quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sudeste brasileiro em tempos apocalípticos




                                       Cunha   e Silva Filho

    As informações que me  passam  os jornais ou outros meios de comunicação  é que, em quarenta anos,  nunca se conheceu, máxime em São Paulo, um  período  de  falta de água  nos rios  que  servem  à população  paulista e especificamente  à metrópole  de  São Paulo. Os reservatórios   de que dispõe  esta cidade  estão   em níveis  de   ameaça à população, mas  ameaça mesmo,  com  possíveis consequências   de alto  impacto  para seu  povo,  seu comércio, sua indústria, enfim,  a sustentabilidade  desse grande e vital  Estado  brasileiro.
     De resto, a capital   paulista  está enfrentando  de início   estiagem e contraditoriamente   inundações, quer dizer,   sofre com  os estragos  das grandes inundações , dos raios,  das tempestades  e diminuição   severa  de suas fontes de  água potável, como se já não bastasse  uma série de outros  graves   problemas  enfrentados  por  São Paulo, sendo o maior deles a violência  desmedida  no cotidiano  da capital.  
     A reação  dos paulistanos    e paulistas  tem se mostrado  de várias formas: lamenta  pela  escassez de períodos  de chuva mais prolongados e  reclama,  com   justiça  e direito,   dos   responsáveis  pela  administração estadual  e  municipal. E com   razão.
      Não somente  é culpado  o  atual  governo  de São Paulo, de vez que o fenômeno  de escassez de água  potável  deveria  há muito ser  tratado com  a maior   responsabilidade  possível. O setor  que cuida  do abastecimento de água  é um dos pontos   deploráveis na  questão  que se discute  neste artigo.  Com o crescimento descomunal da capital  sobretudo  demográfico,    exigindo  uma  demanda  gigantesca  de  suprimento   de água   para uso  humano, as autoridades   que  governaram  São Paulo  pouco  ou  nada fizeram   e nada  previdentes   se   mostraram   quanto   ao futuro  da capital  e do estado  em geral.
      A isso  chamaria de  governar  improvisadamente  em alguns setores vitais  como o  do abastecimento  de  água  de qualidade  para  a população. Obras  de engenharia  que se fizeram   - construção de reservatórios -  não  demonstraram  nenhuma  visão  prospectiva  do que  poderia  ocorrer  no estado de São Paulo. E, em proporção menor,  a mesma crítica  se estende aos  estados  do Rio de Janeiro, cuja capital  é outra   metrópole super-demográfica, com  Minas Gerais, idem.
      Com o conhecido  defeito da improvisação  em lidar com  a coisa pública, nenhum dos  governantes ( e  esta crítica  se dirige a quase todos  os governos  estaduais do país ao longo da nossa  história), teve, repito,  uma visão  mais   arejada do que, com o vertiginoso  crescimento da  população, sobretudo de imigrantes, poderia  acontecer   com o nosso  potencial  hídrico. 
    Por falar em  improvisação, leio, em  tradução minha,  um capítulo didático  em inglês,  de Eugênio Malanga (1), em que,  louvando  o progresso e a grandeza deda cidade de São Paulo,  faz um  assertiva desta  ordem,  que vale,  para os dias sombrios atuais da metrópole, como  se fora um  vaticínio:  “A fundação  de São  Paulo nada tem  de  espetacular. Não foi  planejada, não se desenvolveu,  não foi  planejada  para ser uma  grande  cidade. Aconteceu por acaso.”  Por outro lado,  em outro  trecho,  aquele autor  recorda que,  pelo  progresso  e  crescimento  vertiginosos  de São Paulo,  ela já se comparou  a Chicago,  a Detroit e lhe chamaram até de “a Manchester  brasileira.”
   Por conseguinte,  não  devemos  culpar  a Natureza  só  pelo que está vivendo  São Paulo; com ameaças climáticas e pluviométricas  da mesma ordem estão dando sinais    o Rio de Janeiro e Belo |Horizonte, outra capital   de grande  concentração  demográfica.
   O que não pode  permanecer  é esse estado  de insegurança sobre   como  viverão  essas capitais  com  crescente  escassez de água   para uso  humano.
   Os governadores  dos três  estados já estão até falando em  racionamento  “pesado”  de  água  para a  população,  numa  proporção  de causar  horror:  cinco dias  sem água para dois  dias com água  nas torneiras.
   Não me venham  tais governadores   tentar  tampar o sol com uma peneira   com afirmações   que são meias-verdades a fim de esconder  a completa   ausência  de   tirocínio e de espírito de previsão  que são  condições   básicas  a quem  governa   um estado da federação..
  Os prejuízos  da população já são   enormes  com  a falta  de água. Como,  pois,  ficarão   funcionando  os hospitais,  as escolas, as universidades,   o corpo de bombeiros, os restaurantes,   os asilos,  os apartamentos,  para não mencionar  tantos  e tantos outros setores   que, sem  água,  não poderão  resistir  por muito tempo?
    A Presidente  Dilma afirmou  que pela Constituição cabe  aos estados    a resolução   desses problemas   relativos  à  falta de água.  Ela está  redondamente  enganada. Somos uma  República  Federativa  com   estados    que funcionam  conjuntamente  com  o  apoio do Executivo Federal. A situação que se nos apresenta é de emergência,  de exceção,  de necessidade  do  suporte do governo  federal,  até  mesmo   e sobretudo   na destinação   urgente  de recursos   financeiros  para  solucionar  em curto  prazo   o sufoco  por que está  passando   São Paulo.
     A Presidente da República não pode absolutamente  se omitir  na discussão   urgentíssima    a fim de  formular um  plano   emergencial  para   estudar   e equacionar,   com  o  auxílio  inestimável de  nossos  engenheiros  e cientistas, sem descartar  nossos  especialistas no assunto  das melhores  universidades  brasileiras, uma saída  técnica  para prover  São Paulo   e os outros dois estados de formas de canalização, por exemplo, através de ductos,  como  fez a Rússia em relação  ao gás   transportado  para outros  países    da Europa. Transposição de rios brasileiros   não é a única    correta  solução e o que se tem visto   neste sentido  tem  tido  efeito  contrário e  prejudicial   ao fluxo   navegável  dos rios. Haja vista essa obra  que  se está  tentando  realizar (dizem até que  a obra  está  paralisada!), i,e,,  a transposição do Rio  São Francisco,  que  tem dado sinais  de    se tornar  um rio  temporário com algumas  fontes  de água  já  secas.
         É inconcebível que  o  país  que  tem  o maior rio  do mundo  em volume de água  esteja   passando  por  este  flagelo  da seca,  assemelhando-se,   em alguns  aspectos,   ao  “Polígono das Secas”  do Nordeste. Será que   teremos, então, no futuro,  ficcionistas reproduzindo cenas  de Vidas secas, obra-prima de Graciliano Ramos (1892-1953) com novos  Fabianos,   Sinhas Vitórias e  cachorras  Baleias tendo    a cidade  de São Paulo como  o espaço da tragédia  brasileira? Seria cômico se não fosse trágico.
        As populações dos três estado  do Sudeste  devem se unir  e exigir  urgentíssima  posição dos seus governantes e da própria  Presidente Dilma  satisfação  para esta situação   tão  aflitiva  aos estados  afetados, principalmente   São Paulo. Se alegarem  que  não têm  condições   financeiras de bancar  uma obra   de grande vulto  para   resolver   este  premente  e mesmo  dramático    problema  por que atravessam  os  paulistanos e  paulistas, seria  o caso de se  indagar:  e o dinheiro  que  o escândalo da Petrobrás   desviou do Erário Público,  ou seja,  do  povo brasileiro?
         E as outras falcatruas ( os escândalos do “Mensalão”) cometidas  durante  a gestão Lula e, sob outras formas, na de Dilma? E a gastança   com  os vencimentos   de marajás   de   senadores  e  deputados federais, de ministros do Estado, do número   desmedido de ministérios, do  escândalo da  Petrobrás, reafirmo,    dos cartões  corporativos,   do dinheiro  público  canalizado para as campanhas  políticas, entre tantos outros “malfeitos” (jargão  da própria  Presidente)  do governo  federal?  Ora,  não me venham  declarar que  não   dispõem de   dinheiro  para realizar  obras   de alta envergadura  a fim de  amenizar  o sofrimento  dos paulistanos e , quem sabe,  dos cariocas e mineiros?
        Se existe estiagem, reconheço, mas não me venham convencer de  que  a culpa   do descalabro  em São Paulo  é só da Natureza. O dedo  humano  tem  um  efeito  muito  mais  pernicioso porque  pode levar  a cidade ao caos  e à desordem  na luta  individual e ignorante:   “-- um gole d’água, por amor de Deus!


(1) MALANGA, Eugênio. Vamos aprender  inglês. v. II. São Paulo: Editora  “Ave Maria” Ltda.,1959, p. p.83-84.  

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