sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Espaço da memória






                                              “ A friend in need is a friend indeed.”
                                       

 Cunha e Silva Filho


                  Sei, leitor, que eu, você, todo mundo, em geral,  estamos errados quando,  tantas vezes,  deixamos de lado  a continuidade de uma amizade  que, com o tempo, se vai,  pouco a pouco,  embora e, o que é pior,  quando pensamos  em reatá-la, já é  impossível, visto que  o amigo ou a amiga  podem não estar mais   entre nós. Falo disso  a propósito de  amigos  que  perdemos de vista  por longo tempo e  estes, conforme tão  lucidamente vemos  em romances de Machado de Assis,  vão desaparecendo até mesmo   com  muita  frequência, o que é de lamentar do  ângulo da condição  humana. 
               Lá por volta dos anos de 1960, diria melhor,  1963 até 1968 aproximadamente,   minha  esposa  mantinha uma  grande amizade  com  a família  Freire,  então gerente-geral do Banco do Brasil, agência Centro, Rua Primeiro de Março, no prédio onde hoje funciona   o Centro  Cultural  Banco do Brasil. A esposa do Sr. Moacyr Freire era a D. Santuzzi e eles tinham  um casal de filhos.   Moacyr   Freyre era do  Piauí, não sei se exatamente  da capital. Sei de um irmão dele, o Sr. Zequinha Freire, que morava em  Teresina e, de vez em quando,  visitava o irmão Moacyr. O Sr. Moacyr Freire  morava no belo  bairro de  Ipanema, na rua Visconde de Pirajá.
Naquele tempo, eu  ainda era  namorado  de minha esposa. Foi ela quem me apresentou  ao Sr. Moacyr Freire. Antes,  me contara  em que circunstâncias  o conhecera. Tendo chegado do Piauí  muito jovem, necessitou  de ir ao Banco do Brasil receber uma   ordem de pagamento que lhe  enviara  a mãe, em União. Ocorre que, por algum motivo,  houve atraso na chegada  da ordem de pagamento. Ela ficara   aflita, pois  necessitava   do valor   enviado.
 Conversando  com um funcionário  do banco,  e  expondo-lhe   o problema, contara-lhe   que era do Piauí. O funcionário, solícito,  logo entendeu o desespero da  jovem e, com  boa  vontade,  lhe sugeriu que falasse com  o gerente, o Sr. Mocyr Freire, por sinal,  do Piauí, conterrâneo dela.
O funcionário, muito  educado,  levou-a até ao gerente. Ela  lhe   relatou  a ocorrência  do  atraso  da ordem de pagamento. O gerente a  ouviu atentamente e, numa  ação de bondade  que iria ainda se repetir tantas  vezes, lhe disse:  “Não se preocupe,  menina,  vamos fazer  assim. Eu lhe empresto  agora o   valor que  lhe remeteram e,  depois,  você  me paga.”
Nasceu daí  uma  boa  amizade. A amizade se estendeu, depois,  a mim   igualmente,  pois fora  o Sr. Moacyr Freire que me  tinha conseguido uma colocação num  banco de uma  agência  do Centro,   na Rua  Primeiro de Março. Era o  Banco do  Intercâmbio Nacional (hoje extinto), departamento de câmbio,  onde iria  trabalhar como   escriturário  principiante, que,  na prática,  redundou  mais em  escrever  carta em inglês comercial, ou em verter  para o  inglês cartas  em português enviadas  pela  gerência   de câmbio.
Por um lado foi muito bom  ter trabalhado  naquele banco,  uma vez que me vi  compelido a aprender  bastante   a terminologia  do inglês comercial e bancário. Até havia  comprado  pra mim  um  ótimo  compêndio das Edições de Ouro que ensinava a escrever cartas  comerciais  em inglês, cujo autor ainda  guardo  na memória:  Leônidas  Gontijo de Carvalho. Era o ano de 1968, ano em que nasceu  meu  primeiro  filho,  hoje  moço vitorioso,  professor  de Direito em Curitiba, Paraná e Procurador Municipal.
A amizade do Sr Moacyr foi sempre motivo  de   orgulho  para a minha   esposa e a ele  e à  sua esposa,  D. Santuzzi (não sei bem se a grafia  está  correta)  ela deveu muitos favores,  favores que não podem ser nunca esquecidos. Da família do  Sr. Moacyr  sei que tenho  as melhores  recordações   de amizade e de gratidão. Me  recordo de  que  o seu filho  estava na época   cursando   engenharia em Petrópolis e que a sua  irmã,  uma moça  muito  bonita,   se casara com  um  moço  também  educadíssimo que,  uma vez,   da mesma forma, me quis  arranjar uma  colocação,   se não me engano,  num estaleiro em  Niterói.
          O casal  Moacyr Freire, para resumir,  nos apoiou até  à época de meu casamento. Sempre  esteve disposto a  ajudar-nos, assim como  o fizeram outros poucos amigos, aqui no Rio de Janeiro, que  conhecemos  nesta vida.
           O tempo passou. Não nos vimos mais. Porém,  temos  vontade de saber   alguma notícia  de nossos  benfeitores, bem como de  sua família.O Sr.  Moacyr Freire, a sua esposa são  dessas  pessoas a quem  jamais  apagamos   do mais  fundo  dos nossos corações.  Agradeceria se alguém que,  por ventura, me lesse,   pudesse  fornecer-me   informações sobre  aquele lindo casal  da  Rua  Visconde de Pirajá. Ficaremos  confortados,  minha  esposa   e eu.



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