domingo, 12 de setembro de 2010

O grande líder

Cunha e Silva Filho


Estamos no apogeu do peditório de votos. A hora e a vez do eleitor. Nas praças, nas calçadas, nas capitais, no centro, nos subúrbios, no interior, no asfalto e nas comunidades, os santinhos são copiosamente distribuídos e por todo o país.
Na TV, novamente o peditório acompanhado de promessas miraculosas nos cinquenta minutos do que já se chamou com muita razão de programa humorístico o qual, certamente se fosse pesquisado pelas institutos de pesquisas e opinião, bateriam recordes de baixa ou mesmo nula audiência digna do Guinness Book.
Rostos de todos os tipos e para todos os gostos. Espaço televisivo onde tudo são sorrisos, tanto por parte dos candidatos quanto do que é exibido de feitos e fastos do currículo político dos candidatos. O país na tela das TVs semelha um paraíso para cada partido, com exceção da parte destinada a mostrar as mazelas dos opositores. O que, porém, vale é o marketing, o rosto parecendo mais jovem graças às técnicas de câmeras. Candidatos carrancudos, ao surgirem diante das câmeras, num passe de mágica, se tornam simpáticos, ficam até mais bonitos.
Importa, principalmente, a aparência, o simulacro, o duplo, o espelho invertido, partido, côncavo, convexo, o que for, desde que o look seja a última palavra e o último gesto. Reino da bufonaria e da momice, com tudo a que tem direito. A plateia amorfa, acrítica, subliminada, banalizada, imbecilizada, nas vastidões brasílicas, aplaude ou apupa, conforme suas conveniências e seus interesses particulares, a fieira multipartidária.
O país tem a sorte de viver agora o melhor momento econômico-financeiro. Seu líder é a medida de praticamente todos os partidos. Todos querem posar, fotografar ao lado do líder mundial, senhor de todos os anéis e de todas as pirotecnias. Não há como não se sentir atraído pelo tipo que dele fez capa de uma respeitada revista internacional, temas de livros de um acadêmico da Casa de Machado de Assis, matéria-prima de filme. Até ganhou o primeiro diploma de sua vida, e o mais alto deles, o de doutor por uma velha universidade estrangeira. Elogiado por todos, aqui e no exterior, com índices de popularidade jamais vistos fazendo, assim, jus a uma frase bombástica de sua autoria, repetida, com ligeira modificação, em vários ocasiões: “Nunca o país fez tanto quanto em meu ...”
Ninguém, com efeito, lhe pode sonegar essa popularidade que, de resto, se estende além do que conseguiu “o pai dos pobres” no ápice do reconhecimento do povo brasileiro.
Por isso, estar com ele, receber o apoio dele é certeza de estar nas lideranças das pesquisas e de vitória nas urnas das eleições já tão próximas. Daí estar sempre cercado de tantos correligionários, sinceros ou falsos. Até seus arqui-inimigos fazem restrições ou mesmo ácidas críticas a partidários dele, mas com o cuidado de não o envolverem em nenhuma falcatrua. Lula está blindado pelo povo e pelos partidos. Fosse quem fosse, o seu candidato escolhido à sucessão presidencial, tornar-se-ia, da noite pro dia, quase um santo de predicados e ações. Poupando-lhe a reputação, todas as críticas se podem dirigir a adversários ou situacionistas. Lula, politicamente, é uma causa pétrea.
O amém vem do povo e, como os antigos monarcas que se diziam entronizados por direito divino, o grande líder vive as delícias do poder quase monárquico.
É difícil muitas vezes separar a verdade da mistificação quando, no conjunto da análise do perfil de um líder, há o carisma e um certo halo messiânico.
Nada lhe abala a figura que, na realidade, sobreviveu, incólume, a todos os escândalos, mensalões, CPIs, denúncias, falsas ou verdadeiras. Estamos, portanto, diante de um político nato, com todos os defeitos e virtudes, com todas as graves restrições que se lhe possam fazer.
Nada consegue, repito, estremecer e muito menos demolir essa figura que se fez à imagem e semelhança do povo brasileiro. A voz do voto é a voz do Lula. O povo não é só a classe média, nem a burguesia, nem as elites de todos os tipos. Lula é uma espécie de rei Midas do voto que, no meio do povo, da massa, por contaminação, fortalece e elege, em grande parte, quem dele se aproxima, independentemente do valor moral e competência do apadrinhado, ou quem dele se torna instrumento de delegação, ainda que esta seja o assento supremo da nação. Que a delegação não venha botar tudo a perder a fim de que não se cumpra o prognóstico caipora do candidato José Serra, segundo o qual se, ele, Serra, não ganhar a eleição, a candidata de Lula fará um governo tão mal-sucedido que o grande líder estará fadado a não se eleger nem pra vereador ou coisa parecida. Que o prognóstico do tucano não se cumpra é o que todos nós, eleitores, ou não, de Lula, auguramos para o bem do Brasil.

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