terça-feira, 26 de agosto de 2014

Winston Roosevel: um artista da escultura piauiense



                                                           Cunha e Silva Filho


           Talvez desconhecido em partes do Piauí, quiçá até na capital,  Teresina,  Winston  Roosevelt, completou,   neste mês de agosto,  setenta anos. Ele nasceu em Amarante,  em  2 de agosto de 1944.Temperamento   visceralmente  de artista,  na vida boêmia que levou  na juventude e na mocidade, um lado dele permaneceu  constante e renitente:  produzir  esculturas, trabalhar com o bronze, ou outros meios  usados  pela escultura,    dar vida  a seres, mortos ou vivos,  dependendo  do que  lhe possa chegar como  encomenda.
           Um autodidata,  que nasceu  para dar formas  à figuras  humanas,  animais ou  qualquer  que seja o objeto ou o ser criado. Formas de arte que me comovem pela perfeição  dos traços,  dos detalhes, das linhas,  do conhecimento  da  anatomia humana, da perfeição  artesanal que mãos habilíssimas   da matéria amorfa transmudam em obras de arte perduráveis, soprando  vidas a latejarem  do silêncio  da beleza  imóvel.Um grande   artista é um  observador   privilegiado  da matéria  física e da dimensão  humana. Contudo,  não se pode negar que  a escultura  é uma  arte  da qual não pode  ficar ausente a dimensão   espiritual, não puramente   por imitação dos seres que  têm ou tiveram  vida, .mas por  recriação  sob  o comando  da  ação e potencialidade do artista que detém os meios  natos  e  aperfeiçoados  pela experiência no seu ofício.
          Ninguém  lhe  ensinou a pintar,  a desenhar e sobretudo a esculpir. Tudo lhe  veio  da predisposição  inata às formas  plásticas. Desde  criança,  ainda nos primeiro anos da adolescência,  meu  irmão  Winston Roosevelt já  surpreendia a todos nós  com seus inúmeros  desenhos a carvão  de figuras  humanas  feitas  nas calçadas  ou numa simples folha  papel   num canto de um quarto das residências em que moramos nos anos  cinquenta em Teresina..
       Inteligência  incomum,  memória  grandiosa,  criatividade  para   até  inventar   textos ficcionais na memória  e que, ainda hoje,  provavelmente,   ainda  consegue   relembrar parte deles 
      Na escola,  não foi  bom aluno, queria mesmo era brincar, namorar as  belas morenas   do Ginásio  “ Des. Antonio Costa”( o “Domício,” dos irmãos  Magalhães, de saudosa  recordação). Vaguear, deambular    pelas praças  da capital,   numa vida que se aproximava   dos  pícaros espanhóis. era um traço seu. Nunca se adaptou  aos  regulamentos   dos  colégios e da  disciplina escolar. Estudou  o ginásio no Domício, do qual  foi  colega meu de turma.Ainda  se matriculou no Liceu Piauiense para cursar o científico,  mas largou  logo no primeiro ano.O que desejava mesmo  era  aventurar-se  pelas ruas de Teresina,   fazer amizades. Meus pais  é que nunca viram bem isso. A vida artística, porém,   não  deixou de lado. Creio que  sempre lhe foi a principal   meta de vida, com todas  as  dificuldades que atravessou e com todas  as possibilidades que perdeu por ser  pessoalmente  desorganizado e viver  a “dolce vita” do presente. A Arte o chamava apesar da boêmia,   das   noitadas  etílicas, dos amores   passageiros,   dos cabarés,   dos becos  ocultos  da velha  Teresina.
        Nos anos  sessenta,  esteve  por um ano no Rio de Janeiro, quando  eu já aqui  iniciava minha vida  de estudante me preparando  para a universidade.  Na grande Cidade  Maravilhosa,   Winston, como era de  se esperar,  não se adaptou,  não se firmava em  trabalhos   com rigor de horário.  Sua alma é de boêmio e suponho que ainda o seja apesar dos cabelos brancos,   do cansaço dos anos  e  de se tornar  avô  e pai de  muitos filhos.
Winston é um talento que  não teve a chance  de  se aprimorar nos grandes centros urbanos do Rio de Janeiro, São Paulo e mesmo  europeus.Talento  e engenho sempre os teve e muito. Sei  que, ao longo dos anos,  com  uma vida de dificuldades,  ainda conseguiu  produzir  um bom número de esculturas. Poderia estar economicamente bem se não  tivesse esse temperamento   dado  à boêmia, gastando  o que  tem e não tem, e, assim,  sempre ficando  em agruras  financeiras. Uma vez,  concitei os irmãos  a fim de  que pudéssemos ajudá-lo, mas  não pude  contar  com o a minha proposta. 
Talvez, se tivesse tido uma  melhor orientação   familiar,   estaria  numa posição  mais visível  no mundo artístico, mesmo   se considerarmos  só  o Piauí.
Dei-lhe  muitos conselhos em cartas para Teresina. Contudo,  o seu temperamento   artístico  é rebelde. Segue o seu próprio  impulso.Foi a sua escolha  de vida e também  o  quinhão que recebeu  de  suas próprias ações, algumas erradas, outras certas.. Ninguém nunca  haverá de entender a alma dos artistas, os seus modos  pessoais de encarar a vida,  a sua eterna  condição  de  ser um  indivíduo  diferente, não adaptável  às formalidades   da sociedade, aos seus mecanismos   ocultos, indevassáveis,  e ao mesmo  tempo  injustos.  
Só sei que  meu  mano Winston   atinge seus setenta anos e, se os meios culturais locais,  não lhe deram  maior   visibilidade e maior  destaque,  da minha parte  de simples observador da vida cultural,  não paira  dúvida alguma de que  Winston  Roosevelt  seja um  grande  artista piauiense. Sua  esculturas,  suas hermas,   suas figuras humanas ou de outra natureza, em tamanho normal,  certamente estão espalhadas em  residências ou  outros lugares de Teresina, ou mesmo  no interior  piauiense.


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