sexta-feira, 27 de julho de 2012

A diplomacia brasileira no caso da guerra na Síria





Cunha e Silva Filho


Na viagem da presidente Dilma  Rousseff à Inglaterra a fim de prestigiar os atletas brasileiros na abertura dos Jogos Olímpicos, estranhei que tivesse declarado que o Brasil não seria um país cuja política exterior se alinharia aos países-membros da ONU que se mostraram dispostos a intervir militarmente no sangrento conflito da guerra civil entre os sírios oprimidos (os rebelados) e as forças ditatoriais de Bashar al-Assad. No entanto, parece-me que hoje a presidente modificou seu pensamento em relação aos massacres determinados pelo ditador sírio contra a sociedade civil e indefesa.

Um país como o nosso, que se proclama paladino da democracia e dos direitos humanos, não estaria agindo diplomaticamente e com seriedade se compactuasse com o derramamento de sangue que há mais de um ano está destroçando milhares de vidas. Ser contra a intervenção imediata na Síria não seria uma prova de independência, coragem e de alto espírito humanitário que a importância de nosso país já desfruta entre as nações do mundo.

O Brasil não deve procurar apenas desenvolver relações econômicas com países que, segundo uma divisão geopolítica proposta pelo professor Michael Ignatieff, da Universidade de Toronto, citada em artigo de Clóvis Rossi ("Líbia,   Síria e a divisão do mundo"Folha de São Paulo, 15/07/2012), estaria separando o mundo em dois, de um lado países do Ocidente fracamente aliados politicamente e com problemas sérios financeiramente e dois países que seguem sistemas de governo autoritários, a Rússia e a China, chamados pelo mencionado professor de “cleptocracias que misturam economia de mercado e Estado policial”, o que ele define como “algo novo nos anais da ciência política". E são justamente esses dois países que têm vetado, por interesses meramente estratégicos e econômicos, as sanções contra a Síria.

Ora, um país que se declara plenamente em gozo de seus direitos democráticos , como é a situação do Brasil, está dando mau exemplo no que tange às suas relações de política externa. Países que cooptam governos autocráticos não deveriam fazer parceria com as chamadas democracias ocidentais. Por que não reforçar e renovar as aproximações com a América Latina, e as demais nações de toda as Américas e dos países europeus em tantas direções para o desenvolvimento e ajuda mútua a fim de fortalecermos o Ocidente e outras regiões do planeta com as quais poderíamos iniciar parcerias econômicas e culturais? Nações com sistemas políticos divergentes não terão muito futuro e seus negócios podem resultar frustrantes a médio ou longo prazo.

Sem pretensões hegemônicas ou laivos imperialistas nações como a nossa precisam, sim, incrementar relações fecundas com outras que compartilham iguais ou aproximadas formas de governo. Não acredito que liberdade democrática combinem com estados de exceção ou mesmo países que estão ainda sendo regidos por ideologias superadas e autoritárias.

Certa vez, um intelectual de grande expressão do Piauí, Higino Cunha (1858-1943) ) em conversa com meu pai, o jornalista Cunha e Silva (1905-1991) afirmara, como se desejasse vaticinar – e aqui me lembro da bela defesa que o grande crítico Antonio Candido, aos 93 anos, em entrevista fez do que ele entendia por socialismo -, que o futuro da humanidade seria o socialismo, i.e., um sistema de governo que, reconhecendo diferenças entre indivíduos, funcionaria em plenitude sabendo arbitrar seus objetivos sociais de tal sorte que uma sociedade funcionasse sem o recurso ignóbil da exploração do capitalismo feroz pelo expediente da mais-valia excessiva, mas dividindo as riquezas da nação abolindo a pobreza absoluta e os desníveis econômicos, sociais, culturais e de oportunidades iguais a todos em áreas vitais como a educação, a saúde, a segurança, a moradia, o lazer, enfim todos os bens materiais e espirituais de que necessita o indivíduo para viver feliz. Em nosso tempo.

Isso equivaleria a afirmar um socialismo de um Estado probo, com leis justas e que fossem cumpridas pelo cidadão, independentemente de sua condição social, étnica, religiosa, profissional., com leis que fossem cumpridas sem brechas, isolando da sociedade os criminosos de toda espécie, erradicando a impunidade instalada há longo tempo no país, e redesenhando os três poderes sob a égide da moralização, sem regalias pantagruélicas e de ordem institucional, quer dizer, modernizando a sociedade em direção ao bem-estar geral do seu povo.

Retornando ao tema da guerra civil na Síria, já e tempo de que o Conselho de Segurança da ONU revigore seu pedido às duas nações, China e Rússia) que estão impedindo que a Síria, que já avisou ao mundo, utilize armas químicas contra indefesas populações civis, o que ainda mais agravaria o grau de ferocidade e de desumanidade que o ditador tem demonstrado no seu desastrado governo. Se o ditador usar as armas que anunciou ele estará dando a si próprio um ultimato de capitulação de seus dias no poder.O Brasil pecaria por omissão e irresponsabilidade diplomática se não se dispuser a a apoiar a aprovação de uma tomada de decisão militar na Síria.O martírio dos sírios  já chegou  ao limite máximo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Síria: Bashar al-Assad num beco sem saída





Cunha e Silva Filho


O ditador sírio, genocida, está com a vida por um triz. Do cargo que ocupa nem se fala. Vai ter que deixá-lo, seja pela deposição, seja por meios até violentos, ou seja, com os meios que sempre usou contra os seus compatriotas.

Ministros dele, oficiais de alta patente, diplomatas já o abandonaram e vários militares desertores se passaram para o lado dos opositores, o que cada vez mais fragilizando o regime de terror implantando contra a Síria desde o período em que seu pai, Hafez al--Assad Assad, havia assumido o poder pelo partido Ba’ath, de orientação socialista (é o cúmulo!)) e se tornara também ditador. Tal pai, tal filho, diz bem o brocardo. Creio, porém, que Bashar al-Assad foi mais longe em sua carnificina e em sua violência contra os sírios, com exceção do grupo que lhe deu sustentação, constituído pelos aulitas, adversários dos sunitas.Em resumo, a ditadura síria, desde o pai de Bashar, tem sido palco de enriquecimento ilícito, de riquezas faraônicas conseguidas fraudulentamente por Bashar, um homem riquíssimo, com muito dinheiro em vários paraísos fiscais, inclusive na Rússia. É esse o tal socialismo do partido Ba’ath. Que barafunda!

A História realmente se repete em alguns aspectos em relação a ditadores: todos quase sempre terminam seus governos tragicamente. Os grandes monstros da Humanidade estão aí para confirmarem a assertiva.

Não consigo nunca atinar com a posição que truculentos ditadores tomam quando assumem, seja por eleição fraudulenta, seja pelo golpe militar, seja por quaisquer meios discricionários. Os ditadores são iguais na sua essência e nas suas maldades. Há algo de loucura que nele vislumbro, mas uma espécie de loucura difícil de classificar porque são homens que gostam do poder com ambição desmedida e que se julgam donos de uma nação como os antigos monarcas , ou seja, por direito divino, quando, na realidade, não passam de tiranos com pés de barro, sujeitos ao trágico destino dos covardes e sanguinários inimigos da Humanidade. Se têm carisma, espírito de liderança isso tudo só é canalizado para o mal, pra a prepotência que, nos seus palácios se instalam. São sempre cercados de áulicos, de uma elite política e econômica, de exércitos bem treinados para fins que se dirigem aos fracos, i.e., a população despojada dos direitos mais inalienáveis da pessoa humana. Assim, se impuseram todos os ditadores da esquerda ou da direita e assim tragicamente irão, um a um a, caindo do seu pedestal também feito de barro.

Não foi por falta de avisos, advertências e tentativas de negociação para um cessar-fogo por parte da ONU e da Liga Árabe que o tirano al-Assad não se conscientizou de seus erros e de seus atos de terror e horror. Um país destroçado, em chamas, até na capital , Damasco, as fumaças de edifícios incendiados e explodidos são sinais da da dimensão de ruínas em que se transformou o país, sem contar o pior de tudo isso: a matança indiscriminada de inocentes de todas as idades. Quase me é possível crer que, a esta altura da do século XXI, ainda se possa assistir, perplexo, a todo esse quadro macabro, guernequiano, assombroso.Como é possível, me pergunto atônito que o ser humano seja capaz de causar tanta miséria aos outros, tantos prejuízos, tantos gastos com armas dispendiosas que custaram a infelicidade de uma nação cujo desejo era ter paz e liberdade, viver a sua existência normal no planeta Terra, a salvo de desnecessárias calamidades produzidas pelas mãos de ambiciosos do poder a todo custo e o seu fausto às expensas da ausência da liberdade, dos direitos de cidadania, de escolha de seus governantes e da prática da democracia autêntica e sempre pronta na defesa dos mais fracos e desprotegidos.

Mal consigo entender a contumácia de países como a China e a Rússia que, pelo direito ao veto, não aderiram à maioria dos países-membros que aprovaram sanções mais rígidas contra o ditador sírio. Será que esses dois países não têm a mínima consciência de humanidade para com os mortos aos milhares na Síria? Será que para eles valem mais as bases militares ( e interesses econômicos, por que não?) que mantêm em territórios da Síria e do Irã sob o argumento de que elas os protegem contra as grandes potências mundiais em caso de conflagrações internacionais do que as perdas de inocentes sírios massacrados covardemente e sem justificativa para tais atos de selvageria ? Somos ou não seres civilizados ? Seria difícil para mim responder a esta pergunta de maneira otimista.Não são suficientes os crimes do passado contra os seres humanos para agora pensarmos em encontrar caminhos que nos conduzam à paz na Terra? Isso não é impossível nem tampouco um desejo utópico de uma sonhador num mundo de lobos ferozes e de degenerados.A lógica mais fria e calculista jamais, creio, seria capaz de compactuar com os novos holocaustos do mundo contemporâneo.

Esforço-me por ser otimista e por isso espero que o que aguarda o ditador sírio seja o exílio e o julgamento pela Tribunal Internacional de Haia já que , de acordo com representantes da Cruz Vermelha, o estado de violência na Síria já se transformou em guerra civil. As leis e sanções agora já passam ao âmbito dos crimes de guerra e não mais de combates pontuais em território sírio. Que os sobreviventes da paz agora tenham um pouco de paciência. Torço pela vitória do Bem, dos inocentes e humilhados e daqui expresso o meu pesar imenso pelos seus mortos.

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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sombras hamletianas




Cunha e Silva Filho





A entrevista concedida pela ex-mulher de Fernando Collor de Melo, Rosane Collor, a uma repórter da Rede Globo, Renata Celibelli, durante o Programa Fantástico, veio reabrir antigas feridas no lusco-fusco da política brasileira, principalmente dos bastidores da vida privada daquele que, após a ditadura, foi o primeiro a assumir o comando do governo do Brasil. País fantástico, de eleitorado fantástico, enfeitiçado pela juventude de um homem de quarenta anos que, pela sua retórica algo caricata mas insinuante e carismática, cheio de bravatas,  logo conquistou o coração dos eleitores, em geral, como sempre pouco informados sobre quem lhes possa dirigir  o  destino, seja, na vereança, seja no legislativo, seja no executivo estadual ou federal.

Collor encantou as matronas brasileiras com a sua pinta de galã e sua figura atlética, sua simpatia e seu desejo de mudanças radicais, sobretudo tendo como uma das bandeiras varrer do Palácio do Planalto (aqui tomado metonimicamente) todos os por ele chamados de marajás, ou seja, indivíduos que auferiam grandes salários, verdadeiros paxás sustentados pelo Erário Público, enquanto a massa ignorante brasileira se afundava na miséria extrema, inclusive no próprio Estado de origem do candidato “caçador de marajás”, Alagoas. Com esses tributos ganhou trinta e cinco milhões de votos da população brasileira!

Collor era uma espécie de Pacheco, personagem eciano da políticalha brasileira. Tudo que afirmava era regra de ouro. Com o apoio e a confiança dos milhões de votos, o jovem presidente pensou que iria impor tudo que quisesse em termos de mudanças nos rumos da administração pública. A economia brasileira sob o comando da Zélia Cardoso, lançou um novo plano econômico, o Plano Collor, a que se seguiu o Plano Collor II. Cortou benefícios de pensões de dependentes de militares, até no setor dos militares, mexeu drasticamente na economia brasileira, confiscando o dinheiro da poupança dos investidores, sobretudo dos que mais tinham dinheiro investido. Confiscou também o dinheiro de médios investidores. Enfim, revirou de ponta cabeça a economia e as finanças do país. Ora, essa mudança repentina na economia teve consequências graves: empresas de menor porte se arruinaram, investidores, da noite para o dia, se viram falidos e houve até notícia de que alguém cometeu suicídio apoios saber que lhe haviam confiscado o dinheiro investido na poupança. Seu suposto plano de mudanças radicais na governança do país era abrir o país à onda neoliberal, implantar as condições aqui do capitalismo globalizado, tendo como carro-chefe o livre mercado. Ao mesmo tempo, instituiu o processo de privatização das empresas do governo, com vistas a diminuir o gigantismo da máquina do Estado Brasileiro.

Por outro lado, outros componentes vieram à baila no curtíssimo mandato de Collor: as notícias de corrupção tendo como pivô o tesoureiro da campanha dele para a presidência, o P.C. Farias, imbróglio no governo do “caçador de marajás” que terminou, mais tarde, em tragédias, com a notícia do assassinato de P.C Farias acompanhado de sua amante, crimes, até hoje, não completamente desvendados quanto à autoria dos criminosos ou mandantes. Em seguida, houve a morte do irmão de Fernando Collor provocada por um câncer no cérebro. O irmão de Collor, Pedro Collor de Mello, por sua vez, foi quem havia feito as primeiras denúncias de corrupção no governo, nelas envolvendo o mencionado P.C. Farias, mas também outros desmandos do governo, inclusive comprometendo a gestão financeira da ex-primeira dama quando dirigia a Legião Brasileira de Assistência.

Juntando a situação difícil da política econômico-financeira do presidente com as notícias de que, na Casa de Dinda, mansão particular do da família Collor, havia práticas de ritual macabro, com magia negra e sacrifício de animais, do qual, segundo se noticiou e mesmo foi confirmado agora pela ex-primeira dama Rosane Collor, participava o próprio presidente, o quadro da situação do Chefe da nação se complicou cada vez mais, ao ponto de a Câmara federal e o Senado chegarem a um impasse que nenhum presidente eleito desejaria para sua carreira país: o pedido de impeachment de Collor.

Collor ainda tentou reunir forças que, segundo ele, poderiam impedir a sua renúncia: o povo que o elegeu. A este pediu que saíssem à rua e desfraldasse algo que simbolizasse as cores da bandeira brasileira. Isso não aconteceu: o que se deu foi o inverso. A população foi às ruas não para apoiá-lo, mas para pedir a sua saída do poder.Era a resposta do movimento denominado “caras-pintadas” exigindo a saída de Collor, com mensagens do tipo “Fora, Collor.”
Acuado por todos os lados, o presidente se viu derrotado por ambas as partes: das instituições políticas e da sociedade civil. Não teve tampouco o apoio das Forças Armadas, com as quais, em alguns momentos pôde exibir-se, usando de uniforme militar, mostrando sua coragem e sua disposição de fazer voos com oficiais da Força Aérea. Queria dar o exemplo de um presidente identificado com a liderança de seu cargo e sua posição de Comandante-Chefe das Forças Armadas. Ficou sozinho, teve que capitular. Assinou o documento oficial de sua renúncia. Saiu do Palácio acompanhado da primeira dama do país. Seu andar firme, esbelto, marcial parecia exteriormente estar certo de que saía do alta função pela injustiça dos homens e das estruturas que formam o Poder numa democracia.
 Anos mais tarde, ou seja, agora, está cumprindo, pelo voto popular, um mandato de senador da República. As decepções de seu governo, de sua vida particular, seu futuro parecem ainda acenar para as sombras hamletianas do passado, por muitas formas sinistro, misterioso e trágico.
 Só Deus sabe o que, com as declarações da ex-dama e com a publicação futura de um livro sobre o seu relacionamento com o ex-presidente, poderá sobrevir. Entretanto, não são nada confortáveis para a biografia do ex-presidente as afirmações da entrevista, sobretudo quando Rosana Collor fala em ameaça de que algo possa de ruim lhe acontecer. Ela já declarou que, caso isso ocorra, o maior responsável será o “grande amor de sua vida.”





quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sobre intelectuais, quem são, por que são?



Cunha e Silva Filho




Tema por demais controverso, o conceito de intelectual  formado por leitores, acadêmicos pertencentes às academias de letras, de ciências, ou as duas juntas, e ainda a grande parcela oriunda do meio universitário e dos grandes centros de estudos avançados nas sociedades de elevada complexidade intelectual, bem como pela mídia, por grupos culturais diversos, pela sua própria natureza , pelos seus inúmeros e intrincados componentes implicados na escala de conhecimentos, de erudição, de experiência, de produção científica ou artística, torna-se uma questão difícil de resolver-se no simples espaço de um artigo.

O que pretendo discutir sobre o tema diz respeito a duas situações reais que dividem opiniões diferentes e sobretudo polêmicas:

1) Em que nível de conhecimento se pode considerar alguém, novo ou velho, um intelectual?;
2) Pode-se definir um jovem como sendo um intelectual? A estas duas indagações, tentarei responder nas linhas seguintes.

A questão de classificar o indivíduo como intelectual não depende, a meu ver, da faixa etária, pois esta não é a medida ideal pela qual se há de avaliar o nível intelectual de uma pessoa.. O que pesa na definição é o amadurecimento, a capacidade de reflexão crítica, a operosidade e o nível de conhecimento revelado por ela. E isso vale tanto para o jovem quanto para o mais velho.A prática tem provado que , no exemplo da vida cultural brasileira, grande parte de jovens intelectuais iniciaram suas vida escrevendo obras que de imediato se fizeram respeitadas no cenário da intelectualidade do país. Daria alguns exemplos - e estou me limitando apenas ao campo da ensaio, da história, da crítica, da filologia, da linguistica, - Ronald de Carvalho,  Graça Aranha, Alceu Amoroso Lima, Álvaro Lins, Afrânio, Coutinho, Nelson Werneck Sodré ,Augusto Meyer, Antonio Candido, Gilberto Freyre, Eduardo Portella, José Guilherme Merquior, Roberto Schwarz, Sílvio Elia, Serafim da Silva Neto, Mattoso Câmara, Mário Faustino, entre tantos outros. São autores, são intelectuais que, bem cedo, demonstraram a que vieram e todos eles desenvolveram seus estudos posteriores cada vez mais reafirmando maior profundidade e qualidade ao longo dos anos. Ainda que, em alguns caso, tenham sido interrompidos por morte precoce.

A história cultural tem acentuado que a precocidade é um dos sinais mais indicativos do intelectual. Sua pouca idade é compensada pela formação contínua na incorporação e assimilação de conhecimentos e saberes, de realizações que se devem ao talento e a uma disciplina rigorosa no que concerne aos seus estudos, às horas e anos gastos dedicados às investigações e pesquisas . Tudo feito em pouco tempo, porém com produção intensa e extensa em alguns casos. Por outro lado, a condição de ser um jovem intelectual não se limita apenas a contribuições que deram às suas áreas de estudos, mas ao seu poder de influir sobre a vida social de seu país, seja pela irradiação de seu pensamento, seja pelo respeito e consideração que conseguiu de seu pares e de parte considerável da sociedade.

Estou tomando o conceito de intelectual aqui não apenas considerando-o pela faixa etária, mas pelo seu desempenho e importância que foram naturalmente conquistados pelo seu poder de debater, em sua atuação principal, aquilo que é relevante ao desenvolvimento da sociedade. Estou falando da força saudável que provém do papel do intelectual em ser um elemento ativo , dinamizador, catalizador de ideias que se podem transformar em ações concretas não somente no âmbito de suas investigações como também no debate nacional que se dirige às mais prementes questões de interesse da nação e de sua vida cultural no sentido mais vasto do termo.

É claro que um jovem intelectual é um ser em processo de formação contínuo, mas isso não o impede de atuar fortemente em defesa de grandes causas, seja no terreno das letras, seja no das ciências, das artes e do pensamento social. Por conseguinte, não me parece correto negar levianamente o conceito de intelectual só pela faixa etária. A formação do conhecimento a que já me referi, é uma ação contínua da inteligência. O mais acertado, na discussão do tema, seria a combinação do novo com o mais antigo, desde que exista a indispensabilidade do talento, da seriedade nos estudos e da capacidade de trabalho , enfim, da produção intelectual. Dissociar os valores novos dos valores mais experientes me parece um erro grave e um lamentável preconceito, tendo em conta que nem sempre o passar do anos é bem aproveitado pelo indivíduo na obrigação que ele tem diante do aperfeiçoamento e de sua continuidade de estudos e pesquisas. Quando o indivíduo lamenta o tempo perdido que, se fosse aproveitado em anos anteriores de sua formação cultural, essa atitude põe por terra a hipótese de que os anos vividos são, por si sós, atestados de desenvolvimento de melhor qualidade.de conhecimento. A condição do status de intelectual não será, repito, mensurada pela idade, e sim pela dedicação plena da intensidade e extensão do cultivo do saber e de sua transformação em obras de bom ou excelente nível. Não é uma questão meramente de anos de vida.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Um poema de Edmond Haraucourt (1856-1941)*








Um poema de Edmond Haracourt ( 1856-1941))*









RONDEL DE L’ADIEU**



Partir, c’est mourir um peu,

C’est mourir à ce qu’on aime:

On laisse um peu de soi-même

Dans toute heure et dans tout lieu.



C’est toujours de deuil d’un voeu,

Le dernier vers d’un poème:

Partir, c’est mourir un peu:

Et l’on part, et c’est un jeu,



Don’t, jusqu’à l’adieu suprème

C’est son âme que l’on sème,

Que l’on sème à chaque adieu:

Partir, c’est mourir um peu...





RONDEL DO ADEUS



Partir, morrer um pouco,

Morrer para o que amamos

De nós mesmos um pouco vai-se

A toda hora, em qualquer parte,



Dum voto, sempre um luto,

Do poema o verso derradeiro:

Partir, morrer um pouco:

Partimos, sim, parte de um jogo,



Do qual , até ao adeus supremo

Sua alma semeamos

E a cada adeus a semeamos:

Partir, morrer um pouco...



(Trad. de Cunha e Silva Filho)



* Dedico esta tradução ao meu falecido irmão, Emílio Carlos, ele mesmo cultor da poesia e da pintura.

** Poema musicado, em 1902, por Francesco Paolo Tosti.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O cerco se fechando



Cunha e Silva Filho



Agora não são apenas os esforços de negociação pacífica empreendidos pelo experiente diplomata Kofin Annon, enviado especial da Liga Árabe, no conflito entre rebeldes e as forças do ditador Bashar al-Assad. Um terceira recente conferência reunindo cem países empenhados em dar um basta às matanças diárias do governo sírio, sem sombra de dúvidas, descortina uma horizonte possível para forçar o ditador a deixar o poder. Se a China e a Rússia ainda persistem na defesa da Síria, o conflito pende para uma tomada de decisões que não descartam uma intervenção militar do Conselho de Segurança da ONU. Inclusive, porque aqueles dois países alinhados à tirania na Síria, segundo anuncia a imprensa internacional, estão “impedindo o progresso” nas negociações até agora feitas através do diálogo e do cessar-fogo, além de outras formas de sanções por ora ainda não militares. O anfitrião da conferência, o recém-empossado presidente François Hollande falou até em ameaça “a paz mundial” caso se protelem decisões firmes tomadas pelo Conselho de Segurança da ONU.

O desenrolar da crise parece ter chegado a um turning point desfavorável a Bashar al-Assad. Noticiou-se que o seu governo sofreu um duro golpe no seio da própria estrutura militar, que foi a deserção de Manaf Tlass, considerado amigo de longa data de do ditador sírio. Manaf é oficial sunita de alta patente das Forças Armadas. Especula-se mesmo que já desertou e pediu asilo na França. Assad, assim, está ficando cada vez mais acuado e, com este importante desfalque, a tendência é o enfraquecimento gradativo do seu poderio militar no que tange aos seus quadros de aliados da cúpula militar.

Chegará o ponto em que a “Primavera Árabe,” através das forças rebeldes e da cooperação de numerosos países que já têm plena noção dos horrores cometidos pelo governo sírio, conseguirá apear do poder o sangrento Assad, cujo destino como líder político imposto aos sírios não escapará de um julgamento rigoroso e até poderá ser julgado pela Tribunal Internacional de Haia como criminoso de guerra, prática de genocídio contra a sociedade civil e inimigo da humanidade. O ostracismo não lhe será suficiente para pagar pelas suas atrocidades e pelo seu desprezo e intransigências em infringir as leis internacionais e aos órgãos de defesa dos povos livres.

Pressionado pelo governo dos EUA, através das incisivas reprovações de Hillary Clinton, da adesão do ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, assim como provavelmente da opinião mundial que preza as liberdades democráticas e a paz no Planeta , a ditadura na Síria já está prestes a ser favas contadas e o povo sírio, desejoso de felicidade, paz e liberdade, irá se constituir, posto que com grandes obstáculos que ainda encontrarão pela frente para alcançar um estágio razoável de organização político-institucional, numa nação com a sonhada independência de, pelo voto, eleger seus melhores representantes, protegendo seu povo de forma definitiva contra a prepotência e a crueldade de usupardores do poder democrático – poder esse que, independente das distâncias continentais, do tempo, de línguas e etnias, deveria ser o objetivo máximo das nações livres.

Os ócios e os ossos do ofício







Cunha e Silva Filho









A aposentadoria traz vantagens e desvantagens. Nestas últimas por vezes pode-se vislumbrar algum perigo ou algumas tristezas.

Tentarei, a seguir, enumerar as vantagens (algumas que me venham à lembrança):



1) O tempo disponível que surge como o grande momentos das realizações que nos faltaram fazer;

2) A liberdade que sentimos com o peso da escravidão dos horários obrigatórios de sair de casa e ir para o trabalho, enfrentando chefes, ordens, determinações superiores, reuniões enfadonhas, nas quais muitas vezes ficamos calados para evitarmos atritos com patrões ou colegas;

3) A possibilidade ilimitada ( dentro do relativo limite de nossa existência) de não termos satisfação a dar a ninguém em muitos aspectos da vida cotidiana: acordar cedo, tarde, sair sem a preocupação de horários de volta;

4) Tempo livre para ler, estudar, escrever, não, sem aquelas obrigações de data para concluir as leituras,escrever de um livro ou de livros ao mesmo tempo, sem aqueles deadlines tão preocupantes dos tempos de universidade;

5) Confessemos um segredo, tempo disponível até para ver programas de tevê de segunda categoria, só com a intenção de desanuviar algumas mágoas ou pelo mero desejo de divertissment. Gratuito, irresponsável, sem sentido. Estamos falando aqui não só do homem comum como do homem dado às tarefas intelectuais;

6) Tempo de poder ficar em casa, pensar na vida dando algum balanço de coisas boas que fizemo;.

7Tempo de ir à rua, tomar sol, caminhar sem destino, olhar para a vida, para as pessoas sem que elas percebam que para elas estamos olhando;

8) Tempo de ligar o computador, fazer algumas leituras rápidas, ver o nosso e-mail e aguardar uma notícia feliz que nos enche de alegrias. Neste caso, prefiro o e-mail enviado a ser convidado eletrônica e programaticamente pelo computador, ou melhor, pelo Facebook;

9) Ficar sozinho em cassa, no meu silêncio, só com os meus pensamentos e sentindo o palpitar a vida ou o pensamento “em suspensão”;

10) Ver que meu horário programado numa folha de papel foi mais descumprido do que eu imaginava. Os horários que nos impomos são interrompidos porque a vida e as suas surpresas nos impedem de ser certinhos, como se fôssemos robôs;

11) Ter a consciência, com o avançar da vida que, como afirmou o velejador e campeão Lars Grael, a vida precisa ser b em aproveitada, instante a instante, onde o hoje, o agora têm mais relevância do que o futuro .



Agora, passemos às desvantagens (algumas dentre as que não me ocorrem no momento da escrita):



1) A aposentadoria pode significar a fase de existência em que irrevogavelmente se tem a impressão de que tudo que podíamos fazer o fizemos. Essa é uma impressão que, de quando em quando, nos bate ao espírito e isso não é bom porque nos pode levar a nos sentirmos inúteis e descartáveis, o que de forma alguma pode ser levado em conta por ser uma ideia negativa absurda;



2) A de saber notícias desagradáveis, como a de que alguns companheiros de trabalho faleceram inesperadamente, porquanto aparentavam estar bem de saúde. Essa realidade do aposentado lhe dói muito e lhe serve de lição mais uma vez do quanto somos finitos;

3) Se voltamos ao lugar do trabalho onde desenvolvemos intensa atividade e onde travamos conhecimento com tanta gente, algumas excelentes, outras boas, outras sofríveis, outras indiferentes, o ambiente físico-psicológico já é diferente. Vem-nos aí a sensação de que nação pertencimento, de que não somos mais dali e, nesse caso, dá-nos vontade muitas vezes de não lá voltarmos mais a fim de não experimentarmos um certo desconforto, uma certa ideia de que pouco temos mais a dizer. É por essa razão, que amiúde acontece de diminuirmos a frequência de volta ao antigo espaço de trabalho. Na realidade, isso acontece mais do que supomos.

4) A aposentadoria nos obriga a dedicarmos mais horas úteis a obrigações mensais: ir mais a supermercado, banco, frequentar mais vezes o médico em razão do envelhecimento,

5) O ócio devido à inatividade de nossa função principal pode nos deixar mais lento nãos nosso hábitos de leitura, na dinâmica de nossa produção intelectual (se for o caso de um escritor), as leituras se adelgaçam mais e aquela energia de outrora vamos perdendo aos poucos, embora acredite que, com o tempo, e se tivermos plena lucidez, ainda podemos fazer muita coisa útil em nossa á área de atividade . Há poucos dias, li uma longa entrevista do escritor Hélio Pólvora, que está cm oitenta e três anos, e me surpreendi com a vivacidade de sua inteligência e o dinamismo que ainda imprime à sua produção literária, ele que é ensaísta, crítico, tradutor e ficcionista. Exemplos como esses deveriam pautar os que se sentem mais deprimidos com o avançar da idade. A velhice dever ser corajosa, plena de ânimo, a fim de que outros , até menos idosos, possam se espelhar nos exemplos dos mais velhos de atitudes bem mais jovens, tema há pouco abordado na crônica de título “Os novos Matusaléns”, do poeta e escritor piauiense Elmar Carvalho ao discutir os grandes feitos das ciências modernas e sua correlação com fatores determinantes da longevidade;

6) Com a aposentadoria, muitos indivíduos deixam de levar a cabo algumas boas ideias sobre projetos que ainda têm temo de concretizar. Não o fazem por mera indolência, seja intelectual, seja física, o que agrava problemas de decrepitude por falta de de um contínua e disciplinada atividade cerebral;

7) Com certeza, os anos de alcance mais limitados impedem de desenvolvermos certas metas que demandam anos de preparação. Isso nos dá indicativos de que a vida humana bem poderia encerrar possibilidade de continuidade após nosso missão na Terra. Sentimos que, em todos os homens, há uma a consciência de que a nossa obra deixada, nos diversos ramos da inteligência, ficará inconclusa, pois precisaríamos de mais tempo para uma conclusão maior e mais abrangente. São como lapsos de tempo não aproveitado como deviam, ou pela inexperiência e falta de orientação, ou por circunstâncias fora do nosso controle;

8) Outros grandes percalços de que podemos ser vítimas na velhice útil são as doenças da velhice, os achaques senis, a falta de lucidez, como o que está ocorrendo com o famoso escritor colombiano de Cem anos de solidão (1967), Gabriel García Marquez, vítima do mal de Ahzheimer, numa fase de vida que ainda tinha que concluir parte de uma obra que vinha escrevendo;

9) Na aposentadoria, há inegável perda de amigos que se afastam, colegas de infância, parentes, até irmãos. Essas perdas afetivas agravam a solidão dos aposentados e podem causar melancolia, depressão,  angústia. Na vida agitada de nossos tempos, tudo quase contribui para o isolamento das pessoas aposentadas, Os filhos passam a ter suas vidas próprias, seus problemas, seus horários apertados, suas inquietações familiares. A vida, que mais do que nunca, se tornou veloz e indiferente, cuida de pôr mais lenha na fogueira dos desastres da solidão dos velhos na sociedade contemporânea, circundada de tecnologias, de automatismos, de mundos novos huxleylianos, que, irremediavelmente, já se concretizam diante de nossos olhos. Que pena!





quinta-feira, 5 de julho de 2012

Um poema de William Blake (1757-1827)






The Garden of Love



I went to the Garden of Love,

And saw what I never had seen:

A Chapel was built in the midst,

Where I used to play on the green.



And the gates of this Chapel were shut,

And “Thou shall not” writ over the door;.

.So I turned to the Chapel of Love,

That so many sweet flowers bore,



And I saw it was filled with graves,

And tomb-stones where flowers should be:

And Priest in black gowns were walking rounds,

And binding with briars my joys and & desires.



O Jardim do Amor



Ao Jardim do Amor me dirigi.

Vi o que jamais em vida esperava ver:

No meio dele, edificou-se uma Capela

No lugar da relva, na qual brincar costumava.



Cerradas se achavam da Capela as portas.

Sobre esta porta “Não hás de” escrever,

De sorte que para o Jardim do Amor tive que os olhos volver.

Nele já brotaram um sem-número de flores.



Vi, então, que apinhado de sepulturas se encontrava,

E de túmulos tomando das flores o espaço

Em vestes escuras, fazendo suas rondas, Sacerdotes eram vistos

Minhas alegrias & aspirações de urzes entrelaçando.





                                                                                               (Trad. de Cunha e Silva Filho)





domingo, 1 de julho de 2012

Salário e custo de vida no Brasil









Cunha e Silva Filho



Me perdoe o leitor o cunho historicista-memorialístico deste artigo. Foi revolvendo velhas cartas de meu pai do tempo de nossa longa e proveitosa correspondência de, pelo menos vinte anos, que me chamou a atenção um assunto que, volta e meia, ele repetia: a carestia, o custo de vida. Estou pensando aqui numa das cartas do tempo do governo Sarney, na qual o jornalista rebelde, em tom de indignação e um tanto de melancolia, se queixava da alta dos preços, o que implicava numa alusão aos baixos salários do brasileiro que não faz parte dos quadros da elite abastada e gastadeira (hoje, diriam “consumista”).

Ora, décadas se passaram desde o final do mandato de Sarney e o tema persiste, renova-se, azucrina a vida dos barnabés (outro termo antigo mas que serve aos propósitos deste artigo). Na carta de meu pai, em tom de ironia, ele faz um comentário, que não vou repetir ipsis litteris, mas que dizia mais ou menos isso: “Esse negócio de ter no país um presidente poeta não dá mesmo certo.”

O cronista não tem compromisso com o economês nem tampouco com a estatística, mas com a sua própria e modesta visão da vida e dos homens. Daí que discutir economia, salário e custo de vida  reflete a percepção leiga, porém, realista de quem sofre na pele todas as dores e aflições oriundas do descompasso entre a remuneração e a subida dos preços de itens nas despesas necessários inadiáveis mensais: alimentos, remédios, prestação da casa própria, plano de saúde, aluguel, lazer, entre outros, já que, do contrário, quem não desfruta do básico nesse conjunto de itens não está vivendo decentemente.

É óbvio que estou falando de uma difusa recém-denominada nova classe média.(?), classe que, a bem da verdade, até hoje não sei ao certo o que é ou com que base de cálculo matemático foi assim definida. Será, por exemplo, que um porteiro da Zona Sul  carioca ou de outros bairros menos nobres esteja agora, na pirâmide social, nessa nova classe média? Que as condições sociais de uma classe mais baixa melhoraram  nos últimos dez anos é um fato que até pode ser levado em conta como uma mudança concreta.

Contudo, o governo, sob a orientação petista, está permitindo, ou melhor, através de suas agências dos diversos setores da economia, está autorizando aumentos no custo de vida e o está fazendo às custas do achatamento salarial do funcionalismo público federal e, por tabela, estadual e municipal. Ora, a injustiça nesse descompasso é fácil de ser percebida mesmo para quem não é dado aos números. O maior indicador de como anda o país econômica e financeiramente está nos aumentos dos produtos de consumo de cada cidadão, informações que qualquer dona de casa sabe com respeito a gastos familiares. Se o custo de vida aumenta nos boletos dos itens já assinalados linhas atrás e o contracheque permanece o mesmo, estagnado, é porque está sendo corroído por inflação ao longo do ano. Os aumentos dos produtos tanto dos governos (gás, luz, Correios, transportes. IPTU, IPVA, pedágios etc), quanto de setores privados são todos determinados pelos governos federal, estadual e municipal. Logo, De quem é a culpa? Claro, desses setores públicos. Na iniciativa privada, tanto no comércio, na indústria, no atacado e no varejo, quem paga a conta é o bolso do povo. Não é preciso ir longe.  No caso dos remédios, é absurda a despesa mensal com a qual o brasileiro tem. que arcar, sobretudo se estiver aposentado  e com baixos proventos. Não é gratuita  a circunstância de que  estão  pipocando greves em universidades federais e  em outros  setores  públicos  ou privados.

Um país dividido em classes, que eu classificaria como alta, média e baixa, na qual esta última se mostra difusa no que tange à renda familiar, à medida que ocorrem aumentos de produtos diversos, e sobretudo os de primeira necessidade, quem mais sofre o arrocho salarial são os de renda média e baixa. Quanto aos ricos, isso pouco monta, de vez que para eles sempre têm de sobra  o que possam gastar e consumir faraonicamente.

As classes dominantes estarão sempre na vanguarda dos lucros e dos gastos, dos frutos das regalias sem medida, sem medo nem pudor, na realeza consumista, na conquista das benesses e do poder, seja, o econômico, de grande peso na estrutura do país, seja o político, os  quais, desde “A República Velha”, mandam e desmandam na sociedade brasileira, sociedade na qual o anacrônico útil, contínuo, e o moderno oportunista confluem como traços singulares do país miscigenado, cordial, solidário e paradoxalmente modelo de honestidade bruzundanguense.