domingo, 10 de outubro de 2010

Resultados de pesquisas (provisórios)

Cunha e Silva Filho


Por mais de uma vez, já falei sobre o carinho que sempre dispensei prodigamente aos meus amados livros didáticos..Parece uma obsessão. Mas, não é. È pureza afetiva, desejos de acariciar, de cuidar, de protegê-los até onde me sobrarem forças e lucidez. No decorrer dessa travessia, entre perdas e ganhos, ganham estes, contudo aquelas como doem para lembrar o sentimento de um verso drummondiano.
Me tinha prometido empreender uma longa e cansativa pesquisa, que consistia em readquirir aqueles livros do meu tempo de ginasiano e do curso científico. Só que o meu “recorte”– pomposo jargão acadêmico – pendia mais , o melhor, apenas se inclinava às áreas de estudos vinculadas às minhas preferências mais fortes, sobretudo para aqueles anos já agora distantes: literatura, a língua portuguesa, as línguas estrangeiras, que estudei na adolescência em Teresina.
Obviamente, a minha pesquisa, ou melhor dizendo, as pesquisas nada tinham a ver com a CAPES, o CNPq ou outras instituições de fomentos que concedem bolsas de estudos. Não, leitor, a minha bolsa é livre e desimpedida. Não sofre restrições nem é recusada, PIS só depende da minha vontade, esforço do sacrifício do dispêndio financeiro pessoal. Poder-se-ia chamá-la de auto-pesquisa, para a qual existe uma exigência intransferível: só a mim cabe toda a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso. Também creio que ela jamais seria aprovada pelos doutos, consultores ou orientadores das instituições de pesquisa no país. Tampouco me renderia dividendos pecuniários ou proeminência acadêmica.
Estou me lembrando do que li sobre Odilon Nunes( 1899-1989), o maior historiador piauiense, em recente estudos dos historiadores e pesquisadores piauienses Fonseca Neto e Teresinha Queiroz e pela mestranda em História do Brasil da UFPI, Iara Conceição Guerra de Miranda Moura publicados na revista Presença, nº 44, Ano XXIV, 3º Quadrimestre, do Conselho Estadual de Cultura e da Fundação Cultural do Piauí, sob a presidência do ensaísta M. Paulo Nunes. Os três autores focalizam a vida e principalmente a obra daquele eminente estudioso e pesquisador da história piauiense e o que me chamou a atenção na biografia de Odilon Nunes era a sua admirável dedicação aos estudos, praticamente feitos por conta própria, gastando dinheiro do próprio bolso, em sua ingente e laboriosa atividade de autodidata, debruçando-se nos arquivos da Casa Anísio Brito, hoje Arquivo Público do Piauí, antigo arquivo, biblioteca e museu .
Porém, não quero afirmar com isso que ela seja feita sem os inúmeros cuidados das pesquisas oficiais ou acadêmicas.
Tampouco me servirá como um item significativo a ser acrescido ao meu curriculum vitae ou o prestigioso Lattes.

Resumindo ao máximo, os resultados foram os seguintes até à data presente:
1) Alguns livros procurados foram - não sem muito esforço – encontrados, em especial, os referentes a línguas estrangeiras.
2) Me foi de extrema valia o que encontrei na internet através das benditas livrarias virtuais, às quais tributo nestas linhas minhas homenagens e meus mais sinceros agradecimentos.
3) A pesquisa me ajudou num outro aspecto: além de encontrar exemplares dos meus livros didáticos perdidos, aproveitei o ensejo para completar as coleções de algumas obras. Foi prazerosa essa conquista.
4) Pude chegar a uma conclusão inestimável: os livros antigos, bem escritos e bem dosados, por exemplo, das décadas de 30, 40, 50 e 60 abrangidos no meu recorte, me foram de extremo proveito, intelectualmente falando, visto que aproveitei a oportunidade pra lê-los na íntegra, hábito não muito comum entre os estudantes. Resultado: ganhei em aprimoramento cultural. A experiência didático-metodológica do passado também nos ensina, e como!
5) Pude ainda comprovar o quanto me foram preciosas essas obras encontradas depois de tantos esforços nessa “caçada aos livros”.
6) Melancolicamente, nessas pesquisas um objetivo não consegui lograr: colher dados biográficos da maioria de seus autores. Compreendi que autores didáticos se tornam praticamente anônimos e efêmeros, notadamente hoje com um mercado editorial gigantesco e altamente competitivo e, agora, ainda mais com os avanços da impressão virtual e com o mercado de livros estrangeiros.
7) Me vi compelido a acrescentar mais um aspecto, a meu ver, fundamental: como conseguir localizar livros que, por uma ou outra circunstância, especialmente a relacionada a mudanças de domicílios, perdi ou – quase aos prantos – deles fui obrigado a me desfazer? Guardadas as diferenças, semelha à perda de um amigo.No meu caso particular, há, pelo menos dois ou três pequenos volumes que há anos venho tentando encontrar, o que me entristece profundamente. Até uma vez escrevi uma crônica de título “livros perdidos” que faz parte de um livro meu As ideias no tempo. Me pergunto: Onde estaria aquele livrinho, Coração(Cuore) de Edmundo de Amicis (1846-1908) que me causou constrangimento com o dono ao perdê-lo não sei onde? Onde estaria aquele oiutro opúsculo sobre expressões idiomáticas, de Neif Antonio Alem, com elucidações magistrais? Onde estaria aquele outro velhusco livrinho propositalmente contendo expressões idiomáticas do inglês, de Hubert Coventry Bethell?

Segundo se pode deduzir, minha biblioteca cresceu, não em espaço, mas no numero de títulos. Não sei até aonde vou chegar com as constantes reclamações domésticas...
De qualquer maneira, até agora, as pesquisas me proporcionaram mais prazer do que outra coisa, . Por exemplo, o velho dicionário de J. L. Campos Jr., do qual já lhe falei, leitor, nesta coluna. Um verdadeiro achado!
Não pense, leitor, que terminei as pesquisas, segundo indiquei no título a este texto. Vou, portanto, continuar fazendo minhas escavações arqueológicas. Quem sabe, algum dia terei terminado essas pesquisas das memórias biobibliográficas de um antigo aluno que não arrefeceu até hoje o prazer de amar os livrinhos didáticos que tanto me fascinaram desde os bons tempos do Domicio e do Liceu piauiense.

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