olhar.
 Aquele instante do  olhar do jovem  negro  que pede esmola, seja  pelo silêncio,  seja pelo balbuciar   hesitante  de   proferir  alguma frase constituiu,   pelo menos para a minha compreensão,  um  momento  epifânico.  
Não sei se ainda experimentarei  aquele   instante  de olhar   onde se pode  sem esforço  vislumbrar  a faísca  do conforto   íntimo  ainda que   fruído  por alguns  instantes  inefáveis.
O olhar do jovem  e  simpático  negro, naquela manhã de sol  de julho carioca, guardarei  comigo   como um instante de eternidade que  -  sei  por experiência -   não  nos  é comunicado    em tantos dias   da  nossa vida.
O olhar do jovem  negro    que pede esmola talvez tenha adquirido  mais  intensidade  devido  à circunstância de que,  naquela manhã de uma quarta-feira, o meu dia   não fosse  um dia  comum  e  insosso, mas  um dia   pleno  de sensações  etéreas,  de eflúvios   benéficos, desses que   nos   invadem  a alma e  o corpo  numa unidade  de harmonias  e de  encantamento  a que  chamaria de  uma dia  feliz, no qual a percepção mais aguda   da vida  e de sua  importância  nos  torna mais   do que um simples mortal,   mas alguém  em comunhão  universal  com   o sentimento  de amor   à vida, ao tempo,  ao espaço, à natureza.
 Procurando as razões mais íntimas para este estado de  beatitude,  não preciso  esconder  que  seu  cerne se encontra  naquela  lindo  olhar de um simples  negro  encontrado  a pedir  esmola, sentado   num degrau   da  entrada  de uma velha   igreja, cuja forma embrionária data praticamente do tempo  da fundação do    Rio de Janeiro, tendo sido precariamente  erguida à beira do que chamamos Baía da Guanabara, uma parte considerável da qual foi, tempos depois,    aterrada com  os escombros  da derrubada do Morro do Castelo.
Internamente,  a construção da igreja foi  feita em    estilo “ rococó tardio,” segundo  a classificação  que lhe deu  o historiador  Milton  Teixeira, que conhece tudo do Rio antigo, e   de mistura com    traços  barrocos.A Igreja de Santa Luzia, uma  das relíquias  históricas da cidade,  passou por diferentes  formas  arquitetônicas.
 Nada sei  nada sobre a vida pessoal e familiar  daquele  jovem, dos motivos que o levaram àquela condição social. Também não é desta crônica que  me valerei para elucubrações de cunho  político,  ideológico,  de  sistemas de governos.
 O que no jovem  negro procuro  é sondar-lhe, ainda que  esquematicamente,  a  poética do olhar, o seu  sentido de humanidade. No seu olhar não tenciono questionar os fundamentos da  nossa estrutura política  que o levaram   ao que é na sua condição  atual  de   carência e de  abandono. Não é politizar  o tema  da pobreza,  das injustiças  sociais,   dos governos   perversos,  corruptos, modelos nefandos  da impunidade em vários  níveis de administração, de violência em forma de impunidade crônica,  malabarismos indecentes (para não parecer disfêmico) e de hipocrisias camufladas de benefícios sociais.  
Só quero  é extrair da  poética daquele  olhar todos os traços   de sua ancestralidade, das lutas da sua  etnia  para conseguir   alguma cidadania   e dignidade  num país  engolfado  por modernismos   e  anacronismos (Eduardo Portella) que saltam  à vista de qualquer  observador   atento  ao  destino  de  nossa  nação.
Só sei que aquele  olhar  do jovem  negro  brasileiro me encantou e me fez   um dia mais   feliz e mais consciente sobre  o que  deveríamos ser e não somos, no cinzento  convívio  entre os   homens que ainda  povoam  este  tão  desolado planeta  Terra.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Polêmicas literárias no Brasil: alguns recortes históricos.



                                                                  Cunha e silva Filho

                      
  As polêmicas surgem em decorrência de princípios ou ideias divergentes  que se chocam entre  indivíduos ou  grupos nos  múltiplos  campos  do conhecimento humano. Na literatura  portuguesa,   tivemos a velha e famosa “Questão  Coimbrã” ou do ”Bom Senso e Bom Gosto,” travada entre  Antônio Feliciano de Castilho e seus seguidores representando a geração  antiga, e os rivais  Antero  de Quental e Teófilo  Braga, intérpretes  estes da geração mais  moça.
Esta  polêmica,  plena de  injustiças  e  de desrespeito  da parte  dos mais novos  e sobretudo de Antero de Quental, se dera por  razões de pressupostos   estéticos entre o Romantismo e as novas  concepções de ordem científico-evolutiva do Realismo, movimento   literário  através do  qual  os novos procuraram  a derrocada do grande   movimento  anterior de amplo   espectro   nacional  e universal.
                       No domínio da vida literária brasileira o capítulo  das  polêmicas  não é pequeno em sua incidência, particularmente no  século XIX, em  pleno  Romantismo,   movimento  literário  abrangente e avassalador  nos seus pressupostos teóricos, o qual   permeou  uma multiplicidade   de áreas  culturais, não somente  nos limites   estritamente  literários, mas  invadindo mesmo   o terreno  da gramática, da filologia, da linguística, da estética,  da filosofia,  da economia,  da política, da religião.
                       Só para ilustrar algumas polêmicas ocorridas no século XIX, podemos  mencionar  as divergências  estético-ideológicas entre José de Alencar e os defensores  de  Gonçalves Magalhães a propósito  do  poema  “A Confederação  dos Tamoios,” escrito  por  este último,   considerado  o introdutor do Romantismo  brasileiro com a  obra Suspiros  poéticos  e saudades (1836).  O escritor  de Iracema, usando  o pseudônimo de Ig, atacara aquele poema de  Gonçalves Magalhães através da  publicação de   oito Cartas sobre a  Confederação dos Tamoios (1856). Alencar julgara o  poema  fraco  poeticamente e reprovava  na composição  do poema  as ideias  de Magalhães sobre  o indígena.[1]            
   Contra José de Alencar cerraram fileiras Araújo Porto Alegre e D. Pedro II. “Numa posição intermediária,” ficou Monte Alegre.[2]   Ainda contra Alencar outros fatos ligados à sua  produção literária conspiraram injustamente,  como  a censura que o impediu de levar aos palcos o seu  drama  As asas de um Anjo.
   Ainda mencionaríamos na sucessão de julgamentos  críticos  de oposição a Alencar a acrimônia do Conselheiro Lafayette classificando a “heroína de Lucíola de ‘monstrengo moral’; as críticas  de mau gosto  e infundadas de Pinheiro  Chagas (escritor  português), de   Antônio  Henriques Leal (escritor e médico  maranhense, e não  português como, por engano,  afirmou  Alfredo Bosi), e de Antônio Feliciano  de Castilho (escritor  português) recriminando, em  diversas  ocasiões,   ser Alencar  um autor  “incorreto” na linguagem,  censura que,  por sua vez,  recebeu da parte de Alencar, consoante  lembra bem  Alfredo Bosi,  uma  fundamentada teoria da ‘língua brasileira.’ [3]
   Nas Cartas a Cincinato, o escritor Franklin  Távora provocaria  a veia crítica de José  de Alencar.Távora  reprovava  as concepções estético-regionalistas  de Alencar. Finalmente, mais uma acesa  polêmica enfrentaria    José de Alencar com  Joaquim Nabuco sobre  questões  estéticas envolvendo  obras  do escritor cearense.[4]
   No início do século  XX e até em tempos  ulteriores,  podiam-se  mencionar as  polêmicas entre Sílvio Romero e José Veríssimo, entre Carlos de Laet e Valentim Magalhães,  bem como entre Carlos  de Laet e Camilo  Castelo Branco, entre  Rui Barbosa e Ernesto Carneiro  Ribeiro, entre o Pe. Sena Freitas e Júlio  Ribeiro,  entre Cassiano  Ricardo e Fernando de Magalhães, entre Sílvio Elia e José de Oiticica. Há pouco tempo, lemos um  livro  vergastando  duramente  o crítico  Agripino Grieco,  a despeito de ser  ele mesmo,  Grieco,  um velho crítico  conhecido      por sua  mordacidade e um espírito  sarcástico e demolidor.
   Referimo-nos ao livro Carcassa, sem glória, de Osório Lopes.[5] Pelo visto,  eram   controvérsias de diferentes  escalas   de  azedume, de diatribes   e de animosidades, sustentadas entre intelectuais brasileiros, não só poetas e ficcionistas, como também críticos, historiadores, gramáticos,  filólogos, linguistas discutindo, pois,  controversas  questões e temas,  sendo  principalmente aqueles   relacionados  à nossa formação literária, à autonomia   de nossas letras, à nacionalidade   literária, à língua literária   brasileira, temas,  de resto,  amplamente  estudados  por Afrânio Coutinho na obra  A tradição  afortunda.[6]
  Fatos semelhantes a estes  nos fazem pensar   no mesmo problema  enfrentado  por Lima Barreto, a quem  uma certa crítica  andou   afirmando  sem claras razões  linguísticas nem tampouco  estéticas ser  o  autor  de O triste  fim de Policarpo Quaresma  um  escritor “displicente’ e “incorreto,” quando   esses alegados  motivos   não passam  de um   julgamento crítico que não  entendeu   a base  estético-literário-linguística  da fase   de transição   de Lima  Barreto, a que a  história  literária brasileira denomina  Pré-Modernismo.
  Mário de Andrade, sobretudo com o grande marco de inovações linguístico-estético-literárias, que foi Macunaíma, situar-se-ia neste mesmo tipo de  debate, guardadas  as  mudanças  de tempo e de  formas renovadas   de  elaboração   ficcional ou  poética  desencadeadas   pelo Modernismo de  1922, o qual     esteve exposto a  severas   críticas  no tocante ao uso da linguagem literária.
Na sua   primeira  fase  iconoclasta, derrubando  valores  estéticos e formais dos  dois  maiores  gêneros   literários,  o ficcional e  o  poético, o Modernismo reagiu   profundamente a     um tradicionalismo  resistente a rupturas na obra  literária, sobretudo  no   uso da linguagem  literária ainda  presa  à ideia de que   “escrever bem” em literatura    equivale à submissão   irrestrita  a regras da gramática normativa e não  a processos  criativos  e  experimentais  do fenômeno  literário.
 Após  fazer  estas   rápidas  digressões  nos três   parágrafos  anteriores, convém, ademais,   salientar que,  por ser assim  tão amplo e variado  nos seus   objetivos e no seu alcance,  já alguém afirmou ser o Romantismo um movimento  literário  que, por agregar  tantos   traços culturais  sob a égide  da liberdade  e de impulsos subjetivos de caráter nacional e universal,  i.e.,  de contestação   a qualquer tentativa de  oprimir  a individualidade, seja artística, seja,  seja social, seja econômica,  seja  filosófica, seja religiosa, seja moral, legou, ao longo dos tempos,   um substrato de um estilo e  forma de pensamento  sem tempo  datado ou, consoante bem   sintetiza,  o ensaísta e  historiador  Massaud Moisés: “De certo modo,  a revolução romântica não findou ainda...”  [7]
                        Todos  os  outros  movimentos  literários e artísticos  posteriores,  inclusive as vanguardas do  final do século  XIX,  ainda   assinala  aquele autor:

(...)  não  raro traem o  afã de ressuscitar o impulso   dos princípios do  século  XIX, evidente na recusa de tudo  quanto possa  constranger a liberdade criadora. Acrescente-se, por fim, que os padrões de cultura inaugurados com  a ascensão da Burguesia ainda estão vivos, o quadro dessa  permanência se completa e se define. [8]            
           
                          Basta  mencionar que  o carro-chefe do seu longo e controvertido  debate  convergiu para candentes e decisivas  questões suscitadas por  esse movimento e geradoras  de  polêmicas: o nacionalismo literário, a discussão da identidade nacional, o problema do  português do Brasil, sobretudo  na forma como   deveria se comportar a língua literária em  relação ao português lusitano, de vez que o Romantismo constitui o primeiro  grande  movimento de ruptura  com   as  letras  portuguesas, além de  revigorado  pelas mudanças históricas    consolidadas pela  conquista de nossa autonomia    política  na imagem emblemática do Grito do Ipiranga.
 Na história  da literatura brasileira,  estas querelas que  eclodiram no século XIX,  consoante  frisamos  no início deste ensaio,  surgiram  também no início do século XX, nos anos 1940 [9] –  período fértil  em  polêmicas  entre  escritores  brasileiros -, nos anos 1950, e podemos   estendê-las até os princípios  dos anos  de 1960.  E não estamos  incluindo aqui as pelejas de natureza literária,  filosófica e religiosa que ainda  podem ser rastreadas em alguns estados  brasileiros fora do eixo Rio-São Paulo, as quais,  pela distâncias geográficas,  não chegaram  ao conhecimento   mesmo   de especialistas.
   De modo geral, os  próprios  movimentos literarios já por si sós contêm, por seu caráter de  renovação versus tradição,  suficientes  materiais   com  traços  polêmicos ou  controversos, ou seja,  a sempre velha  história dos novos querendo  desbancar  os mais velhos  nesta  eterna  luta de Sísifo entre  a exaustão  das formas estéticas  e  o seu  ersatz por  novas   visões  estético-artísticas.
 Entretanto,  a polêmica  é um fenômeno  que se registra em   qualquer literatura e em qualquer época  da História.  No exemplo  brasileiro  as   polêmicas   sempre estiveram  presentes, servindo de forte combustível para que  contendores afiassem seus  instrumentos de ataques e revides,  primeiro no plano intelectual e, em seguida, conforme a natureza e o grau da querela,  passavam ao  desforço   pessoal  e se transformavam,  por vezes,  em  hostilidades passageiras  ou até duradouras; neste  último  caso, se configura, entre outras,  a  polêmica  travada entre  Afrânio Coutinho e Álvaro Lins nos anos de 1940, 1950 e 1960 aproximadamente.






NOTAS

[1] Cf.  SÁFADY, Naief. Verbete “Polêmica.”  In: PRADO COELHO, Jacinto do. (Dir.).  Dicionário de literatura –  Literatura  brasileira, Literatura portuguesa, Literatura galega e Estilística literária. v..2.  3. ed..Porto: Figueirinhas, 1973, p.838-839. Consultar também  PAULO PAES, José. e MOISÉS, Massaud. (Org. e Dir.) Pequeno dicionário de literatura brasileira. 2.ed.  rev. e ampliada por Massaud Moisés.  São Paulo: Cultrix, 1980. Verbete “polêmica,” da autoria de Joel Pontes.
[2]   Idem, ibidem.
[3] BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2001, p. 135..
[4] COUTINHO, Afrânio (Org.).A polêmica Alencar-Nabuco. 2. ed.  Introdução de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: Ed. Universidade de Brasília,  1978, p. 5-13. Sobre o tema de polêmicas na literatura brasileira,  consultar CASTELLO, José Aderaldo. A polêmica sobre “A Confederação dos Tamoios.” São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, 1953; ver  também VENTURA, Roberto. Estilo tropical: História cultural e  polêmicas literárias no Brasil, 1870-1914. São  Paulo:Companhia das Letras,  1991.
[5] LOPES,  Osório. Carcassa sem glória – Apontamentos sobre Agripino Grieco.   Rio de Janeiro: Livraria Boa Imprensa, s.d.
[6] COUTINHO, Afrânio. A tradição  afortunada. (O espírito  de nacionalidade na crítica brasileira).  Rio de Janeiro: José Olympio/Editora Universidade de São Paulo, 1960. Coleção Documentos Brasileiros, nº 127. Importante  obra de Coutinho com Prefácio de Afonso Arinos de Melo Franco.
[7] MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários.  6. ed.  São Paulo: Cultrix, 1992, p. 465.
[8] Idem, ibidem.
[9] MENESES  BOLLE, Adélia. Bezerra de.A obra de Álvaro Lins e sua função histórica. Petrópolis: Vozes, 1979, p. 47.

domingo, 13 de julho de 2014

Quando o choro não consola




                                                     Cunha e Silva Filho



                  A Copa Mundial  de Futebol de 2014 acabou há pouco no Maracanã. Para os alemães foi uma apoteose. Os argentinos, à frente  Messi,   grande craque da Seleção argentina, jogaram  bem  e duramente. Foram  intrépidos,   fizeram tudo  o que  podiam   mas não  levantaram a tão  almejada  Taça, que, agora,  pertence à Alemanha até 2018.
Não vi o jogo do final do campeonato mundial  dentro  do Maracanã, esse magnífico estádio famoso mundialmente.. Estava em casa,  assistindo atentamente à partida   decisiva.
Já desde a manhã,  pelas ruas    principais  da Tijuca,  tropas da Polícia Militar  se  colocavam  estrategicamente,  fortemente armadas,  sobretudo  na  Praça Saens  Peña, coração do bairro. Quem saiu para comprar  alguma coisa  no   supermercado, pôde  verificar   a exibição de forças de segurança. Soube, mais tarde,  que na Praça Saens Peña, ia haver uma manifestação  de pessoas contra a Copa. À noite, na internet,  me informam que o número de  manifestantes   chegara a  400. No entorno do Maracanã  as ruas estavam todas  bloqueadas. Os jornais  informam que houve  tentativa  de  manifestação    perto do Maracanã, mas  os militares  dispersaram   o grupo energicamente, usando  bombas de efeito moral,  gás lacrimogêneo e tiros de paintball. Não preciso dizer que, mais uma vez,  no Rio de Janeiro,  a Polícia Militar  agiu  com truculência  com  um saldo de feridos e alguns presos.
Fico a imaginar: o estado  do Rio de Janeiro  tem condições de dar segurança  ao povo,. Entretanto,  não o faz  no dia-a-dia  da  população. O aparato  do Estado  Brasileiro foi  feito para atender aos maiorais,  nacionais ou  aos Chefes de Estado.Ah, se tudo isso fosse  dispensável, quer dizer,   se não houvesse essa  humanidade bárbara e violenta,  e todos  pudéssemos nos dar as mãos  sem  medo nem  desconfianças  num estado  deplorável de ver  inimigos em toda a parte do mundo e prontos a  aniquilar   dignitários   e o  povo   sem proteção. Sobre as cabeças  dos  homens   comuns  aos   dirigentes das nações  paira  uma grande  espada  de Dâmocles. Instaurou-se mais hoje do que no passado, em escala   planetária,   um clima de paranoia, a ameaça do inimigo  oculto que pode  surgir  de qualquer lugar  a fim de  destruir gente  importante ou mesmo  um cidadão  anônimo, mais aquela do que este.Todos desconfiam de   todos e, assim, a vida  em sociedade se vai   esgarçando,  perdendo  aquele estado   de tranquilidade e bem-estar,  de paz  e de alegria de viver.
Escrevo, agora, esta crônica, em meio ao barulho ensurdecedor dos  helicópteros  do Exército   levando, além de militares,  as autoridades nacionais e internacionais  que  compareceram   ao  Jogo Final do Campeonato  Mundial de Futebol. Os helicópteros  pousaram  e decolaram  no campo de esportes do Colégio Militar do Rio de Janeiro, na Tijuca, pertinho do  Maracanã e  de minha rua. Da TV pude ver  Ângela Merkel,  Putin, o Presidente da África do Sul,  a Presidente Dilma que recebeu algumas  vaias  e xingamentos de alguns  grupos   presentes  nas  arquibancada – gesto que reprovo  porque  não é assim que   devemos  tratar  um Presidente da República. Ainda  acredito que  o maior protesto de um  povo  que  não aceita  um governante  é  destituí-lo  pelo voto. Só o voto, em eleições  limpas, pode mudar  uma situação   política pela raiz.  Dizer  palavrões contra  um governante  é ato  de  incivilidade. Não serve para nada esse tipo de  falta de respeito.
Todos os erros do presente   governo  federal podem ser   denunciados   em manifestações  pacíficas, sem violência nem xingamentos. Nenhum aparato   policial pode fazer frente  a um clima pacífico de  cidadãos  brasileiros. Se o Brasil  tivesse um  povo  unido nas suas mais justas   reivindicações – e são muitas  e urgentes  -, poder-se-ia  alterar substancialmente  o quadro  de corrupção e de injustiças  sociais crônicas  em vários  setores  da  vida pública e privada. Porém, para isso – repito -  cumpre  que a nossa sociedade  seja mais  unida, solidária e honesta.
Voltemos  ao tema inicial de nossa crônica: o futebol. Já se  discutiu muito   a importância de um  esporte como  o futebol e dessa  importância  devemos extrair  um potencial que possa  ser canalizado  para   fortalecer as forças  solidárias  que  devem  orientar   nossos sentimentos de brasilidade,   de  amor  devotado ao nosso  país, de desejos  de que  a nossa sociedade  modifique  as suas tendências  de individualismo.
Querer  viver  numa redoma  de egoísmo  consumista, de desejar tudo em excesso e esquecendo  os irmãos da mesma pátria, como costumo    exprimir  o meu sentimentos de  repúdio às guerras fratricidas  do passado e do presente, é  uma forma  insana de  perpetuar   um status quo    indefensável  diante da dor alheia,  da  miséria , da  fome e da indiferença  pelo  outro.
Um volta aos velhos  hábitos de um  futebol  natural  praticado  sob a forma de fair  play, de torcidas  sem  traços   selvagens  de fanatismo é já um via  certa para  reformular  a convivência  entre as pessoas  de um  mesmo  país ou entre países. Dignificar  o esporte em geral é um passo  bem  dado em direção  a formas de sociabilidades   saudáveis.
Não queiramos  ser  sempre e teimosamente   nostálgicos. Contudo,  quem há de discordar  deste  cronista   que, no tempo de Pelé, de Garrincha, de Nilton Santos,  o futebol  não era mais  feliz e mais  espontâneo do que o de   agora? Do jogar pelo prazer de jogar sem  o canto de sereia  da indústria  lucrativa em que se transformaram os  esportes,  sobretudo  o  futebol, há uma  grande  distância. É justo que  jogadores sejam  bem pagos.
 No entanto,  não é justo que  o capitalismo    faça do  futebol  uma atividade exageradamente   rendosa para poucos. Ou seja, um negócio   envolvendo  clubes,  federações,   organismos   internacionais   que  dirigem   os esportes com  o pensamento de, antes  de tudo e acima de tudo,  gerar  altíssimos  lucros a ponto de  um  jogador de talento  primeiro  pensar  em ser  milionário e, em seguida,   em ser   um grande jogador,  por exemplo,  precisa  é  de talentos, não de   jogadores   que  só  visam  ao  enriquecimento.
Sei que remar contra a  corrente da  “filosofia” dos cartolas  e do big business nacional e  internacional é tentar   lutar contra  moinhos de vento, contra a engrenagem  avassaladora  de forças   subterrâneas poderosas e perigosas. Não custa,  entretanto,   humanizar  essas relações  mercadológicas de molde a  tornar   a vida  dos jogadores, dos torcedores  e do  esporte  em si  menos mercantilista e mais  amante da verdadeira   essência  do esporte, que é   proporcionar   alegria  e prazer  de ver  no esporte um meio influente  de aproximar   indivíduos da mesma  nação  ou de nações diferentes  em clima de  paz  e contentamento.
Estas reflexões   faço agora ao final da Copa no  país. Nossa Seleção  nos decepcionou. Temos culpados? Sim,  temos. Devemos   reestruturar  nossa Seleção? Sem dúvida. Desde o técnico  escolhido até o treinamento  dos jogadores convocados para compor  o time  brasileiro há que se fazer uma  avaliação isenta e criteriosa.
O futebol  brasileiro precisa  de  repensar toda a sua  estrutura. O legado  do nosso passado no país do futebol não pode ser  esquecido e é com  esse  legado que se há de  reconquistar   um nível  de qualidade de nossos   jogadores   de Copa. Preparemos primeiro  os jogadores  tendo em vista   alguns requisitos   básicos, ainda que na visão de um simples  leigo na matéria: 1)    talento  genuíno; 2)  alto desempenho do jogador no país; 3)  renome conquistado nos estádios; 3)  disposição  e prazer de jogar  em equipe, sem estrelismos.
 Finalmente, um recado  para  os responsáveis  pela escolha de nossos  técnicos: nossos  técnicos  têm que  ser   pessoas  que saibam  ouvir  a voz  dos  torcedores   brasileiros,  dos  especialistas  em  futebol. Um técnico não pode ser  autoritário. Ele tem que se humilde e ouvir  a voz  do povo. Um técnico   que não sabe ouvir  vozes discordantes  de sua atuação  só pode levar  ao vexame que acabamos de sofrer no jogo  com a Alemanha.



segunda-feira, 7 de julho de 2014

A triste ausência de Neymar nos jogos finais da Copa







                                                         
                                                                       

 Cunha e Silva Filho

                
               Com o desfalque do maior craque de nossa Seleção, Neymar Jr, o torcedor  fica preocupado e com razão. Neymar,  este jovem jogador de futebol, de vinte e  dois anos,  soube encantar  os brasileiros pela sua modéstia,   seu  jeito um tanto  discreto  (talvez) tímido de falar em público, preferindo – é claro -  fazer malabarismos com a bola que domina  como  poucos e dela faz o que  bem quer, parecendo até  que a  bola  está sempre  atraída para os seus pés, à semelhança de um ímã. E porque ama  a redonda é que ela se lhe tornou a melhor amiga, a companheira de sua  brilhante carreira   de jogador  que reúne capacidade  de driblar,  como se fora um Garrincha, e agilidade  de  safar-se  dos seus marcadores que,  em geral,  não conseguem  dominá-lo completamente.  Eis o traço  principal de um craque.
          Um craque   nasce com  a vocação inata  de  saber  lidar  com a bola. Nisso se parece  com a vocação de um  poeta. “Poeta nascitur.”  O que a técnica e o conhecimento  lhe  proporcionam  serve apenas  para  aperfeiçoá-lo. Essa vocação para realizar algo de forma  superior vale também  para todas as artes.
              O acidente  que sofreu no jogo com a Colômbia foi um infeliz desvio de rota,  de objetivos,  de alegrias,  o pior desastre que  lhe poderia ter acontecido  na vida de jogador .
             Ser selecionado para  participar de uma   Copa Mundial  é atingir o ponto mais alto de sua carreira.  Para mim, o que sofreu  foi  por culpa   do jogador  colombiano, um sujeito atarracado, brutamontes que se jogou  por cima  do nosso   star, traumatizando-lhe uma das vértebras da coluna e o  pondo  fora da competição tão sonhada.  Todos os grandes jogadores  são  visados, invejados,  porque os medíocres não possuem a genialidade  e a leveza  de um Neymar  - um praticante do fair play - ou de outros grandes jogadores.  
            Tendo  jogado  apenas uns quarenta minutos  da partida,  de repente é atirado ao  chão com fortes  dores que se estampavam na sua face  contraída  não só  pelo sofrimento físico que lhe  foi infligido, mas  sobretudo  por  saber  que  talvez não disputaria  os jogos finais.
Não preciso dizer que,  com o afastamento de Neymar, a Copa Mundial de Futebol de 2014  para os brasileiros   perdeu  grande parte de sua  alegria, de sua graça.  Sua ausência no gramado deixa  os torcedores quase em estado de luto. Perdeu  aquele encanto  de uma arte de driblar  original,  lépida,  de saídas  inteligentes   em direção a um  chute  para gol ou, quando não conseguisse ele próprio  fazê-lo,  tinha  a habilidade de  passar  uma bola certeira a um companheiro  da Seleção. Isto porque o grande jogador  não é só o que  faz  o gol sozinho, mas aquele que  provoca  jogadas   que  levem  outros  atacantes a completarem  uma investida  para a  finalização de um  gol.
Neymar sempre em entrevista  afirmou que a vitória de uma partida é um  trabalho coletivo, um trabalho de equipe. Só a coesão   do time  leva ao sucesso  de uma partida  de futebol ou em qualquer  outro esporte  que   depende  da união de  todos os jogadores.Assim se comportam  os grandes  craques.
Amanhã será um dia  decisivo  para o destino  da nossa Seleção  no jogo com  a Alemanha. Sei que vai  ser dura a parada sem  o nosso líder, sem a forte presença  dos seus dribles,  dos seus  truque originais  e  de sua rapidez  em  livrar-se   dos opositores.
Sei que  lhe tiraram  o prazer  e o direito de uma decisão final numa Copa realizada  em solo  brasileiro, com  toda a energia  de um  povo   amante do futebol, desde as crianças  até os mais velhos.
Eu, que não sou  conhecedor das  regras do futebol,  nem sou fanático, não posso deixar de reconhecer que a festa da Copa  fascina  as multidões em escala   mundial. Não posso também  deixar  de  constatar que  o país, com   todas as suas mazelas  - e são muitas – está mais festivo,  mais radiante,  mais feliz. Percebo  isso  nas ruas, nas pessoas, nos  turistas nacionais e  de outras nacionalidades.  
Esse sentimento de brasilidade, essas bandeiras do Brasil    colocadas nas  grades  das varandas  de nossos prédios,   nos carros,   nas ruas  de nosso  país-continente,   infundido nos espíritos   das  pessoas,  se deve ao futebol, a esse “grande  catalisador,” como  o definiu uma vez   o pensador  Tristão de Ataíde em página magnífica escrita  naquele estilo sedutor  de  falar  sobre temas variados e com  toda a intensidade da sua  sabedoria. Que vença a nossa Seleção!




AO PÉ DA PÁGINA:

Governo e Oposição

                                      Cunha e Silva


"Nos regimes totalitários - fascistas e comunistas a  oposição não tem vez, só há um partido apoiando o governo. Quem se atreve a contestar o regime ou a criticar o governo vai logo punido com a prisão  ou o desterro.
No regime democrático pode haver mais de um partido  político, a oposição ao governo ´ é garantida  legalmente. Mas o governo  e oposição não devem ser considerados como inimigos e sim  adversários. Adversários que se entendem e entretenham  diálogos, quando houver necessidade. 
Nos meios de comunicação de massa, como o jornal,  rádio e televisão, assim como nos órgãos do poder  legislativo, que são a Câmara Municipal ou dos vereadores, os Legislativos  Estaduais, a Câmara Federal e o Senado, é onde mais se processam os debates entre elementos da oposição e do governo.Debates que   às vezes,  são acalorados e violentos, quando os ataques da oposição ao governo passam do terreno da moderação  para o combate sério e contundente. Mesmo em semelhante tensão, o governo e a  oposição podem entrar em diálogo e contatos  mútuos entre auxiliares  imediatos do governo e oposicionistas, como está ocorrendo atualmente, com resultados satisfatórios."

NOTA DO BLOG: O artigo acima, do qual   extraímos  o fragmento,   foi  publicado  em jornal, em 1981, possivelmente,   pelo Jornal do Piauí, em Teresina, PI.   Nos meus arquivos,  não  registrei   infelizmente o nome  do jornal.