domingo, 18 de setembro de 2016

NOTA AO LEITOR

NOTA AO  LEITOR:

Caro leitor do meu Blog, a   partir de hoje, o meu espaço,  sempre que possível   apresentará matéria de outros  autores sobre  questões de literatura.
 Desta forma,  abrirei  espaço, com autorização prévia   do  autor do romance   Os anos da juventude, Francisco Venceslau dos Santos, para  publicar uma  resenha deste livro   escrita  por  Roberto Acízelo de Souza,  Professor   Titular de Literatura da UERJ. Segue o texto mencionado:

NOTE TO THE READER:

[ Dear reader of my Blog, from now on, this  virtual  space of mine,  whenever  possible,  will present texts from other authors related to Literature themes.
 In so doing, I' ll open  a space, with   previous  authorization of the autor of the novel Anos da juvaentude, Francisco Venceslau dos Santos,   to  publish a review of this novel   by  Professor Roberto Acízlelo de Souza, Full professor  of Literature   to UERJ], as follows:




SANTOS, Francisco Venceslau dos. Os anos da juventude; um romance. Rio de Janeiro: Caetés, 2014. 150 p.
                        Roberto Acízelo de Souza (Titular de Literatura/Uerj)

            Com ação ambientada em Teresina, na primeira parte, e no Rio de Janeiro, na segunda, a obra compõe um painel do viver de certa parcela da juventude, no lapso de tempo que se estende de meados da década de 1950 a fins da subsequente. Certa parcela — dissemos —, porque a galeria de personagens se restringe a jovens de classe média, cuja trajetória a narrativa apresenta, desde fins dos últimos anos de seus estudos em nível médio até o ingresso em cursos universitários.
Escolhido assim o segmento sócio-cultural a que pertencem protagonistas e figurantes, o relato, mediante seleção criteriosa de detalhes representativos, vai descrevendo comportamentos que configuram verdadeiro estilo de vida. Ficamos assim sabendo, por exemplo, como se vestiam os jovens da época e como eram suas diversões, e sobretudo quais as suas preferências em matéria de orientações políticas, bem como o universo de suas opções culturais, aí compreendidas manifestações da literatura, do cinema e da música. Desse modo, se vai compondo um mural de época, através de uma técnica de acumulação de pormenores significativos, multiplicando-se as alusões aos ícones da cultura jovem do tempo, da moda à filosofia, passando por romances, poemas e filmes. O resultado do processo é a construção do que se pode caracterizar como um quadro ético-estético de um passado mais ou menos recente, flagrado a partir de uma perspectiva brasileira, ainda que não alheio à conjuntura mundial daquele momento.
            Para não ficar na descrição abstrata, vejamos algumas passagens do texto, a título de exemplificação dos traços referidos:
- a moda: “Manoela estava linda, magra, vestia uma blusa de jeans bem justa, calçava sandálias de couro, trazia a tiracolo uma capanga com um design creme, cheia de livros e papel” (p. 63); “No espelho da casa olhou-se. Vestia uma camisa branca bem simples, por cima um paletó xadrez à moda do final dos anos cinquenta [...]” (p. 16).
- as leituras literárias: “Abriu Alguma poesia, de Drummond, e começou a ler, fazendo anotações em um caderno [...]” (p. 82); “ ‘Quer ser tão entediado quanto o amanuense Belmiro de Cyro dos Anjos?’ — ironizou ela com a faceirice das garotas íntimas” (p. 82).
- as leituras filosóficas e sociológicas: “ ‘Para onde estamos indo’ — perguntou Janice, que segurava nas mãos Tristes trópicos [...]” (p. 83); “ ‘Sabe qual é a novidade?’ — encarou os colegas com um desafio, e continuou: ‘Leio O capital, de Karl Marx’ ” (p. 24).
- a música: “[...] todos fizeram um círculo entre as prateleiras de discos e cantaram When I got troubles, de Bob Dylan” (p. 16); “Era sexta-feira, e havia no ar uma boa sensação, continuavam felizes ali sentados, escutando os Beach Boys, de vez em quando Celly Campello [...]” (p. 59).
- o cinema: “Seguiram como um casal, pela calçada da rua do Catete; tinha agora um cartaz de James Dean de Juventude transviada ao lado do de Cantinflas, na entrada do cinema Astheca [...]” (p. 61); “[...] e ficou examinando o cartaz de Barravento, de Glauber Rocha, fixado em um mega painel, entre cenas de cinema, tinha visto o filme na noite anterior no cine Odeon” (p. 81).
            Eis então uma pequena amostra textual da técnica de acumulação mencionada, cujo produto final, conforme vimos, é o desenho da moldura ético-estética de uma época, à medida que compõe, em conjunto íntegro, a dimensão dos comportamentos e as referências culturais que os orientam. Composição, de resto, concretizada em narrativa ágil e veloz, que se precipita em ritmo de videoclip, como que encarnando o próprio frenesi do mundo de que é a representação ficcional, mundo que, como hoje podemos saber, apenas prefigurava o que ora vivemos, com seu ritmo ainda mais vertiginoso, a dissolver a vida em ligeireza.

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