sábado, 25 de fevereiro de 2017

SEM DOURAR A PÍLULA






                                                                                                              Cunha e Silva Filho



        Se dirijo a minha atenção ao país  e à sua realidade multifacetada, com  pontos  positivos e com pontos negativos, posso  imaginar que nem tudo está perdido e há muita   coisa está a feita por parte dos que nos governam  cercados  de mil manchas de violência,   de impunidade e de desrespeito  aos eleitores.
      Sei que o Brasil,  na condição de ainda emergente,  procura saídas para uma recuperação  financeira. Por outro lado, vejo  que a espada de Dâmocles ainda se vê claramente suspensa sobre algumas  cabeças   de políticos envolvidos na famigerada  Operação Lava Jato, dando-nos a estranha sensação de que poucos de nossos  homens públicos atualmente estão inocentes no que  concerne  a seu currículo  político. Nem a figura do atual  ocupante da Presidência da República está incólume no mapa labiríntico  dos conchavos,   do recebimento de supostas   propinas e do conluio  degradante  com parte  do alto empresariado.
    Ora,  numa situação   moralmente  suspeita,   na qual se meteram  tantos  homens públicos   dos altos escalões  da governo  federal e dos governos  estaduais e municipais, agrava-se cada vez mais  a antiga  boa imagem  em que grandes políticos do país desfrutavam, uns mais, outros menos,   junto ao eleitorado.
  O discurso  político se abastardou,  foi para o fundo do poço e, mesmo havendo  ainda  exceções de  homens públicos  zelosos  que realmente desejam  o bem do Brasil, esse diminuto número  de políticos  competentes e sérios não tem  força  suficiente para   fazer a necessária faxina  da podridão que se alastrou e contaminou  a maior parte dos setores vitais  de nossa  República.
    Alguém  com razão poderia  argumentar: “E os políticos  jovens  não seriam os mais indicados  para  fazer uma varredura  da politicalha nacional?”  Não necessariamente. Já pensaram que muitos políticos das gerações mais novas, ao chegarem  aos seus mandatos  são filhos  ou parentes  dos velhos caciques   e sobas  da tumultuada  nossa história política. Claramente há também algumas exceções, porém as exceções não alteram  a maioria  inepta e  não confiável. A mocidade nunca foi atestado  de idoneidade moral de um cidadão. Jovens há que têm  dignidade  tanto quanto  velhos  há que não a têm.Os exemplos, em nossa  política,  se multiplicam.
     Na realidade,  muito pouco se altera na vida  política  em termos de qualidade de seus quadros em razão  de que a estrutura  política brasileira  está fadada a manter  o mesmo estado   de anacronismo  de nossa antigas   práticas   de nepotismo, de fisiologismo,  de compadrio, de troca de favores  e do jeitinho  brasileiro  de encontrar  uma maneira de atuação dos partidos e de seus regulamentos  internos  corporativos  mantidos e assegurados  de tal sorte que, na aparênciafinge-se  modernizar-se   e moralizar-se para uso externo.
      Contudo, intramuros, os privilégios, sempre  salvaguardados a todo custo,  não são alterados. Há sempre delongas para empreender-se uma robusta  reforma  política  que, assim,  vai sendo empurrada pela barriga. 
    Na minha experiência de observador da  realidade  política,  primeiro regional,  e depois, nacional,  sei de inúmeros casos  de bons candidatos, no passado e no presente,  que  nunca foram eleitos  porque  são  pobres e honestos.Na política,  eleger-se depende  de dinheiro para campanhas, de patrocínio, de fundos  políticos   públicos  e, por ser desta forma,  candidatos  bem postos na vida,  endinheirados  ou amigos de endinheirados, empresários, conseguem se eleger.
       Em linguagem  política de hoje,  depende de caixa 2, de propinas, de marqueteiros inescrupulosos,  de dinheiro sujo,  de lavagem de dinheiro e até  de fontes  financeiras  do tráfico. Daí,  chegamos ao estado mais  execrável   da história  política nacional que resultou nesse  atoleiro  de indignidade  em que se transformou nossa vida  pública,  sobretudo nos últimos  quinze anos  com uma série de escândalos   envolvendo  a maioria  dos mais  conhecidos  políticos  brasileiros da atualidade e e do passado.
     A Operação Lava  Jato, com o apoio da logística  da Polícia  Federal  e do Ministério  Público, em todas as suas diligências,  tem  inegavelmente  procurado  moralizar  e dignificar a estrutura  do Estado Brasileiro, principalmente  nas investigações e apurações  de práticas  espúrias  envolvendo    milionárias  somas de dinheiro  desviado  do Tesouro  Federal   que foram para as mãos de  políticos  corruptos, alguns hoje presos ou sob investigações.
     Isso tudo conseguido graças a um conluio, por longo tempo, entre grandes empresários e políticos em relevantes funções  da administração federal, como também    altos funcionários de empresas  estatais. Os dois lados,  governo federal ou estadual, ou municipal, recebiam  propinas vultosas em  licitações com cartas marcadas   beneficiando  regiamente  aqueles  empresários mediante  custos   superfaturados.
      Todos esse fatores resultaram dolorosamente na quebradeira   de alguns estados  brasileiros, sendo exemplos o sucateamento   do governo  do Estado do Rio de Janeiro, a partir  das duas desastrosas  administrações de Sergio Cabral,  além  da situação  delicada das finanças de outros estados  brasileiros,  como  o Rio Grande do Sul,  Minas Gerais,  Espírito Santos, de que se tem notícia até agora.
       Mas não só de políticos nocivos  quero  falar. Há um outro  lado da questão, a meu ver, muito conexionado  com  o tipo de educação  propiciada ao brasileiro: o papel do eleitorado. Há uma longa  prática  abjeta   que campeia entre os eleitores, ou seja,  a falta de educação política,  de formação cultural,  de aprendizagem dos conhecimentos,  componentes que  formariam  um  leitor mais  competente, menos propenso a ser engabelado por  políticos de má índole, caçadores  de votos dos incautos e dos ignorantes.
          Se hoje está um  pouco  melhor  a visão do eleitor  quanto a questões  políticas, sociais e culturais, persiste ainda  fortemente  o tipo de eleitor  que se vende -  é o termo  adequado -  ao  candidato a um  mandato  por migalhas,  por um par de calcados,  alguma  pequena ajuda financeira e outras  vantagens mínimas. Isso ocorre sobretudo nas camadas menos letradas, sem  nenhuma consciência de cidadania e de seus próprios direitos  constitucionais.Esse comportamento do  eleitorado  ignaro se repete em outras  eleições onde os mesmos candidatos da ciranda da malandragem voltam s serem  eleitos  indefinidamente   e o que seria  um voto  virtuoso se torna  um voto vicioso e impatriótico. Paradoxalmente,  a questão do voto é muito complexa,  em todas as camadas, letradas ou não,  existe o voto inescrupuloso.
       Somente com  o aperfeiçoamento  de nosso ensino e de nossa educação, reduzindo ao mínimo a taxa de analfabetismo  absoluto e de analfabetismo  funcional é que haverá um salto qualitativo  no desempenho melhor e na  conquistada autonomia  de escolha  feita  pelo eleitor brasileiro. No entanto,  para que isso  venha a acontecer,  urge que  homens  responsáveis pelos   órgãos superiores  da educação  estejam dispostos   a um reforma  profunda  do ensino  em todo o  território nacional,  respeitando as particularidades regionais e fazendo cumprir  os programas  curriculares, aperfeiçoando  a formação dos professores públicos e privados   da pré-escola, do ensino fundamental e médio, e valorizando  a carreira do  magistério  – esta uma velha  questão que não foi até hoje tratada em profundidade e com a vontade política efetiva (não no papel e nas promessas  de governantes  populistas) de se  desejar  melhorar  a situação   de quase completa desvalorização da figura do professor até o ensino médio. A sociedade que não respeita seus professores  jamais alcançará  um alto nível  de civilização. Na China,  no Japão,  em alguns países europeus, o professor  é valorizado e o ensino é de alta qualidade.  
      Uma vez,  um educador brasileiro  fez referência ao ensino brasileiro que, segundo ele, se dividia em escolas  para ricos e escolas para pobres. Essa indecência ainda perdura em todos os sentidos.  O pais,  neste terreno, ainda marca passo para vexame das nações desenvolvidas.
       Por outro lado, a educação  que atinge um elevado patamar  de eficiência anda pari passu  com um país bem administrado  em todos os setores da vida pública e privada.
        Para isso,  teria que haver  moralização  de nossas instituições públicas  e da competência de nossos  governantes (a começar do Presidente da República) os quais deveriam, antes de tudo,  ter um  altíssimo  compromisso  com  o bem-estar da sociedade  e um conhecimento   profundo das suas desigualdades, das suas misérias e das suas  injustiças nos  dos setores  que mais   estão exigindo a presença e a autêntica liderança   da autoridade não imposta mas  conquistada pelo voto válido e consciente: a mão segura e firme do Estado   diante do mais alto índice de violência  a que chegou  o nosso  país: a saúde,  o transporte, a  habitação,  a já mencionada educação  - fator nuclear  do qual realmente depende a grandeza  de qualquer país.