sábado, 28 de dezembro de 2019

O FICCIONISTA JOSÉ RIBAMAR GARCIA: NOVO LIVRO


                                                                                                       Cunha e Silva Filho


         Talvez por ser um escritor que se divide em duas atividades, a de advogado trabalhista bem-sucedido e a de ficcionista, se explique a sua produção relativamente pequena. Do pouco que lhe sobra da intensa vida de advogado, penso que fez muito com tão pouco tempo para escrever. Contudo, Garcia é daqueles escritores que sacrificam, muitas vezes, seu lazer em proveito de intenso interesse pela sua produção literária e contínuo e criterioso aperfeiçoamento de sua técnica narrativa.

       Leitor voraz de obras literárias nos vários gêneros, estudioso dos temas brasileiros, homem calejado nos vários desafios enfrentados com destemor e paciência, Garcia tem, diante de si, essa gama de vivências e de conhecimento dos homens e da sociedade nos seus mais complexos meandros, mistérios e sortilégios.

      Sua literatura representa uma maneira de radiografar as ações, conflitos, alegrias, carências, ilusões e desilusões dos sentimentos do brasileiro, sobretudo das camadas menos favorecidas, traço forte de uma visão de autor que se pode encontrar em outros autores brasileiros do passado e do presente.
       O ficcionista nunca perdeu o contato com a sua terra natal nem o amor entranhado pela sua gleba. Não perdia a oportunidade para, com alguma frequência, viajar a Teresina e lá passar alguns dias ocupado com a sua vida literária, sua convivência com intelectuais da terra e com a divulgação de sua obra. Ora, como resultado de suas atividades literárias, com o conceito crescente que ia se consolidando junto à comunidade literária do Piauí, foi eleito para uma cadeira da Academia Piauiense de e Letras. Hoje, sua obra se espalhou por grande parte do país.


(Republicada com ligeiras modificações)


NOTA IMPORTANTE:

        Ao texto acima, escrito faz alguns anos, desejaria informar aos leitores que Jose Ribamar Garcia não mais pode ser chamado de um autor de obra pequena, pois, sempre ativo na produção literária, conseguiu mais renome e hoje conta com 13 obras ficcionais, a ultima das quais ainda será lançada brevemente que tem por título O relógio do Comandante - crônicas.( Rio de Janeiro: Litteris Editora, 2019, 127 p.).
       Além dessas obras no campo ficcional, escreveu um livro de sua especialidade advocatícia: Crise da Justiça e do Direito do Trabalho – ensaios.(Rio e Janeiro: LTR, 2001).
Em 2017, organizei, com uma Introdução aos contos reunidos dando uma panorâmica das obras do autor  até então publicadas, o livro Contos selecionados de José Ribamar Garcia.(Rio de Janeiro: Litteris Editora, 2017, 213 p.)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

MENSAGEM PARA ISABELLA BASTOS DA CUNHA E SILVA: MINHA NETA


         HOJE É UM DIA FESTIVO, DE COMEMORAÇÃO, UM DIA EM QUE MINHA NETINHA ISABELLA CONCLUI COM BRILHO DE ALUNA EXEMPLAR, O SEU ENSINO MÉDIO NO RESPEITADO COLÉGIO MILITAR DE CURITIBA. ISABELA NASCEU NA CIDADE MARAVILHOSA. PORTANTO, É CARIOCA, COMO OS SEUS PAIS, MARISA BASTOS E FRANCISCO NETO, RESIDENTES NESTA CIDADE, A BELA CURITIBA DAS ARAUCÁRIAS. ISABELA TEM UMA IRMÃZINHA, AMANDA, QUE É CURITIBANA E É TAMBÉM ALUNA DO MENCIONADO COLÉGIO. TODO MUNDO SABE QUE, PARA INGRESSAR NO COLÉGIO MILITAR, INSTITUIÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO, NÃO É UMA CONQUISTA FÁCIL. O EXAME DE SELEÇÃO É RIGOROSO E O CANDIDATO TEM QUE MOSTRAR PREPARO E COMPETÊNCIA COMPLETA MAIS UMA ETAPA DE GRANDE RELEVÂNCIA DOS SEUS ESTUDOS, QUE É O ENSINO MÉDIO ORA REALIZANDO A SUA FORMATURA.

      ISABELLA QUERIA PORQUE QUERIA ESTUDAR NESSA ESCOLA DE ALTA QUALIDADE ENTRE AS ESCOLAS FEDERAIS BRASILEIRAS. QUERER É PODER E, POR CONSEGUINTE, A MINHA BELA NETINHA TORNOU REALIDADE AQUELE “QUERER! ALMEJADO, AQUELE DESEJO COLIMADO DE SUA VONTADE DE SER ALUNA DESSE CONSAGRADO EDUCANDÁRIO, CUJA SEDE, PODERIA DIZER MELHOR, ESTÁ NO RIO DE JANEIRO HÁ MAIS DE UM SÉCULO. COLÉGIO PRESTIGIADO JUNTO À SOCIEDADE POR TER UM QUADRO DE PROFESSORES SELECIONADOS ATRAVÉS DE CONCURSO PÚBLICO TAMBÉM RIGOROSO DE PROVAS E TÍTULOS. SEU CORPO DOCENTE É CONSTITUÍDO DE MESTRES COM LARGO TIROCÍNIO PARA OS EMBATES DA EDUCAÇÃO DE ALTA QUALIDADE. EU, SEU AVÔ, SEI DO QUE AFIRMO PORQUE FUI PROFESSOR TITULAR DE LÍNGUA INGLESA NO COLÉGIO MILITAR DO RIO DE JANEIRO, HOJE, APOSENTADO.
MAS VOLTEMOS À PERSONAGEM CENTRAL AQUI NESTE MOMENTO, QUE A FORMANDA ISABELLA. ESTA VITÓRIA É SUA, ISABELA, CONQUISTADA COM ESMERO, DEDICAÇÃO E TALENTO. A SUA ETAPA ORA CONCLUÍDA, É TAMBÉM A VITÓRIA DE SEUS PAIS, OS QUAIS TUDO FIZERAM AO SEU ALCANCE A FIM DE QUE VOCÊ ESTIVESSE HOJE NESTA FORMATURA. O ENSINO MÉDIO BEM FEITO, COMO É NO COLÉGIO MILITAR DE CURITIBA, É A PORTA DE ACESSO À UNIVERSIDADE.

      VOCÊ JÁ SE ENCONTRA NESSA FASE DE DECIDIR QUE CARREIRA LHE SERÁ MELHOR E DE ACORDO COM AS INCLINAÇÕES. SEI QUE É UMA TAREFA ÁRDUA ESSA ESCOLHA DE UMA CARREIRA QUE LHE SERÁ DECISIVA NA SUA FUTURA VIDA E PROFISSIONAL. O INGRESSO NO ENSINO UNIVERSITÁRIO SE CARACTERIZA POR UMA ELEVADA COMPETITIVIDADE QUE CHEGA A ASSUSTAR OS CANDIDATOS. NO ENTANTO, VOCÊ TEM TUDO PARA CONSEGUIR SEU OBJETIVO VISADO E FAÇO VOTOS QUE LOGO O ATINGIRÁ E COM SUCESSO. O TERCEIRO GRAU, O ENSINO SUPERIOR, É A ETAPA MAIS PESADA AO EDUCANDO. OS ESTUDOS SÃO MAIS INTENSOS E COMPLEXOS. EXIGEM GRANDE DEDICAÇÃO, RESPONSABILIDADE, DISCIPLINA NO ESTUDAR, MÉTODO DE ESTUDAR E DESEJO DE CHEGAR AO FINAL DA GRADUAÇÃO. A UNIVERSIDADE, EU DISSE ALHURES, É VIDA. O ENSINO MÉDIO É PREPARAÇÃO TANTO AOS ESTUDOS UNIVERSITÁRIOS QUANTO É O ENSINO MÉDIO PARA QUEM NÃO ASPIRA AO ENSINO SUPERIOR. NEM TODOS TÊM OS REQUISITOS MÍNIMOS AO ENSINO NA UNIVERSIDADE. NEM TODOS ALMEJAM UM CURSO SUPERIOR. NÃO SÃO FELIZES APENAS OS QUE TÊM DIPLOMA DE GRADUAÇÃO. OS PROFISSIONAIS ORIUNDOS DO ENSINO MÉDIO PODEM IGUALMENTE SER VENCEDORES E FELIZES.

  QUERIDA E AMADA ISABELLA, OU ISA, COMO OS MAIS ÍNTIMOS CARINHOSAMENTE A CHAMAM, V, ESTA´, POIS, DE PARABÉNS. JÁ CONQUISTOU O ENSINO FUNDAMENTAL E, AGORA, O ENSINO MÉDIO. É HORA DE CONGRATULAÇÕES E DE MUITO CONGRAÇAMENTO, ALEGRIA, FELICIDADE, SUCESSO, ENFIM, HOJE É SEU ADEUS AO QUERIDO COLÉGIO MILITAR, SUA DESPEDIDA EM RELAÇÃO AOS COLEGAS, FUNCIONÁRIOS, INSPETORES DE TURMA, SEUS ESTIMADOS PROFESSORES. HOJE É UM DIA SOLENE, DE PAIS E MÃES EMOCIONADOS COM O SUCESSO DE SEUS FILHOS.COMO LEMBRANÇAS LEVARÁ V. , ISABELLA, OS ALAMARES CONSEGUIDOS EM RAZÃO DOS SEUS ESTUDOS COM AFINCO, CONTÍNUOS E PROVEITOSOS PARA O RESTO DA VIDA.

    HOJE VOCÊ E SEUS COLEGAS SE TORNARAM EX-ALUNOS. COMO GRATAS REMINISCÊNCIAS FICAM O PÁTIO DO COLÉGIO, AS FORMATURAS, AS SALAS DE AULA, OS ALAMARES CONQUISTADOS, AS PATENTES CONSEGUIDAS POR SUA INTELIGÊNCIA. DEVOTAMENTO AOS ESTUDOS E DISCIPLINA, AS FESTAS DO CALENDÁRIO ESCOLAR, AS SOLENIDADES, AS ÁLACRES CONVERSAS JUVENIS ENTRE VOCÊ E SEUS COLEGUINHAS QUE A ACOMPANHARAM ATÉ ESTE FINAL GLORIOSO. QUE SEU DIPLOMA SEJA ABENÇOADO. ELE TEM PESO LÁ FORA. SER EX-ALUNO OU ALUNA DO COLÉGIO MILITAR DE CURITIBA OU DOS DEMEAIS ESPALHADOS PELO PAÍS, É UMA HONRARIA, UM PRÊMIO. UM GALARDÃO, UMA REFERÊNCIA. MERECE ELOGIOS. GRAÇAS AO ALTO CONCEITO QUE TEM ESTE COLÉGIO DIANTE DA SOCIEDADE BRASILEIRA.

   PARA VOCÊ, MINHA NETA QUERIDA, OS LOUVORES E O ORGULHO DE SEU AVÔ E DE SUA AVÓ PATERNOS, OS QUAIS GOSTARIAM DE TER, SE ASSIM PUDESSEM, A IMENSA ALEGRIA DE, PESSOALMENTE, CUMPRIMENTÁ-LA EM OCASIÃO TÃO SIGNIFICATIVA E MEMORÁVEL DE SUA VIDA DE EDUCANDA. EMOCIONADOS COM LÁGRIMAS DE FELICIDADE E CONTENTES COM A SUA COLAÇÃO DE GRAU ESTÃO SEUS AMADOS PAIS, FRANCISCO NETO E MARISA, SUA AVÓ MATERNA, SEUS FAMILIARES TODOS.

  AO CONCLUIR ESTA BREVE ALOCUÇÃO, MAIS UMA VEZ, LHE DESEJO, DO FUNDO DO CORAÇÃO, MAIS VITÓRIAS NA SUA VIDA, NA UNIVERSIDADE, NA VIDA PROFISSIONAL FUTURA, NA SUA VIDA PESSOAL E FAMILIAR. PARABÉNS, MINHA LINDA NETA ISABELLA. RECEBA O MEU ABRAÇO CARINHOSO E O DE SUA AVÓ ELZA, DO SEU TIO ALEXANDRE. VIVA A MINHA NETA ISABELLA!

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Mensagem ao 2º Salão do Livro de Amarante (SALIAMAR) a ser realizado de 28 a 30 de novembro de 2019 e a minha homenagem a Cunha e Silva, meu pai (1905-1990) Em 29 de November de 2019






Meus estimados amigos e conterrâneos de Amarante:
   

      Antes de tudo, gostaria de agradecer, “ab imo pectore, ” ao grupo de organizadores do Salão do Livro de Amarante pelo honrosa escolha de, nesta edição, escolher, como um dos homenageados ilustres, a figura de meu saudoso pai, o professor, jornalista, ficcionista (no gênero da novela e do conto), memorialista, crítico bissexto e, finalmente, poeta dedicando-se, a partir dos 60 anos, a esta forma de poema fixo chamada soneto, modalidade de poema praticada até hoje pelos maiores poetas ocidentais. Os demais escritores homenageados nesse Evento foram Da Costa e Silva, Clóvis Moura e, Nasi Castro Para o Evento foram convidados os ilustres escritores piauienses , membros da Academia Piauiense de Letras (APL), Elmar Carvalho, poeta, ficcionista, memorialista e ensaísta, e Reginaldo Miranda, historiador e pesquisador piauiense.
     Cunha e Silva, de quem herdei, com muito orgulho, o mesmo nome e a quem prestei tributo dando igualmente a meu filho mais velho o mesmo nome, nasceu em Amarante, Piauí a 03 de agosto de 1905. Nessa cidade de poetas que também se orna com a antonomásia de “Atenas Piauiense” em razão de, neste torrão natal, ter aqui nascido um bom número de figuras proeminentes nos campos da literatura, sobretudo de poetas celebrados, alguns até nacionalmente, como o nosso poeta maior piauiense, Da Costa e Silva e de outras áreas da vida pública, como governadores, deputados, juristas, prefeitos, vereadores, professores, historiadores, senadores, cientistas, escultores, pintores, entre outras atividades que exigem talento e vocação.
     Maior honraria não poderia acontecer a meu pai como esta da qual me muitíssimo me orgulho como filho deste berço e como filho do ilustre amarantino. Meu amado pai, Cunha e Silva, certamente do céu de Amarante “...se há um céu sobre a terra...”, aqui me utilizando do famoso soneto “Amarante, incluído numa das obras poéticas dacostianas, o criativo e festejado livro Zodíaco (1917).
Para mim, a grande contribuição de meu pai, no tocante à vida educacional de Amarante, foi ele haver fundado, em 1932, o famosíssimo Ateneu Rui Barbosa, nesta terra querida e sempre louvada em prosa e verso, no qual, sozinho, lecionou até 1947, quando se estabelece em Teresina como professor no Liceu Piauiense e, mais tarde, no também famoso Ginásio “Des. Antônio Costa,” dirigido pelos irmãos Magalhães, Professor Melo Magalhães e Professor Domício Melo Magalhães.
A permanência de meu pai como proprietário do Atenu Rui Barbosa foi um epoch making. Era um “ professor nato,” como se autodefiniu numa grande e longa entrevista, concedida à Revista Educação, Hoje. (Teresina:Secretaria de Educação do Estado do Piau, Ano III– Nº 6 –revista trimestral, 15/10/198, p.17-22), Essa entrevista é fonte indispensável para entender o seu papel de eminente educador tanto em Amarante quanto em Teresina.
    Orgulhava-se de seu Ateneu e afirmava que tinha tido sorte, pois dessa escola foi professor de futuras ilustres figuras da vida nacional, como Francelino Pereira, Eduardo Neiva, Dirceu Arcoverde, entre outros ex-alunos e nas diversas áreas do conhecimento humano. Na sua atividade docente em Teresina, prestou um memorável concurso público para professor catedrático de Historia do Brasil da Escola Normal Antonino Freire. Estava eu ali presente na década de 50 do século passado e assisti, bem menino e embevecido, à sua defesa oral. Foi aprovado com brilho. Meu pai, não sei por que razão, sempre me levava a ocasiões importantes de sua vida pública, como foi a sua posse como diretor do renomado Liceu Piauiense, realizada no Palácio de Karnak.
   O seu discurso de posse do cargo de diretor do Liceu foi, como sempre, eloquente, porquanto era um orador de peso e de improviso desde os tempos de Amarante, onde o consideravam o orador de eventos sociais e culturais.
   Cunha e Silva teve um educação esmerada, primeiro em escola de Teresina, depois, no Rio de Janeiro, cidade que tanto admirava, no Colégio Salesiano “Santa Rosa,” em Niterói. Finalmente, do Salesiano de Niterói foi para o Seminário de Lavrinhas, em São Paulo, da mesma ordem religiosa, onde foi concluir o noviciado para, em seguida, estudar em Turim, Itália. Desistiu da carreira eclesiástica. Voltou ao Rio e, finalmente, para Amarante – ponto de partida para a docência, primeiro como professor do Ginásio Amarantino, cujo diretor era o ilustre futuro renomado historiador Odilon Nunes e, mais tarde, como fundador e professor do Ateneu Rui Barbosa. Nesse tempo, já dava os primeiros passos vitoriosos no campo do jornalismo, onde, em Teresina, iria dar continuidade à carreira de professor e jornalista. Jornalista intrépido, independente, combativo em artigos assinados e em artigos de fundo.
    Não quero cansar esta seleta assistência com uma Mensagem mais prolongada. Entretanto, desejo apenas assinalar um campo de sua atividade intelectual, no qual Cunha e Silva alcançou o merecido sucesso: o jornalista político doutrinário, segundo o definiu o ilustre jurista piauiense Cláudio Pacheco, Professor-assistente do historiador Pedro Calmon na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, depois, denominada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
     Era um vocacionado para a escrita em jornais revistas piauienses e bem assim para um jornal de São Luís, O imparcial e uns poucos artigos para o jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro Seus primeiros artigos datam de 1928, escrevendo para o jornal O Floriano, da cidade do mesmo nome. No jornalismo, Cunha e Silva também se destaca na sua veia crítico-satírica. Era um polemista indiscutível, um demolidor como foi exemplo a sua breve e famosa polêmica com um dos mais eminentes intelectuais piauienses de todos os tempos, A. Tito Filho.
      Estimados conterrâneos, esta homenagem dirigida ao meu pai muito regozija o meu mundo interior povoado fartamente de memórias felizes ou tristes, cuja origem vem da minha forte inclinação ao sentimento da saudade, razão pela qual escrevi o meu mais recente livro, Apenas memórias (2016), um livro de reminiscências que vão de Amarante a Teresina e desta ao Rio de Janeiro, onde resido há longos anos. Pois bem, meu pai, é figura bem presente naquele livro e aparece em vários passos da obra.
      Para concluir essa Mensagem, diria que meu pai atingiu mais notoriedade dos piauienses quando passou a produzir no campo literário e ensaístico. Daí resultaram as seguintes obras legadas à inteligência piauiense: A república dos mendigos (Rio de Janeiro: Gráfica Editora Ltda, 1984), com apresentação e orelhas da minha autoria.; Copa e cozinha, sátira política, misto de ensaio político e memorialismo ( Teresina: Academia Piauiense de Letras/ Projeto Petrônio Portella,1988, que teria o prefácio de Tristão de Athayde (Alceu Amoroso Lima), porém, por uma razão ou outra, não se concretizou, embora o grande crítico e pensador católico carioca me tivesse prometido; Gatos de Palácio (s.d), cujos originais se perderam na voragem do tempo. Trata-se de uma corrosiva sátira sobre a vida política piauiense; A odisseia do cativeiro do Brasil ( Tese, 1952); O papel de Floriano Peixoto na obra da proclamação e consolidação da República (Tese, 1957).
      Cunha e Silva, por sua incomensurável contribuição à imprensa do Piauí (Talvez tenha sido o jornalista brasileiro que mais produziu artigos publicados numa trajetória ininterrupta de seis décadas) por sua atividade docente e pelo seu mérito de intelectual do tipo humanista, versado em vários campos do saber, foi acolhido, em 1975, para imortal da Academia Piauiense de Letras, cadeira nº 8, tendo sido recebido por A. Tito Filho, em cujo memorável discurso de recepção exaltou as qualidades de meu pai na oratória, no jornalismo e no magistério público e particular. Neste último lecionou francês (inclusive, para minha alegria e vaidade justa, foi o meu professor dessa disciplina no curso ginasial) por muitos anos no citado Ginásio “Des. Antônio Costa.” Meu pai, por seu turno, no seu discurso de posse na APL, mais uma vez, produziu uma notável peça literária, na qual se podem reconhecer o seu vasto conhecimento, sobretudo nas áreas da história, sociologia, geografia, filosofia, línguas(latim, francês e italiano) ciências políticas e de grande leitor da literatura, quer nacional,  quer universal.
      Espero que meus conterrâneos presentes ao Evento aproveitem a lição e o exemplo de Cunha e Silva e se orgulhem de o terem como ilustre amarantino, cujos restos mortais jazem no Cemitério desta cidade. Que todos os participantes desta festa da cultura de Amarante sejam bem-vindos ao Salão do Livro de Amarante e que os trabalhos apresentados pelos participantes tenham um excelente resultado. Viva Amarante! Viva Cunha e Silva! Um abraço fraterno do Cunha e Silva Filho

terça-feira, 26 de novembro de 2019

SEM ELA, SEM GRAÇA



                                                 Cunha e Silva Filho

        Ela me deixou sem avisar. Maldade dela! Sempre a encontrava, lá no fundo do longo corredor. Atiçando-me como um canto de sereia para Ulisses. Antes mesmo de morar no bairro, já se encontrava lá. Todos gostavam dela, acredito Era mesmo a personagem central. Por ela ia sempre lá vê-la, falar com ela e com ela me deleitando. Por que me deixou sem ao menos me comunicar, sem uma palavra, um bilhete, um e-mail, um msg ou mesmo um brevíssimo aviso no Zapp?
       Mas não, deixou-me órfão, me magoou muito, me fez sofrer o desespero de uma perda querida. Nunca vou entender nada disso que estou falando ou pensando ou escrevendo. E nem adianta berrar, gritar, reclamar. Não me ouvirão nem me darão justificativa da sua ausência súbita, em forma de ruptura definitiva, sem adeus nem nada. Apenas me deixou desconsolado, tamanho era o sentimento de amor que me ligava a ela.
Tenho, desde então, sentido muito a sua falta. Dor de cotovelo me assalta o peito, o coração, tudo. Olho pra aquele fundo do longo corredor e não a vejo mais. Sumiu como um disco voador. Não se faz isso com alguém que nos ama, que nos procura sempre naquele mesmo lugar disposto a dialogar e trocar carinhos. Quanta saudade já tenho dessa ausência amada!
       Há tempos que tinha contato com ela, uns dezoito anos, no barato. Mas, ela, sozinha, me abandonou sem aviso prévio, segundo já comentei atrás. Não me lembro dia do primeiro encontro, mas me lembro que era assíduo com o meu encontro. Nem mesmo sei definir o meu amor a ela. Ela conversava comigo, mas sempre sem deixar nenhuma deixa de que também gostava de mim ou pelo menos tinha alguma atenção a mim e à minha frequência de encontros, sobretudo aos sábados.
      Não nego que perdi outras com o coração entrecortado de dor. Oh, com tenho sofrido cm essa perdas em lugares de que gosto tanto, como o Centro do Rio! E nessa parte fundamental do Rio, foram muitas, algumas mais velhas, outras velhíssimas, algumas bem estruturadas, belas mesmo.
Mas as perdi pra sempre e só me resta o lamento, sem poder fazer nada contra quem foi culpado de as afastar de mim sem dó nem piedade. As perdas foram tão duras que me abalaram o meu interior pra sempre. Sem volta nem ressurreição. Página virada com fim infeliz. Me pergunto: por que me deixaram assim tão melancólico e sem ânimo?
       Foi maldade pura contra mim e os meus sentimentos volúveis. Certo que as amei quase por igual, dependendo da duração dos laços amoroso, das afinidade, da intensidade recíproca. Mas como dói a ausência, a solidão, o abandono, o adeus sem aviso !
      Só Deus sabe a dor da perda. Pensei que ela sempre estaria ali me esperando para um novo encontro e pronta a me mostras bons livros, novidade de publicações, se bem que eu mesmo gosto de ir ás estantes, sobretudo as de línguas, de literatura, de ensaios. Com ela comprei muitos livros de alta qualidade. Certo que alguns pesavam no meu bolso de professor.
      Só em vê-la sorrido pra mim, me deixava pra cima. . Conversando com ela, as tristezas diminuíam e meu coração batia forte, talvez mesmo muito mais do que o dela, pois amor é, às vezes, uma ambiguidade por toda a vida.Ninguém sabe com certeza se é amado ou se é uma ilusão de ótica. O sentimento navega por mares nunca navegados.
     Contudo, com essa perda e as anteriores, me vejo mais abatido, casmurro, sem ânimo, nem mesmo com aquela antiga vontade álacre de ir ao encontro dela. Passo por lá e não a vejo mais. Só saudades, solidão. Sem ela, sem graça. A vida prossegue. Parece- me que foi tudo sonhos da minha frágil imaginação. Li há muitos anos num livro de francês uma frase que tem relação com o que venho relatando: “On ne badine pas avec l’amour.” Não me lembro quem foi o autor da frase. A frase todavia, tem suas razões: “Não se brinca com o amor”. Caso alguém o faça, vai se dar mal com o sentimento e a dor, sobretudo da perda ou solidão de um dos dois lados.
     Voltemos a ela. Sim, nesse caso que se deu comigo fui eu quem deu provas de amor maior e dedicação e assiduidade e carinho e sinceridade. Brinquei com o amor e ele me deixou vazio e na solidão sem fim. Por outro lado há que explicar ao leitor as razões dessa tristeza e solidão: aquele pronome “ela!, que empreguei nessa história não é o que pensou meu coautor. Eu vinha me referindo, em todo o texto, ao fechamento da Livraria Saraiva no Shopping da Tijuca. O resto V. já sabe. Bom dia, leitor, nesta ensolarada manhã de novembro e com uma leve brisa refrescante soprando no meu rosto, na varanda da minha moradia.

sábado, 16 de novembro de 2019

TRADUÇÃO DO POEMA "MOTHER TO SON", DE LANGSTON HUGHES ( 1902-1967)"




Mother to  son
Well, son. I’ll tell you:
Life for me ain’t been no crystal  stair.
It’s had tacks in it.
And splinters,
And boards torn up,
And places with carpet on the floor –
Bar
But all the time
I’se been a-climbin’ on,
And reachin’ landin’s,
And turnin’ corners,
And sometimes goin’ in the dark
Where there ain’t  been no light.
So boy, don’t turn back.
Don’t you set down on the steps
”Cause  you finds its kinder hard.
Don’t you fall now –
For I’se still going’, honey,
I’se still climbin’,
And life for me ain’t been no crystal stair.

De mãe pra filho
Bem, meu filho, presta atenção:
Pra mim a vida não tem sido uma  escada de cristal.
Nela só
Montes de coisas,
Farpas,
Tábuas arrancadas
E lugares sem tapetes no barzinho
Da sala.
Mas  no batente tou  o  tempo todo,
Com tentativas de superação,
De alcançar metas.
De sair de aperturas,
De por vezes caminhar nas trevas
Onde não  há luz.
Assim, menino,  nada de andar pra trás.
Não fica inerte nos degraus
Por achar isso tudo  duro demais.
Não desiste  na primeira tentativa –
Pois ainda tou no batente, meu anjo,
E a vida  não tem   sido uma escada de cristal.
                                        
                                                        (Trad. de Cunha e Silva Filho)



quinta-feira, 31 de outubro de 2019

ONDE ESTÃO OS QUE SE FORAM?




                                      CUNHA E SILVA FILHO

          É esta a pergunta que me faço. Porém, mesmo eu, que enfrento  esse novo texto,    não sei ao certo responder plena e satisfatoriamente   a esta pergunta. Foram-se  para sempre de nós? Foram-se porque não mais  a nossa  pessoa  os interessasse? Tampouco saberei  com segurança   responder a esta outra indagação.   Não saberei jamais  porque se foram e  nos  deixaram no meio do caminho onde nem havia a célebre “pedra “  do famoso  verso drummondiano. Simplesmente se  foram e talvez não mais  voltarão.
       Esse é o busílis da história.  O nó cego, que, aliás,  é um título de um romance de Geraldo França de Lima (1914-2003))  aquele ficcionista  de Serras Azuis (1961),  cujo  exemplar me foi  ofertado  pelo  autor   quando me lecionou  literatura brasileira  na Faculdade de Letras  UFRJ.,  nos anos 70 do século passado.
      Foram-se outros  por razões as mais diversas e as mais  intrigantes já que não houve nenhuma rixa  ou  arranhão  na esfera  da amizade      para que partissem   do meu convívio. Foram-se os que  já me vieram   com a alegria   bem-vinda de suas chegadas. Outro também se foram  porque  mudaram de endereço ou por   morarem  longe, sem omitir o fato de que   a grande cidade,  em vez de unir,   separa.
      Resta indagar  um coisa: foram–se por minha causa  ou  porque, como  uma mulher  que  depositava confiança  no homem amado, se decepcionou   com ele e,  segundo a palavra que gosta de usar,  se desencantou  e o desencanto de uma mulher  é coisa séria,  pois vem  acompanhado  de decepção,  certa raiva,  humilhação sofrida   e indiferença, esquecendo tudo  o que havia   dito ao  amado   durante os momentos mais   encantadores  do convívio com  ele. A mulher desencantada  dificilmente voltará, visto que,   ao se desencantar,  tudo que era belo e bom  foi apagado  da parte mais  sensível  dela: o sentimento amoroso.  
      Foram-se  aqueles  que  para eles nos tornamos inúteis,  sem interesse, esquecendo  tudo que havíamos feito  de bom. Feriram-nos por serem  ingratos  conosco. O que foi  feito por bondade e amizade desinteressada  foi também por água abaixo. Ao passarmos por eles, nos viram a cara ou  fingem que nunca tivemos  um  contato  amigável e promissor.
   Mas existem  os que se foram  contra a nossa vontade  e nos deixaram  só lembranças  queridas  e indeléveis. Não podemos culpá-los por nos deixarem,  uma vez  que  nos deixaram  para  viverem numa outra dimensão e jamais  nos voltarão ao convívio  agradável  de uma amizade  perene  ainda que na brevidade  da vida.  Ah, com  sinto por esse grupo  que me deixou  a contragosto um vazio  de mistura  contraditoriamente com a alegria do tempo em que  estavam  comigo em diversos  lugares da mesma atividade! 
     Sei que alguns ainda  estão entre nós, mas será difícil encontrá-los na imensidão da metrópole, pois  cada uma tomou seu rumo   e os contatos  foram-se, pouco a pouco, se diluindo  até se perderam na multidão.
    Há ainda os que se foram,  mas ao mesmo tempo   permanecem. Sabemos onde estão.  Contudo, o diálogo  se vai rareando por vários motivos. Saúde,  distância,    falta  de  motivação,   a idade avançada, entre outros fatores  dissuasivos.  Por outro lado,  a amizade  se mantém  intacta. Bataria acionar   um pouco de nossa inciativa  para  novamente vir à tona  com cansaço, claro, mas com  uma alegria que  ainda  restou  para sempre  nos nossos corações saudosos. 
   Não há  como  retroagir a fases  passadas  na travessia   avassaladora no tempo e no espaço  da vida de cada um de nós. Onde estão os que se foram?
           
     
      

sábado, 26 de outubro de 2019

NÃO SOU DA DIREITA

                                              CUNHA E SILVA FILHO



Com todo o respeito que V me merece, poeta Carlos Alberto Gramoza, V. não conhece o que já escrevi em mais de quatro décadas. Me definir como socialista democrata não é um labéu para mim nem tampouco para meu pai, mas afirmar sem evidências de argumentação sólida, sem hermenêutica refinada e consolidadas em leituras de autores de primeira linha, como as que utilizei no embasamento da minha Tese de Doutorado, à frente Antônio Candido 1918-20170, sobre João Antônio (1937-1996)
V. não pode me acoimar de direitista. Isso não aceito nem aceitarei jamais. Não sou - reitero e por mais um vez em relação a outros supostos proselitistas da esquerda brasileira - que não me alinho a governos fascistas nem direitistas para mais ou para menos nem à chamada esquerda caviar, - esses falsos moedeiros oportunistas das benesses do Estado Brasileiro e do próprio capitalismo ianque assim como dos lucros familiares auferidos e heranças provindas do latifúndio rural. Não obstante isso, V. me define, com homem da direita.
Não sou da esquerda por varias razões que aqui não vem  ao caso elucidar. Ao longo dos meus escritos provincianos e, depois, escritos no Rio de Janeiro e com reprodução para outros países, jamais, numa só linha, um linha sequer, defendi as classe dominantes e sempre, ao contrário verberei corajosamente os inimigos dominadores dos humilhados e ofendidos do meu país.
Combati duramente o governo Lula quando ele se debandou para a dimensão mais hedionda de um governante - a cumplicidade com os ladrões do Erário Púbico, com as desídias de membros diletos de seus governos compactuados com toda a sordidez que resultou nas investigações conhecidas como os crimes financeiros e o mar de lama putrefacta, propineira mancomunados com com o grande capital brasileiro.
Não sou direitista porque sempre combati com coragem e continuamente o crime organizado, a violência brutal, a insolvência financeira do Estado Brasileiro, as malandragens ignominiosas de politiqueiros venais que tomaram conta do país - isto sim - dominadores vorazes com tinturas manchadas de um populismo fake instalado nos porões do petismo solapador dos dinheiro público e propulsor das condições mais abjetas daí resultante ao país dizimado: alto custo de vida, desemprego, saúde sucateada, transporte de baixa qualidade, educação destruída, gigantismo estatal. entre outra grandes mazelas nacionais.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

TRADUÇÃO DE UM POEMA ANÔNIMO: "NOMS PROPRES"


NOMS PROPRES

Autrefois le gens distngués
Tout comme les serfs miséreux
Avaient des noms de qualités.
C’étaient Jen Noble ou Jean le Guex.
Il y avait aussi Blanc-bec
Et so terrible ami Le Fort;
Le Brun, héros de Caudebec,
Le Roux et bien d’autres encore.
Le Noir luttait avec Brunot
Le Blanc n’amait guère Blondin.
Le soir, ils se ressemblaient trop
Pour les belles et leur destin.
Aujourd’hui Noble est avalet
Leblond plus noir qu’um moricard
Et Lefort soupire affalé
De fables vers, em salon clos.
Jean le Gueux aux mille millions
Terrasse tout le genre humain
De son or et de ses mentions
Dans la presse chaque matin.
Autrefois le gens de métier
Ne rougissaient pas de leur nom:
Meunier, Corbeillier, Pelletier
A chacun semblait assez bon.
Aujourd’hui l’avocat Potier
Se proclme; le médicin
Se nome vite Charpentier
Au colossal cliente Lenain.
Le Roy traîne seus vieux talons
Chaumine possède Maison
Et Marot se pavane au Bois.
Du Val loge aux Buttes-Chaumont,
Clément est l' officiel bourreau;
Aussi prendre les gens au nom
C’est folie pure, ô damoiseau.


NOMES PRÓPRIOS

Outrora as pessoas ilustres
Tanto quanto os humildes serviçais
Levavam nomes qualificativos
Eram João Nobre ou João, o Indigente
Também havia Fedelho
E seu terrível amigo O forte;
O Moreno, herói de Caudebec,
O Ruço e muitos outros mais.
O Negro combatia Morenito
O Branco deixou de gostar do Louro,
À noite, todos se pareciam
Para as belas e seu destino.
Hoje, Nobre é serviçal
O Louro mais escuro do que um mouro
E O Forte suspira arriado
Com medíocres versos em salão fechado.
João Miserável com mil milhões
Aterra todo o gênero humano
Com seu ouro e suas menções
Na imprensa a cada manhã.
Outrora, as pessoas com ofícios
Não se enrubesciam com o seu nome:
Moleiro, Cesteiro, Peliqueiro
Cada qual bem contente parecia.
Hoje, o advogado Oleiro
Do nome se orgulha; o médico
Não hesita se chamar Carpinteiro
Diante do enorme cliente Anão.
O Rei arrasta os velhos saltos
Diante do aristocrata Idiota
Choça proprietário é de uma casa.
E o Poeta antiquado pelo Bosque desfila.
Do Vale reside nos Buttes-Chaumont
Clemente é o oficial carrasco
É nisso que dá tomar pessoas por um nome
É loucura pura, oh, donzel!
(Trad. de Cunha e Silva Filho)

domingo, 13 de outubro de 2019

INTERREGNO NÃO PRODUTIVO NA LITERATURA E EM OUTRAS ÁREAS AFINS



                                Cunha e Silva Filho

       Toda escrita, muitas vezes, é circunstancial na extensão e na qualidade. Depois da batalha raivosa (o termo é, agora, muito usado), numa batalha de  trocas de farpas e xingamentos entre esquerdistas e bolsonarista,   ou melhor, entre lulistas e anti-lulistas senti-me  extenuado e  com vontade de dar um longa pausa sem escrever nada, porquanto  julgava que nada valia a pena.  
      As refregas foram  feias e os resultados, para o meu caso  específico, desfavoráveis no campo da amizade. Encontro-me, agora,  como  um outsider na discussão  política,   com um forte sentimento de  enfado da coisa  política,  de melhoras  para nós, brasileiros, cansado que estamos   de imposturas, desídias, crimes financeiros contra o  Erário Público. de perceber  os mesmos  métodos congressistas   da valha política matreira e de seus personagens pícaros, malandros, bruzundangueiros e malazartianos, todos   malandros.  velhos e novos, (estes últimos  de novos só têm a idade) de vana verba.
     O rescaldo que  consegui para mim foi de perda de amizades de pessoas a quem  estimava, de gente que não entendeu que eu jamais seria  prosélito  do  Sr. Jair Bolsonaro por muitas razões de seus mal ajambrados  projetos  (se tanto assim podemos dizer que foram projetos) de governo  num país em  ruína  econômica e financeira,  à frene  o desemprego,  o fechamento de fábricas, de lojas, de negócios, até no campo cultural,  o fechamento de livrarias, até de sebos.
     A última tristeza,  no caso das livrarias,  foi o fechamento  da Saraiva, no Shopping da Tijuca. O Shopping  - confesso a Vocês -   com a ausência dela ficou sem graça para mim. Eu já me acostumara, ao entrar no Shopping,  a me dirigir logo por um dos corredores,   à loja da Saraiva, na qual comprei bons livros  de literatura,  de línguas,  de crítica literária.
   Voltando à questão dos malefícios, ou malfeitos, no jargão hilário da ex-presidente -Dilma Rousself, dos governos  mencionados  e dos descalabro  de muitos outros males que se tornaram crônicos   e insolúveis (violência  inédita em toda a  história do país, criminalidade  altíssima   e um altíssimo nível de  corrupção e sua contraparte,  a impunidade que, da mesma forma, se  espraiou como  metástase   pelo  território brasileiro, necessitando para este último  caso,  da instauração de investigações  sob a denominação de LavaJato e levada  à premente  arrojada e contínua   ação da Polícia Federal. De todos esse males e outro, repito, somos   vítimas e ainda estamos  sendo vítimas  ao longo de, pelo menos, umas duas décadas.
       A eleição foi ganha pelo atual  Presidente que não era  nem tampouco é ou será da minha simpatia. Contraditoriamente, por causa de alguns  artigos que escrevi em jornal no Piauí e,  posteriormente,  em blogs  e sites, contra  os governos do Lula, Dilma e do Temer, observei que muitos desafetos  adquiri tanto pelos escritos jornalísticos como  pelo que  postei  nos mencionados blogs.
  O que me salvou de maiores inimigos foi  a publicação de textos  não necessariamente  vinculados à questão politica, quer dizer, foram textos, por assim dizer, puramente literários, crônicas, pequenos ensaios,  entrevistas,  traduções, versões, alguns artigos  mais antigos originalmente publicados em jornais do Piauí, ensaios mais longos, alguns em inglês e francês postados num site americano e numa revista romena,  a publicação quase na íntegra de três livros meus, Breve introdução ao curso de letras: uma orientação (2009)As ideias no tempo (2010)  e Apenas memórias (2016)
  Este sentimento  algo romântico de spleen extemporâneo  do século XXI tem de alguma forma  me afastado  de minha  produção  nova que deveria  ter sido continuada (só o foi muito  esparsamente) após  o vendaval das eleições  travadas  entre votantes que se tornaram  inimigos e irmãos divididos da pátria amada Brasil. Contudo, não me darei  por vencido,  tentarei retomar o elo perdido, encontrar o méthodos    dos meus  interesses maiores  pelas questões que  mais me agradam: as relacionadas à literatura e a temas nacionais e internacionais, estes mais do que  aqueles, sempre torcidos, usando esse verbo  no sentido em que foi empregado  em relação  a um tendência de um escritor  piauiense  de talento  para a ficção,  mas  desviado, pelas vicissitudes  da vida, para os temas da política brasileira.
        Na produção  literária,  ou não,  há que se fazer certas renúncias pessoais   a fim de não se perder  o bonde da história. Restaurar todo esse tempo  perdido  leva algum tempo, necessita de paciência  e reformulação  de  planos  de estudos e de metas para serem  colimadas.    
       O escritor que ficou no meio do caminho, ou seja, desistiu de escrever fez um opção que poderá ser  correta, ou  não. Haverá sempre aqueles dois caminhos  a trilhar, um dos quais  deve ser escolhido, como no  poema famoso de   Robert Frost  (1874-1963), de título “The road not taken”(1916),  a  não ser que, por infelicidade,  surjam  mais outras  alternativas, uma   imposta pelo destino  e provocada por doença (caso de poeta piauiense  Da Costa e Silva (1885-1950) e do ficcionista piauiense  O.G. Rego de Carvalho (1930-2013).
      Ou por motivo de foro  íntimo (caso de Hemingway (1898-1961)). Ou mesmo por desistência deliberada  (caso de Radauan Nasser) e podia-se citar também o caso de um escritor famoso norte-americano  que  confessou  ter escrito tudo  o que pretendia (caso De Philip Roth (1933-2018).
      As fase de interrupção de novos   textos em nossa  especialidade de estudos avançados  está   ligada a fatores  igualmente de ordem pessoal,  de doença,  de  falta de  clima  e sobretudo  de falta de  determinação   do próprio autor  de se deixar  vencer  pelos desfoques    nos  seus estudos,   na sua  continuada  preparação   e realimentação de novos  saberes  no âmbito de sua área  principal de  desempenho  literário.
       Por outro lado, há que se fazer aí um mea culpa, visto que a literatura e quaisquer outros saberes  devem se orientar por um ordem  lógica e impessoal,   não permitindo  uma interferência  da vida  individual do escritor  na  sua produção  enquanto  possibilidades  físicas e de lucidez  estiverem  dentro de parâmetros da normalidade criativa.
    O mais elevado  compromisso de quem escreve é o de não desistência desses propósitos   ainda que  impedimentos  tentem   abortar  suas pretensões e  acalentados sonhos   de mais realizações. Para isso, são sempre válidos  a disciplina nos estudos,  as   pesquisas  e a determinação   de não desistir nunca  de seus  desejos  muitas vezes traçados  na juventude, continuados  na maturidade e  concluídos   nos anos mais avançados  de sua existência limitada. Até onde houver  fontes de saberes,   de aquisição  de conhecimentos  e de  disposição  ao trabalho,   posto que reconhecendo  ,   o ato desgastante (conforme, certa feita,    reconhecia  a ficcionista Raquel de Queirós (1910-2003)   da escrita,  deve  o autor   prosseguir  nos seus objetivos. 
        

sábado, 5 de outubro de 2019

TRADUÇÃO DE UM POEMA DE BILLY COLLINS( NASCIDO EM 1941)





INTRODUCTION  TO POETRY


I ask them to take a poem
And hold it up to the light
Like a color slide

Or press an ear against its hive.

I say drop a mouse into a poem
And watch him probe his way out,

Or walk inside the poem’s  room
And feel the walls for a light switch.

I want them to  water-ski
Across the surface of a poem
Waving at the author’s name on the shore.

But all they want to do
Is tie the  poem to a chair with rope.
And torture a comfession out of it.

They begin beating it with a hose
To find  out what it really means.


INTRODUÇÃO À POESIA


Pedi-lhes que pegassem um poema
e que o aproximasse da luz
igual a um slide colorido

ou apertasse um dos ouvidos contra a sua colmeia.

Escutem, deixem um rato cair dentro do poema
vejam como ele consegue descobrir a saída,
ou caminhar  pelo seu interior
e procurar  nas paredes o interruptor  de luz.

Quero que eles esquiem  pelas águas
por sobre do poema a superfície
acenando  para o nome do autor na praia.

Tudo,  porém, o que desejam  fazer
é amarrar  com uma corda o poema numa cadeira
e arrancar-lhe por tortura uma confissão

Começam a nele bater com uma mangueira
a fim de descobrir o que, na verdade, revela o poema.
                                      

                                                                    (Trad. de Cunha e Silva Filho)