sábado, 16 de outubro de 2010

O universitário, a avaliação e o crescimento intelectual

Cunha e Silva Filho

Um grande erro cometem alguns educadores e avaliadores acadêmicos no tocante à vida do estudante quando este, por uma razão ou outra, não apresenta, ao longo de seu curso de graduação (denominação, de resto, hoje mais usual por influência ou imitação do termo “graduate” de universidades americanas, antigamente mais conhecido entre nós pelos nomes de bacharel e licenciado) um desempenho bom ou excelente dentro de um padrão uniforme de notas ou graus.
Alterando as circunstâncias impeditivas de o discente mostrar todo o seu potencial durante o curso superior, esquecem alguns educadores que o aluno pode, anos depois, demonstrar todo o seu talento e a sua capacidade de aprimoramento, galgando posições de relevância na vida profissional e na mesma área em que concluíra seu curso escolhido.
Não se lembram alguns educadores de que os discentes podem surpreender seus antigos professores, sobretudo, os que não apostavam na competência dos ex-alunos. Lamentavelmente, os professores demonstravam estar despreparados para sentir as reais habilidades de alunos que, no juízo deles, não prenunciavam nenhum êxito profissional. Eram docentes aos quais faltava o necessário descortino para auscultar as potencialidades dos alunos sob sua orientação. Sei de alguns que chegaram ao ponto de desestimular jovens alunos que, no futuro, provaram ser justamente o contrário do julgamento deles. A história da educação brasileira precisa dar fim a essa discrepância pedagógica distorcida, nociva e apressada.
As considerações que aqui trago à atenção do leitor se devem a um aspecto da vida acadêmica ainda preso à questão da exigência, em concurso público, do histórico escolar do candidato além do respectivo diploma de graduação. A mesma exigência se estende aos diplomas de pós-graduação stricto sensu (mestrado, doutorado, pós-doutorado).
Ora, o histórico escolar de um educando graduado em universidade brasileira não é fator determinante na avaliação do candidato na situação levantada e defendida nesse artigo, quer dizer, o universitário pode ter tido um desempenho médio ou de altos e baixos na graduação e, no entanto, no histórico do mestrado ou doutorado, exibir um bom ou excelente rendimento. Ou, por outra, não é seu histórico passado, em outra fase de seus estudos superiores que balizará sua competência atual, porém o que, aos olhos do presente mostra a evolução do candidato e sua produção intelectual. Por conseguinte, o passado do estudante não deve e não pode ser tomado como fator desabonador do candidato que realizou grandes progressos na sua carreira e dentro de sua estrita área de atuação.
Desta forma, no exame de avaliação em concurso público, não vejo como imperativo e indispensável a exigência do histórico escolar da graduação que, a meu ver, não pode nem deve influenciar na avaliação do candidato desde que não se perca de vista a argumentação que aqui defendo. Reitero que muito mais pesam os anos posteriores do candidato – porque isso ilustra o quanto a inteligência e o amadurecimento do indivíduo, em determinada área do conhecimento, pode alcançar no concernente ao seu desenvolvimento intelectual - do que as circunstâncias vivenciadas pelo aluno ao tempo da sua graduação.
O aperfeiçoamento e a determinação a que chegou o candidato a concurso público antes reforça um motivo a mais para aplaudir-se a trajetória por ele percorrida. Isso mostra o quanto o ser humano é capaz de, com força de vontade e desejo de superar-se, atingir níveis muito mais complexos durante a sua vida útil como profissional, estudioso e um ser em constante transformação nos seus valores adquiridos, na sua vida produtiva e na sua condição de sujeito e agente dinâmica, ética e culturalmente considerado.
Por conseguinte, na avaliação do candidato devem-se priorizar os componentes dinâmicos e atualizados do indivíduo. Neste se devem buscar dados ponderáveis do ser na sua essência presente e na perspectiva de construtivas realizações. Que sejam minimizados aspectos da pessoa humana balizados meramente a partir da imaturidade temporária tão comum aos jovens. Importa o presente da individualidade adulta já forjada com o necessário crescimento que só os anos mais tarde se encarregaram de modificar e aproximar daquele nível ideal sonhado e, muitas vezes, a duras penas conquistado.

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