segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Refletindo um pouco sobre a desistência de ser escritor







                                   

        Cunha  e Silva Filho


      Um amigo, arguto ensaísta e leitor  voraz (sou testemunha de sua  grande  capacidade  de ler muito e continuadamente), nascido, na Bahia, conversando comigo  pelo  telefone sobre literatura,   projetos de escritor,  vida de escritor,  subitamente  comentou  que um seu  colega ou amigo  havia desistido da literatura. Ficara  decepcionado,   desestimulado,  triste, enfim,  com   os grandes  espinhos que  pontilham  a travessia  de quem  se decide a ser  escritor no  Brasil.
      O amigo,  antes tão  entusiasmado com  a vida literária,  com  toda a sua  longa  quilometragem de leituras,  de  dedicação  à área,  finalmente  deu um adeus, não às armas, mas  às letras. Adeus definitivo,  não sei, mas adeus. Foi  o que meu amigo  ensaísta  me contou.
      Estranho essa atitude que,  por vezes,  ocorre a quem escreve e deixa a caminhada  beletrista  no meio do caminho ou até mesmo no  início do caminho. As razões que o levaram a  tomar  esta  decisão não sei quais foram.Tampouco sei se foram  informadas ao meu  amigo ensaísta.
    Um ato  extremo  desses me leva a procurar  os fundamentos  da decisão drástica. Na história da literatura  brasileira,   não são muitos os que  desistem  da vida de escritor,  ou seja,  da vontade  de continuar produzindo independente de ser ou não aceito  pela crítica e pelo  público. Tomemos  o exemplo de Raduan Nassar,  o  consagrado autor de Lavoura arcaica (romance,1975), Um copo de cólera (novela,1978) e Menina a caminho (1994). 
    O  escritor não mais  escreveu.. Preferiu  outra atividade  alheia à criação  artística. Ressalta encarecer que  esse   ficcionista foi  muito premiado, traduzido para outras línguas, ou seja,  tinha tudo para dar continuidade à sua produção. Preferiu, no entanto, abandonar a literatura,  a celebridade, para morar num sítio de sua cidade  natal, Pindoroma, São Paulo, onde nasceu em  1935 e, em seguida,  fixar residência  em Buri, interior de São Paulo. 
    Entretanto,   o tema me instiga a aprofundar  minhas  reflexões, quer dizer,  o que  na realidade  leva  um  escritor a mudar  o rumo  de uma  atividade criativa, seja na  poesia, seja na ficção,  seja  no teatro?  Creio que  isso mais acontece no campo da literatura, mas não tenho  conhecimento de que   essa ruptura com a arte da palavra se dê também  em outros campos da vida  artística,  na escultura,   pintura,    na dança,  na música, na arte cênica,  no cinema.
  Vou arriscar algumas razões de uma  decisão  deste  porte. Uma delas seria  o desestímulo de que se vê cercado  o escritor, querendo afirmar com isso  que este precisa, como qualquer outro artista ou mesmo  indivíduos  de outras  profissões, de reconhecimento,  de  ter alguma  certeza de que  sua obra  é válida, tem  qualidades, merece ser  lida. A não-constatação  disso talvez seja um dos motivos básicos  que  conduzam  o autor a desistir de si mesmo  como  personalidade artística, e a de  seguir outro  curso  de vida  produtiva.
   Uma segunda razão é a competitividade que, hoje mais do que antigamente, enfrenta  um  escritor na sua  área de  produção. Competitividade - diga-se melhor -,   em virtude de  que no  mundo de hoje o número de escritores em todos os gêneros,  aumentou   assombrosamente, com o agravante de que, no exemplo dos ficcionista,    os ensaísta, críticos e teóricos, também  se enveredam pelo universo ficcionistas. Ora, esta situação aumenta ainda mais o número  de escritores não só  no país mas no  mundo inteiro.Tem-se a impressão  de que todo mundo  quer ser  ficcionista, sobretudo  os  já  possuem grande visibilidade  no seu campo  específico não-ficcional. Vasto é o  mundo, diria  Carlos Drummond de Andrade( 1902-1987)), e  o  escritor  espantado com  esse cenário regional,  nacional e mundial  se sente  diminuto,  impotente, como se fora  um pingo de areia no  oceano  da imaginação  criadora.  
    Em geral,  pode-se  adiantar,   ensaísta e teóricos podem  produzir  obra  ficcional que não vingam,  porque, muitas vezes,  não passam de   projetos   fertilizados  com arcabouço  teórico,  numa   estratégia  bem diferente  dos  escritores  de talento  indiscutível. Há quem  possa  apresentar  argumentos  até fortes,  como, por exemplo,  Machado de Assis (1839-1908)).Contudo,  se a crítica  que escreveu  Machado  é boa, ele  não se  distinguiu soberanamente  neste gênero, nem tampouco  na grande  poesia,  mas na ficção apenas, que o consagrou  até nosso  dias. 
   Uma outra razão da desistência  está  vinculada  diretamente ao mercado  editorial,  aos  interesses  do lucro, às acomodações  que se obrigam  a fazer  os escritores sem   público e sem  nome. Diante disso,  como  enfrentar  os obstáculos  vários do mundo  da publicação,  das editoras  que necessitam de vender seus  estoques e,  portanto,   se sustentam  e se mantêm  com o indispensável   sucesso dos livros que lhes passaram  pelo crivo,  quer subjetivo,  quer  objetivo,  de seus editores?   
   Quem apostaria num desconhecido  ainda que   tivesse  valor  a sua obra?  A não ser nos  casos  de autores  consagrados nos seus diversos  gêneros (aqui  incluindo  até os chamados grandes  poetas), os quais   têm ainda  fácil  acesso  a republicações de suas obras, que espaço  teriam  os  anônimos e numerosos  escritores  de todos os gêneros  com seu  livros encalhados  e sem perspectivas  de um  salto para o   reconhecimento.
  É nesse  ponto que vejo  mais um   motivo da desistência.Todavia,   alguns teimosos,  novos  ou velhos, continuam  resistindo  aos  solavancos  da  indiferença  pela suas obras,  pelos seus  possíveis méritos.Na minha  opinião,  são verdadeiros  heróis na adversidade   de seus ideais. Não os  reprovo  por serem assim. Afinal,  eles ainda  acreditam que, a despeito de tudo, persistem como  Sísifos na vida literária,  ainda que de certa forma  anônima.

   A dificuldade de ser bem  acolhido, os óbices para ser editado, o gigantismo da competição,   a indiferença  dos editores,  o cansaço  que  faz parte da vida de quem escreve,  os gastos com   as compra de livros  novos  para atualização, entre outros fatores de  desestímulos, concorrem  seriamente  para que alguns desistam  da vida  de escritor e se encaminhem  para o isolamento  coberto de    frustrações  e   mágoas.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Ai dos governantes desprezados pelos seus compatriotas!







                                                          Cunha  e Silva  Filho


        Não é preciso nem mesmo sair de casa. Com uma televisão,  um celular ou um computador navegando pelo  Facebook logo  se percebe  o repúdio de grande parte dos   brasileiros  pelo governo   federal,  tendo como alvo  maior a presidente Dilma. Ora,  um governante,  seja  um rei,  um primeiro-ministro,  um presidente, um governador,  um prefeito  e até aqui  incluindo os  tiranetes  da América do  Sul,    que não são respeitados  pelo  povo  é uma triste imagem de representação  política e do estado  a que chegou  o nível da mais alta  função  do governo.    Inegavelmente,  se instalou  um quadro de tragicomédia na política  brasileira. 
    A consequência  mais grave disso, num país que, bem ou mal,  se norteia   ainda felizmente pelas vias democráticas,   das quais  a liberdade de expressão continua  um  instrumento valioso   da manifestação   do cidadão diante   da não-aceitação da atual  presidente, é que  a figura  do presidente Lula e da presidente Dilma são constantemente   repudiados nas redes sociais sob  várias formas: deformação  física  por montagens, caricaturas, xingamentos, vídeos, depoimentos escritos   que mais  parecem  uma catilinária  de  motejos,  deboches,   achincalhes.
     Quando  um povo  não mais demonstra um mínimo de  respeito  pelo seus governantes,   é sinal  de que algo  podre  sinaliza  nos bastidores  da  política  nacional. Essa forma de  comportamento   de brasileiros   fala mais alto do que os votos  que a presidente   alega  ter   alcançado nas urnas.   E as urnas podem bem  balançar para um lado num momento,  assim  como podem  balançar   para outro lado em outro momento, i.e.,   o da recusa  em ter  um mandatário  no  posto mais  alto da vida republicana.
      Basta   arrolar  todo esse material   de repulsa aos dois  políticos   do PT  para se ter  uma medida avaliativa  de quanto  um partido   perdeu  a sua  força de liderança,   o seu lado  ético, a sua razão de  se manter  no poder,   a  legitimidade  de  liderança   tão  necessária  a uma   governo  que tenha   a aprovação,  a admiração  de seu  povo. 
   Chegou-e a um  ponto  de quase   completa clivagem   entre  o governo e a sociedade civil. Que não se perca de vista  que  um governo só se sustenta  democraticamente  quando   é   estimado  pelo seu  povo,  pelo  eleitorado,  pelos que   confiam  em seu presidente e na sua  palavra  empenhada. Logo que  essas condições  se perdem e   se exaurem   pela  má administração  e sobretudo  pelos seus desmandos,  cessam  os motivos  de sua  razão de ser.

    O presidente  que  cair   no ridículo   e na repulsa  de seu  povo, deixa de existir como  realidade simbólica e efetiva de seu  cargo, pois passará a governar quase  solitário como um exilado  de si mesmo, sem  a vontade  da cidadania. Vira uma  figura  quase decorativa no  pior sentido, visto que  não é amado  pela sociedade que passa a ver  na função  presidencial  o vazio  de sentido,  de ideais,  de  esperanças.
     Perdeu-se na presidente  atual qualquer  resquício  de uma  força aglutinadora  da esperança  e  da  aceitação, do respeito  pessoal, da  boa  imagem   pública tão necessária  aos que governam.Tudo isso  não se compra,  mas é fruto da conquista  de  um mandatário, de sua  conduta, dos seus atos,  do seu passado,  da sua história  de vida. Assim que todas essa qualidades  se desfazem diante da visão do   eleitor, é porque algo  se fez erradamente em termos  de governança.
      Não existe pior coisa  na vida de um  governante  como a perda  da pureza  e da moralidade.   Ao governante só resta   a certeza de que  não  governou – como era de se esperar -  com  o consenso   natural  dos cidadãos brasileiros. Esse foi  o seu pecado  capital.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Crimes horrendos no Brasil: algumas sugestões às autoridades





                                                Cunha  e Silva Filho


       Sei que os brasileiros em geral  não  gostam  de  voltar-se  para ver os defeitos do país, principalmente  se estes  dizem respeito  a crimes,  violências   e assemelhados.  Preferem  não ler  as colunas de jornais  que se ocupam  destas desgraças. Ora,  isso é um comportamento  errado ou uma demonstração  de   alienação   de nossa   crua  realidade. Por outro lado,  se se trata de estar a par  dos dias de jogos  de futebol,  dos campeonatos,  de  acompanhar  seus times  favoritos, ou ainda  de  focarem sua atenção em outras futilidades, aí sim, mostram toda a sua pujança e sua atenção.
       Um povo  apático aos interesses  do desenvolvimento  de seu país será  um  povo sem  perspectivas, nem direção  nem metas e nem  tampouco esperança.  Enfatizo que o desinteresse  pelos crimes que assolam  o  Brasil  é um desserviço  de seus   cidadãos  à sua  própria   nação. Ao se  comportar assim,  o  povo brasileiro  tem dado as costas  ao mais alto  índice  de criminalidade   entre nós.
       Tenho há  tempos acompanhado ( e escrevendo) com  o maior  interesse  o tema da violência  no  Brasil e constato  que, se nossos  governantes  e nosso  sistema  judiciário  não  despertarem  para  a gravidade desse problema,   em pouco tempo  seremos   todos  reféns  da brutalidade  de facínoras  espalhados  sobretudo  nas comunidades   pobres do Rio de Janeiro,  de São Paulo,  de outras capitais  e até cidades  do interior. Em todos essas regiões desse  país-continental a sociedade  será, em conjunto, vitimada   pela barbárie  sem  mais controle dos  poderes  públicos, o que, de certa maneira,  configura  uma  forma   vigente de terrorismo urbano.
        Neste impasse sem precedente,  cumpre alterar até as funções essenciais   atribuídas  às Forças Armadas, as quais   foram  criadas  para  darem   segurança ao Estado Brasileiro, ou defenderem  o país     em tempo de guerra ou de invasão   de países inimigos. É preciso que elas se atualizem para o enfrentamento da situação caótica em  que se está transformando,  por exemplo, a cidade do Rio de Janeiro, na qual  celerados não mais  temem  o confronto com os órgãos de segurança, i.e., não mais  respeitam  os poderes de segurança  pública. Enfrentam  nossos  tropas policiais de igual  para igual e ,  por vezes, até  com alguma  superioridade   bélica e ousadia sem tamanho, pois essa bandidagem manda e desmanda  em espaços  de comunidade,  determinando  fechamento de escolas,   do comércio  e  instalando  o  terror   pelo silêncio e pavor  dos  habitantes   desses locais. 
        Quer dizer,  é uma estrutura  criminosa   impondo suas leis  próprias   e o seu  domínio da força, da covardia,   da ameaça, do mandonismo  e, sobretudo,  mantendo o tráfico de drogas acumpliciado com  os usuários  da sociedade.  Seria  um a espécie de "governo"  paralelo, numa "cidade partida," um verdadeiro "apartheid" de comunidades  sob o tacão  das armas de  chefes todo-poderosos. Um estado de desagregação  desses  é uma vergonha  para  os poderes constituídos  que parecem   anestesiados   ante essa realidade   sangrenta  e  desafiadora  das leis do Estado. Como este país   fica diante  das nações   civilizadas? Sobretudo agora  que  nos fizeram  sede das  Olimpíadas tão próximas de nós, que imagem  pode de bom  oferecer o país aos atletas  e turistas  nacionais e estrangeiros que  estarão  em nosso solo pátrio? 
      O  caos  instalado em  numerosas  favelas cariocas, pela ousadia com que se manifestam  facções  de bandidos  do tráfico equipados  com armamento  pesado, mais se aproxima  de um estado de   guerrilhas urbana   ou  de  terrorismo  da violência  tão assustador  que se faz  necessária e urgente  a participação constante e por  um  período  prolongado das Forças   Armadas.
       Não estou  exagerando no que  exponho. Basta ter olhos para  ver os depoimentos de entrevistados nas telas de tevês  que tiveram seus entes queridos,  parentes, amigos e conhecidos  vítimas  fatais  de  crimes  horripilantes (esquartejamentos,  decapitações,  corpos queimados,   pedaços  de corpos   de vítimas  de monstros, escondidos  em malas  para serem   enterrados  em algum  lugar  ermo. 
       Toda essas cenas  no seio da  vida social  brasileira,  que antes apenas  eram  matéria da ficção ou de filmes de terror. são do conhecimento dos  órgãos de segurança e dos governantes  que, até agora,   não  priorizaram  o combate  continuado aos desmandos  de  bandoleiros,  psicopatas e    -  repito  -  bestas  que de humanas  só têm  a aparência  física. 
        Fundamento-me naquilo  que  vejo, leio e acompanho  com   a vontade de apenas    ajudar   ou suscitar  nas autoridades a devida atenção  a uma problema  dessa importância social  e mesmo de segurança  nacional, segundo  aludi acima.
         Se os pontos fracos  de nossos órgãos de segurança não forem aprimorados  com urgência, o país  não suportará  a pressão  dos homens do crime  contra a cidadania  brasileira.
   A  título de sugestões para  melhorar  a criminalidade  que  já atingiu  níveis insustentáveis no pais, sobretudo no eixo Rio-São Paulo, relaciono, entre outras,   as seguintes medidas de combate  à criminalidade brasileira, as quais  devem ser precedidas de um   completa  mudança  no sistema  educacional  brasileiro tendo como  meta  principal   investimentos maciços nessa área vital  a  uma  formação  de  indivíduos  dignos e cidadãos responsáveis e conscientes:

 1) Estancar as fontes  realimentadoras de armas de alta  potência, sobretudo nas fronteiras  do país e com rigorosa  vigilância das estradas brasileiras, de nossos   aeroportos  em voos domésticos e internacionais, de terminais rodoviários, além  da  fiscalização  dos embarques e desembarques de navios   estrangeiros em nosso  portos  e em  embarcações  fluviais  entre países  vizinhos.  Ao Exercito caberia desempenhar primordialmente  essas atribuições com competência e  logística, coadjuvados  pela Polícia Federal  e pelas polícias militares;

2) Endurecimento das leis  contra a criminalidade, implantando uma espécie de estado de sítio nos locais mais  perigosos  em que campeiam  o tráfico de drogas em sua dupla via: compra e vem da;
3) Melhorar  sensivelmente  o treinamento dos policiais  militares e civis tanto na  formação   intelectual quanto  na formação  técnica e de serviços de inteligência, ou seja,  escolhendo  os melhores   em todos os aspectos. Assim fazendo,   a sociedade passará   a  respeitar  e a admirar  o  papel  das instituições   de segurança  pública; 

4) Moralizar  a Polícia Militar em cada   estado  do país afastando  de suas tropas  os elementos  vinculados  a  grupos criminosos, quadrilhas,   facções, o mesmo   se fazendo com  a Polícia  Civil, afastando  das corporações  seus  elementos  vinculados a grupos de extermínio e de   acumpliciamento  com  o mundo do crime;.

5)Valorizar  a função  dos policiais militares  e  civis estimulando com  condecorações  e prêmios  aqueles que mais  se  distinguirem  por atos de bravura em defesa  da sociedade;

6) Implantar, ainda que  por período  determinado,  a instituição  da prisão perpétua para os crimes  reconhecidamente hediondos (latrocínios, estupros seguidos de  morte, esquartejamentos, decapitações) e eliminar  todos  os  artifícios  jurídicos que impliquem  em  progressão de pena,   melhoria de comportamento,    prisão em regime  semiaberto e outros privilégios que, na prática,  só têm  se   mostrado  inoperantes  e, ao contrário,  recrudescem a   violência,  uma vez que  grande parte de criminosos  que usufruem desses benefícios legais  não  retornam  às celas e  passam a ser foragidos voltando  a cometer crimes  ainda  mais  graves. A chamada ressocialização só vale para indivíduos  que já têm psicossocial predisposição  a melhoria  de comportamento;
7) Os responsáveis pela direção  de  segurança de presídios  devem equacionar estratégias de inibir  inteiramente  a entrada  de armas e de aparelhos celulares por parte de  presos  de alta   periculosidade e mesmo   de presos  em geral a fim de que se evite a comunicação com  criminosos  que  estão  fora   das prisões  e pertençam  a facções  sob o comando  dos chefes  encarcerados. A omissão das autoridades  competentes  numa situação  gravíssima como esta  só leva a sociedade a desacreditar  nas instituições de segurança   deste país.  

8) A descriminalização do uso das drogas, nas condições  da realidade  social   de nosso país  me parece algo  precipitada, pois sabemos o quanto  o uso das drogas  modificam  o comportamento   das pessoas e  só tendem a agravar   o relacionamento   humano  e  a sociedade em geral. O drogado  é  caso de saúde  mental e o seu  lugar  adequado  é a internação para tratamento. 



                                                               

domingo, 23 de agosto de 2015

Violência e paradoxo no governo de Barack Obama





                                                                          Cunha e Silva Filho



          Não posso esconder o fato de que vibrei com a vitória do presidente negro Barack Obama. Da mesma sorte,  louvei várias ações  boas durante  o seu primeiro e segundo mandatos, este ainda em andamento.
            Entretanto,  não tenho  visto da parte do seu governo   ações  mais destemidas  no tocante à questão da violência  policial   contra negros pobres americanos, logo no governo de um  presidente que ainda  é o  mandatário supremo  dos Estados Unidos,  ou seja,  alguém  com  todo o prestígio  e oportunidade  de  lutar bravamente contra  a discriminação racial  que ainda  se observa em solo norte-americano.
       Muitas cenas  que  vejo na televisão mostrando  a brutalidade de  policiais  brancos  contra  jovens  negros a ponto de o nível de agressividade  se tornar  homicídios praticados pelas próprias  forças de segurança, me  deixam  surpreso  e mesmo  indignado  com essa realidade  social ainda  vivida por  uma população  sem recurso   e  desprotegida.  
         Jamais imaginei    que no governo de Obama, a selvageria   contra os negros  pobres  viessem  a  atingir  essa proporções, tendo em vista  as conquistas  de alguns direitos   da  população negra a partir  dos  fulgurantes     pronunciamentos    de Martins  Luther  King em defesa  dos negro  americano, dando  seguimento histórico  a  ações concretas que  remontam  ao  grande  presidente Abraham  Lincoln.
          Não é possível que  o povo americano    se deixe levar por um estado  de apatia  ante  os horrores    da prepotência de policiais   que  já assassinaram   alguns jovens negros que nem  pertenciam   a grupos   criminosos, pois eram apenas  jovens e negros, com família  e vítimas  da cor da pele.
     O que ocorreu com  os jovem negro assassinado em Ferguson e com outros jovens  negros  de outras cidades  covardemente  baleados  por   supostos  homens da  lei, que usam  da arma de fogo para  fazerem  vítimas, muitas vezes,   por mero preconceito, quer de cor, quer pelas condições  sociais   dos  desfavorecidas. São atos de selvageria policiais  sem despreparo técnico e psicológico, falta de visão histórica, condicionantes muito  graves   num país  que se proclama  aos quatro cantos   do mundo como  defensor da democracia e dos direitos humanos, Tais ações homicidas  não são atos isolados, mas resultantes de um comportamento   de hostilidade  racial  que ainda teima  em  se manter ativa  em solo americano e em pleno século XXI.
     Contra   esses crimes  de militares,  é preciso  que  o  presidente   mostre a que veio  na questão  dos direitos humanos    da  população negra e  pobre  do país. Neste aspecto  a sociedade americana  se parece com  a do  Brasil,  país em que  os negros  miseráveis  e  moradores de favelas ainda  são vistos   como  cidadãos  de segunda classe e, portanto,   não  dignos  de um tratamento  igual  aos das classes mais   favorecidas.
   Obama ainda tem  tempo de  minimizar  todos esses estragos que só  podem  manchar  sua imagem de um  presidente, ou melhor, do primeiro  presidente negros  americano. Mais do que os seus  antecessores,  ele tem  ainda mais obrigação de coibir  duramente  os  diversos  crimes    contra  negros, sobretudo  jovens.
    O que a nobre Nação americana  , através de todos os meios legais , tem que fazer  e de forma  urgente  é  mudar   a mentalidade  preconceituosa de policiais  brancos  despreparados – tanto  quantos os do Brasil -   a exercer a função  de  defensor   da população,  seja branca,  seja  negra. Afinal,  todos são, por direito  e  por lei, cidadãos  americanos,  construtores  de uma  mesma sociedade  multicultural e multirracial, na qual  não há  mais  lugar  para   alimentar    preconceitos    de qualquer natureza  e que  firam  os  princípios democráticos.
   Urge,  pois, que  o presidente Obama, que tem feito, até agora,   um governo bem aberto  a melhorias   de condições  sociais   dos mais carentes e,  no  plano  externo,  já conseguiu  reatar   relações diplomáticas  com  Cuba, impensáveis em governos   passados,  volte   com  todo  o seu empenho de  estadista  a solucionar   esse cancro  que se  tem mostrado  resistente no seio da sociedade americana,  que é  estabelecer   uma política de segurança    voltada  à proteção  dos negros  e penalizando  quaisquer  policiais,  brancos ou negros,   que  ajam criminosamente    ao abordarem   jovens  ou  adultos  negros e pobres. Para isso, é necessário  que  o treinamento  de policiais   alterem   sua   mentalidade e sua visão   distorcida  em relação  aos negros.
   Enquanto   as autoridades americanas,  seja  da instituição   policial, seja  dos tribunais que jogam  crimes  de  policiais, não mandarem para a prisão   policiais  truculentos e  preconceituosos,  as manifestações  dos  negros  americanos   tomarão vulto e poderão  provocar   convulsão  social  no país,   o que redundará em desgaste   contínuo da imagem  dos Estados Unidos  como  um país  democráticos,  respeitador   de todos   os direitos  civis  de seu  povo. Que se não esqueçam   das lições  dos grande líder  Martin  Luther King, as quais devem  ser   retomadas com a seriedade que  os seus ensinamentos legaram  à sociedade  norte-americana. As lições daquele líder  inclusive serviriam  para ser   ensinadas  nos  treinamentos   da  polícia americana, assim como  pelos  juízes que  inocentam policiais brancos   que cometeram   homicídios   contra negros.
   O grande sonho de Luther King deve ser preservado, ou melhor dizendo,  deve ser imitado por todos os americanos   que amam  a liberdade de expressão  e os direitos  civis  inalienáveis e universais.Que não se olvidem esse pequeno trecho do discurso de Luther King:”Tenho um sonho no qual meus quatro  filhinhos, um dia,  viverão numa nação onde não serão julgados  pela cor  de sua pele, mas  pelo  conteúdo  de seu caráter.” (tradução  do colunista)

   Que os americanos de hoje  não  apaguem da memória do decreto da Proclamação da Emancipação de 1863, libertando os  escravos  da terra do  Tio Sam Que as palavras de Abe Lincoln não caiam no   esquecimento das novas  gerações.  Que  os exemplos  de  honradez de  George Washington,  de  Benjamin  Fanklin,  de  Thomas Jefferson,   de  Franklin Delano  Roosevelt  e de outros   insignes  americanos sejam  imitados na práxis  política por Obama e  outros  presidentes que   lhe sucederem. Não haverá  nação livre  e sadia sem  democracia  autêntica.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Os dois lados da comunicação atual





                Cunha e Silva Filho


              
            Poder-se-ia invocar  aqui  aquela frase da velha esfinge do  Egito: “Decifra-me ou devoro-te.” Quer dizer,  a frase é duríssima e põe diante de  nós duas  possibilidades, também  desafiadoras e  temerosas. Ou fazemos  de tudo para que  consigamos os nossos  objetivos na vida  cotidiana, ou  seremos  antropofagiados  pela  máquina  mortal  e  gélida que não se teme sobretudo dos que estão  com as forças debilitadas pelos anos  de sofrimento  e de ver tanta miséria num  planeta só.
          Há alguns dias li num jornal  uma  notícia  informando que  o  escritor  Umberto  Eco  havia  chamado  as redes  sociais de  “imbecilidades” dos tempos atuais. Não li  a reportagem referente ao que  proclamou  o  estudioso  da linguagem humana. Contudo,  , pensando mais detidamente  no que  afirmou o  autor italiano,  e amadurecendo sobre o assunto,   não  posso  concordar  completamente com ele.
        Nas redes sociais,  existem exageros e baboseiras,  ostentação,   inverdades   e oportunismos  para todos  os gostos. Essa seria a dimensão  negativa  e   maléfica, além ser nociva   a mentes que dirigem suas vidas  com  inteireza  e   vontade  de fazer o bem.
       Por outro lado,  não se pode  sonegar  o lado  bom  das redes sociais: os saudáveis contatos   que podemos manter com  amigos e conhecidos  que,  por um motivo ou outro,  não podemos   ter contato  direto,  pessoal, o que seria  a melhor   opção  no relacionamento   humano. Pessoas há que não utililizam, por exemplo, o Facebook porque nele veem um uso  subalterno,, inferior,  digno mais de   contato  para mexericos e fofocas  estéreis. Não seria bem visto pelos bem pensantes,  por uma  elite  intelectual. No entanto,  sem ser um   ardoroso   usuário do  Face,  tenho  olhos  para ver  que nele gente  de muito saber,  de  grande inteligência e conhecimento fazem hoje largo e utilíssimo  uso  desse espaço democrático  e  instantâneo no seu alcance universal.
     Só não percebe quem  de moto próprio deseja  se omitir   a essa realidade   comunicativa  dos tempos   nossos. É pena que, congregando  tanta gente,   tantos fatos,    tantas notícias,  tanto comentários   enriquecedores  de nosso    “horizonte de perspectiva,” em diversas áreas do saber  humano, da cultura  regional, aciona,   planetária,  desse “mundo, vasto  mundo,”  nos apequena  como    usuários   diante  do gigantismo  das redes sociais e, portanto, diante da impossibilidade  de  abarcarmos  todo  esse  incalculável repertório  da humanidade. Teríamos que ter  dias  maiores,   semanas maiores, mais anos  de  lucidez a fim de que  pudéssemos   dar conta   desse universo  infinito  de  trocas de ideias, de conhecimentos , de experiência ,  de múltiplas possibilidades de  acesso  a toda essa maravilha da tecnologia contemporânea.
   Mas nem tudo é céu,  paraíso, delícias  terrestres. Há um  componente,até diria,  diabólico,  que  nos pode  “devorar” nesta nova  realidade virtual  de   quebra de privacidade ou de desrespeito  às pessoas. Esse componente a que quero  me referir é justamente  o  uso  de dados virtuais  que, a qualquer momento,  podem  querer  infernizar  tranquilidade   dos indivíduos.  
    Veja um exemplo ao acaso: uma  firma  pode exorbitar dos seus deveres de tratamento  amistoso dispensado   a seus clientes que, por   descuido,  deixaram de pagar   tempos  atrás alguns boletos de uma dívida, não por culpa  do  usuário do “objeto comprado”  em forma de plano de saúde, ou seja,  do uso da medicina  mercantilizada.
    Aí, então, é que a tecnologia, no caso via telefone,   que é um instrumento  já bem antigo  de comunicação, entra em cena  para  fazer terrorismo com os seus clientes com ligações  insistentes  feitas de maneira   desonesta  e  aviltante,  que  é a de telefonar  para um cliente e, no instante em que este levanta  o aparelho  e diz “alô,” do outro lado da linha  fica  acintosamente  muda a pessoa que  discou  o nome do cliente. Isso é puro,  deslavado e   covarde   “terrorismo”   do uso da telecomunicação  de hoje. Que tratamento mais brutalizado é esse dado aos clientes,  exatamente   parte fundamental   dos ganhos  da empresa   sem  compostura   ao lidar com a sua clientela?
     O Ministério das Comunicações deveria  agora  se empenhar em  dar moldura jurídica  para  punir  duramente  esse tipo de “terrorismo” de comunicação  por telefone. A própria  Polícia Federal  seria um órgão bem  instrumentalizado  para dar suporte  a reclamações  desse nível   de ações criminosas que  só  estão    provocando    transtornos  aos clientes.
    Cumpre ao governo federal  estar atento  a esses atos  de “terrorismo” contra  o consumidor e procurar   dar  soluções   antes mesmo  que   o consumidor   constitua   um advogado  para   representar contra  uma empresa que se comporta  como   um  traficante do PCC. Ameaçar  o consumidor   com um comportamento   de natureza mafiosa é dar  atestado  de   incapacidade  de uma empresa  que aspire a prestar  serviços  à sociedade civil.
    Firmas que  empreguem   esses meios   escusos  deveriam  ter seus   alvarás   cassados  pelas autoridades  competentes.Esse recurso  violento contra  o consumidor é muito mais  prejudicial  do que  a afirmação de Umberto Eco   ao  definir  as redes sociais   como  “imbecilidades” dos tempos  que correm.
          


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Farra e gravidade na crise político--econômica do Brasil



                                   
                                             Cunha e Silva Filho

 
           Existem dois lados da situação da política brasileira, o da comédia e o da tragédia. Este último, diga-se assim, representa o imprevisível, o da iminência de uma reviravolta. Um e outro não aparecem na  clareza de que o povo necessita saber a fim de se posicionar politicamente ante os acontecimentos sombrios do gigantesco surrupio do Erário Público escandalosamente provocado pelas sucções contínuas via propinas do Mensalão e da Petrobrás  em conluio com os partidos aliados  ao governo federal e empreiteiras inescrupulosas. A meu ver, os responsáveis pela rapinagem, os dois lados, governo federal e iniciativa privada, merecem punição igual. Não há anjos e demônios, mas apenas demônios.
    A sequência de operações da Lava Jato tem o dever  patriótico de chegar ao poderoso chefão, doa a quem doer. O povo brasileiro, pelo menos os esclarecidos, já sabe quem  é o culpado, ou seja, onde está a raiz dos males da crise que atravessamos  e dela já sentimos os estragos.
   Na campanha da presidente Dilma, no seu último discurso, ela omitiu o que já sabia, quer dizer, Dilma não agiu corretamente  ao esconder a gravidade da situação financeira que, estrategicamente,  só foi revelada após estar segura de que  tinha  conquistado, a duras penas, um segundo mandato presidencial.
       A verdade oculta veio logo à tona com toda a força de sua  crueza e de seus desdobramentos nocivos à vida da  população brasileira. Todos os males da caixa de Pandora foram soltos e tomaram conta do Brasil  e, à semelhança da mulher de Epimeteu, no fundo da caixa ficara a esperança. Esse é  o lado trágico do atual governo onde reinam todos os males e no qual não há alguma perspectiva de esperança. Se não  se pode vislumbrar alguma nesga de esperança, é porque se está atingindo o fundo do poço.
    O lado cômico é simbolizado pelos desentendimentos e fraturas dos que apoiam o governo e dos seus opositores, nos quais a população também não confia. O impasse se instalou entre os congressistas e o Executivo, ainda mais agravado agora que  o PDT e o PTB já estão dando as costas ao governo. A presidente está  numa sinuca de bico.
     Assim, balançando entre a comédia e a tragédia, vive o Palácio do Planalto. E o pior, o país já em plena crise financeira. Com suas ações impopulares nada na praia perdido com  a possibilidade de não ver o seu propalado  ajuste fiscal ser votado pelos congressistas que,  se depender da parte dos partidos da oposição, não vingará. E, no caso de ser aprovado, trará no seu bojo    todas as suas insidiosas sequelas:  recessão, juros estratosféricos, desemprego e todo o conjunto de mazelas daí surgidas violência em altíssimo grau, impunidade,  greves  pipocando nas universidades  públicas e outros graves problemas que atravessamos impotentes  e sofridos.
   O governo do PT perdeu toda a sua  confiabilidade no meio do povo. O ex-presidente, nem com todos os seus títulos de doutor honoris causa outorgados por universidades no exterior conseguidos no auge da sua popularidade, também caiu em desgraça em virtude do apoio que deu ao José Dirceu agora novamente encalacrado  em decorrência de novas denúncias de ligações  dele com empreiteiros que, agora, se encontram na condição de réus.
   Dois questionamentos somos obrigados a fazer diante da gravidade da situação política: a) quem é o responsável primeiro por todas essas mazelas atuais?; b) por que a Polícia Federal não rastreou o responsável maior pelo desencadeamento de todos os esquemas de organização de ações delituosas envolvendo o emprego de propinas no jogo tácito entre políticos corruptores e  e empresários corrompidos? Ou vice-versa.
   Se a mídia tem sugerido nomes a quem se possa atribuir responsabilidades pelos desvios dé dinheiro, por que razões as investigações não chegaram ao comando geral da roubalheira que é, em última análise, o seu ponto de partida?
  A quem interessa proteger os verdadeiros  culpados pelos rombos financeiros e causa primeiraa crise econômica brasileira nos últimos anos?  A Polícia Federal,  com todo o peso de sua responsabilidade e de sua alta missão em prol de um país livre de bandidos de colarinho branco, não pode deixar de ir a fundo em busca dos elementos-chave de todos os crimes cometidos contra  o povo brasileiro. É esta resposta que a sociedade está há tempos esperando das investigações sob o comando do intrépido juiz Sergio Moura.

                                                                                               

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Carta a um aniversariante ilustre: Cunha e Silva (1905-1990)





                    Rio de Janeiro,  03 de agosto de 2015


        Querido pai:

           
           Antes de tudo,  me permita  por esta  relembrá-lo de que hoje é a data do  seu 110º aniversário de nascimento.O Sr. não  a esqueceu, sim? Espero que não e sei que outros familiares já manifestaram no Face  que hoje é dia  diferente,  dia de festejá-lo ainda que  pela dimensão  do espírito, a qual  -  seja dita  essa verdade -,  ao fim e ao cabo,  é o que vai  mais importar  entre a terra e o céu.
        Tendo  passado alguns meses fortemente concentrado na esfera das minhas  memórias,  e tendo  terminado  um novo  livro, Apenas memórias,  já pode  verificar que  a sua presença   encantadora, em várias passagens  da obra,  tem lugar  sobranceiro por muitos motivos,  principalmente pelo amor  que sempre   manifestei  por sua  pessoa. 
         Fomos dois  grandes amigos, na inocência de dois anos em Amarante, na adolescência  durante quinze anos em Teresina e, através de  uma  longa correspondência de mais de duas décadas, com  algumas poucas   visitas minhas  a Teresina e duas visitas suas  ao Rio.
           Quis,  contudo, o destino  que vivêssemos  separados pela distância  entre o Rio – cidade que tanto  amou e nela permaneceu estudando  por seis anos  -  e Teresina. O único  consolo  foi  a nossa  longa correspondência por escrito com tantas  cartas, mais suas do que as minhas,  trocando   carinhos,  elogios,  contando  os sucessos seus e  eu relatando os meus, numa amizade  que  crescia com o passar dos anos  e com a chegada da minha  mocidade  que o Sr. conheceu  em  boa parte,  não o suficiente para   ver meus  maiores sonhos   realizados. Pelo menos   um dos desejos que almejava para seu filho  -  fazer o mestrado  - se concretizou
         “Filho, quando vais fazer o mestrado, quero  te ver  professor universitário.” Não sabia, meu pai, que só  um ano depois, em 1991,  ingressaria eu  no mestrado.
         A dor  maior  por mim sentida foi  me ter deixado na conturbada   Terra sem que lhe pudesse dar o último   beijo na testa amada e envelhecida  à altura dos seus oitenta e cinco  anos,  o último abraço forte,   o último aperto  de mãos -  apertar aquelas mãos   lindas que  tinha, as mais lindas de Amarante, enfim,   o último   olhar     pedindo a Deus que o Sr.   não me deixasse só, no estado de abandono  e solidão   absoluta e inconsolada.
         Mas, nesta carta agora,  pai,  há outras coisas que,  bem sei,  foi bom que não  presenciasse e delas não participasse como  jornalista combatente e intrépido.Ainda bem que a sua saída da cena da vida brasileira o poupou de assistir a tantos  dissabores da política brasileira, sobretudo  dos mais  escandalosos acontecimentos  do baixo clero  da  politicagem que o país tem vivido no domínio  petista. 
        Certeza tenho  de que  não ia  aguentar calado  à derrocada ética e à patuscada  preparada  nos circos mambembes  que se instalaram  nos centros do poder, lá em Brasília. Bem fez a Providência  que o livrou  de  tanta podridão disseminada  pelos quatro cantos do país manifestada  em  várias   formas: impunidade,  violência  gigantesca  e sem perspectiva de solução,  delinquência juvenil sem  redução de maioridade pelo menos  por  tempo  determinado, economia   escangalhada  por culpa  da roubalheira  do desvio do dinheiro  público, volta da inflação ( com aumentos  escorchantes dos preços dos remédios,  da alimentação,  das tarifas gerais),  cujos efeitos  deletérios já se fazem sentir nas camadas baixas e médias da sociedade, juros altos  determinados  pelo  governo  federal, onda de     desemprego, fechamento  de lojas  por falta   de compradores, em suma, sinais de recessão.
        Veja o exemplo, no Rio de Janeiro, de velhas lojas da Rua da Carioca fechando as portas.Veja a  política de ajuste fiscal    com mão de ferro a fim de  tapar  os buracos   da arrecadação  em declínio e, por tabela,  para  cobrir, com  o sacrifício  forçado  do contribuinte,  os rombos  das estatais  das quais  saíram  as milionárias  propinas  para encherem  os bolsos  ou as contas  milionárias  de partidos que apoiam   o governo federal     e políticos  corruptos.
        O Sr, meu pai,  que passou  por prisão  durante a ditadura  Vargas,  por  longos anos   de  ditadura militar-civil, por períodos de normalidade  democrática, não alcançou os dias mais perversos  da ditadura  econômica,  dos escândalos do Mensalão, dos assaltos  à Petrobrás   e da mais  deplorável   situação de decadência ética da vida  pública brasileira.  
       Jamais, meu pai, iria  imaginar que pudéssemos   chegar a este ponto em que nos encontramos, não por nossa  causa, mas  por culpa da   imoralidade de práticas  atuais de   nossa política, as quais   definem os modos de governança  feitos à base de barganhas mútuas entre o governo federal  e os partidos sem princípios democráticos firmes.
        Se o Sr. se encontrasse ainda entre nós,  teria, assim,  que redobrar  e retemperar  a sua retórica de jornalista desassombrado, cuja trajetória  esteve  quase sempre na oposição e, portanto,  foi vítima no seu tempo  de  perseguições ao ponto de ser demitido  de um  famoso colégio  público em Teresina  por um  governador  do Piauí a  quem  combatia com muita coragem os erros e injustiças de administração.Com muitos filhos para criar, sofreu aflições  e privações e, se não fossem uns poucos amigos, as atribulações seriam  ainda piores. Com ânimo forte,  aguentou todos  os percalços e  infâmias  dos governantes desafetos.
      O Sr., meu pai, grande e bravo  jornalista, segundo A. Tito Filho (1924-1992), outro ilustre jornalista e intelectual  do Piauí,   nunca “baixou o topete” diante dos poderosos,  e,  na história do jornalismo  piauiense,    provavelmente tenha  sido  o jornalista  mais  prolífico do seu estado natal.
    Sendo um jornalista  que sempre  escreveu  freneticamente  à mão (sem nem mesmo   ter aderido à máquina de escrever) e ao correr da  pena, não pôde  alcançar a era do computador, da internet,  dessa maravilhosa e gigantesca    enciclopédia  virtual de âmbito universal, que é o Google,  das celulares, do tablets, dos e-books.
    Porém,  estou certo de que  essas conquistas  do mundo eletrônico  teriam a sua aprovação,  pois sempre foi  um homem que tanto  amava as humanidades quanto  as ciências, como é prova  o   belo discurso de posse, na Academia Piauiense de Letras, da cadeira  nº 8 que,  pelo seu talento e suas qualidades de  intelectual,  soube  conquistar e  tão bem  dignificar  como  escritor.
   Aceite, meu querido pai, os cumprimentos   pelo seu  110º aniversário de  nascimento.
       Com as saudades do filho



                              Cunha e Silva  Filho