quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre opiniões

Cunha e Silva Filho


Considerando-se todos os aspectos da vida, aí incluindo homens, objetos, coisas, meio ambiente, artes em geral religião, correntes filosóficas, teorias críticas em geral, política, modas, sexualidade, entre outros exemplos suscitados pelo momento presente da escrita, há um denominador comum permeando o conceito geral de opinião emitida: dependendo das circunstância do interlocutores, alguns indivíduos se mostram muito frágeis, muito tolerantes em relação aos outros com quem estão sustentando um diálogo, uma conversa ou mesmo um papo informal.
Se o interlocutor é conhecido, mas não chega ao nível de amizade, as informações trocadas, os juízos expressos viram muitas vezes amenidades, sem que tenham algum peso das verdades mais profundas, dos argumentos mais convincentes, das visões mais justas sobre um dado tema ou questão.
O diálogo, então, assume um nível superficial, só de convenções, avesso que fica ao tom polêmico, ao embate dos pontos de vista. Nenhum dos dois interlocutores está naquele lugar, naquela hora propenso a desavenças. Desta forma, tudo que diz ,de parte a parte, é apenas ouvido ou respondido com um sorriso, às vezes escondendo uma sutil ironia ou discordância, sem prejuízo para o agradável momento de descontração ou de atualizações de ambos sobre o passado, o presente e o futuro, que não pertence a nenhum dos dois, mas a Deus.
Sempre gostei de ouvir entrevistas com pessoas experientes e cultas expondo pensamento sobre um determinado tema. Entretanto, tenho observado que, em entrevistas, as perguntas podem ser inteligentes, porém os entrevistados, ao responderem, dão a impressão de que não desejam afirmar o que realmente pensam, tergiversam e, ao final, não revelam o que no fundo sentem ou pensam sobre isso ou aquilo. Quando a pergunta diz respeito a uma opinião sobre alguém, para elogiá-lo ou não, os entrevistados preferem o elogio cômodo.. Eximem-se, assim, das repostas que desagradam a pessoa-alvo das indagações.
Hoje, ninguém deseja mesmo enfrentar com coragem, com sinceridade e sem medo de que suas repostas acarretem melindres, reações explosivas de descontentamento, susceptibilidades em terceiros. Há um certo horror atual ao confronto, sobretudo no campo das ideias e em qualquer área do conhecimento. Lembro o leitor de que o tema que, agora, levanto se circunscreve ao âmbito das opiniões em conversas mais leves entre os indivíduos que não se situam nos rituais dos meios acadêmicos.
Até posso perceber e mesmo compreender esse lado leniente entre locutores e interlocutores. De parte a parte, não se tem em vista ferir ou ser indelicado com quem se estabelece o circuito de uma conversação. Por outro lado, não posso deixar de reconhecer que os diálogos mantidos nesse tom contemporizador tem lá suas inconsistências, seus vazios, seus silêncios, seus fiapos de hipocrisia ou de falsa concordância.

A natureza das opiniões casuais, por si mesma, se constrói de defesas implícitas, de não querer penetrar na zona do conflito. Por isso, é cuidadosa, parece perder sua personalidade e sua real essência – lugar privilegiado no qual se encontram descobertos o véu da fantasia e do convencionalismo -, quer dizer, os espaços intelectuais sem interditos, que se tornam abertos aos avanços em direção ao conhecimento produtivo nos vários domínios do conhecimento humano, seja na ciência, na técnica e nas investigações epistemológicas.
As opiniões são apenas momentos artificialmente criados a fim de que a roda do convívio interpessoal se mantenha no cotidiano da vida, sobretudo nas sociedades afluentes de hoje, onde todos correm apressados para algum lugar e indiferentes aos indivíduos à sua volta. Perto estão todos num mesmo espaço, ainda que agradável, mas ao mesmo tempo afastados estão todos uns dos outros.

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