sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Tradução de um poema de Henri Gilarès





Le chemineau


Il s’en va, le front lourd, l’air las, le long d’un mur,
Car il sait que son coeur n’est plus fait  pour la joie,
Lui que fuit tout le jour et de peur qu’on ne voie
Sous le faix qu’est le sien, ce qu’il y sent de dur…

Des chants gais e des ris, il n’en a rien,  pour sûr!
Le soir a mis sur lui, tel  un poids que le broie,
Le deuil de tous les  biens, qui le suit, veut sa proie.
Pour lui, plus rien de bon, plus rien que lui  soit pur!..

.”Où vas-tu de ce pas? --- Eh bien! je bois la lie!...
Et sa voix n’a plus rien de ce qui fait les forts;
Et sa main, vers de le ciel, a cru voir tous les torts!...
“Tiens, prends ce peu pain…” Quand le mal  en  ta vie
A mis des pleurs de sang, là-haut, du fond des cieux,
Le Dieu né loin de tous a tout vu  dans  tes deux…


O Mendigo

Lá vai ele, o olhar  fundo, a lassidão junto à parede a caminhar.
De seu coração  a alegria não partilha.
De dia  some a fim de que não lhe vejam
 O fardo e a aflição em que  vive...

No seu viver não há  lugar  para  alegria e risos.
Sobre ele, esmagando-o com seu peso se abateu a noite
Despojado  dos seus bens, seu  destino segue,  sua vítima procura.
Segundo ele,  nada de bom e de puro a vida lhe reserva!...

“Aonde vais  com tanta pressa? Queres saber? beber a borra fétida!...
Na sua voz de resistência  não há  mais sinal algum.
Erguida ao céu sua mão só injustiças  vislumbra.
“Ei, leve esta lasca de pão... Quando o mal de tua vida
Prantos, se fez sangue, lá nas Alturas, dos confins  celestiais
Longe de todos, o Deus nascido em teus olhos  tudo viu...!

                                                                      (Trad. de Cunha e Silva Filho)


Nota do Tradutor
       Como pode o  prezado leitor  verificar, os versos  do  poema  se compõem de  palavras  monossilábicas, por exemplo: “Il”, “s’en “, “va, ”  “le”, “front.” Daí ter o poeta  intitulado  a composição de Poèmes monossilabiques. Entretanto,  por impossibilidade de vertê-los nestas condições, o fiz  sem esse traço  distintivo
     Sobre o autor  do poema , até agora,  tive dificuldades de obter  informações  biobibliográficas. Por esse motivo,  não coloquei  a data de nascimento e de falecimento segundo venho costumeiramente  adotando  em minhas traduções. 

   O pequeno  poema foi  extraído do volume 1 de La grammaire par la langue,  de J. de Matos  Ibiapina. Porto Alegre: Editora Globo,  1936, p. 149-150. Esta  obra pertencia  aos livros de meu pai e leva a  assinatura dele na página de rosto. Se, por acaso, algum leitor  de poesia francesa  puder  me fornecer mais  dados  sobre Henri  Gilères, me prestaria, assim,   um  grande favor.

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