Cunha e
Silva Filho
A primeira notícia que me ocorre
agora é a morte de um jovem negro
americano em Ferguson, cidade americana, dizem que pequena. Falam que era
assaltante, mas isso não justifica a ação brutal de um
policial branco que lhe dá um tiro
mortal. O incidente me traz à
mente os anos terríveis do racismo
americano, as segregações de todos os lados, até nos
ônibus. Ao mesmo tempo, me vem à
lembrança a luta gloriosa de Martin Luther King, trágico herói
negro americano. Inteligente, corajoso,
determinado, foi ele próprio vítima
covarde de uma bala assassina.
Percebo, em pleno segundo mandato do
presidente Obama, ele mesmo um
quase negro, alguma forma tardia de
retrocesso entre brancos e negros americanos. Negro pobre – vale melhor afirmar –, que
não é celebridade nem possuidor
de milhões de dólares do capitalismo em
país ainda com sérios problemas de sobrevivência, continua sendo vítima de preconceito de alguns brancos.
Um outro quadro que me assusta, não nos EUA
apenas, mas no Brasil, em São Paulo , se não estou certo. É este: a polícia
tende, no mundo pós-moderno, a
ser cada vez mais poderosa no que
concerne a armamentos e força de repressão. Não vejo com bons olhos tantos
gastos para equipar-se um
“exército” de policias com tantos
poder de fogo, até mesmo superior
às Forças Armadas brasileiras. Máquina do Estado Moderno não quer
contestações, greves, protestos. Seu desejo é que o rei nu seja “visto”
como se estivesse sempre vestido. Nada
de manifestações, boca calada, “não se meta nisso, que você é coisa pequena diante dos poderosos." Esta me parece a voz
do diktat. Privatizou-se a
privacidade. O Big Brother mantém,vigilante,
todas as portas de saída. Estamos
emparedados como naquele texto
famoso do poeta simbolista
brasileiro Cruz e Sousa.(1861-1898).
Se é que toda essa parafernália de força é para ser empregada em manifestações populares contra
os erros do poder nacional, estadual ou municipal,
até para indicar que tudo
isso só serve para tornar o cidadão
comum ainda muito mais receoso de
reivindicar seus direitos civis, sinto arrepios de
imagens fantasmagóricas de um
mundo onde só a repressão tem
lugar e nenhum direito pode ser posto em
discussão, Diante da truculência
da nova imagem dos
uniformes de policiais, armados até os dentes, tem-se a sensação um remake das legiões romanas com mil vezes mais capacidade
de derrotar qualquer oposição ao diktat do Estado Moderno. Um Leviatã com cores nazi-fascistas. Que Deus no livre disso tudo.
Todo
esse gasto com uniforme policial cheirando a pólvora, custando milhões aos cofres públicos, poderia ser canalizado para a
formação de jovens com saúde
moral, cívica, patriótica e o pensamento distante da sedução das drogas.
Não estamos precisando de soldados
truculentos, robotizados e
gélidos. Precisamos, sim, de policiais
humanos, valentes, corajosos,
educados que, usando da palavra firme, possam ajudar os desprotegidos da tirania
do Estado repressor.
Preparar
policiais para combater manifestantes
desarmados é tudo o que a
cidadania brasileira repudia. Por que
não destacar esse tipo
de policiais para
enfrentar as gangs poderosas que andam
apavorando todo esse país e sobretudo os mais
fracos? Não é a ostentação
robótica de policiais que
vai mudar a alta
violência das ruas e dos
lares brasileiros. Constato, contudo,
que no Ocidente e em países comunistas e poderosos, como a China, a Coreia
do Norte, não vejo nenhuma diferença entre o que aqui se está implantando no tocante a forças
policiais de alta repressão contra a sociedade.
Continuam as
guerras na Faixa de Gaza, entre o grupo
Hamas, considerado terrorista e os israelenses. O mundo parece que, através de seus organismos
de segurança internacionais, está de mãos atadas Já estou cansado de
ouvir tantas notícias de negociações
que não têm conduzido a quase nada,
pois os conflitos continuam a
desafiar a humanidade. De igual
maneira, persistem os conflitos
no Iraque, na Síria, na Ucrânia, enquanto as três potências EUA, China e Rússia se sentem
desafiadas, e enfrentando a Rússia, as retaliações dos EUA e da
União Europeia em forma de
sanções econômicas.
No Brasil, mudando o assunto, a Propaganda Eleitoral Gratuita mostra a sua cara em forma de comédias de erros e de pantomima. Nesta comédia tudo vale: a desqualificação de grande parte dos
candidatos que nos envergonha como país, e a forma publicitária dos grandes partidos apregoando
suas ideias, seus feitos e suas empulhações que, a se confiarem nelas, o telespectador seria
subliminarmente levado a estar
vivendo no país paradisíaco, em que tudo está
funcionando às mil
maravilhas, desde a educação pública,
a saúde, a segurança até o
bem-estar geral da pátria amada. Chega a ser histriônico que um
candidato a presidente da República venha
a dizer que, em seu governo, caso
se eleja, o conjunto de auxiliares pode vir de qualquer partido.
Ora, como
isso pode dar certo se
ele chamar um comunista, um
centrista, um direitista,
um anarquista para compor a unidade
político-estrutural do seu
governo? Alega o candidato que o importante é que o convidado a exercer uma função relevante seja pessoa preparada. Ora, se isso fosse possível,
então o seu programa de governo
não teria uma marca própria,
seria um baú de tudo, do bom e do ruim, o que tornaria seu governo
uma colcha de retalho. Ainda por cima, cumpre assinalar que nem todos os que são competentes são moralmente
recomendáveis a cargos públicos. Em resumo, o eleitor está tão perdido
no meio de coligações disparatadas com diferentes
orientações ideológicas que, ao
chegar às urnas, será acometido de confusão mental.
Em meio a tantas
notícias desagradáveis que
tenho ouvido aqui e no exterior, meu
único refúgio, ainda que por alguns instantes diários, é a literatura,o ler
e o escrever, os estudos de línguas que faço
para
aperfeiçoar-me até onde possa a fim de não as esquecer, o convívio
com a minha família, alguns poucos amigos, dar uma passeio e tocar a vida que ainda me
sobra...
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