Cunha e Silva Filho
Era para
lhe ter feito o comentário que ora lhe faço, mas, como usava, ai em Teresina, um tablet,
eu não conseguia digitar o texto no
espaço adequado.
Agora, de volta à minha casa, escrevo-lhe, como habitualmente, do meu computador.
V. me antecipou, poeta "malabarista do verso," na
crônica “Passeio sentimental no tempo e no espaço” o que eu faria também sobre a nossa visita a Amarante, quer dizer,
o que nós, em família,
experimentamos na viagem de algumas horas a Amarante. E o fez em
crônica saborosa, fiel aos
acontecimentos vividos por mim,
V., Fátima e Elza.
Foi, na verdade, o que poeticamente diz o título da mencionada
crônica.Vejo que o amigo, no seu
texto se mostrou, como vem fazendo ao longo do
processo de sua escrita
literária, seja em poesia, seja em
prosa, exemplarmente nesta tarefa de relatar com
naturalidade e sentido
lírico, fixando o olhar na paisagem
humana, na paisagem física e na sua forma de interpretar
os homens e os fatos com
muita dose de humor
saudável, brincalhão, mesmo
fazendo coisas sérias, que é produzir suas
crônicas no seu conhecido e bem lido
“Blog de Elmar Carvalho”.
A sua crônica, portanto,
não deixou um único aspecto
de fora em "nossa"
visitação à Amarante, ao fundir harmoniosamente as nossas vivências com
vida literária.
Daí, a adequação
que teve para declamar um poema seu com o seu sotaque
tão característico e cheio de
exaltação lírica, resultando
num quadro perfeito de
escrita posteriormente elaborada.
É pena que, no mirante de Amarante, a sua empolgação na fala aludindo ao poeta da Costa e Silva (1885-1950) e ao lamentar que foi rejeitado o pedido
feito ao filho do poeta para
que os restos mortais do maior
vate de Amarante e da poesia piauiense fossem trasladados do Rio para
Amarante.É pena também que o, ao manejar o meu tablet, me faltasse comptência técnica para realizar a filmagem com som e tudo.
Ainda falando de sua crônica, há que nela se
destacar a singularidade da escrita como resultado do que, de
improviso, do alto da escadaria,
ressaltou sobre as belezas
bucólicas da cidade de Amarante e das
serras do lado do Maranhão tendo
como intermediação afetiva
e nostálgica a figura do Velho Monge, do hoje maltratado rio Parnaíba, elemento físico
inseparável da beleza natural
daquela cidade que tanto amamos..
V., Elmar, me surpreendeu como figura humana bem mais descontraída do que no tempo em que
o conheci ainda muito jovem nos idos
de 1990, tempo em que tive o grato prazer
de iniciar com V. uma
amizade que, da minha parte, jamais esvaecerá ainda que
sabendo o quanto, por vezes, as amizades
mudam para melhor ou para pior.
Da minha parte, julgo que será
durável nos limites de nossa
perenidade na Terra. Já o
considero uma pessoa que
conquistou o meu coração e o da
Elza.
Volto à
crônica que vinha comentando em alguns
traços gerais. Mas, não posso
esquecer de mencionar
o momento de encanto quando entramos no Museu Odilon Nunes. Ali a história se volta inteiramente para o passado e toca todas as fibras do meu ser saudoso, sempre
tentando conviver com o
valioso legado da afetividade
relacionada à figura de meu pai.
As fotos que tiramos juntos têm como elemento
de identidade e aproximação entre
nós o sentimento profundo da afetividade minha e,
creio, sua também, cujo ponto
de união se manifesta através da presença do
busto de meu velho pai,
obra que é fruto do talento do meu
irmão Winston, um escultor boêmio
e desapegado das coisas
materiais.
Tudo naquele ambiente de objetos
antigos da cultura amarantina
me desconcerta e invade
profusamente o meu mundo interior dadas as associações que ali fiz
de todo um tempo que já foi
vida trepidante, em
salas nas quais meu
pai, na condição de professor do Ginásio Amarantino, sob a direção de
Odilon Nunes(1899-1989) tantas vezes por ali andou e principalmente por ali
tinha seu espaço de
sobrevivência, suas alegrias e tristezas e todas as vicissitude por que passa a vida de um
docente.
Ah, não poderia deixar de mencionar em nossa
viagem sentimental algumas
circunstâncias, que, no
final, acabam por fazer
parte da própria andança
sentimental: a travessia de
municípios no trajeto para Amarante, as cidades de, por exemplo, Regeneração,
Angical, Água Branca; a parada de carro para um
rápido lanche na Lanchonete do Sales cheia de santinhos
de candidatos de
todos os partidos; a dúvida que V. teve sobre qual a estrada, na agradável
viagem de carro, seria a correta, pois, numa certa altura, ela se
bifurcava em dois sentidos, um dos quais nos levaria a Amarante, porém, o
problema logo felizmente foi resolvido
pela informação de um
morador; a dificuldade de encontrarmos
o restaurante que queríamos
constituíram momentos de muito
humor para todos nós. Por
último, o fato de que,
naquela hora que estávamos em
Amarante à procura do casa de minha irmã Sônia, observamos
que toda a cidade poderia estar fazendo sua sesta
debaixo do calorão de uma cidade
velha, cheia de mistérios e com
um ar de
solidão e abandono.
V., graças à sua poesia com uma vertente dirigida à condição de poeta geográfico do Piauí, se sente, a meu ver,
liricamente preso à velha Amarante, tanto mais que a
poetizou engrandecendo
assim o repertório da lírica amarantina em versos que
seguramente ficarão gravados
para sempre na história cultural
da cidade.
A poesia faz parte do sua personalidade literária,
meu caro Elmar, e mesmo na sua ficção,
ou na crônica, ela se faz presente.
A sua crônica marca um ponto de convergência saudável e aglutinador entre a minha pessoa
e a sua. Isso me é confortante e me desvanece o espírito.
Sua crônica sela em definitivo uma amizade que passou do domínio da
intelectualidade para o domínio de uma amizade que só poderá crescer com
o anos. Ou seja da condição de crítico
de sua obra me tornei um seu amigo. Não é o primeiro caso na história
literária brasileira ou
universal.
Quero,
por outro lado, lhe agradecer
mais uma vez pelo gentil convite que me fez e à Elza para, junto com a Fátima, fazermos uma deliciosa, histórica e afetuosa visita
à minha Amarante regada a um
"causer" divertido, espirituoso,
cavalheiro e sobretudo amigo.
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