quarta-feira, 14 de setembro de 2016

ONDE ESTÁ O BRASIL?







                                                  Cunha e Silva Filho


      A crítica literária, o ensaio, a tradução, a crônica, o artigo  acerca de temas  da minha preferência me atraem, mas o momento brasileiro,se não me atrai pela positividade,  me atrai  para a discussão,  o debate,  político,  a escrita indignada, a escrita “rebelde” ressonâncias limabarretianas?), cuja  natureza  discursiva  às vezes resvalam para o panfleto. Mas, me perdoe, leitor,  é que, em razão de tanta sem-vergonhice de que se tem notícia a respeito do que ocorre no país, de  tanta impunidade consentida, de  tanta   traição  fingida ou verdadeira, mais uma vez, aqui estou  para falar da vida nacional.
     No Facebook, me deparo com uma cena, no mínimo,  hilariante: o ex-presidente Lula na posse da presidente da Suprema Corte. Lá estava ele,  lépido e ladino,  com  a mesma facies  que sempre lobriguei  no seu olhar e no seu andar entre pícaro e malandro e, o que é mais grave,    investigado pela Lava-Jato. Lá estava ele  livre, solto,  um passarinho  à procura  de uma solução para o país.
     Naturalmente,  conversava com a elite, com os donos do poder  ((ainda que, na Terra um tanto devastada,   só provisório). Imagine se fôssemos eternos,  imortais,  infinitos... Quem suportaria tanta  notícia e contranotícia,  versões e versões, os  prós e  os contras, fuxicos e conversas ao pé do ouvido, sussurros, balbucios, linguagens cifradas, esoterismos  e camuflagens,  espelhos trocados,  imagens  torcidas,   “um vasto mundo”   cheio de miasmas se alguns  poderosos  fossem  imortais?
    Eu procuro  pelo destino  da minha pátria amada como  o filósofo  Diógenes  procura um  homem  honesto com uma lamparina em pleno  dia  de sol. Só vejo neblinas, nuvens pesadas. Descortino realidades inimagináveis  no grotesco  da política nacional. Não encontro uma saída para  atinar com tanta   impureza no cenário  fosco que se me apresenta  o quotidiano  da nossa  aviltada  vida  pública .
   A Lava-Jato não me sai da cabeça e o diabo é que não consigo dissociá-la da figura  do Lula. Por outro lado,  como hei de enfrentar  os subterrâneos, a intimidade da intimidade, da intimidade, como se  tratasse de uma ficção utilizando-se do recurso do mise-en abyme?  Onde estão a “verdade” e a imaginação  do inconsciente  coletivo? Será que Freud teria alguma pista para chegar aos fatos   incontestáveis das causas  primeiras da origem de todo  esse sofrimento  por que  parte considerável  dos brasileiros está passando? Seria isso  algo    destrinchado  por um  Sherlock Holmes  saído da ficção e transformado em ser de carne e osso para a nossa realidade tupiniquim?  Ou a débâcle financeira nacional teria sua resposta  em alguma das    tragédias shakespearianas?    
   Como  explicar, com argumentos sólidos,  inatacáveis o fato de um  ex-presidente  ser presença  na posse de uma  presidente do STJ? Então, foram só  boatos  os resultados da Lava-Jato,  a quase prisão  do ex-mandatário? Não se pejam  os três poderes da presença do ex-sindicalista  na Suprema Corte? Não seria  esta uma resposta  dos donos do Poder  acenando  para os brasileiros  que, no caso do Lula,  da sua transformação em  homem de posses, com filhos  enriquecidos,   ainda que pese  a dúvida sobre ser ele dono ou  não do sítio de Atibaia?
    Ora,  tudo isso  é um grão de areia  no Saara se fôssemos a fundo  na investigação do famigerado Escândalo do Mensalão, cujos  desdobramentos ainda não tiveram um desfecho  cabal.
   Onde esta o Brasil que queremos a salvo das tramoias   e chicanas  político-partidárias? Será que desejamos um país desenvolvido  convivendo com um país   campeão da impunidade em  quase todos  setores da vida pública? Seria um desatino pensarmos assim, de vez que a alta impunidade  mexe com a infraestrutura  das instituições públicas e democráticas. Não pode m coexistir  progresso  com  corrupção e impunidade.
     Os atos lesivos à economia e às finanças do país se sustentam até certo ponto, mas, em seguida,  começam  a desintegrar-se e os resultados  estão  à vista dos brasileiros: maior violência,  estados falidos,  saúde pública  falida,  funcionários  públicos estaduais, juros altíssimos  nos cartões de crédito, desemprego,  lojas fechando, custo de vida  em alta,  salários encolhidos e arrochados,  cujo exemplo mais  trágico  é o do Rio de Janeiro,   passando seu funcionários e seus aposentados e pensionistas   privações  sem precedentes na história  da vida  pública  brasileira. De longe,  até nos lembram os sofrimentos por que tem passado  a sociedade  grega atual.
     Se fôssemos fazer uma arqueologia das causas  da delicadíssima  situação  financeira do pais, nos últimos quinze anos, posso apontar  como alguns dos   fatores  mais  determinantes  os seguintes:  a roubalheira ativa e passiva, a gastança  e   a propinagem, os escândalos  e as sucessivas denúncias  de  desvios  do dinheiro  público  em conluio  descarado com  alguns setores  corruptos da  empresariado  brasileiro.Isso explicita  à saciedade o  motivo nuclear e  decisivo   da falência  do Estado Brasileiro.
      O país de nossos  sonhos não encontro  no mapa  geográfico. Onde está o Brasil?
    

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