quarta-feira, 25 de maio de 2016

LUIZ FILHO DE OLIVEIRA: POESIA, SÁTIRA E OS ENIGMAS DA LINGUAGAEM




  Cunha e Silva Filho



       Terceira livro de poesia do autor piauiense, antes precedida de dois  livros, Bardo Amor (2009),  2º prêmio Torquato Neto de Poesia  da Fundação Cultural do Piauí,  e Onde humano (2003), os quais lhe renderiam  visibilidade da crítica em seu  Estado  natal, Das bocadas infernéticas (Guaratinguetá,SP.: Editora Penalux, 2016, 146 p)  surpreende o leitor, seja  o  especialista  em literatura, seja o leitor  entusiasta de poesia,  pelo arrojo  de, desta vez,  ainda mais  radicalizar  seu perfil  poético  de escrever poesia  provocando  perplexidades  e indagações  pelo inusitado de versos  ferinos que, no geral,  prestam  tributo à glória  da  mordacidade de Gregório de Matos,  o  conhecido  “Boca do inferno”  do Barroco brasileiro.
     Não pense o leitor que sua radicalização formal  se restringe apenas à poesia  satírica por mera  imitação de temas de Gregório de Matos (1636-1696) . Este lhe serve como referência principal  e por razões de  admiração, porquanto  outros  autores da poesia ou fora da poesia complementam  uma espécie de linhagem  de autores  com os quais  estabelece  diálogos  fecundos  e  por afinidades   de visão  poética  ou  do mundo em que está visceralmente   inserido.
    Isso se comprova  explicitamente na primeira parte de título desabrido, Das bocadas, desse novo livro, através do “Envite aos vates assinalados a chiste abaixo assinado”, e aqui despontam as citações, primeiro,  a preferida, do mencionado Gregório de Matos seguido de Tomás Antonio Gonzaga (1744-1810), Bernardo Guimarães (1825-1884), Luís Gama (1830-1882), Juó Bananére (1892-1933), Owald de Andrade (1890-1954), do humorista Millôr (1923-2012), do cronista Luís Veríssimo, do poeta Chacal e do poeta Glauco Mattoso, este também  prosador e, se não me engano,  dicionarista de palavrões. No entanto, ao longo do livro, outras vozes,  Mário de Andrade (1893-1945), Carlos Drummond de Andrade ( 1902-1987),  Fernando Pessoa (1888-1935), Da Costa e Silva (1885-1950), Bocage (1765-1805)  se agregam com suas ressonâncias,  por vezes mal percebidas  pelo leitor  desatento.
   Dividido em duas partes, a primeira, já nomeada,  Das bocadas,  parte I, e a segunda, Infernéticas, parte II e, neste último vocábulo, ainda lança mão de um neologismo  formado, por processo de aglutinação: inferno + internet + sufixo adjetival –ica,  por derivação imprópria. ou seja, num só vocábulo alia dois processos de formação de palavra. Acredito  que essa tendência no poeta  é recorrente e  variada no tocante  ao prazer lúdico com  a manipulação de natureza   libertária  com a língua.
     Luis Filho, a meu ver, intencionalmente  divide o título  da obra em dois grandes conjuntos  de poemas, quiçá com a intenção, de parecer  “quebrar”  a suposta ou aparente  unidade temática  do livro, numa  atitude  de composição muito do seu estilo poético, que  é  desarticular para, em seguida,  articular.
    Tal expediente técnico nele aparece nas duas obras anteriores, já citadas. No volume, ao todo são 100 poemas,  46, na primeira parte e 54, na segunda.Graficamente,  ele apresenta  na primeira parte todos os poemas em forma  de letra escrita à mão, ao passo que, na segunda parte, os poemas aparecem em  letras impressas normalmente. A opção pela  forma gráfica de escrita à mão já aparece no primeiro livro, BardoAmar, mas não a emprega no segundo livro, Onde humano.De qualquer sorte, os aspectos grafemáticos  percorrem os poemas  do autor escritos até o presente e, portanto,  julgo  constituírem  parte  significativa  da iconicidade  inerente à poesia de Luis Filho.
    O que ousaria  afirmar é que esse poeta  parece sentir  o gosto  de  desviar-se dos cânones do verso tradicional no uso do espaço da folha em branco. Sua predisposição é no sentido de  se afastar dos parâmetros  convencionais,  busca a fuga a outros  esquemas tanto na disposição de exibir na folha branca o lado figurativo  dos poemas quanto  se deleita em  acrescer aos poemas, além dos  títulos,  à feição de alguns autores  do passado,  não títulos  breves, mas rubricas, no sentido de dramaturgia,  de cunho narrativo, expediente utilizados por ficcionistas e  alguns  poetas,  inclusive Gregório de Matos. Isso imprime, em alguns poemas, uma feição de narrativa, de algum relato no espaço da poesia.
    Esse desvio de convenções datadas, no plano   textual  se repete como estratégia discursiva, semântica,  vocabular e frasal. Quer dizer,  é nos  planos morfossintático-estilísticos que os desvios aos padrões mais se agudizam de tal sorte que enunciado e enunciação  sofrem rupturas, pondo em choque o leitor em luta  com o texto e sua opacidade, o texto e sua capacidade  de  desestabilizar hábitos de  formas menos complexas de enfrentar a leitura de poemas.
  Em outros termos, o texto passa a ser fonte de proposital “estranhamento,” amplamente adotado  pelo  Modernismo  brasileiro e por outros  modos de fazer  poesia  vanguardista (servindo de exemplo  o poeta Oswald de Andrade nessa fase de ruptura com os movimentos poéticos do passado),  procedimento  operado  pelo  poeta que  a crítica   vê como um  traço  primordial  da modernidade  poética: desautomatizar os hábitos   já consolidados  do leitor que ainda procura  na poesia a emoção,  o halo sentimental  ou romântico, a subjetividade  simétrica ao lidar com os temas da tradição literária - aliado à linearidade do verso tradicional anterior ao  Simbolismo. 
    Enquanto em  BardoAmar radicaliza, reitero,  os recursos  visuais e grafemáticos, assim como as desarticulações e a imprevisibilidade  da ordem morfossintática, Onde humano se comporta com menos ousadias enquanto subversões dos recursos espácio-grafemáticos e, nesse aspecto está mais aproximado de Das bocadas infernéticas – cujo epicentro  temático  é seu caráter  satírico. Por outro lado,  na tematização,  o repertório  poético  ganha mais um  componente,  que é o de  trazer sobretudo para a segunda parte do livro  os temas e situações  da linguagem das mídias  sociais e é nesse espaço do virtual que  o livro se realiza com toda a sua  energia  renovadora, podendo-se dizer que o  universo da comunicação pela internet  se constitui em um dos temas da obra, como se fora um personagem no campo ficcional.
    Uma vez, o autor me confidenciara que um  dos objetivos de sua   poesia  é  divertir, o que me leva definir  essa atitude artística como um  trabalho lúdico de fazer poesia em todas as suas possíveis  modulações. Entretanto,  se efetivamente  não se pode negar o fato de  que em grande parte de  seus poemas  podemos  identificar essa dimensão  do ludismo,   do jogo de palavras ou mesmo de  composição de estruturas frasais, há, por detrás desse técnica  ou estratégia , uma profunda    seriedade em tratar  de questões  sociais pelo viés de uma crítica   contra   as mazelas, as injustiças e os destinos do comportamento  humano.
    Em outras palavras,  a vertente  profundamente  social de seus versos  acompanha  a sua produção  desde a primeiro livro e só não chega à panfletagem   porque, acima do lado social  crítico há  a primazia  do estético, da assimilação da crítica social  pelo mecanismos   estéticos bem identificados  pelo  elevada importância que atribui ao gênero que cultiva.  Reitero que,  em primeiro lugar,  no poeta Luiz Filho  existe visceralmente  o compromisso  estético  com a linguagem .
   Releva um  pormenor  que não se pode jamais  deixar de levar em consideração ao  analisar  a poesia de Luiz Filho: o funcionamento criterioso  da linguagem  como forma  de  construção de seus poemas  já muito bem  identificado pelos títulos, tanto na primeira parte do livro quanto na segunda, nos quais  a função metalinguística   nele    se mantém  sempre  presente, o que me remete, em certo sentido, por exemplo, à justaposição de palavras formando frases, ocorrente  no poeta norte-americano e.e.cummings (1894-1962)). Neste sentido, cabe  um exemplo de Luis Filho no poema  de título #LiçãoDeLínguasEm Lesbos, do qual citarei apenas uma parte inicial::#EmpênisSêmenDuro/#EEsseSeuPúbisEuchuloO/EBeijoONumLugarComumEEsses SeusLábiosEngulo-Os ( ...) 
   Com referência a modos renovadores e experimentalistas de fatura poética, no Brasil, poderia pensar em Manuel Bandeira (1886-1968) pela versatilidade de transformar  temas apóeticos em  grandeza poética. E, em certos modos de inventividade, em Da Costa e Silva, no poema “À margem de um pergaminho” e nos  conjunto de poemas  de título “Poemas à maneira de.”
    Na segunda parte do livro, o núcleo temático  imbrica  temas socais e situações  da experiência  da comunicação virtual,  cuja base é o mundo cibernético  que, embora  fazendo parte  da vida do autor, é ao mesmo  tempo   material  para fazer dele  objeto de crítica  desabrida. Por isso, usa e abusa do terminologia  virtual. Há uma profusão de termos  da informática percorrendo praticamente a obra inteira. Ao acaso,  veja-se o poema”Assalto à mão teclada” (p.93) percorrendo toda a extensão da segunda parte. Esse vetor tem que ser levado em alta conta na interpretação  de sua  poética  tipificada  no livro: Com a tela em coberta toda/por um tecido de códigos,/cobrindo o rosto de propósito,/um hacker./ Le-assaltou agora,/há segundos atrás num chat,/quando le-apontou um mouse velho/ e levou do bolso do poeta o quanto/Ele teclou texto em sua conta,/-Cpylantra!
   Os temas atingem uma multiplicidade de segmentos  da sociedade, sobretudo urbana: políticos,questão indígena,capitalismo, indivíduos desonestos, meio-ambiente,  sexo,  amor virtual, miséria, fome, publicidade  enganosa, redes sociais, a poética, a linguagem etc. Em síntese,  Luis Filho parece querer abarcar todos cantos do espaço sem fronteiras e os seus versos   cáusticos pululam aqui e ali  numa  acumulação  de nomes  literários,  de figuras  universais, de lugares e de    situações  múltiplas  da existência.
    Não é numa simples resenha  o lugar ideal  de abarcar  os diversos   segmentos linguísticos e temáticos do livro, todo ele  ubíquo,  multifocal, literariamente atemporal, combinando modos de vida e de  pensar plurais, num exercício de composição poemática que, do solene e do dessacralizado, da abundância escatológica  sem arestas nem preconceitos, sem receios de melindrar as hipocrisias das convenções sócias   oportunistas para uso externo, escolhe sua matéria  poética feita do bem e do mal,  do feio do belo, da comédia e da tragédia.
    Recolhendo a diversidade da condição humana até onde for possível   e mediante recursos vários, até não se furtando ao trabalho de aproveitamento de tudo que, em termos tradicionais, não é considerado digno de matéria poética,   está certo de que, no terreno da arte, não pode haver um discurso  único, mas vias multifárias de transformar  a vida e tudo  que possa haver no mundo  em arte, anulando  as  interdições  como formas de liberdade de linguagem e formas  desafiadoras   do lugar-comum.
    Se sofremos com  o excesso de  referências  e da  retórica  no estilo  do poeta, levando-o a um hermetismo  que pode afastar  leitores menos afeitos ao  fazer poético  da pós-modernidade, ganhamos igualmente em termos de novas maneiras de manifestação  poética da linguagem e pela linguagem.
   De tanta consciência o autor tem dessa quebra de normatividade de elaboração poética (trocadilhos,  inversões sintagmáticas e verdadeiros torneios  frasais que se aproximam do nonsense, dos jogos  engenhosos  de frases,  provérbios etc que,  no segundo livro, Onde humnano, ele oferece ao leitor, no final do livro, “notas numeradas” e “notas avulsas,” onde se elucidam alusões a autores, expressões linguísticas lexicais antigas e modernas e regionalismos brasileiros. Já em Das bocadas  infernéticas,  ele deixa  a tarefa de garimpagem e de decifrações  ao leitor  avisado ou desavisado.
     É bem provável que, mais tarde, passada essa fase experimentalista,  o poeta, como o fez um Ferreira Gullar na fase inicial de sua poesia,  retome o lado mais adequado ao lirismo  da poesia  do futuro, com maior discursividade embora não se  desfazendo de todo do traço  da imprevisibilidade que é fruir o poético ainda que  atravessado pela  apreensão da não-totalidade do  discurso poético de nossos dias, cada vez mais tão pleno de referências alusivas - já  há  tempos  profetizadas pelo crítico I.A. Richards (1893-1979) -   e, muitas vezes, impenetráveis. Quiçá seja isso o que  torna a poesia um gênero permanente, campo privilegiado  da sensibilidade e  da beleza.    
   
      

        

sexta-feira, 20 de maio de 2016

LEMBRANÇAS DE RUI BARBOSA





                                                              Cunha e Silva Filho


                 Não sou  especialista das obras  jurídicas e literárias legadas  por Rui Barbosa nem tampouco da sua biografia. Sou apenas um admirador  do seu talento. O que exponho neste artigo são comentários  alusivos  a esse brasileiro afamado sobretudo pela sua  grande inteligência, saber  jurídico,  sua erudição espantosa,  seu conhecimento  humanístico, sua vocação  para as línguas  clássicas e modernas, alguns lances de sua  vida pessoal  que vim a saber, um dos quais  através  do meu pai, ou que eu mesmo  colhi da pouca leitura que fiz  da sua extensa  e variada obra. Nem mesmo cheguei a ler por inteiro  a importante  biografia  de Rui escrita por  Luís Viana Filho, membro da  Academia  Brasileira de Letras. Um velho exemplar tinha  desse livro na biblioteca de meu pai que,  por lapso de memória,  não  mencionei em livro que vou lançar  brevemente.
             Tanto no  período de adolescência em Teresina  quanto  no meu  tempo  de residência  no Rio de Janeiro,  a figura  de Rui esteve de alguma forma  presente no horizonte de minhas leituras. Primeiro,  através de textos   dele incluídos  em livros didáticos  e aqui me recordo de que, num livro do professor  Enéias Martins de Barros para os anos  do ginásio,  havia uma epígrafe   utilizada numa das primeiras páginas de um volume, que dizia (e de que jamais  esqueci):”Uma raça, cujo espírito  não respeita  seu solo e seu idioma,  entrega a  alma ao estrangeiro antes de ser por ele absorvida” Não me dei ao trabalho  de localizar a obra em que  essa frase   se encontra nem é meu propósito  nestas linhas.
           Ora, ao  reler ou relembrar aquela citação de Rui,  sempre a associei à condição dos cidadãos, no caso,  brasileiros,  que  preferem  falar melhor e escrever  uma, duas, três ou mais línguas estrangeiras sem se aprofundar, primeiro e principalmente, no seu  próprio idioma. Não é exagero o que lhe falo, leitor,  sobre  esse tipo de pessoa.Delas há e muitas. Não dominam  o vernáculo e já saem por aí  vendendo a alma ao  estrangeiro.
          Entretanto,  me parece procedente a  crítica de Rui dirigida  a  uma espécie  de  gosto  e de submissão  eurocêntrica ou  americanófila  não só de hoje mas no passado. Sendo um vernaculista extremoso, um fascinado  pela língua  portuguesa,  um  prosador  clássico, que bebeu nas fontes de Vieira,  de Camilo e de Castilho, ou como  didaticamente, Enéas Martins de Barros definiu suas qualidades  de estilo de linguagem, ao dizer que de Vieira aproveitou   a correção, de Camilo,  o vocabulário de Castilho,  a harmonia. Alfredo Bosi ( na sua História  concisa da literatura brasileira) refere também, na aquisição de seu   estilo, as contribuições da cultura clássica de Cícero, Quintiliano, Isócrates e, em língua  portuguesa,  ainda  inclui a influência do potencial  léxico de Herculano, a sintaxe de Bernardes
         Diante de tais atributos estilísticos,  Rui tinha  condições  de  censurar  aqueles   que relevavam a sua língua-mãe a um plano  secundário com  relação   à  outras línguas modernas. Com o seu espantoso  conhecimento  da língua portuguesa,  podia-se dar ao luxo de dominar  outras línguas,  como  o inglês, o espanhol, o francês, o alemão.
       Me contou meu pai – admirador  de Rui a ponto de, em Amarante, PI,  fundar uma  escola  a que deu o nome de Ateneu  Rui Barbosa -  que, certa feita,  no tempo  em que  morava no Rio  como estudante  salesiano,  tendo ido a um colégio em Petrópolis, lhe disseram que há uma semana  ali  havia  passado  Rui Barbosa  em visita  ao colégio. Um estudante,   vendo Rui Barbosa caminhando por um corredor à sua frente,  lhe dirigiu  essas palavras: "Viva  o reverendo (sic!) Rui Barbosa!” Rui,  voltou-se para ele e lhe deu um sorriso. Houve uma  gargalhada geral dos coleguinhas  do  pequeno  estudante.
      Na Academia   Brasileira de Letras,  da qual  Rui foi  fundador  junto com Joaquim Nabuco,  Machado de Assis e Lúcio de Mendonça, meu pai  dizia que só  por  um acadêmico  Rui revelava   especial  respeito do ângulo filológico  e de polemista,  o  exímio latinista  Carlos de Laet.
      Na voz do povo, Rui  era o máximo, o mais  inteligente brasileiro de então. Nascera em  Salvador,  em 1845. Morreu em Petrópolis em 1923.
      Ainda me relatou meu pai,  em  costumeiras conversas  comigo em Teresina,  que, uma vez, indo para Petrópolis,  Rui  começou a  conversar com um companheiro de viagem  sobre assuntos  gerais,  os quais,  depois,   se voltaram  para  temas de  medicina. A uma  certa  altura do diálogo,  o companheiro de Rui lhe perguntou: “O Sr. é médico?” “Não, sou   advogado.” “Pois, senhor,  eu tinha quase a certeza de que o senhor era médico pelo conheci mento  que revelou ter dessa  área de  estudos.” 
      Perseguido por sua ideias políticas contrárias ao governo de  Floriano  Peixoto,   Rui viu-se obrigado a se exilar na Inglaterra.Logo que  pisou  em solo britânico,  Rui mandou afixar um cartaz  - creio -  no lugar em que foi  morar,  com os seguintes   dizeres: “Ensina-se inglês aos ingleses.” Esse período de residência em Londres, redeu-lhe uma obra Cartas da Inglaterra(1896).
     Jurista de fama  internacional, Rui Barbosa  teve o grande  privilégio de ser convidado  para representar o Brasil  na Segunda Conferência de Paz em Haia (Deuxième Conférence de la Paix. Actes et Discours, La Haye,1907), na qual  brilhantemente defendeu a situação das  “pequenas nações.” De sua  atuação formidável como orador   e  intelectual  de assombroso  conhecimento  jurídico, sendo aplaudido entusiasticamente por  diplomatas e estadistas presentes, veio-lhe a conhecida  antonomásia de  “O águia de Haia.”     
     Outra participação de alta relevância do grande estudioso, político, escritor,  tradutor   e orador  brasileiro  foi  a polêmica filológica   que travou com um seu ex-professor de língua  portuguesa de Salvador,  Dr. Ernesto Carneiro  Ribeiro a propósito da “Redação do Código  Civil Brasileiro.”  Dela   resultou uma obra   de alta profundidade filológica, Réplica (1903).        
     Essa  famosíssima  polêmica entre Rui e seu ex-professor de língua portuguesa merece uma síntese  de seus  fundamentos.  A raiz da polêmica   foi  a  redação do Código  Civil  a ser elaborado  pelo  jurista Clóvis Beviláquia  a pedido do  então Ministro da Justiça, Epitácio  Pessoa, no governo do presidente Campos Sales.  A redação  de Clóvis  Beviláquia  valeu-lhe  várias censuras  por parte de Rui Barbosa. Para contornar  esse impasse,  foi incumbido de  fazer a revisão do Código Civil o respeitado  professor, Dr. Ernesto Carneiro  Ribeiro.    
        Rui Barbosa, a despeito disso,   não  concordou com a revisão  feita pelo ex-mestre, sobretudo  no terreno da gramática e por isso apresentou, na condição de presidente da Comissão  do Senado,  várias  folhas de apontamentos  mostrando   suas discordâncias  gramaticais  em relação  à revisão de Ernesto Carneiro  Ribeiro, que, por suja vez, rebatendo as críticas de Rui, redigiu o texto “Ligeiras  observações sobre as emendas do Dr. Rui Barbosa”   e o fez publicar no Diário do Congresso
       O Código  Civil  foi  aprovado, mas a polêmica entre Rui e seu  ex-professor continuou até que  Rui,  organizou seus  apontamentos  e suas  divergências  numa das obras mais  respeitadas  no  domínio da filologia  portuguesa, considerada pelos estudiosos  como um “monumento”  de estilo e de profundidade  de  conhecimentos  do vernáculo.  
      Foi a mencionada  Réplica. Seu ex-mestre, por seu turno,  não se deu  por vencido e resolveu  dar uma outra resposta  às censuras  de Rui,  fazendo vir a lume  a obra Tréplica, a versão em livro  criticando as emendas  que  Rui Barbosa lhe  fizera à  revisão do Código Civil de Beviláqua.
     Assim que cheguei ao Rio, em 1964,  adquirira um livrinho  das Edições de Ouro que constituíam  um apanhado de cartas de Rui Barbosa dirigidas à noiva, Maria Augusta. Não recordo mais do título. Contudo,  ficava admirado  do estilo  epistolar  de Rui à sua amada, com  comoventes  declarações de amor  e de  afetividade, escritas em estilo  menos   arcaizante,  menos clássico, e apenas  refletindo  o gênero  mais leve da comunicação  familiar  e amorosa. Li aquelas cartas de Rui no intervalo de viagens de  trem   do subúrbio  da Central para o centro do Rio nos meus primeiros  meses de vida nessa cidade.
         Me lembro de  que eram  cartas  cativantes  onde o  grande  escritor e homem publico  mostrava  seu lado  mais  íntimo de manifestar  seus sentimentos  com traços  até românticos. Me  vem à mente  outro livro que,  à época,  li de  Rui  Barbosa. Era um ensaio  biográfico  sobre José Bonifácio, um livro  digno  do melhor  estilo  ruibarbosiano. Esse ensaio  mencionei  no meu livro As ideias no tempo (2010).  E uma frase  dele me ficou marcada  na memória: “A morte nos cerca de todos os lados.” – sentenciava  Rui.   Outro  texto  fundamental que li de Rui é o conhecido “Oração aos Moços” -  um belíssimo  texto atualizado, na sua abrangência  ética, até para os dias de hoje.

        Por outro lado,  outra carta  de Rui que,  salvo erro,  li na obra  de Luís Viana Filho era uma carta  em inglês  de Rui a alguém no Brasil, não sei se endereçada a uma amigo ou a um familiar. Só relembro que a reprodução da carta escrita à mão, em fac-símile,   tinha uma letra miúda,  com  rasuras no corpo da missiva e, por incrível que parece, foi nessa carta que  aprendi o que em inglês  queria dizer a  linda  palavra "orvalho" (em inglês,“dew”), assim aprendida naquele contexto  epistolar e não num  texto  de uma  obra  de ficção ou poesia. A memória tem dessas coisas que nos surpreendem na aprendizagem de uma língua. Minha memória é visual, léxica,  fisionômica,  em geral sinestésica.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

QUE NÃO VENHA MAIS UMA TRAGICOMÉDIA NACIONAL



                                                            Cunha e Silva Filho



                É claro que a permanência da presidente  Dilma Rousseff chegara a um  fase clamorosamente   inaceitável à situação financeira do país. Inflação crescente,  desemprego na casa de milhões, situação  extremamente  aflitiva  das finanças de alguns  estados  brasileiros (Rio Grande do Sul e, Rio de Janeiro)  sucateamento dos serviços da saúde pública, violência calamitosa,  escândalos  e mais escândalos minando os cofres  públicos em consequência da roubalheira via propinas, superfaturamentos e  descarados conluios entre o governo  e mega-empresários. Para  piorar ainda mais  os desmandos em que  ficaram as finanças do Estado Brasileiro,  vieram à tona   as chamadas  pedaladas fiscais proibidas  pela legislação  e feitas  à revelia  da aprovação dos Congresso.
            O dado técnico da improbidade fiscal  utilizada pela presidente, a meu ver,  não é matéria prima  da sua queda do poder, mas um conjunto de fatores   que, somados, vão configurar  um governo  perdulário, esbanjador,  excessivamente   permissivo  com o dinheiro  do povo. .Quer dizer,  a me ver,  foi a quebra de ética, a ausência de  decência no trato da coisa pública que levou  ao afastamento da  Senhora  Dilma Russeff.. Se é verdade o que o novo governo  recém- instalado  anda anunciando  à mídia, no que tange à falência financeira do Estado, que até pode haver a possibilidade de atraso de pagamento dos salários do funcionalismo federal, é porque algo muito  catastrófico  já iria surgir no  próprio  governo petista.  Não me lembro de que, na história dos governos federais,  tenha havido  semelhante  possibilidade  atraso de salários. 
         Ora, o governo atual, mesmo em grandes dificuldades  financeiras, que chegue ao  ponto  da tragédia de  atrasar pagamento  dos salários federais, não está isento  de culpabilidade   imputada  ao governo anterior, visto que foi  uma das bases aliadas  mais  sólidas do governo  petista. Refiro-me sobretudo ao PMDB. Agora,  como ficaria  se essa  situação chegasse a se materializar? As altas autoridades, a começar  do presidente,   já tiveram  aumentos em seus salários e mordomias sempre  generosas porque os aumentos são por eles mesmos   determinados  no poder legislativo  e no senado. No judiciário, idem e, no executivo,  idem.
        O atual  governo já vem anunciando indiretamente  por vezes o  ressurgimento da CPMF, o aumento de impostos,  dos juros, que são já considerados os mais altos do  mundo. Ora,  estamos   numa fase  de recessão,  de  desemprego, mas também  estamos  em inflação. O custo de vida está muito alto, sobretudo em remédios e alimentos. O transporte de massa é caro. Havendo falta de pagamento  para o funcionalismo  federal, como ficarão situações  do tipo  prestação da casa  própria financiada  pela Caixa Econômica? Como um funcionário  público  federal  irá pagar  a mensalidade  de mutuário se o governo deixar de pagar em dia seus  vencimentos?  Essa questões,  de alta  relevância social,  é que têm que ser analisadas com rigor  e com  responsabilidade  de quem  comanda  a vida  financeira nacional agora. 
      O governo  tem que cortar ainda muito mais o número de ministérios, retirando os funcionários desnecessários, os chamados cabides de emprego arranjados por vias do fisiologismo e do compadrio  político. O governo atual deve  reduzir  as mordomias  nos três poderes,  caso contrário,   ficará na mesma   regalia  do  governo  afastado.
    Sabemos  que,  a despeito de todas  as falhas, erros e  falcatruas do governo   anterior,  não me parece em absoluto  que  possamos  atingir  um quadro aflitivo  da máquina do Estado  no que concerne  aos vencimentos do funcionalismo  federal. O de que o atual  governo  necessita é de  baixar os juros  shyloquianos,  os impostos  exorbitantes,   os aumentos de todos os produtos determinados  pelo  próprio  governo federal a  fim de  arrecadar  mais e mais. Por que, nunca  pensam   os governantes  em,   temporariamente,  congelar  alguns produtos  vitais,  dos itens de alimentos e remédios? Quem sofre com  a inflação são os menos protegidos, os pobres e miseráveis.  Em seguida,  partes  da classe média (entendendo-se  que, no  pais,  há classes médias  e não  “classe média” simplesmente).
    Ora, ao anunciar  sacrifícios à sociedade,  o governo  deverá começar  pelos altos escalões de privilegiados  dos três poderes a fim de dar exemplo de  probidade administrativa. No país,  nunca houve redução de mordomias dos três poderes, sobretudo de deputados e senadores, ministros,  desembargadores,  dirigentes  de estatais,  dos bancos federais etc. Se o Estado  Brasileiro está mal de finanças, repito, então cortem-se as mordomias  de ponta a ponta.
  Não vivemos  numa  realeza em que os imperadores  ou reis  levam vida  de  milionários  à custa  da sociedade. Se o atual e  incipiente governo  quer mudar  a fisionomia  do país,  é preciso   refletir sobre  todas essas questões de interesse social. E com transparência. Não ajam as autoridades só tecnicamente, mas com o coração e a consciência  de dar mostras eficazes   de que estão   fazendo mudanças  para a  melhoria da sociedade, sobretudo dos mais  necessitados. Sem populismos Sem  novos escândalos. Sem propinas. Sem superfaturamentos. Sem novos-ricos. Sem arrivistas. Sem mistificadores. Sem presidentes parvenus às expensas  de malversações públicas.   Sem envolvidos  na Lava-Jato.  Sem  rapinagens. Sem mentiras perniciosas de campanha para ganhar votos de  pascácios ignorantes  e de fanáticos, incluindo  intelectuais  que  sonegam de propósito os erros  de canalhas  e de  vendedores de sonhos e simulacros.

  O lema do Brasil que queremos poderia ser  esse: ética no governar e respeito aos eleitores. Se não, as mudanças que  queremos como  povo  continuarão  sendo apenas palavras de retórica de início de  um novo governo que de novo  só teria  o significante do signo linguístico.  O Brasil não  precisa apenas  de significante  - mero som vazio  de verdade e de realizações  comprovadas.  O Brasil precisa do todo do signo: do significado.     

terça-feira, 10 de maio de 2016

BRAZIL'S OVERVIEW CORNER: ONE MORE DIRTY TRICK PLAYED BY SYRIAN GOVERNMENT




[A  Portuguese  translation of this  article is given below the English  text]


                                                 By  Cunha  e Silva Filho


       This article  tries to  discuss the latest  bloodythristy deed committed by the dictator Bashar Al Assad. I am referring to the  aircraft bombardment made by the military forces, according to news exhibited by international  press and by foreign  analysts of Syria’s devastating  civil, under the  command of  that dictator.
       In previous articles  dealing with this issue, I have  recurrently shown   that this war, which has been  dragging on for five years, has brought about the deaths of thousands  of  people since it   started.  To make things  still worse, in spite of the  several attempts  made by  international  organisms (UN  and its Security Council), aiming  at  solving this  disastrous  conflict  between individual  of the same country, up to now  almost nothing has been  done  to put an end to these  massive massacres, in which  the most  suffering  part  of the population  is comprised by  children, innocent  civilians, and aged  people.
      The latest   attack has been  perhaps the most  tragic one, as many lives of  innocent and unprotected  people have been lost. It  should be pointed out  that this time hospitals  were bombarded, thus killing and  injuring  children, sick people and even doctors who were on duty and saving  lives. Needless to say that such raids have often  broken the Geneve conventions  that rule on  war crimes, i.e., any  place, any city where hospitals and civilians  are  located, cannot be a target of  attacks.
        Obviously, one again this has not been   respected by the Syrian  heavily  armed forces. The dictator does not   obey any international  conventions  governing  a state of   war.
       What  was most  abominable and  horrified is that, as analysts state, all the three bombs dropped on the important city of  Aleppo, had in view to  destruct  buildings  of civilians and  hospitals that were reduced to  rubble. 
      When a barbarous   government such as the one  ruled by Assad goes up to the point of  forgetting  any traits of  international  treaties  or agreements, it is high time for the great  powers  which govern  their foreign policy by respecting  human  rights to  join forces and set up a plan  to   oust  a dictator  that so far  has repeatedly   eschewed all attempts  to reach  a definitive peace  agreement via diplomatic   channels. 
      I think that, under such  a delicate  and crucial situation  lived by Syrians, the United States and their allied countries  ought to draw up  strategies to deter this stupid  carnage. Being a Nobel Peace Prize winner, President  Barack Obama   should not neglect the opportunity to  add to his  political  biography,  in the field of  foreign  policy, as being the invaluable   world leader  who was capable of   giving  back peace to Syria  by definitely ousting the cruel dictator.
    This might be carried out  with  the  necessary aid of the  opposition, the rebels who have fought since the beginning of the conflict  against  the dictator Assad. By uniting forces  with the  rebels and the  help of  allied countries, I presume the USA will be able first to start talks with Russia, country which is  giving  military support to the dictator, and try to  reach a compromise with Russians in order to put and end to this  conflict that cannot go on  destructing all that is left of  Syria and causing  the waves of  Syrian  refugees fleeing from their embattled  country in search of a better  place outside  of  Syria to live with  peace and free of  oppression  and deaths of  innocents. By the way, it is unthinkable that damages be continuously  done in Syria  for  such a long  war time. There must be a deterrent to this ghastly  civil war.World leaders  ought not just stand there.
   The Syrians  refugees, on  trying to enter Europe and other parts of the world, including Brazil, do behave so because they do not  have any other way out, but only despair.  Having no available secure ways to leave out their country, the Syrians have a high toll of deaths in their  attempt to get rid of  the oppression, hunger and terrorism installed in the battle fields of their  almost  completely  devastated  birthplace.
    It appears that one does not  have international forums at all to  stand up  for the crimes  committed by a  hideous  dictatorship. I think the Hague Court  does not play any more an important role  as an organism to demand hard and harsh punishments against Bashar Al Assad government. It is not possible that this autocratic  ruler continue  doing tremendous  hardships to the people of Syria. What he has done so far may be characterized as true  terrorists actions as  much  savage as other  types of  terrorists groups  such as Al-Qaeda and the Islam State, for  instance.
  To allow that aicraft attacks may be  carried out  against innocent  children, volunteers doctors and nurses, in hospitals  resulting  in  injuries and fatal victims can only be regarded as acts of an insane and a monster that has neither  soul nor the minimum traits of a human being.
 If the actions of this  dictator are  not  thwarted by great nations  which favor democracy and peace,  other continuous  hellish  deeds will be practiced by Syria’s dictator. He must be stopped, otherwise  mankind will not be   worthy of belonging to human species whose main features ought to be endowed with reason and the feeling of  mercy.



              MAIS UM GOLPE  BAIXO DO GOVERNO SÍRIO


                                               Cunha   e Silva Filho


       Este artigo procura discutir o mais recente ato sanguinário  perpetrado pelo ditador Bashar Al-Assad. Refiro-me ao bombardeio aéreo levado a efeito pelas forças militares sírias  -  conforme notícias divulgadas pela  imprensa  internacional e por analistas  estrangeiros  ou mesmo  brasileiros que comentam  sobre a devastadora guerra  civil -  sob o comando daquele ditador.
       Em artigos anteriores enfocando  essa questão, tenho  seguidamente  demonstrado que essa guerra, a qual tem-se arrastado por cinco anos,  tem  vitimado  milhares de pessoas desde o seu  início. O que é pior, a despeito de várias tentativas feitas por  organismos   internacionais ( Nações Unidas e seu  Conselho de Segurança), com vistas à solução desse conflito desastroso entre indivíduos do mesmo país, até agora quase nada se fez  a fim de pôr cobro a esses massacres maciços, nos quais a parte da população que mais  sofre é composta  de crianças,  civis inocentes e idosos.
     O mais recente ataque quiçá tenha sido o mais  trágico,  porquanto se perderam muitas vidas inocentes e pessoas  desprotegidas. Deve-se assinalar que desta vez hospitais  foram bombardeados,   matando e ferindo  crianças, pessoas  doentes e mesmo  médicos que estavam de plantão e salvando vidas. É ocioso  afirmar que tais incursões aéreas com frequência têm infringido convenções de Genebra que regulamentam os crimes de guerra, i.e., lugares ou cidades nos quais hospitais e civis  se encontram e que   não  podem ser alvos de ataques. 
     Obviamente,  mais uma vez as convenções não foram  respeitadas pelas  forças sírias fortemente  armadas. O ditador  não respeita nenhuma acordo bélico   internacional.
    O mais abominável  e aterrorizante  nisso tudo é que, segundo  reportam  os analistas, as três bombas  lançadas na  importante  cidade de Aleppo, tinham  por objetivo destruir prédios de civis e hospitais que foram  reduzidos  a escombros.
    Quando um governo  tal como o de Assad chega ao  ponto de menosprezar quaisquer  normas de tratados ou acordos  internacionais, é mais do que hora  para que  as grandes  potências que conduzem suas políticas  externas pautadas nos direitos humanos unam forças e equacionem   um plano no sentido de  apear do poder um ditador  que,  até hoje, reiteradamente tem se mostrado  esquivo a toda tentativa de alcançar uma paz definitiva por via diplomática.
    Penso que, diante de uma situação tão crucial e delicada vivida pelos sírios, os Estados Unidos e  seus aliados deveriam  formular estratégias a fim de acabar com essa  estúpida carnificina.Barack Obama, detentor de  Prêmio Nobel da Paz, não deveria perder,  na condição de líder mundial,  a oportunidade de enriquecer sua biografia  no campo  da política externa caso seja capaz de devolver  a paz à Síria  livrando-a em definitivo  do cruel ditador.
    Para tanto,  teria que contar com a ajuda da  oposição, os rebeldes que combatem desde o  início  do conflito contra o ditador Assad. Ao unir forças com os rebeldes e  o apoio de países aliados, presume-se que os Estados  Unidos poderiam  ser os primeiros a estabelecer  diálogos com a Rússia, país que está dando  apoio militar ao ditador e, desse modo,  procurar  conseguir um entendimento com os russos a fim de eliminar  esse conflito que não pode continuar  destruindo tudo que resta da Síria e provocando as ondas de refugiados sírios que deixam seu país conflagrado à procura de um melhor  lugar fora da Síria para viver em paz e livre da opressão e mortes  de  inocentes. Por sinal, são  inimagináveis os prejuízos contabilizados  pela Síria  durante   todo esse longo  período  de guerra. Urge que  haja um basta a essa assombrosa  conflagração.  Os líderes mundiais não podem  permanecer de braços  cruzados.
   Os refugiados sírios, na tentativa de  entrar na Europa e em outros países do mundo,  inclusive o Brasil, fazem isso  exatamente  porque não têm qualquer outra saída senão o desespero. Não dispondo de nenhuma segurança para deixarem seu país, os sírios, na tentativa  de escaparem da  opressão,  fome e terrorismo  instalados nos campos de batalha do seu berço natal quase inteiramente  devastado, sofrem um grande  número de perdas fatais
   Parece que não se tem mais fóruns internacionais   para a defesa dos crimes praticados  por uma  odienta  ditadura. Presumo que a Corte de Haia não mais  desempenha  seu papel  relevante de  organismo   pronto a exigir duras e  inflexíveis  punições  contra o governo de    Bashar Al-Assad. Não é possível que este governante autocrático continue  causando  tremendas aflições à população síria.O que ele tem  feito até o momento se pode  definir  como  ações verdadeiramente  terroristas tanto quanto outros tipos de grupos  terroristas semelhantes ao Al-Qaeda e ao  Estado  Islã, por exemplo.
   Permitir  que  ataques aéreos sejam  levados a cabo contra crianças inocentes,  médicos voluntários e enfermeiras em hospitais, tendo como consequência  ferimentos e vítimas fatais só pode se caracterizar como  ações de um  insano e de  um  monstro sem alma nem os mínimos  traços de um ser humano.
    Se as grandes nações defensoras da democracia e da paz  não abortarem  os atos desse ditador, outras  práticas malignas  serão  cometidas  pelo  ditador da  Síria. É preciso  detê-lo, do contrario  a humanidade  não merece ser digna de pertencer à espécie humana, cujas  principais   características  deveriam   ser dotadas  da razão e do sentimento  de  misericórdia.