Caro leitor do meu Blog, a partir de hoje, o meu espaço, sempre que possível apresentará matéria de outros autores sobre questões de literatura.
Desta forma, abrirei espaço, com autorização prévia do autor do romance Os anos da juventude, Francisco Venceslau dos Santos, para publicar uma resenha deste livro escrita por Roberto Acízelo de Souza, Professor Titular de Literatura da UERJ. Segue o texto mencionado:
NOTE TO THE READER:
[ Dear reader of my Blog, from now on, this virtual space of mine, whenever possible, will present texts from other authors related to Literature themes.
In so doing, I' ll open a space, with previous authorization of the autor of the novel Anos da juvaentude, Francisco Venceslau dos Santos, to publish a review of this novel by Professor Roberto Acízlelo de Souza, Full professor of Literature to UERJ], as follows:
SANTOS,
Francisco Venceslau dos. Os anos da
juventude; um romance. Rio de Janeiro: Caetés, 2014. 150 p.
Com
ação ambientada em Teresina, na primeira parte, e no Rio de Janeiro, na
segunda, a obra compõe um painel do viver de certa parcela da juventude, no
lapso de tempo que se estende de meados da década de 1950 a fins da
subsequente. Certa parcela — dissemos —, porque a galeria de personagens se
restringe a jovens de classe média, cuja trajetória a narrativa apresenta,
desde fins dos últimos anos de seus estudos em nível médio até o ingresso em
cursos universitários.
Escolhido assim o segmento
sócio-cultural a que pertencem protagonistas e figurantes, o relato, mediante
seleção criteriosa de detalhes representativos, vai descrevendo comportamentos
que configuram verdadeiro estilo de vida. Ficamos assim sabendo, por exemplo,
como se vestiam os jovens da época e como eram suas diversões, e sobretudo
quais as suas preferências em matéria de orientações políticas, bem como o
universo de suas opções culturais, aí compreendidas manifestações da
literatura, do cinema e da música. Desse modo, se vai compondo um mural de
época, através de uma técnica de acumulação de pormenores significativos,
multiplicando-se as alusões aos ícones da cultura jovem do tempo, da moda à
filosofia, passando por romances, poemas e filmes. O resultado do processo é a
construção do que se pode caracterizar como um quadro ético-estético de um
passado mais ou menos recente, flagrado a partir de uma perspectiva brasileira,
ainda que não alheio à conjuntura mundial daquele momento.
Para
não ficar na descrição abstrata, vejamos algumas passagens do texto, a título
de exemplificação dos traços referidos:
- a moda: “Manoela estava linda, magra, vestia
uma blusa de jeans bem justa, calçava sandálias de couro, trazia a tiracolo uma
capanga com um design creme, cheia de livros e papel” (p. 63); “No espelho da
casa olhou-se. Vestia uma camisa branca bem simples, por cima um paletó xadrez
à moda do final dos anos cinquenta [...]” (p. 16).
- as leituras literárias: “Abriu Alguma poesia, de Drummond, e começou a
ler, fazendo anotações em um caderno [...]” (p. 82); “ ‘Quer ser tão entediado
quanto o amanuense Belmiro de Cyro dos Anjos?’ — ironizou ela com a faceirice
das garotas íntimas” (p. 82).
- as leituras filosóficas e sociológicas: “
‘Para onde estamos indo’ — perguntou Janice, que segurava nas mãos Tristes trópicos [...]” (p. 83); “ ‘Sabe
qual é a novidade?’ — encarou os colegas com um desafio, e continuou: ‘Leio O capital, de Karl Marx’ ” (p. 24).
- a música: “[...] todos fizeram um círculo
entre as prateleiras de discos e cantaram When
I got troubles, de Bob Dylan” (p. 16); “Era sexta-feira, e havia no ar uma
boa sensação, continuavam felizes ali sentados, escutando os Beach Boys, de vez
em quando Celly Campello [...]” (p. 59).
- o cinema: “Seguiram como um casal, pela
calçada da rua do Catete; tinha agora um cartaz de James Dean de Juventude transviada ao lado do de
Cantinflas, na entrada do cinema Astheca [...]” (p. 61); “[...] e ficou
examinando o cartaz de Barravento, de
Glauber Rocha, fixado em um mega painel, entre cenas de cinema, tinha visto o
filme na noite anterior no cine Odeon” (p. 81).
Eis
então uma pequena amostra textual da técnica de acumulação mencionada, cujo
produto final, conforme vimos, é o desenho da moldura ético-estética de uma
época, à medida que compõe, em conjunto íntegro, a dimensão dos comportamentos
e as referências culturais que os orientam. Composição, de resto, concretizada
em narrativa ágil e veloz, que se precipita em ritmo de videoclip, como que encarnando o próprio frenesi do mundo de que é
a representação ficcional, mundo que, como hoje podemos saber, apenas
prefigurava o que ora vivemos, com seu ritmo ainda mais vertiginoso, a
dissolver a vida em ligeireza.
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