domingo, 24 de agosto de 2014

Fragmentos ubíquos




                                  Cunha e Silva  Filho


             A primeira notícia que me ocorre agora é a morte de um  jovem negro americano em Ferguson, cidade americana, dizem que pequena. Falam que era assaltante,  mas  isso não justifica a ação  brutal de um  policial branco que lhe dá um tiro  mortal. O incidente  me traz à mente os anos terríveis  do  racismo  americano,  as segregações  de todos os lados,  até nos  ônibus. Ao mesmo tempo,  me vem à lembrança  a luta  gloriosa de Martin Luther King, trágico herói  negro americano. Inteligente, corajoso,  determinado,  foi ele próprio  vítima  covarde de  uma bala assassina. Percebo, em  pleno   segundo mandato  do  presidente Obama,  ele mesmo um quase negro,   alguma forma  tardia de  retrocesso entre brancos e negros americanos. Negro  pobre – vale melhor  afirmar –, que  não é celebridade nem  possuidor de milhões de dólares  do capitalismo em país ainda com  sérios problemas  de  sobrevivência,   continua sendo  vítima de preconceito de alguns brancos.
        Um  outro quadro que me assusta, não nos EUA apenas,  mas no  Brasil, em São Paulo,  se não estou certo. É este: a  polícia  tende, no mundo pós-moderno,  a ser cada vez mais  poderosa no que concerne a armamentos e força de repressão. Não vejo com bons olhos tantos gastos  para  equipar-se um  “exército” de policias  com  tantos   poder de fogo, até mesmo superior  às Forças Armadas  brasileiras.  Máquina do Estado Moderno  não quer  contestações,   greves,  protestos. Seu desejo  é que o rei nu  seja  “visto” como se estivesse sempre  vestido. Nada de  manifestações, boca  calada, “não se meta nisso, que você é  coisa pequena diante  dos poderosos." Esta me parece  a voz  do diktat. Privatizou-se a privacidade. O Big Brother mantém,vigilante,  todas as portas de saída. Estamos  emparedados como  naquele texto famoso   do poeta  simbolista  brasileiro  Cruz e Sousa.(1861-1898).
       Se é que toda essa parafernália  de força é para ser empregada em  manifestações populares   contra  os erros do poder  nacional,  estadual ou   municipal,  até para  indicar que tudo isso  só serve para tornar o cidadão comum  ainda muito mais   receoso  de  reivindicar seus direitos civis, sinto arrepios  de  imagens    fantasmagóricas  de um  mundo   onde só a repressão tem lugar e nenhum direito pode ser posto em  discussão, Diante da truculência  da nova imagem   dos uniformes  de policiais,  armados até os dentes, tem-se a sensação um  remake das legiões romanas com  mil vezes mais     capacidade  de  derrotar  qualquer oposição ao diktat do Estado Moderno. Um  Leviatã com cores   nazi-fascistas. Que Deus no livre disso tudo.
     Todo esse gasto com  uniforme  policial cheirando a pólvora,   custando milhões aos cofres públicos,   poderia ser canalizado para  a  formação de jovens  com saúde moral,  cívica, patriótica  e o pensamento distante da sedução das drogas. Não estamos  precisando de  soldados   truculentos,  robotizados e gélidos. Precisamos, sim, de policiais  humanos,  valentes, corajosos, educados que,  usando da palavra firme, possam  ajudar  os desprotegidos   da tirania   do Estado  repressor. 
     Preparar  policiais  para combater  manifestantes  desarmados é tudo o que  a cidadania brasileira  repudia. Por que não  destacar  esse tipo  de  policiais  para   enfrentar  as gangs  poderosas que  andam   apavorando  todo esse  país e sobretudo  os mais   fracos?  Não é a ostentação robótica de  policiais  que  vai  mudar  a alta  violência das ruas  e dos lares  brasileiros. Constato,  contudo,  que no Ocidente e   em  países comunistas e poderosos, como a China,  a Coreia  do Norte,  não vejo  nenhuma diferença  entre o que aqui se está implantando  no tocante a  forças  policiais de alta repressão contra a sociedade.
Continuam  as guerras na Faixa de Gaza, entre  o grupo Hamas, considerado  terrorista e os  israelenses. O mundo  parece que, através de seus  organismos de  segurança  internacionais,  está de mãos atadas Já estou cansado de ouvir  tantas notícias de negociações que  não têm conduzido a quase  nada,  pois os conflitos  continuam a desafiar  a humanidade. De igual maneira,  persistem  os conflitos  no Iraque,  na Síria,  na Ucrânia, enquanto as três potências   EUA, China e Rússia se sentem desafiadas,  e enfrentando  a Rússia,  as retaliações  dos EUA e da União  Europeia  em forma de  sanções econômicas.
No Brasil, mudando o assunto,  a Propaganda Eleitoral  Gratuita mostra a sua cara em forma de  comédias de erros  e de pantomima. Nesta comédia tudo  vale: a desqualificação de grande parte dos candidatos que nos  envergonha como  país, e a forma  publicitária dos  grandes partidos  apregoando   suas ideias,   seus  feitos e suas empulhações   que, a se confiarem  nelas,  o telespectador   seria subliminarmente  levado a  estar  vivendo  no país   paradisíaco, em que tudo  está  funcionando  às mil maravilhas,  desde a educação  pública,  a saúde,  a segurança até  o bem-estar geral  da  pátria amada. Chega a ser histriônico que um candidato a presidente da República venha  a dizer que, em seu governo,  caso se eleja,  o conjunto de auxiliares  pode vir de qualquer  partido.
Ora,  como isso  pode  dar certo se  ele chamar um  comunista,  um  centrista,  um  direitista,  um anarquista para compor a unidade   político-estrutural  do seu governo? Alega o candidato  que  o importante é que  o convidado  a exercer uma função relevante seja  pessoa preparada. Ora, se isso fosse  possível,  então o seu programa de governo  não teria uma marca  própria, seria um baú de  tudo,  do bom e do ruim, o que tornaria   seu governo  uma colcha de retalho. Ainda por cima, cumpre  assinalar que nem  todos os  que são competentes são moralmente   recomendáveis  a cargos  públicos. Em resumo,  o eleitor está tão  perdido  no meio de  coligações  disparatadas com  diferentes   orientações   ideológicas que, ao chegar às urnas, será acometido  de  confusão mental. 
Em meio a tantas  notícias  desagradáveis que tenho ouvido aqui e no exterior,  meu  único refúgio, ainda  que  por  alguns instantes diários, é a literatura,o ler e o escrever,  os estudos de línguas que faço   para   aperfeiçoar-me  até onde possa a fim de não  as esquecer,  o convívio  com a minha família, alguns poucos amigos, dar uma passeio e  tocar a vida que  ainda me    sobra...


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