terça-feira, 6 de setembro de 2016

EDUCAÇÃO, SALA DE AULA E IDEOLOGIA











                                                          Cunha e Silva Filho

      
               Na Escola Tradicional  e principalmente na   Escola Moderna (e por moderna atribuo ao temo a sua acepção mais lata  possível), um debate polêmico  está sendo   travado  no que tange ao ensino-aprendizagem com seu núcleo de discussão  justamente  na forma como se deve ou  não  ministrar  disciplinas  nas escolas  públicas, ou seja,  nos níveis do fundamental (6ª, 7,ª  8ª e 9ª)  e sobretudo do ensino médio.Obviamente,  a questão para este último  período se torna mais  sensível e exige maior  tato  pedagógico, porquanto  estar-se-á lidando  com  adolescentes em vias  de se tornarem  jovens adultos e numa faixa etária na qual  as grandes indagações   de natureza  sociopolítica, histórica filosófica   começam a  fazer  parte  da formação    ideológica do discente.
              É nesse ponto nevrálgico que a questão da doutrinação  ou não se presta  ao confronto  de diferenças  entre alunos e docentes.
              Da mesma maneira,  é nesse ponto em que  as visões  dos pais  dos alunos e a dos professores  podem  se chocar, estabelecendo  pontos de divergências  que resultem  em  prejuízos  tanto  para o ensino quanto  para  a formação  intelectual  do alunado.A dificuldade de  lidar com  essa questão é o busílis para uma educação e ensino   eficientes ou  para  seu  lamentável fracasso.
         Outro componentes  bastante  significativo para o tema  é a natureza  da disciplina  lecionada. É evidente que  algumas  disciplinas,as humanas,  estarão mais  expostas  e mais  comprometidas na discussão   candente  do ensino-aprendizagem. São elas: história, geografia, língua  portuguesa   literatura brasileira e literatura  portuguesa.     
          Mais uma agravante,  viria  no bojo desse debate,  as escolas  militares, as religiosas. Daí me referir à necessidade do tato, do bom senso, da maturidade imprescindível do mestre a quem o mínimo que dele se e pode exigir  é que seja  um espírito equilibrado conduzido  por um elevado   sentido  do valor da educação  e do ensino que lhe são postos  nas mãos  a fim de  realizar seu trabalho   didático   de maneira   imparcial tanto quanto  possível.
           Todas essa  matérias  humanas  acima citadas podem ser bem  desenvolvidas em sala de aula sem que se produzam  conflitos   indesejáveis  tanto  para o aluno quanto  para o  professor regente. De outra parte,  um professor  não é um  indivíduo destituído de suas idiossincrasias,  de sua  visão social e mesmo  ideológica, inclusive  partidária. 
           Entretanto,  o maior cuidado  deve ele ter na condução de suas aulas de molde a  não  acirrar   os ânimos  dos alunos  e entrar  em  polêmica   de caráter  doutrinário ou  proselitista, a ponto de transformar  suas aulas  numa refrega  de fla x flu.  Se existir essa rivalidade ou choque de ideologias, a aprendizagem redundará em tremendo   fracasso. O conteúdo da disciplina  irá pra o beleléu e a educação pública perderá a sua função e finalidade precípua e inarredável,  que é a de  preparar  pessoas  competentes,  críticas mas não  dogmáticas, formando  indivíduos que saibam  respeitar  o outro e as diferenças  de opiniões. Indivíduos que saibam discordar sem   radicalismos, sem  impor sua  unilateralidade  a fórceps sobre outrem. Isso não quer dizer que dos dois lados da moeda tudo se aceite ou tudo se negue. Nem a direita é santa nem a esquerda  é a tábua de salvação. Tampouco  em tudo que e neoliberal  é bom  para todos:da mesma sorte que nem tudo que  os  verdadeiro marxismo   ensinou  é descartável  e  errado.
         Aproveito  este ensejo para fazer uma citação de um crítico marxista a quem admiro, Terry Eagleton, ainda que eu não seja marxista: “Estar dentro de uma posição ou fora dela ao mesmo tempo – ocupar um território enquanto movimentando-se ceticamente na sua  fronteira – é amiúde  onde brotam  as ideias mais   intensamente  criativas.É  um lugar  precioso para nele estar, ainda que nem  sempre o menos doloroso.” (EAGLETON, Terry. After theory. Basic Books:New York, 2003, p. 40.)
         O que um mestre  genuíno  pode  bem fazer e competentemente  desempenhando seu papel  de pedagogo  é ministra bem  sua  matéria, até pode abordar  diversos  modos  de  visão dos problemas  que a História nos  legou e que ainda estão por serem  solucionados,  mas deve fazê-lo sem  artifícios  enganosos  de  trazer  seus alunos para o seu lado, e fazer brainswah tendencioso,  nocivo e viés ideológico  que distorce   outras  formas  compreensão   e leitura do   mundo, as   com liberdade de expressão, de locomoção  e com possibilidade de exercer uma atividade feita com dignidade, ética e  autenticidade  pessoal  forjada  no respeito  à coletividade e no respeito aos semelhantes.
        Não somos  os únicos,  os melhores.  Somos  parte  de uma  multiplicidade  de  ideias e pensamentos  que estão em mudanças  num mundo de alta complexidade tecnológico-científica e de   convívio   muito mais    difícil do que em tempos de menor    afluência  humana.
     



          

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