)
O CAPTAIN! MY CAPTAIN!
O Captain! My Captain! Our fearful trip is done,
The ship has weather’d every rack, the prize we sought is won,
The port is near, the bells I hear, the people are exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring;
But O heart! Heart! Heart!
O the bleeding drops of red,
Where on the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.
O Captain! My Captain! Rise up and hear the bells;
Rise up – for you the flag is flung – for you the bugle trills,
For you bouquets and ribbon’d wreaths – for you the shores a-crowding,
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head
It is some dream that on the deck,
You’ve fallen cold and dead.
My Captain does not answer, his lips are pale and still,
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will,
The ship is anchor’d safe and sound, its voyage close and done,
From fearful trip p the victor ship comes in with object Won:
Exult! O shore, and ring O bells!
But I with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.
Oh, Capitão! Meu Capitão! Temerosa nossa viagem já findou
A nau todos os percalços suportou, o prêmio final nosso foi,
Perto está o porto, os sinos, exultantes, todos dobram
Enquanto olhos espreitam a rígida quilha, a nau feroz e audaz;
Oh, coração! coração! coração!
Oh, gota de sangue derramado,
Ali, no convés, jaz meu Capitão,
Imóvel, frio, morto.
Oh, Capitão! Meu Capitão! levanta-te e os sinos ouve;
Ergue-te, que a bandeira, arriada, está – o clarim para ti vibra,
Para ti, ramalhetes e grinaldas de fitas ornadas – para ti, as praias de gente apinhadas,
Para ti, a massa oscilante, volvem, ansiosas, as faces!
Olha, Capitão! pai querido
Sob a tua cabeça este braço!
Mais um pesadelo parece isso tudo;
Tu, imóvel, frio, morto.
A nada respondes meu Capitão, pálidos e fixos os lábios estão,
Meu pai o braço não me sente, o pulso pesado, exaurida a vontade,
Ancorada nau, incólume, completa e acabada viagem:
Vitoriosa a nau, de temerosa viagem, o esperado objeto conquistado traz:
Alegrai-vos, Oh, praias, Oh, bronzes, tocai!
Eu, contudo, com passo enlutado,
Pelo convés caminho onde, estendido, se encontra meu Capitão,
Ali, caído, frio, inânime.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
Os temas discutidos neste blog se concentram sobretudo na área de Literatura Brasileira, mas se estendem a outros temas e áreas culturais afins. Os gêneros literários da preferência da produção do autor são crítica literária, ensaios e crônicas. tradução de poesia estrangeira. Áreas de pesquisa e interesse do autor: teoria literária,história literária, vida literária.relação entre literatura, pobreza e violência, literatura universal e literatura de autores piauienses
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Confissões de um eleitor
Cunha e Silva Filho
Quem pode ficar contente com políticos em geral e, principalmente, em tempos de eleições. O dia 3 de outubro está aí, quase batendo às nossas portas. “Vote consciente”, diria alguém com ares de conselheiro para assuntos políticos. “Vote bem”, diria outro, escondendo de nós eleitores compulsórios, que seu enunciado é fulano ou sicrano. “Vote no candidato certo”, advertiria, agora, um religioso e os fiéis ficam embaraçados, sem saberem de quem se trata. O assunto, por si mesmo, pressupõe vários componentes psicológicos, ideológicos, de formação cultural, de formação religiosa, ou não religiosa, de interesses pessoais, familiares, de amizade, de relacionamentos profissionais, de faixa etária, de nível econômico-financeiro.
Não é fácil de equacionar a “solucionática da problemática”, ó leitor indeciso ou mesmo propenso a anular o voto, o que não é bom, porque, ao decidir-se pela anulação do voto, o eleitor, ao sair da urna, lá fora, em dia de sol ou nublado, experimenta uma sensação de vazio, de desapontamento e esse “vazio” não lhe é bom para a consciência cívica. Afinal, o país tem uma estrutura pública, tem sua máquina administrativa, seus poderes constituídos, suas leis e aqui se vive uma democracia ainda que com suas falhas, seus surtos autoritaristas, seus inúmeros escândalos, sua impunidade, sua corrupção deslavada, seu cinismo partidário, seu nepotismo, seu comportamento político patrimonialista ainda preso às velhas tendências oligárquicas, resistentes desde as priscas eras coloniais.
Por essa razão, a minha vontade de votar não é tão premente. Faço-o sem anular meu voto a fim de não quebrar essa cadeia de milhões de eleitores que vão às urnas, alguns tristes, alguns alegres, alguns enganados, alguns certos de que estão votando corretamente, e até mesmo alguns patriotas com misto de ingenuidade quixotesca, qual o personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, o qual, por sinal, teve “triste fim” Vamos ver no que vai dar tudo isso.
Já estou com o meu titulo de eleitor novinho em folha,, pois não faz muito tive que mudar de zona eleitoral em razão de mudança de bairro. Passei uma década tendo que me deslocar de meu bairro para o antigo bairro em que morava, até que resolvi fazer a transferência de zona eleitoral, que, agora, está pertinho de minha casa, ou melhor, do meu apartamento.
Estou ainda meditando sobre os candidatos a quem vou dar meu voto, mas tenho quase a certeza de que não votarei nos cínicos e nos oportunistas. Pode até ser que meus escolhidos não sejam lá tão imaculados politicamente, mas, pelo menos, são pessoas com boa intenção de desejarem trabalhar por um país melhor a salvo de tantos deslizes contra o povo e contra o meu país.
Lá na cabine de votação, quero deixar meu repúdio aos inimigos do povo, aos que nos maltratam material e espiritualmente, aos que, com os olhos arregalados e concupiscentes nos mandatos e nas melhores regalias salariais do mundo, como costumava censurar esse decano do jornalismo político brasileiro, o talentoso jornalista Villas-Bôas Correa, referindo-se, reiteradamente, ao nosso Congresso e Câmara Federal, nos seus numerosos e sábios artigos no recém-extinto “Jornal do Brasil’(que calamidade para a imprensa brasileira escrita!), só pensam em mais uma vez abusar da nossa paciência e de nossa mansidão. Tudo, porém tem seus limites. Uma grande parcela do povo pode ser manipulada, mas não continuadamente.
As confissões de um eleitor também têm suas normas e limites e, portanto, vou parar aqui a fim de não cair na tentação de revelar quais são as minhas preferências de candidatos. Que o leitor, ou melhor, o eleitor, ou os dois a um só tempo, também vá refletindo sobre o peso, pesado ou leve, de seus candidatos. Uma boa noite!
Quem pode ficar contente com políticos em geral e, principalmente, em tempos de eleições. O dia 3 de outubro está aí, quase batendo às nossas portas. “Vote consciente”, diria alguém com ares de conselheiro para assuntos políticos. “Vote bem”, diria outro, escondendo de nós eleitores compulsórios, que seu enunciado é fulano ou sicrano. “Vote no candidato certo”, advertiria, agora, um religioso e os fiéis ficam embaraçados, sem saberem de quem se trata. O assunto, por si mesmo, pressupõe vários componentes psicológicos, ideológicos, de formação cultural, de formação religiosa, ou não religiosa, de interesses pessoais, familiares, de amizade, de relacionamentos profissionais, de faixa etária, de nível econômico-financeiro.
Não é fácil de equacionar a “solucionática da problemática”, ó leitor indeciso ou mesmo propenso a anular o voto, o que não é bom, porque, ao decidir-se pela anulação do voto, o eleitor, ao sair da urna, lá fora, em dia de sol ou nublado, experimenta uma sensação de vazio, de desapontamento e esse “vazio” não lhe é bom para a consciência cívica. Afinal, o país tem uma estrutura pública, tem sua máquina administrativa, seus poderes constituídos, suas leis e aqui se vive uma democracia ainda que com suas falhas, seus surtos autoritaristas, seus inúmeros escândalos, sua impunidade, sua corrupção deslavada, seu cinismo partidário, seu nepotismo, seu comportamento político patrimonialista ainda preso às velhas tendências oligárquicas, resistentes desde as priscas eras coloniais.
Por essa razão, a minha vontade de votar não é tão premente. Faço-o sem anular meu voto a fim de não quebrar essa cadeia de milhões de eleitores que vão às urnas, alguns tristes, alguns alegres, alguns enganados, alguns certos de que estão votando corretamente, e até mesmo alguns patriotas com misto de ingenuidade quixotesca, qual o personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, o qual, por sinal, teve “triste fim” Vamos ver no que vai dar tudo isso.
Já estou com o meu titulo de eleitor novinho em folha,, pois não faz muito tive que mudar de zona eleitoral em razão de mudança de bairro. Passei uma década tendo que me deslocar de meu bairro para o antigo bairro em que morava, até que resolvi fazer a transferência de zona eleitoral, que, agora, está pertinho de minha casa, ou melhor, do meu apartamento.
Estou ainda meditando sobre os candidatos a quem vou dar meu voto, mas tenho quase a certeza de que não votarei nos cínicos e nos oportunistas. Pode até ser que meus escolhidos não sejam lá tão imaculados politicamente, mas, pelo menos, são pessoas com boa intenção de desejarem trabalhar por um país melhor a salvo de tantos deslizes contra o povo e contra o meu país.
Lá na cabine de votação, quero deixar meu repúdio aos inimigos do povo, aos que nos maltratam material e espiritualmente, aos que, com os olhos arregalados e concupiscentes nos mandatos e nas melhores regalias salariais do mundo, como costumava censurar esse decano do jornalismo político brasileiro, o talentoso jornalista Villas-Bôas Correa, referindo-se, reiteradamente, ao nosso Congresso e Câmara Federal, nos seus numerosos e sábios artigos no recém-extinto “Jornal do Brasil’(que calamidade para a imprensa brasileira escrita!), só pensam em mais uma vez abusar da nossa paciência e de nossa mansidão. Tudo, porém tem seus limites. Uma grande parcela do povo pode ser manipulada, mas não continuadamente.
As confissões de um eleitor também têm suas normas e limites e, portanto, vou parar aqui a fim de não cair na tentação de revelar quais são as minhas preferências de candidatos. Que o leitor, ou melhor, o eleitor, ou os dois a um só tempo, também vá refletindo sobre o peso, pesado ou leve, de seus candidatos. Uma boa noite!
sábado, 25 de setembro de 2010
Um poema de François Coppée (1842-1908)
AOÛT
Par les branches desordenées,
Le coin d’étang est abrité,
Et là poussent en liberté,
Campanules et graminées.
Caché par le tronc d’un sapin,
J’y vais voir, quand midi flamboie,
Les petits oiseaux pleins de joie
Se livrer au plaisir du bain.
Aussi vifs que des étincelles,
Ils sautillent de l’onde au sol,
Et l’eau, quand ils prennent leur vol,
Tombe en diamants de leurrs ailes.
Mais mon coeur, lassé de souffrir,
Em les admirent les envie,
Eux qui ne savent de la vie
Que chanter, aimer et mourir!
AGOSTO
Pelos desordenados ramos,
Do lago o canto protegido está,
E, ali, livres, brotam
Campânulas e gramíneas.
Pelo tronco de um abeto ocultas ,
Quando chameja meio dia, ali vejo
Em incontida alegria as avezinhas
Do banho ao prazer se entregar.
Tão vivas quanto centelhas,
Da água ao solo saltitam,
E, quando voo levantam, a água,
Qual diamantes, de suas asas cai.
Cansado de sofrer, contudo, meu coração
Quanto mais as inveja tanto mais as admira,
A elas que da vida nada sabem
Senão cantar, amar e morrer!
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
Par les branches desordenées,
Le coin d’étang est abrité,
Et là poussent en liberté,
Campanules et graminées.
Caché par le tronc d’un sapin,
J’y vais voir, quand midi flamboie,
Les petits oiseaux pleins de joie
Se livrer au plaisir du bain.
Aussi vifs que des étincelles,
Ils sautillent de l’onde au sol,
Et l’eau, quand ils prennent leur vol,
Tombe en diamants de leurrs ailes.
Mais mon coeur, lassé de souffrir,
Em les admirent les envie,
Eux qui ne savent de la vie
Que chanter, aimer et mourir!
AGOSTO
Pelos desordenados ramos,
Do lago o canto protegido está,
E, ali, livres, brotam
Campânulas e gramíneas.
Pelo tronco de um abeto ocultas ,
Quando chameja meio dia, ali vejo
Em incontida alegria as avezinhas
Do banho ao prazer se entregar.
Tão vivas quanto centelhas,
Da água ao solo saltitam,
E, quando voo levantam, a água,
Qual diamantes, de suas asas cai.
Cansado de sofrer, contudo, meu coração
Quanto mais as inveja tanto mais as admira,
A elas que da vida nada sabem
Senão cantar, amar e morrer!
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Quem diria, os ...
Cunha e Silva Filho.
Não deu para acreditar, pensei comigo grudado no que presenciava do sofá do quarto para a tela da TV. Não é possível, logo lá, um recanto cercado de milionários que nos davam a impressão de estar eternamente no gozo da “dolce vita” de tudo aquilo que o dólar pode comprar: carros caríssimos, iates da última geração, festas nababescas, mansões suntuosas, constantes viagens aos lugares mais caros do Planeta, contratos de casamentos milionários, enfim, o sumo do que o decantado American way of life pode propiciar a esses abençoados filhos do mais competitivo capitalismo que a historia da humanidade já registrou.
Uma senhora americana, entrevistada, declara, com uma tristeza de causar dó a um flagelado da seca nordestina, que agora vive dependendo das graças do governo Obama. Vocês, leitores, sabem da classe social a que ela pertence? Classe média! Não se assustem, porque é a verdade cristalina e sem enfeites.
A classe média americana, no geral, é hoje vítima da agudíssima crise econômica que, como um furacão devastador ( tão frequente em terras do Tio Sam), empobreceu o povo.
Sim, essa sisuda e melancólica senhora contava ao repórter que vivia de um cartão fornecido pelo governo federal, com o qual podia fazer suas compras básicas.
É inacreditável o que vejo diante de mim. Bastaram dois anos para que as consequências tenham dado seus mais sombrios frutos sociais, expressos em toda a sua crueza, fazendo-me recordar daquelas filmagens de época exibindo os tempos da Grande Depressão americana de 1929 com a famigerada quebra da Bolsa de Nova Iorque.
Será, então que o povo americano que, na maioria, nem sabe como é o Brasil, nem geograficamente falando, não se deu conta do retrocesso a que chegou e que o está igualando, em certos aspectos da vida social, aos países subdesenvolvidos ou a países emergentes, como o nosso, que ainda convivem com extrema pobreza? Não é hora de saber que por nossas paisagens sem vulcão nem terremotos, nem destrutivos tufões e ciclones, há um gigantesca parcela do povo que também, há quase dezesseis anos, tem vivido às custas da transferência, para fins demagógicos e eleitoreiros, de renda e, portanto às expensas de um deletério e injusto arrocho no imposto de renda do cidadão brasileiro, quando o correto seria realizar aquela transferência de renda através de maior taxação de impostos das grandes e concentradas fortunas?
Pois é. Quem diria, os americanos, os maiores detentores de armas do mundo, terra dos biliardários, dos gozadores da vida, dos megaconsumidores em todos os níveis da economia, estão passando, justamente nos extratos sociais médios, a pão e água. Parece uma história virtual aos olhos perplexos do mundo.
Ora, leitores, é sabido que a bancarrota da economia americana tem causas perfeitamente identificáveis, algumas das quais têm por fundamento os altos gastos com guerras a fim de preservar o alto custo da vida americana, sobretudo dos milionários, que esses não podem baixar seus custos e suas prerrogativas num só milímetro. O ponto mais crítico do dinheiro da nação jogado ralo abaixo se deu no governo Bush filho, o senhor das guerras manipuladas e genocidas, um dos grandes vilões de um dos mais execráveis períodos da história americana recente, desse país que deu, no passado, homens da estatura moral e do valor intelectual de um George Washington, de um Thomas Jefferson e de um Benjamin Franklin.
Outras causas são de ordem financeira, ou melhor, provocadas por ambições de poucos nos arraiais fraudulentos do mercado financeiro americano e no setor de investimentos e bolsas de valores, tendo à frente esse escândalo que foi a quebra do Lehmans Brothers, e bem assim, da parte de bancos irresponsáveis, com ofertas enganosas de imóveis a compradores com situação financeira incompatível com as transações contratuais, como foi o caso da fatídica “bolha imobiliária” em agosto de 2007, levando muitas famílias à condição de “sem teto” num país que a bajulação mundial define como a maior potência da Terra.Que paradoxo da pós-modernidade!
Mas, no meu entendimento laico, o maior responsável por essa quebradeira na vida da classe média ianque têm sido os estratosféricos gastos com a guerra contra o terrorismo internacional, que tem exigido, principalmente a partir do governo Bush filho e, em menor escala, ainda no atual governo Barack Obama, vultosíssimas somas de dólares a fim de custear matanças, muitas vezes, indiscriminadas no Oriente Médio.
Vejam o leitores que, neste artigo, não me reportei aos miseráveis que se espalham como epidemia pelos EUA, esfarrapados, famintos e sem teto. Enquanto isso, a maioria dos arquimilionários persistem em continuar o festival pantagruélico de vida hedonista e de sibaritismo indiferente à sorte da plebe ignara no país da riqueza. Ainda existe alguém pronta a cruzar a fronteira mexicana mesmo sabendo que pode ser mais um grupo de imigrantes clandestinos à beira de uma chacina de facínoras ?
Não deu para acreditar, pensei comigo grudado no que presenciava do sofá do quarto para a tela da TV. Não é possível, logo lá, um recanto cercado de milionários que nos davam a impressão de estar eternamente no gozo da “dolce vita” de tudo aquilo que o dólar pode comprar: carros caríssimos, iates da última geração, festas nababescas, mansões suntuosas, constantes viagens aos lugares mais caros do Planeta, contratos de casamentos milionários, enfim, o sumo do que o decantado American way of life pode propiciar a esses abençoados filhos do mais competitivo capitalismo que a historia da humanidade já registrou.
Uma senhora americana, entrevistada, declara, com uma tristeza de causar dó a um flagelado da seca nordestina, que agora vive dependendo das graças do governo Obama. Vocês, leitores, sabem da classe social a que ela pertence? Classe média! Não se assustem, porque é a verdade cristalina e sem enfeites.
A classe média americana, no geral, é hoje vítima da agudíssima crise econômica que, como um furacão devastador ( tão frequente em terras do Tio Sam), empobreceu o povo.
Sim, essa sisuda e melancólica senhora contava ao repórter que vivia de um cartão fornecido pelo governo federal, com o qual podia fazer suas compras básicas.
É inacreditável o que vejo diante de mim. Bastaram dois anos para que as consequências tenham dado seus mais sombrios frutos sociais, expressos em toda a sua crueza, fazendo-me recordar daquelas filmagens de época exibindo os tempos da Grande Depressão americana de 1929 com a famigerada quebra da Bolsa de Nova Iorque.
Será, então que o povo americano que, na maioria, nem sabe como é o Brasil, nem geograficamente falando, não se deu conta do retrocesso a que chegou e que o está igualando, em certos aspectos da vida social, aos países subdesenvolvidos ou a países emergentes, como o nosso, que ainda convivem com extrema pobreza? Não é hora de saber que por nossas paisagens sem vulcão nem terremotos, nem destrutivos tufões e ciclones, há um gigantesca parcela do povo que também, há quase dezesseis anos, tem vivido às custas da transferência, para fins demagógicos e eleitoreiros, de renda e, portanto às expensas de um deletério e injusto arrocho no imposto de renda do cidadão brasileiro, quando o correto seria realizar aquela transferência de renda através de maior taxação de impostos das grandes e concentradas fortunas?
Pois é. Quem diria, os americanos, os maiores detentores de armas do mundo, terra dos biliardários, dos gozadores da vida, dos megaconsumidores em todos os níveis da economia, estão passando, justamente nos extratos sociais médios, a pão e água. Parece uma história virtual aos olhos perplexos do mundo.
Ora, leitores, é sabido que a bancarrota da economia americana tem causas perfeitamente identificáveis, algumas das quais têm por fundamento os altos gastos com guerras a fim de preservar o alto custo da vida americana, sobretudo dos milionários, que esses não podem baixar seus custos e suas prerrogativas num só milímetro. O ponto mais crítico do dinheiro da nação jogado ralo abaixo se deu no governo Bush filho, o senhor das guerras manipuladas e genocidas, um dos grandes vilões de um dos mais execráveis períodos da história americana recente, desse país que deu, no passado, homens da estatura moral e do valor intelectual de um George Washington, de um Thomas Jefferson e de um Benjamin Franklin.
Outras causas são de ordem financeira, ou melhor, provocadas por ambições de poucos nos arraiais fraudulentos do mercado financeiro americano e no setor de investimentos e bolsas de valores, tendo à frente esse escândalo que foi a quebra do Lehmans Brothers, e bem assim, da parte de bancos irresponsáveis, com ofertas enganosas de imóveis a compradores com situação financeira incompatível com as transações contratuais, como foi o caso da fatídica “bolha imobiliária” em agosto de 2007, levando muitas famílias à condição de “sem teto” num país que a bajulação mundial define como a maior potência da Terra.Que paradoxo da pós-modernidade!
Mas, no meu entendimento laico, o maior responsável por essa quebradeira na vida da classe média ianque têm sido os estratosféricos gastos com a guerra contra o terrorismo internacional, que tem exigido, principalmente a partir do governo Bush filho e, em menor escala, ainda no atual governo Barack Obama, vultosíssimas somas de dólares a fim de custear matanças, muitas vezes, indiscriminadas no Oriente Médio.
Vejam o leitores que, neste artigo, não me reportei aos miseráveis que se espalham como epidemia pelos EUA, esfarrapados, famintos e sem teto. Enquanto isso, a maioria dos arquimilionários persistem em continuar o festival pantagruélico de vida hedonista e de sibaritismo indiferente à sorte da plebe ignara no país da riqueza. Ainda existe alguém pronta a cruzar a fronteira mexicana mesmo sabendo que pode ser mais um grupo de imigrantes clandestinos à beira de uma chacina de facínoras ?
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Um poema de Emily Dickinson (1830-1886)
The only news I know
The only news I know
Is bulletins all day
From Imortality.
The only shows I see,
Tomorrow and Today,
Perchance Eternity.
The only One I meet
Is God – the only street,
Existence; this traversed
If other news there,
Or admirabler show –
I11 tell you.
As únicas notícias
As únicas notícias vindas
São boletins diários
Da Imortalidade.
Os únicos espetáculos que vejo,
Amanhã e Hoje,
A Eternidade, talvez.
O único Ser que encontro
É Deus, - a única rua,
A Existência; esta percorrida
Se por acaso outras notícias surgirem,
Ou espetáculo mais grandioso –
Te direi.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
The only news I know
Is bulletins all day
From Imortality.
The only shows I see,
Tomorrow and Today,
Perchance Eternity.
The only One I meet
Is God – the only street,
Existence; this traversed
If other news there,
Or admirabler show –
I11 tell you.
As únicas notícias
As únicas notícias vindas
São boletins diários
Da Imortalidade.
Os únicos espetáculos que vejo,
Amanhã e Hoje,
A Eternidade, talvez.
O único Ser que encontro
É Deus, - a única rua,
A Existência; esta percorrida
Se por acaso outras notícias surgirem,
Ou espetáculo mais grandioso –
Te direi.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
domingo, 19 de setembro de 2010
Da religião e da ausência dela
Cunha e Silva Filho
Todas as religiões têm seus pontos fracos. Todas têm seus defeitos. Sendo assim, nada mais inconcebíveis do que as guerras religiosas que têm assolado a Humanidade por séculos e séculos. Se povos se digladiam por causa de divergências de princípios religiosos, não estão agindo corretamente.
Professar uma determinada denominação religiosa, seja cristã, seja muçulmana, judaica, espírita, ou qualquer outra entre tantas subdivisões de subdivisões, é uma decisão que deve ser respeitada e não pode ser objeto de preconceitos por uma outra forma religiosa. Se pensar assim, o indivíduo passa, então, a agir no plano da intolerância e do extremismo nefastos, que, cedo ou tarde, vão se transformar em estopim de lutas sangrentas, de ações terroristas que tanto têm feito mal ao Planeta.
Respeitar, portanto, as diferenças de orientação espiritual é o primeiro passo para uma atitude ecumênica conducente à paz do espírito , pois o fundamento religioso é alcançar essa paz.
Qualquer ação covarde que se pratique contra um líder religioso deve ser energicamente repudiada pela sociedade, como são exemplos as manifestações desrespeitosas por parte de inimigos do catolicismo durante a visita do Papa Bento XVI à Inglaterra. Há questões das quais a Igreja Católica não quer abrir mão; a do aborto indiscriminado, a do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a do celibato entre outras .
Por outro lado, qualquer religioso católico sério – e são muitos no corpo da Igreja Católica - não pode admitir os desvios sexuais de padres e até do alto clero. Nessa questão, o Papa deve ser intransigente e excluí-los dos quadros daquela instituição.Se assim o fizer, será respeitado e terá o apoio da comunidade católica mundial.
Cumpre, entretanto, ao Pontífice alertar a humanidade para a escalada da secularização em que se estão transformando as sociedades modernas, cada vez mais se afastando do plano da transcendência e mergulhando no caos da perda de referenciais espirituais. Respeito quem seja ateu, mas não posso respeitar o ateísmo desatrelado da ética e da dignidade humana. Ser ateu para engolfar-se no lodaçal da licenciosidade e da permissividade se afigura muito mais criminoso do que algum moralismo de estofo conservador que pregue certas práticas sociais da vida contemporânea. O indivíduo não nasceu para fazer tudo que lhe dê na telha, quer no plano pessoal , quer no plano profissional, quer no plano espiritual. Seguir alguma religião, no meu entender, vale muito mais do que chafurdar numa vida sem nenhuma relação com o divino. Se a religião limita e enquadra as nossas atitudes, se sua doutrina nos ensina a praticar o bem e a repudiar as más ações de natureza moral, aí está uma das suas vantagens.
É possível haver, no meio religioso, hipocrisia, falsidades e mistificação? Sim, mas isso não impede que uma doutrina sã possa ser cultivada. Porém, cabe a cada comunidade religiosa fiscalizar desvios de conduta de seus membros e de seus dirigentes. Igualmente, os diversos segmentos religiosos não podem apenas visar a ser uma instituição de fachada, cheia de artificialismos e rituais meramente formais, protocolares, burocráticos, pragmáticos, como objetivos de proveitos financeiros e regalias para seus dirigentes.
Um templo não é um clube social para exibição de luxo e de modas de seus seguidores. Daí ser frequente um seu adepto mudar de religião porque percebeu que tal religião fosse outra no seu cotidiano de cultos ou serviços prestados. Possivelmente essas decepções tenham sido um dos motivos da redução de fiéis ou mesmo levado seus membros ao pessimismo extremo, i.e., à descrença completa e abraçar o ateísmo.
Um mundo completamente secularizado, diria mais precisamente, um mundo sem Deus ou sem uma força superior, ou energia incriada, um ser incriado, como queria Santo Agostinho, tornar-se-ia uma terra devastada no tocante aos valores interiores. Seria um mundo marcado pelo materialismo cru, movido por impulsos meramente biológicos, mecanicistas, animalescos, destituídos de um suporte filosófico no qual a ética e a moral fossem preservadas e melhor ainda, fossem profundamente vivenciadas, ou seja, associando harmoniosamente teoria e práxis.
A laicização ou secularização da sociedade pode desaguar numa condução da vida sem peias, levando o caos aos princípios reguladores da consciência autêntica e, pelo desvio, embrutecer os seres, destituindo-os dos atos nobres, das ações justas, do respeito aos seus semelhantes, permitindo-lhes, ao contrário, uma espécie de laisser-faire no domínio das resoluções morais.
A vida, assim, conheceria apenas um vácuo, uma falta de sentido, o que concorreria para tornar o ser humano um presafácil dos mimetismo da vida dissoluta, puramente hedonistica, sem mais aquele dado indispensável que se instala no espírito das coisas, dos objetos e principalmente do homem. Sem esse fio condutor, que está além da natureza pura, será difícil superar o impasse. Esse fio estaria inextricavelmente ligado ao mundo divino – campo aberto às mais puras revelações propiciadas pela razão, através do conhecimento (episteme) - e por que não? – pela tão almejada conquista da fé, não a fé cega, mas a conseguida pela teodiceia, sem contradições, sem manipulações de qualquer natureza, só possível pela intervenção do Criador. Não tenhamos vergonha de dizer que somos cristãos. Em tempo algum, a intelectualidade nunca foi um obstáculo à prática religiosa, seja qual for a sua denominação, cristã ou não-cristã. Afinal, o que mais importa é a religião do bem e da paz entre os homens e o cerne disso se encontra em todas as religiões corretamente conduzidas.
Todas as religiões têm seus pontos fracos. Todas têm seus defeitos. Sendo assim, nada mais inconcebíveis do que as guerras religiosas que têm assolado a Humanidade por séculos e séculos. Se povos se digladiam por causa de divergências de princípios religiosos, não estão agindo corretamente.
Professar uma determinada denominação religiosa, seja cristã, seja muçulmana, judaica, espírita, ou qualquer outra entre tantas subdivisões de subdivisões, é uma decisão que deve ser respeitada e não pode ser objeto de preconceitos por uma outra forma religiosa. Se pensar assim, o indivíduo passa, então, a agir no plano da intolerância e do extremismo nefastos, que, cedo ou tarde, vão se transformar em estopim de lutas sangrentas, de ações terroristas que tanto têm feito mal ao Planeta.
Respeitar, portanto, as diferenças de orientação espiritual é o primeiro passo para uma atitude ecumênica conducente à paz do espírito , pois o fundamento religioso é alcançar essa paz.
Qualquer ação covarde que se pratique contra um líder religioso deve ser energicamente repudiada pela sociedade, como são exemplos as manifestações desrespeitosas por parte de inimigos do catolicismo durante a visita do Papa Bento XVI à Inglaterra. Há questões das quais a Igreja Católica não quer abrir mão; a do aborto indiscriminado, a do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a do celibato entre outras .
Por outro lado, qualquer religioso católico sério – e são muitos no corpo da Igreja Católica - não pode admitir os desvios sexuais de padres e até do alto clero. Nessa questão, o Papa deve ser intransigente e excluí-los dos quadros daquela instituição.Se assim o fizer, será respeitado e terá o apoio da comunidade católica mundial.
Cumpre, entretanto, ao Pontífice alertar a humanidade para a escalada da secularização em que se estão transformando as sociedades modernas, cada vez mais se afastando do plano da transcendência e mergulhando no caos da perda de referenciais espirituais. Respeito quem seja ateu, mas não posso respeitar o ateísmo desatrelado da ética e da dignidade humana. Ser ateu para engolfar-se no lodaçal da licenciosidade e da permissividade se afigura muito mais criminoso do que algum moralismo de estofo conservador que pregue certas práticas sociais da vida contemporânea. O indivíduo não nasceu para fazer tudo que lhe dê na telha, quer no plano pessoal , quer no plano profissional, quer no plano espiritual. Seguir alguma religião, no meu entender, vale muito mais do que chafurdar numa vida sem nenhuma relação com o divino. Se a religião limita e enquadra as nossas atitudes, se sua doutrina nos ensina a praticar o bem e a repudiar as más ações de natureza moral, aí está uma das suas vantagens.
É possível haver, no meio religioso, hipocrisia, falsidades e mistificação? Sim, mas isso não impede que uma doutrina sã possa ser cultivada. Porém, cabe a cada comunidade religiosa fiscalizar desvios de conduta de seus membros e de seus dirigentes. Igualmente, os diversos segmentos religiosos não podem apenas visar a ser uma instituição de fachada, cheia de artificialismos e rituais meramente formais, protocolares, burocráticos, pragmáticos, como objetivos de proveitos financeiros e regalias para seus dirigentes.
Um templo não é um clube social para exibição de luxo e de modas de seus seguidores. Daí ser frequente um seu adepto mudar de religião porque percebeu que tal religião fosse outra no seu cotidiano de cultos ou serviços prestados. Possivelmente essas decepções tenham sido um dos motivos da redução de fiéis ou mesmo levado seus membros ao pessimismo extremo, i.e., à descrença completa e abraçar o ateísmo.
Um mundo completamente secularizado, diria mais precisamente, um mundo sem Deus ou sem uma força superior, ou energia incriada, um ser incriado, como queria Santo Agostinho, tornar-se-ia uma terra devastada no tocante aos valores interiores. Seria um mundo marcado pelo materialismo cru, movido por impulsos meramente biológicos, mecanicistas, animalescos, destituídos de um suporte filosófico no qual a ética e a moral fossem preservadas e melhor ainda, fossem profundamente vivenciadas, ou seja, associando harmoniosamente teoria e práxis.
A laicização ou secularização da sociedade pode desaguar numa condução da vida sem peias, levando o caos aos princípios reguladores da consciência autêntica e, pelo desvio, embrutecer os seres, destituindo-os dos atos nobres, das ações justas, do respeito aos seus semelhantes, permitindo-lhes, ao contrário, uma espécie de laisser-faire no domínio das resoluções morais.
A vida, assim, conheceria apenas um vácuo, uma falta de sentido, o que concorreria para tornar o ser humano um presafácil dos mimetismo da vida dissoluta, puramente hedonistica, sem mais aquele dado indispensável que se instala no espírito das coisas, dos objetos e principalmente do homem. Sem esse fio condutor, que está além da natureza pura, será difícil superar o impasse. Esse fio estaria inextricavelmente ligado ao mundo divino – campo aberto às mais puras revelações propiciadas pela razão, através do conhecimento (episteme) - e por que não? – pela tão almejada conquista da fé, não a fé cega, mas a conseguida pela teodiceia, sem contradições, sem manipulações de qualquer natureza, só possível pela intervenção do Criador. Não tenhamos vergonha de dizer que somos cristãos. Em tempo algum, a intelectualidade nunca foi um obstáculo à prática religiosa, seja qual for a sua denominação, cristã ou não-cristã. Afinal, o que mais importa é a religião do bem e da paz entre os homens e o cerne disso se encontra em todas as religiões corretamente conduzidas.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Um poema de George P. Morris (1802-1864)
Woodman, spare that tree!
Woodman, spare that tree!
Touch not a single bough!
In youth it sheltered me,
And I’’ll protect it now.
It was my forefather’s hand
That place it near his cot;
There, woodman, let it stand,
Thy axe shall harm it not!
That old familiar tree,
Whose glory and renown
Are spread over land and sea,
And wouldst thou hack it down?
Woodman, forbear thy stroke!
Cut not its earth-bound ties;
Oh, spare that aged oak,
Now towering to the skies!
When but and idle boy
I sought its greatful shade;
In all their gushing joy
Here too my sisters played.
My mother kissed me here;
My father pressed my hand, --
Forgive this foolish tear,
But let that old oak stand!
My hear-strings round thee cling,
Close as thy bark, old friend!
Here shall the wild-bird sing,
And still thy branches bend.
Old tree! The storm still brave!
And, woodman, leave the spot;
While I’ve hand to save,
Thy axe shall harm it not.
Lenhador, poupai aquela árvore!
Lenhador, poupai aquela árvore!
Não toqueis nem de leve um galho seu!
Pois ela, muito nova, sombra deu-me,
Por isso, agora, a protejo.
Pelas mãos foi de um meu antepassado
Que a plantou junto de sua casinha;
Ei, lenhador, deixai-a onde está,
Não, não há de feri-la vosso machado!
Aquela velha árvore amiga,
Cuja glória e fama
Por mares e terras se espalharam,
Como ousais, assim, a machado cortá-la?
Lenhador, poupai vosso golpe!
Das suas raízes da terra não a separeis;
Oh, daquele velho carvalho afastai vossas mãos
Que, agora, aos céus se abraçam!
No tempo em que não passava de uma menino indolente
A sombra acolhedora procurava-lhe;
Esfuziantes,
Aqui também brincavam minhas irmãs.
Lugar de beijos que mamãe me dava;
Minhas mãos meu pai apertava, --
Por esta lágrima tola perdoai-lhe,
Porém, o velho carvalho viver deixai!
De vós em torno meus sentimentos profundos envolvo.
Tão fortes, velho amigo, como a raiz vossa!
Aqui há de trinar o pássaro silvestre,
E ainda há de vibrar vossos galhos.
Velha árvore! Resistente ainda às borrascas!
Lenhador, deste local afastai-vos;
Enquanto para vos salvar ainda mãos tiver,
Nunca há de atingi-la vosso machado.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
Woodman, spare that tree!
Touch not a single bough!
In youth it sheltered me,
And I’’ll protect it now.
It was my forefather’s hand
That place it near his cot;
There, woodman, let it stand,
Thy axe shall harm it not!
That old familiar tree,
Whose glory and renown
Are spread over land and sea,
And wouldst thou hack it down?
Woodman, forbear thy stroke!
Cut not its earth-bound ties;
Oh, spare that aged oak,
Now towering to the skies!
When but and idle boy
I sought its greatful shade;
In all their gushing joy
Here too my sisters played.
My mother kissed me here;
My father pressed my hand, --
Forgive this foolish tear,
But let that old oak stand!
My hear-strings round thee cling,
Close as thy bark, old friend!
Here shall the wild-bird sing,
And still thy branches bend.
Old tree! The storm still brave!
And, woodman, leave the spot;
While I’ve hand to save,
Thy axe shall harm it not.
Lenhador, poupai aquela árvore!
Lenhador, poupai aquela árvore!
Não toqueis nem de leve um galho seu!
Pois ela, muito nova, sombra deu-me,
Por isso, agora, a protejo.
Pelas mãos foi de um meu antepassado
Que a plantou junto de sua casinha;
Ei, lenhador, deixai-a onde está,
Não, não há de feri-la vosso machado!
Aquela velha árvore amiga,
Cuja glória e fama
Por mares e terras se espalharam,
Como ousais, assim, a machado cortá-la?
Lenhador, poupai vosso golpe!
Das suas raízes da terra não a separeis;
Oh, daquele velho carvalho afastai vossas mãos
Que, agora, aos céus se abraçam!
No tempo em que não passava de uma menino indolente
A sombra acolhedora procurava-lhe;
Esfuziantes,
Aqui também brincavam minhas irmãs.
Lugar de beijos que mamãe me dava;
Minhas mãos meu pai apertava, --
Por esta lágrima tola perdoai-lhe,
Porém, o velho carvalho viver deixai!
De vós em torno meus sentimentos profundos envolvo.
Tão fortes, velho amigo, como a raiz vossa!
Aqui há de trinar o pássaro silvestre,
E ainda há de vibrar vossos galhos.
Velha árvore! Resistente ainda às borrascas!
Lenhador, deste local afastai-vos;
Enquanto para vos salvar ainda mãos tiver,
Nunca há de atingi-la vosso machado.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Fidel Castro não é mais o mesmo
Cunha e Silva Filho
Se não posso concordar com o pensamento exagerado de José Ingenieros (1877-1925) segundo o qual, ao entrar na velhice, o homem se torna pior moral e intelectualmente, posso conjecturar que Fidel Castro, aos 84 anos, lúcido embora fraco das pernas, e aparentando muito mais velhice do que a sua faixa etária, dá sinais inequívocos de que se está abrindo aos novos tempos.
Em longa e articulada reportagem do jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg, publicada domingo passado no Ilustríssima da Folha de São Paulo, com tradução de Paulo Migliacci e ilustração de Rafael Campos Rocha, fica-se sabendo um pouco mais dos hábitos pessoas atuais e da visão política que nos transmite o velho ditador da bela ilha caribenha.
O convite que Fidel fizera ao jornalista deveu-se a um artigo que este havia publicado na revista “Atlantic” a propósito das relações bastantes tensas entre o Irã e Israel. Jeffrey aproveitou o ensejo para levar consigo a amiga Julia Sweig, respeitada especialista em questões cubanas e latino-americanas que trabalha no Conselho de Relações Exteriores. Julia é uma antiga conhecida de Fidel.
Dessa visita a Cuba, Jeffrey Goldberg pôde perceber que o país já esta trilhando uma nova fase no tocante à sua política externa. Os ventos sopram para novas mudanças na velha ilha socialista. O ponto alto dessa guinada pode ser entendido a partir da assertiva algo melancólico e solitário do antigo comandante supremo do país: ‘O modelo cubano não funciona mais, nem mesmo para nós.’ Isso é suficiente para prever o que virá pela frente, não certamente sem dificuldades de reajustes e adaptações ao mundo globalizado fora da ilha.
Outra modificação de sua visão no campo da política internacional se manifesta na resposta que o velho ditador deu ao jornalista acerca da grave e delicada posição de Cuba, em 1962, frente a um possível ataque norte-americano. Naquela época teria partido do próprio Fidel a “recomendação” para que os mísseis soviéticos instalados n a ilha fossem acionados contra os EUA. Hoje, Fidel confessa que aquela sua “recomendação” não seria ‘válida’. Será isso hoje um a espécie de mea culpa por todo o radicalismo que o ditador imprimira ao seu país durante o feroz período da implantação do rígido modelo comunista apoiado pela Rússia?
Entretanto, o cerne dessa curiosa reportagem centra-se em outros pontos-de-vista de Fidel, especialmente o tema crucial que é a séria ameaça à paz mundial provocada atualmente pelas constantes tensões e ameaças recíprocas entre o Irã e Israel.
Fidel deixa bem evidente a sua reprovação contra confrontos nucleares entre aqueles países. Inclusive, conforme acentua a reportagem, uma das linhas de força das reflexões de Fidel hoje se vincula à política externa, em particular aquela envolvendo os dois mencionados países.
Com isso, não aceita o antissemitismo iraniano e aproveita para criticar o pensamento de Mahmoud Ahmadinejad com respeito ao que este pensa do Holocausto e a não-aceitação do Estado de Israel. Sua linha de pensamento mostra-se nitidamente respeitosa à história do povo judeu. Chega mesmo a ser eloquente a sua apologia do sofrimento dos judeus. Fidel faz um retrospecto de fundo autobiográfico, ressaltando que, desde menino, no interior, durante a Semana Santa, todos culpavam os judeus pela morte de Deus. Quando o jornalista lhe pergunta sobre o seu ateísmo, Fidel lhe diz que ainda continua a ser um materialista dialético. Pode-se, então, especular sobre a sinceridade dessa declaração dele em relação ao plano religioso.
Como solução para inibir qualquer ameaça de guerra nuclear entre o Irã ae Israel ou entre outros países, Fidel só vislumbra uma via de acesso: que todos os países que detenham armas nucleares, se desfaçam delas.
A reportagem, a meu ver, sinaliza mais um passo firme que acena para uma Cuba melhor no futuro, não mais voltada para si mesma, mas retomando relações produtivas e estáveis com outros países que, diferentemente dos EUA, cuja política externa não apenas mantém o cediço embargo econômico contra a ilha, mas também proíbe norte-americanos de viajarem para lá. Só abrem exceções, como foi o caso do jornalista Jeffrey e sua amiga Júlia, porque os dois viajaram como “pesquisadores qualificados’, o que permitido pelo Departamento de Estado.
Fidel, além do entusiasmo pelas questões mundiais, tem agora tempo e vagar para se divertir com shows de golfinhos do aquário de Havana, ou como Jeffrey Goldberg lhe define o atual perfil de homem público, o revolucionário cubano passou seguramente para a condição de “semiaposentado” “estadista veterano” e não mais como chefe de Estado. Fidel não é mais o mesmo.
Se não posso concordar com o pensamento exagerado de José Ingenieros (1877-1925) segundo o qual, ao entrar na velhice, o homem se torna pior moral e intelectualmente, posso conjecturar que Fidel Castro, aos 84 anos, lúcido embora fraco das pernas, e aparentando muito mais velhice do que a sua faixa etária, dá sinais inequívocos de que se está abrindo aos novos tempos.
Em longa e articulada reportagem do jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg, publicada domingo passado no Ilustríssima da Folha de São Paulo, com tradução de Paulo Migliacci e ilustração de Rafael Campos Rocha, fica-se sabendo um pouco mais dos hábitos pessoas atuais e da visão política que nos transmite o velho ditador da bela ilha caribenha.
O convite que Fidel fizera ao jornalista deveu-se a um artigo que este havia publicado na revista “Atlantic” a propósito das relações bastantes tensas entre o Irã e Israel. Jeffrey aproveitou o ensejo para levar consigo a amiga Julia Sweig, respeitada especialista em questões cubanas e latino-americanas que trabalha no Conselho de Relações Exteriores. Julia é uma antiga conhecida de Fidel.
Dessa visita a Cuba, Jeffrey Goldberg pôde perceber que o país já esta trilhando uma nova fase no tocante à sua política externa. Os ventos sopram para novas mudanças na velha ilha socialista. O ponto alto dessa guinada pode ser entendido a partir da assertiva algo melancólico e solitário do antigo comandante supremo do país: ‘O modelo cubano não funciona mais, nem mesmo para nós.’ Isso é suficiente para prever o que virá pela frente, não certamente sem dificuldades de reajustes e adaptações ao mundo globalizado fora da ilha.
Outra modificação de sua visão no campo da política internacional se manifesta na resposta que o velho ditador deu ao jornalista acerca da grave e delicada posição de Cuba, em 1962, frente a um possível ataque norte-americano. Naquela época teria partido do próprio Fidel a “recomendação” para que os mísseis soviéticos instalados n a ilha fossem acionados contra os EUA. Hoje, Fidel confessa que aquela sua “recomendação” não seria ‘válida’. Será isso hoje um a espécie de mea culpa por todo o radicalismo que o ditador imprimira ao seu país durante o feroz período da implantação do rígido modelo comunista apoiado pela Rússia?
Entretanto, o cerne dessa curiosa reportagem centra-se em outros pontos-de-vista de Fidel, especialmente o tema crucial que é a séria ameaça à paz mundial provocada atualmente pelas constantes tensões e ameaças recíprocas entre o Irã e Israel.
Fidel deixa bem evidente a sua reprovação contra confrontos nucleares entre aqueles países. Inclusive, conforme acentua a reportagem, uma das linhas de força das reflexões de Fidel hoje se vincula à política externa, em particular aquela envolvendo os dois mencionados países.
Com isso, não aceita o antissemitismo iraniano e aproveita para criticar o pensamento de Mahmoud Ahmadinejad com respeito ao que este pensa do Holocausto e a não-aceitação do Estado de Israel. Sua linha de pensamento mostra-se nitidamente respeitosa à história do povo judeu. Chega mesmo a ser eloquente a sua apologia do sofrimento dos judeus. Fidel faz um retrospecto de fundo autobiográfico, ressaltando que, desde menino, no interior, durante a Semana Santa, todos culpavam os judeus pela morte de Deus. Quando o jornalista lhe pergunta sobre o seu ateísmo, Fidel lhe diz que ainda continua a ser um materialista dialético. Pode-se, então, especular sobre a sinceridade dessa declaração dele em relação ao plano religioso.
Como solução para inibir qualquer ameaça de guerra nuclear entre o Irã ae Israel ou entre outros países, Fidel só vislumbra uma via de acesso: que todos os países que detenham armas nucleares, se desfaçam delas.
A reportagem, a meu ver, sinaliza mais um passo firme que acena para uma Cuba melhor no futuro, não mais voltada para si mesma, mas retomando relações produtivas e estáveis com outros países que, diferentemente dos EUA, cuja política externa não apenas mantém o cediço embargo econômico contra a ilha, mas também proíbe norte-americanos de viajarem para lá. Só abrem exceções, como foi o caso do jornalista Jeffrey e sua amiga Júlia, porque os dois viajaram como “pesquisadores qualificados’, o que permitido pelo Departamento de Estado.
Fidel, além do entusiasmo pelas questões mundiais, tem agora tempo e vagar para se divertir com shows de golfinhos do aquário de Havana, ou como Jeffrey Goldberg lhe define o atual perfil de homem público, o revolucionário cubano passou seguramente para a condição de “semiaposentado” “estadista veterano” e não mais como chefe de Estado. Fidel não é mais o mesmo.
domingo, 12 de setembro de 2010
O grande líder
Cunha e Silva Filho
Estamos no apogeu do peditório de votos. A hora e a vez do eleitor. Nas praças, nas calçadas, nas capitais, no centro, nos subúrbios, no interior, no asfalto e nas comunidades, os santinhos são copiosamente distribuídos e por todo o país.
Na TV, novamente o peditório acompanhado de promessas miraculosas nos cinquenta minutos do que já se chamou com muita razão de programa humorístico o qual, certamente se fosse pesquisado pelas institutos de pesquisas e opinião, bateriam recordes de baixa ou mesmo nula audiência digna do Guinness Book.
Rostos de todos os tipos e para todos os gostos. Espaço televisivo onde tudo são sorrisos, tanto por parte dos candidatos quanto do que é exibido de feitos e fastos do currículo político dos candidatos. O país na tela das TVs semelha um paraíso para cada partido, com exceção da parte destinada a mostrar as mazelas dos opositores. O que, porém, vale é o marketing, o rosto parecendo mais jovem graças às técnicas de câmeras. Candidatos carrancudos, ao surgirem diante das câmeras, num passe de mágica, se tornam simpáticos, ficam até mais bonitos.
Importa, principalmente, a aparência, o simulacro, o duplo, o espelho invertido, partido, côncavo, convexo, o que for, desde que o look seja a última palavra e o último gesto. Reino da bufonaria e da momice, com tudo a que tem direito. A plateia amorfa, acrítica, subliminada, banalizada, imbecilizada, nas vastidões brasílicas, aplaude ou apupa, conforme suas conveniências e seus interesses particulares, a fieira multipartidária.
O país tem a sorte de viver agora o melhor momento econômico-financeiro. Seu líder é a medida de praticamente todos os partidos. Todos querem posar, fotografar ao lado do líder mundial, senhor de todos os anéis e de todas as pirotecnias. Não há como não se sentir atraído pelo tipo que dele fez capa de uma respeitada revista internacional, temas de livros de um acadêmico da Casa de Machado de Assis, matéria-prima de filme. Até ganhou o primeiro diploma de sua vida, e o mais alto deles, o de doutor por uma velha universidade estrangeira. Elogiado por todos, aqui e no exterior, com índices de popularidade jamais vistos fazendo, assim, jus a uma frase bombástica de sua autoria, repetida, com ligeira modificação, em vários ocasiões: “Nunca o país fez tanto quanto em meu ...”
Ninguém, com efeito, lhe pode sonegar essa popularidade que, de resto, se estende além do que conseguiu “o pai dos pobres” no ápice do reconhecimento do povo brasileiro.
Por isso, estar com ele, receber o apoio dele é certeza de estar nas lideranças das pesquisas e de vitória nas urnas das eleições já tão próximas. Daí estar sempre cercado de tantos correligionários, sinceros ou falsos. Até seus arqui-inimigos fazem restrições ou mesmo ácidas críticas a partidários dele, mas com o cuidado de não o envolverem em nenhuma falcatrua. Lula está blindado pelo povo e pelos partidos. Fosse quem fosse, o seu candidato escolhido à sucessão presidencial, tornar-se-ia, da noite pro dia, quase um santo de predicados e ações. Poupando-lhe a reputação, todas as críticas se podem dirigir a adversários ou situacionistas. Lula, politicamente, é uma causa pétrea.
O amém vem do povo e, como os antigos monarcas que se diziam entronizados por direito divino, o grande líder vive as delícias do poder quase monárquico.
É difícil muitas vezes separar a verdade da mistificação quando, no conjunto da análise do perfil de um líder, há o carisma e um certo halo messiânico.
Nada lhe abala a figura que, na realidade, sobreviveu, incólume, a todos os escândalos, mensalões, CPIs, denúncias, falsas ou verdadeiras. Estamos, portanto, diante de um político nato, com todos os defeitos e virtudes, com todas as graves restrições que se lhe possam fazer.
Nada consegue, repito, estremecer e muito menos demolir essa figura que se fez à imagem e semelhança do povo brasileiro. A voz do voto é a voz do Lula. O povo não é só a classe média, nem a burguesia, nem as elites de todos os tipos. Lula é uma espécie de rei Midas do voto que, no meio do povo, da massa, por contaminação, fortalece e elege, em grande parte, quem dele se aproxima, independentemente do valor moral e competência do apadrinhado, ou quem dele se torna instrumento de delegação, ainda que esta seja o assento supremo da nação. Que a delegação não venha botar tudo a perder a fim de que não se cumpra o prognóstico caipora do candidato José Serra, segundo o qual se, ele, Serra, não ganhar a eleição, a candidata de Lula fará um governo tão mal-sucedido que o grande líder estará fadado a não se eleger nem pra vereador ou coisa parecida. Que o prognóstico do tucano não se cumpra é o que todos nós, eleitores, ou não, de Lula, auguramos para o bem do Brasil.
Estamos no apogeu do peditório de votos. A hora e a vez do eleitor. Nas praças, nas calçadas, nas capitais, no centro, nos subúrbios, no interior, no asfalto e nas comunidades, os santinhos são copiosamente distribuídos e por todo o país.
Na TV, novamente o peditório acompanhado de promessas miraculosas nos cinquenta minutos do que já se chamou com muita razão de programa humorístico o qual, certamente se fosse pesquisado pelas institutos de pesquisas e opinião, bateriam recordes de baixa ou mesmo nula audiência digna do Guinness Book.
Rostos de todos os tipos e para todos os gostos. Espaço televisivo onde tudo são sorrisos, tanto por parte dos candidatos quanto do que é exibido de feitos e fastos do currículo político dos candidatos. O país na tela das TVs semelha um paraíso para cada partido, com exceção da parte destinada a mostrar as mazelas dos opositores. O que, porém, vale é o marketing, o rosto parecendo mais jovem graças às técnicas de câmeras. Candidatos carrancudos, ao surgirem diante das câmeras, num passe de mágica, se tornam simpáticos, ficam até mais bonitos.
Importa, principalmente, a aparência, o simulacro, o duplo, o espelho invertido, partido, côncavo, convexo, o que for, desde que o look seja a última palavra e o último gesto. Reino da bufonaria e da momice, com tudo a que tem direito. A plateia amorfa, acrítica, subliminada, banalizada, imbecilizada, nas vastidões brasílicas, aplaude ou apupa, conforme suas conveniências e seus interesses particulares, a fieira multipartidária.
O país tem a sorte de viver agora o melhor momento econômico-financeiro. Seu líder é a medida de praticamente todos os partidos. Todos querem posar, fotografar ao lado do líder mundial, senhor de todos os anéis e de todas as pirotecnias. Não há como não se sentir atraído pelo tipo que dele fez capa de uma respeitada revista internacional, temas de livros de um acadêmico da Casa de Machado de Assis, matéria-prima de filme. Até ganhou o primeiro diploma de sua vida, e o mais alto deles, o de doutor por uma velha universidade estrangeira. Elogiado por todos, aqui e no exterior, com índices de popularidade jamais vistos fazendo, assim, jus a uma frase bombástica de sua autoria, repetida, com ligeira modificação, em vários ocasiões: “Nunca o país fez tanto quanto em meu ...”
Ninguém, com efeito, lhe pode sonegar essa popularidade que, de resto, se estende além do que conseguiu “o pai dos pobres” no ápice do reconhecimento do povo brasileiro.
Por isso, estar com ele, receber o apoio dele é certeza de estar nas lideranças das pesquisas e de vitória nas urnas das eleições já tão próximas. Daí estar sempre cercado de tantos correligionários, sinceros ou falsos. Até seus arqui-inimigos fazem restrições ou mesmo ácidas críticas a partidários dele, mas com o cuidado de não o envolverem em nenhuma falcatrua. Lula está blindado pelo povo e pelos partidos. Fosse quem fosse, o seu candidato escolhido à sucessão presidencial, tornar-se-ia, da noite pro dia, quase um santo de predicados e ações. Poupando-lhe a reputação, todas as críticas se podem dirigir a adversários ou situacionistas. Lula, politicamente, é uma causa pétrea.
O amém vem do povo e, como os antigos monarcas que se diziam entronizados por direito divino, o grande líder vive as delícias do poder quase monárquico.
É difícil muitas vezes separar a verdade da mistificação quando, no conjunto da análise do perfil de um líder, há o carisma e um certo halo messiânico.
Nada lhe abala a figura que, na realidade, sobreviveu, incólume, a todos os escândalos, mensalões, CPIs, denúncias, falsas ou verdadeiras. Estamos, portanto, diante de um político nato, com todos os defeitos e virtudes, com todas as graves restrições que se lhe possam fazer.
Nada consegue, repito, estremecer e muito menos demolir essa figura que se fez à imagem e semelhança do povo brasileiro. A voz do voto é a voz do Lula. O povo não é só a classe média, nem a burguesia, nem as elites de todos os tipos. Lula é uma espécie de rei Midas do voto que, no meio do povo, da massa, por contaminação, fortalece e elege, em grande parte, quem dele se aproxima, independentemente do valor moral e competência do apadrinhado, ou quem dele se torna instrumento de delegação, ainda que esta seja o assento supremo da nação. Que a delegação não venha botar tudo a perder a fim de que não se cumpra o prognóstico caipora do candidato José Serra, segundo o qual se, ele, Serra, não ganhar a eleição, a candidata de Lula fará um governo tão mal-sucedido que o grande líder estará fadado a não se eleger nem pra vereador ou coisa parecida. Que o prognóstico do tucano não se cumpra é o que todos nós, eleitores, ou não, de Lula, auguramos para o bem do Brasil.
sábado, 11 de setembro de 2010
Um poema de William Cullen Bryant ( 1794-1878)
UM POEMA DE WILLIAM CULLEN BRYANT(1794-1878)
The child and lily
Innocent child and snow-white flower!
Well are you paired in your opening hour,
Thus should the pure and the lovely meet,
Stainless with stainless, and sweet with sweet.
White, as those leaves just blown apart,
Are the plaints folds of thy young heart;
Guilty passion and cankering care,
Never have left their traces there.
Artless one! Though thou gazest now
Over the white blossoms with earnest brow,
Soon will it tire thy childish eye,
Fair as it is, thou throw it by.
Throw it aside in thy weary hour,
Throw it to the ground the fair white flower;
Yet, as thy tender years depart,
Keep that white and innocent heart.
A criança e o lírio
Nívea flor, inocente infante!
Iguais sois ao nascerem,
Dos puros e dóceis o encontro assim deve ser,
Pureza e pureza, doçura e doçura.
Como aquelas alvas pétalas há pouco separadas,
De vosso coração pequeno e compassivo as dobras são;
Culposas paixões, malfazejos atos
Jamais nele deixaram um só vestígio.
Pura inocência! Posto, agora, os olhos ergueis
Com franzido cenho para a branca folha,
Logo se enfastiarão vossos olhos cândidos,
Linda que seja, dela vos afastareis.
Em vossas horas de canseiras, livrai-vos dela,
A bela branca flor, arremessai-a ao chão;
Contudo, à medida que vos fogem os tenros anos,
Do coração a pureza e a inocência conservai.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
The child and lily
Innocent child and snow-white flower!
Well are you paired in your opening hour,
Thus should the pure and the lovely meet,
Stainless with stainless, and sweet with sweet.
White, as those leaves just blown apart,
Are the plaints folds of thy young heart;
Guilty passion and cankering care,
Never have left their traces there.
Artless one! Though thou gazest now
Over the white blossoms with earnest brow,
Soon will it tire thy childish eye,
Fair as it is, thou throw it by.
Throw it aside in thy weary hour,
Throw it to the ground the fair white flower;
Yet, as thy tender years depart,
Keep that white and innocent heart.
A criança e o lírio
Nívea flor, inocente infante!
Iguais sois ao nascerem,
Dos puros e dóceis o encontro assim deve ser,
Pureza e pureza, doçura e doçura.
Como aquelas alvas pétalas há pouco separadas,
De vosso coração pequeno e compassivo as dobras são;
Culposas paixões, malfazejos atos
Jamais nele deixaram um só vestígio.
Pura inocência! Posto, agora, os olhos ergueis
Com franzido cenho para a branca folha,
Logo se enfastiarão vossos olhos cândidos,
Linda que seja, dela vos afastareis.
Em vossas horas de canseiras, livrai-vos dela,
A bela branca flor, arremessai-a ao chão;
Contudo, à medida que vos fogem os tenros anos,
Do coração a pureza e a inocência conservai.
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
TRAVESSIA
TRAVESSIA
A grande questão agora é enfrentar a realidade atual decorrido meio século. É uma vida. Se falarmos em idade, naquela época estava em plena adolescência. Tempo de sonhar acordado, de projetar um futuro meio fosco, com muitas imagens passando na minha frente, imagens que me faziam por vezes chorar. Agora, não me lembro por que “chorava” lá na minha terra natal, deitado numa rede, num quarto meio escuro, com uma a janela dando pra rua, e duas portas que me levavam a outros dois quartos, um de papai e mamãe, e outro de meus irmãos. Ah, me lembro de que havia mais dois quartos, um que ia dar na sala de visitas, ampla sala, arejada. O outro mais parecia destinado a um pequeno escritório, mas nele dormia mais um irmão.O quarto dava pra rua e não tinha janelas, só três portas. Raramente, abria uma delas. Lá, de dia ou de noite, usava como escritório.. Tinha uma mesa grande, com duas cadeiras, uma de frente pra outra.Foi ali que comecei a despertar para a palavra escrita. Éramos onze. Hoje só restam nove. Ainda bem que não houve tantos desfalques. Contudo, dois deles, afetivamente, valem por milhões: os meus pais, hoje em outro plano, o do mistério final revelado, ou não. Saber, quem há de? Nunca se sabe onde tudo passa a ser escuridão a não ser que pendamos pro kardecismo ou outros princípios religiosos ou científicos. A filosofia é útil, mas não pra explicar o além-túmulo.
Em cinquenta anos, quanta mudança em tantos aspectos! O país é outro para o bem ou para o mal. A inauguração de Brasília.. A conclusão do curso científico. A viagem pro Rio. A universidade. A troca de carreira. Muita coisa deu certo. Outras não. Não é assim a vida? A mudança política. O radicalismo militarista de 64. As perseguições. O AI-5. A tragédia brasileira Os exilados. Ou auto-exilados. Os futuros oportunistas. Fiquei de fora. Papai não me queria nas fileiras contra a opressão e o autoritarismo. “Não filho, tenha cuidado. É perigoso demais. Podes perder a vida. Te quero vivo e feliz”. Concordei com ele. Não me arrependo.
Cinquenta anos... O mundo lá fora também mudou, e muito: guerras, conflitos, um genocídio miserável. Desbundes. A ruptura do bom-mocismo conservador. A guerra fria. A queda do Muro de Berlim. A derrocada soviética. O homem na Lua. O vendaval neoliberal. A globalização. O fim (?) da História. O homem deixou de amar socialmente. Tudo se fragmentou. Perdemos as referências. O avento das novas mídias: o computador, a internet, o celular. O universo virtual e a era dos e-mail, dos Orkuts, do Twitter, do e-book. O efeito estufa. O risco da destruição do Planeta. As guerras cibernéticas.
Amigos perdidos hoje, “dormem profundamente” como no poema de Bandeira. Ubi sunt? E eu aqui, sessentão, já penso nas aproximações do percurso derradeiro. Fiz o que pude. Me formei. Tenho família, filhos, netos. Liguei as duas pontas da vida? Lá vem Machado. Ainda não, mas não custa chegar. Até veio a aposentadoria com todos os seus percalços e pequenas alegrias, pelo menos a de maior tranquilidade, a de não mais ser obrigado a horários rígidos e a de obedecer como o “soldado amarelo” de Graciliano. A voz foi recuperada, voz própria, voz ativa, sem sequestros e interditos vindos de cima, ou seja, sem prepotência nem mandonismos.
Cinquenta anos... Uma porção de tempo onde tudo quase já nos aconteceu nas coisas básicas do quotidiano brasileiro. “E agora, José?” A festa acabou? A festa quase acabou, pois ainda há ar pra respirar, há tempo, não tanto, pra amar, e há uma esperança tênue de, qualquer dias desses, recebermos uma notícia boa, não estas notícias miúdas do ramerrão, mas a grande notícia, aquela que nos tornará plenos de felicidade quando nada nos poderá faltar, porque tudo já terá acontecido. É bem possível que esta grande notícia resumiria aqueles sonhos acordados do verdes anos da adolescência, quando me encontrava deitado na rede chorando na projeção do futuro. Só, agora, entendi por que chorava tanto naquela época, naquele quarto meio escuro e naquela casa de tantos irmãos. Cinquenta anos... .É uma vida, leitor, que não pode retroceder. E agora? Teria Drummond a chave?
A grande questão agora é enfrentar a realidade atual decorrido meio século. É uma vida. Se falarmos em idade, naquela época estava em plena adolescência. Tempo de sonhar acordado, de projetar um futuro meio fosco, com muitas imagens passando na minha frente, imagens que me faziam por vezes chorar. Agora, não me lembro por que “chorava” lá na minha terra natal, deitado numa rede, num quarto meio escuro, com uma a janela dando pra rua, e duas portas que me levavam a outros dois quartos, um de papai e mamãe, e outro de meus irmãos. Ah, me lembro de que havia mais dois quartos, um que ia dar na sala de visitas, ampla sala, arejada. O outro mais parecia destinado a um pequeno escritório, mas nele dormia mais um irmão.O quarto dava pra rua e não tinha janelas, só três portas. Raramente, abria uma delas. Lá, de dia ou de noite, usava como escritório.. Tinha uma mesa grande, com duas cadeiras, uma de frente pra outra.Foi ali que comecei a despertar para a palavra escrita. Éramos onze. Hoje só restam nove. Ainda bem que não houve tantos desfalques. Contudo, dois deles, afetivamente, valem por milhões: os meus pais, hoje em outro plano, o do mistério final revelado, ou não. Saber, quem há de? Nunca se sabe onde tudo passa a ser escuridão a não ser que pendamos pro kardecismo ou outros princípios religiosos ou científicos. A filosofia é útil, mas não pra explicar o além-túmulo.
Em cinquenta anos, quanta mudança em tantos aspectos! O país é outro para o bem ou para o mal. A inauguração de Brasília.. A conclusão do curso científico. A viagem pro Rio. A universidade. A troca de carreira. Muita coisa deu certo. Outras não. Não é assim a vida? A mudança política. O radicalismo militarista de 64. As perseguições. O AI-5. A tragédia brasileira Os exilados. Ou auto-exilados. Os futuros oportunistas. Fiquei de fora. Papai não me queria nas fileiras contra a opressão e o autoritarismo. “Não filho, tenha cuidado. É perigoso demais. Podes perder a vida. Te quero vivo e feliz”. Concordei com ele. Não me arrependo.
Cinquenta anos... O mundo lá fora também mudou, e muito: guerras, conflitos, um genocídio miserável. Desbundes. A ruptura do bom-mocismo conservador. A guerra fria. A queda do Muro de Berlim. A derrocada soviética. O homem na Lua. O vendaval neoliberal. A globalização. O fim (?) da História. O homem deixou de amar socialmente. Tudo se fragmentou. Perdemos as referências. O avento das novas mídias: o computador, a internet, o celular. O universo virtual e a era dos e-mail, dos Orkuts, do Twitter, do e-book. O efeito estufa. O risco da destruição do Planeta. As guerras cibernéticas.
Amigos perdidos hoje, “dormem profundamente” como no poema de Bandeira. Ubi sunt? E eu aqui, sessentão, já penso nas aproximações do percurso derradeiro. Fiz o que pude. Me formei. Tenho família, filhos, netos. Liguei as duas pontas da vida? Lá vem Machado. Ainda não, mas não custa chegar. Até veio a aposentadoria com todos os seus percalços e pequenas alegrias, pelo menos a de maior tranquilidade, a de não mais ser obrigado a horários rígidos e a de obedecer como o “soldado amarelo” de Graciliano. A voz foi recuperada, voz própria, voz ativa, sem sequestros e interditos vindos de cima, ou seja, sem prepotência nem mandonismos.
Cinquenta anos... Uma porção de tempo onde tudo quase já nos aconteceu nas coisas básicas do quotidiano brasileiro. “E agora, José?” A festa acabou? A festa quase acabou, pois ainda há ar pra respirar, há tempo, não tanto, pra amar, e há uma esperança tênue de, qualquer dias desses, recebermos uma notícia boa, não estas notícias miúdas do ramerrão, mas a grande notícia, aquela que nos tornará plenos de felicidade quando nada nos poderá faltar, porque tudo já terá acontecido. É bem possível que esta grande notícia resumiria aqueles sonhos acordados do verdes anos da adolescência, quando me encontrava deitado na rede chorando na projeção do futuro. Só, agora, entendi por que chorava tanto naquela época, naquele quarto meio escuro e naquela casa de tantos irmãos. Cinquenta anos... .É uma vida, leitor, que não pode retroceder. E agora? Teria Drummond a chave?
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Lima Barreto ainda mais atualizado
Cunha e Silva Filho
Lima Barreto, posicionado nas histórias literárias no chamado Pré-Modernismo, teima ainda em ser uma espécie de concorrente de uma fatia de glória que se concede a Machado de Assis. A diferença entre os dois em estilos literários e de visões de vida. antes os engrandece com o passar dos tempos.
Agora mesmo, a Companhia de Letras vai publicar um volume sob o título Contos completos de Lima Barreto, reunindo 42 textos inéditos do polêmico escritor. A organização dos textos ficou a cargo de Lilia Moritiz Schwarcz, que se valeu da Coleção Lima Barreto da Biblioteca Nacional. Outra novidade, a Editora Cosac & Naif, publica também, num só volume, O diário do hospício e o Cemitério dos mortos, o primeiro relatando depoimentos do escritor quando de sua segunda internação, por motivos de alto estado de alcoolismo, no Hospital Nacional de Alienação do Rio de Janeiro, entre o Natal de 1919 e fevereiro de 1920, o segundo corresponde a um romance inacabado narrando, ficcionalmente, o ambiente degradado e desumano dos doentes mentais em suas diversas patologias, assim como faz um registro lúcido dos tratamentos e do tipo de psiquiatria que então se dispensava à loucura.
O caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo (05/09/2010) publicou, na última página, um desses contos inéditos do inventor de Policarpo Quaresma.. O conto tem o titulo “Apologética do Feio.”
O conto em questão vem em forma de um bilhete dirigido a uma suposta Baronesa de Melrosado, sendo que o personagem-missivista desfia seu lamento e sua decepção pela recusa daquela aristocrática a um convite para um valsa no que ele chama de “último baile dos Diários.” O motivo, segundo confessa o missivista, foi por ele ser “excessivamente feio”. Aliás, soube da recusa pela boca de um tal Soares, um possível conhecido ou amigo do personagem-missivista. O missivista ainda leva ao conhecimento da baronesa o fato de que a situação dele ficou mais delicada porque perdera uma velha “pendência” entre amigos, a qual consistia em saber qual deles seria o mais feio. Com o comportamento da baronesa, a questão se resolveu em definitivo, de vez que a baronesa, com a recusa ao prazer da dança, levou o pobre missivista a perdera parada nesse “concurso” de feiúra”. Este é o leitmotiv do conto.
O missivista, ao longo da carta, procura demonstrar, em forma de contraponto, o testemunho da História, citando e mais citando grandes figuras do pensamento, das ciências, da filosofia, das artes, da ficção, da poesia, desde os gregos até os mais próximos da contemporaneidade do missivista. Figuras que eram todas modelos de feiúras e, em alguns casos, descomunais. Ou seja, ser feio tem uma virtude e o feio não está sozinho, está na companhia dos mais inteligentes, dos mais sábios, dos mais lógicos. Além disso, definir o belo é muito mais fácil e mesmo pode ser definido de forma consistente por um feio, como Kant, ao passo que definir o feio para o missivista é algo difícil, quiçá impossível, porque se cerca de subjetividade, de “ponto-de-vista”, enfim, de determinismos.
Para o missivista, beleza e feiúra, podem muito bem conviver, desde que uma seja entendida e a outra, indecifrável, pois, se olharmos pela definição, a beleza é mas fácil de definir, enquanto a feiúra oferece muito mais dificuldade de apreensão de sua essência verdadeira. Ou seja, o feio passa a ser mais importante e mais valorizado porque se coloca como um desafio ante quem tenha que demarcar onde acaba o belo e onde começa o feio. Numa palavra, o feio é uma raridade do ângulo filosófico
O texto é atravessado de citações de nomes dos mais diversos saberes e, por extensão, no jogo pendular da antinomia belo-feio, parece mostrar o narrador-missivista que a beleza não pode ser julgada apenas pelas formas harmoniosas e universais. Na fealdade existem também valores tão ou mais importantes do que nas formas clássicas. Inclusive, depreende-se, muito mais complexo é desentranhar valores inestimáveis naquilo que exteriormente soa inferior. E aqui se pode estender ao terreno estético, à ficção, a modos de formalizar gêneros literários, à frente dos quis o que interessa de perto a Lima Barreto, a ficção, tendo em vista a recepção em geral injusta com que, na sua época, foi recebido pelo tradicionalismo literário via modelos Coelho Neto, Rui Barbosa, entre outros.
O falecido ensaísta Cassiano Nunes, analisando o estilo literário do contista João Antônio, refere a uma “estética do feio”, que, em nosso juízo, bem pertinente se torna para explicitar este conto de Lima Barreto, cuja característica alusiva a tantos autores e obras de erudição, chegando mesmo ao exagero das enumerações e a uma transversalidade de assuntos e de ideias, que só fazem iluminar a dimensão simples de cenários, personagens e condições sociais de que faz parte o universo ficcional de Lima Barreto.Lima Barreto remou contra a corrente do establishment cultural de sua época, foi mal entendido, e pior, foi injustiçado. Sofreu naturalmente na carne os percalços do “feio” na obra, na linguagem também mal assimilada pelos contemporâneos , onde lhe imputavam “desleixo de linguagem” quando, na verdade, isso não passava de uma estratégia de subversão aos padrões positivistas e exageros de pureza e aticismo anacrônicos. O altíssimo índice de alusões eruditas do conto serve a dois fins:a) provar que o escritor era um intelectual competente e atualizado; b) ironizar seus opositores lançando mão da estratégia da posse da “erudição” como forma de seus contemporâneos ostentarem “sabedoria” como apanágio só justificáveis se usados pela inteligentizia dominante, não pela literatura praticada por um “feio” nos temas, na linguagem e nos personagens.
Lima Barreto, posicionado nas histórias literárias no chamado Pré-Modernismo, teima ainda em ser uma espécie de concorrente de uma fatia de glória que se concede a Machado de Assis. A diferença entre os dois em estilos literários e de visões de vida. antes os engrandece com o passar dos tempos.
Agora mesmo, a Companhia de Letras vai publicar um volume sob o título Contos completos de Lima Barreto, reunindo 42 textos inéditos do polêmico escritor. A organização dos textos ficou a cargo de Lilia Moritiz Schwarcz, que se valeu da Coleção Lima Barreto da Biblioteca Nacional. Outra novidade, a Editora Cosac & Naif, publica também, num só volume, O diário do hospício e o Cemitério dos mortos, o primeiro relatando depoimentos do escritor quando de sua segunda internação, por motivos de alto estado de alcoolismo, no Hospital Nacional de Alienação do Rio de Janeiro, entre o Natal de 1919 e fevereiro de 1920, o segundo corresponde a um romance inacabado narrando, ficcionalmente, o ambiente degradado e desumano dos doentes mentais em suas diversas patologias, assim como faz um registro lúcido dos tratamentos e do tipo de psiquiatria que então se dispensava à loucura.
O caderno Ilustríssima da Folha de São Paulo (05/09/2010) publicou, na última página, um desses contos inéditos do inventor de Policarpo Quaresma.. O conto tem o titulo “Apologética do Feio.”
O conto em questão vem em forma de um bilhete dirigido a uma suposta Baronesa de Melrosado, sendo que o personagem-missivista desfia seu lamento e sua decepção pela recusa daquela aristocrática a um convite para um valsa no que ele chama de “último baile dos Diários.” O motivo, segundo confessa o missivista, foi por ele ser “excessivamente feio”. Aliás, soube da recusa pela boca de um tal Soares, um possível conhecido ou amigo do personagem-missivista. O missivista ainda leva ao conhecimento da baronesa o fato de que a situação dele ficou mais delicada porque perdera uma velha “pendência” entre amigos, a qual consistia em saber qual deles seria o mais feio. Com o comportamento da baronesa, a questão se resolveu em definitivo, de vez que a baronesa, com a recusa ao prazer da dança, levou o pobre missivista a perdera parada nesse “concurso” de feiúra”. Este é o leitmotiv do conto.
O missivista, ao longo da carta, procura demonstrar, em forma de contraponto, o testemunho da História, citando e mais citando grandes figuras do pensamento, das ciências, da filosofia, das artes, da ficção, da poesia, desde os gregos até os mais próximos da contemporaneidade do missivista. Figuras que eram todas modelos de feiúras e, em alguns casos, descomunais. Ou seja, ser feio tem uma virtude e o feio não está sozinho, está na companhia dos mais inteligentes, dos mais sábios, dos mais lógicos. Além disso, definir o belo é muito mais fácil e mesmo pode ser definido de forma consistente por um feio, como Kant, ao passo que definir o feio para o missivista é algo difícil, quiçá impossível, porque se cerca de subjetividade, de “ponto-de-vista”, enfim, de determinismos.
Para o missivista, beleza e feiúra, podem muito bem conviver, desde que uma seja entendida e a outra, indecifrável, pois, se olharmos pela definição, a beleza é mas fácil de definir, enquanto a feiúra oferece muito mais dificuldade de apreensão de sua essência verdadeira. Ou seja, o feio passa a ser mais importante e mais valorizado porque se coloca como um desafio ante quem tenha que demarcar onde acaba o belo e onde começa o feio. Numa palavra, o feio é uma raridade do ângulo filosófico
O texto é atravessado de citações de nomes dos mais diversos saberes e, por extensão, no jogo pendular da antinomia belo-feio, parece mostrar o narrador-missivista que a beleza não pode ser julgada apenas pelas formas harmoniosas e universais. Na fealdade existem também valores tão ou mais importantes do que nas formas clássicas. Inclusive, depreende-se, muito mais complexo é desentranhar valores inestimáveis naquilo que exteriormente soa inferior. E aqui se pode estender ao terreno estético, à ficção, a modos de formalizar gêneros literários, à frente dos quis o que interessa de perto a Lima Barreto, a ficção, tendo em vista a recepção em geral injusta com que, na sua época, foi recebido pelo tradicionalismo literário via modelos Coelho Neto, Rui Barbosa, entre outros.
O falecido ensaísta Cassiano Nunes, analisando o estilo literário do contista João Antônio, refere a uma “estética do feio”, que, em nosso juízo, bem pertinente se torna para explicitar este conto de Lima Barreto, cuja característica alusiva a tantos autores e obras de erudição, chegando mesmo ao exagero das enumerações e a uma transversalidade de assuntos e de ideias, que só fazem iluminar a dimensão simples de cenários, personagens e condições sociais de que faz parte o universo ficcional de Lima Barreto.Lima Barreto remou contra a corrente do establishment cultural de sua época, foi mal entendido, e pior, foi injustiçado. Sofreu naturalmente na carne os percalços do “feio” na obra, na linguagem também mal assimilada pelos contemporâneos , onde lhe imputavam “desleixo de linguagem” quando, na verdade, isso não passava de uma estratégia de subversão aos padrões positivistas e exageros de pureza e aticismo anacrônicos. O altíssimo índice de alusões eruditas do conto serve a dois fins:a) provar que o escritor era um intelectual competente e atualizado; b) ironizar seus opositores lançando mão da estratégia da posse da “erudição” como forma de seus contemporâneos ostentarem “sabedoria” como apanágio só justificáveis se usados pela inteligentizia dominante, não pela literatura praticada por um “feio” nos temas, na linguagem e nos personagens.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Um poema de Alfred Tennyson (1809-1892)
Um poema de Alfred Tennyson ( 1809-1892)
The charge of the Light Brigade
Half a league, half a league,
Half a league onward,
All in the valley of Death,
Rode the six hundred.
“Forward, the Light Brigade!
Charge for the guns!” he said:
Into the valley of Death
Rode the six hundfred.
“Forward, the KLight Brigade!”
Was there a man dismayed?
Not though the soldier knew
Someone had blundered:
Theirs not to make reply,
Theirs not to reason why,
Theirs but to do and die:
Into the valley of Death
Rode the six hundred.
Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon in front of them
Volleyed and thundered;
Stormed at with shot and shell,
Boldly they rode and well,
Into the jaws of Death,
Into the mouth of Hell,
Rode the six hundred.
Flashed all their sabres bare,
Flashed as they turned in air
Sabring the gunners there,
Charging an army, while
All the world wondered:
Plunged in the battery-smoke
Right through the line they broke;
Cossack and Russian
Reeled from the sabre they stroke
Shattered and sundered.
Then they rode back, but not -
Not the six hundred.
Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon behind them
Volleyed and thundered;
Stormed at with shot and shell,
While horse and hero fell,
They that had fought so well
Came through the jaws of Death,
Back from the mouth of Hell,
All that was left of them,.
Left of six hundred.
When can their glory fade?
O the wild charge they made!
All the world wondered.
Honour the charge they made!
Honour the Light Brigade,
Noble six hundred!
O ataque da Brigada Ligeira
Meia légua, meia légua
Meia légua faltava ainda
Ao vale da Morte todos
Cavalgavam.os seiscentos soldados
“Avante, Brigada Ligeira!
Atacai com as armas!” disse ele:
Para o vale da Morte
Cavalgavam.seiscentos soldados
“Avante, Brigada Ligeira!”
Por acaso um homem amedrontado havia?
Não, embora soubessem os soldados
Que alguém a verdade não falava:
Eles responder não podiam,
Eles argumentar não podiam,
Eles obedecer e morrer podiam apenas:
Para o vale da Morte
Cavalgavam .seiscentos soldados
À direita, canhão,
À esquerda, canhão,
À frente, canhão
Atiravam e rimbobavam;
Com tiros e granadas fulminados,
Sem medo audazmente avançavam
Da Morte para as garras,
Do Inferno para a boca
Cavalgavam seiscentos soldados.
Num átimo, os sabres desembainhavam.
Os quais, no alto, cintilhantes,
Canhoneiros ali golpeavam,
Um exército atacando, diante
De um mundo atônito:
Da bateria pela fumaça sufocados;
Cossacos e russos,
Vacilantes ante os sabres dos golpes,
Destroçavam-se e partiam-se.
Recuaram em seguida, mas não –
Não os seiscentos soldados.
À direita, canhão,
À esquerda, canhão
Atrás, canhão
Atiravam e atroavam;
Por tiros e granadas fulminados,
Enquanto caem cavalos e heróis,
Logo eles, combatentes aguerridos,
Nas garras da Morte cair foram,
Da boca do Inferno de regresso,
Foi tudo o que restou
Desses seiscentos homens.
Pode, algum dia, sua glória se apagar
Oh, temerário esforço despendido!
O mundo inteiro se pergunta.
Honra à luta travada!
Honra à Brigada Ligeira,
Nobreza de seiscentos heróis!
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
.
The charge of the Light Brigade
Half a league, half a league,
Half a league onward,
All in the valley of Death,
Rode the six hundred.
“Forward, the Light Brigade!
Charge for the guns!” he said:
Into the valley of Death
Rode the six hundfred.
“Forward, the KLight Brigade!”
Was there a man dismayed?
Not though the soldier knew
Someone had blundered:
Theirs not to make reply,
Theirs not to reason why,
Theirs but to do and die:
Into the valley of Death
Rode the six hundred.
Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon in front of them
Volleyed and thundered;
Stormed at with shot and shell,
Boldly they rode and well,
Into the jaws of Death,
Into the mouth of Hell,
Rode the six hundred.
Flashed all their sabres bare,
Flashed as they turned in air
Sabring the gunners there,
Charging an army, while
All the world wondered:
Plunged in the battery-smoke
Right through the line they broke;
Cossack and Russian
Reeled from the sabre they stroke
Shattered and sundered.
Then they rode back, but not -
Not the six hundred.
Cannon to right of them,
Cannon to left of them,
Cannon behind them
Volleyed and thundered;
Stormed at with shot and shell,
While horse and hero fell,
They that had fought so well
Came through the jaws of Death,
Back from the mouth of Hell,
All that was left of them,.
Left of six hundred.
When can their glory fade?
O the wild charge they made!
All the world wondered.
Honour the charge they made!
Honour the Light Brigade,
Noble six hundred!
O ataque da Brigada Ligeira
Meia légua, meia légua
Meia légua faltava ainda
Ao vale da Morte todos
Cavalgavam.os seiscentos soldados
“Avante, Brigada Ligeira!
Atacai com as armas!” disse ele:
Para o vale da Morte
Cavalgavam.seiscentos soldados
“Avante, Brigada Ligeira!”
Por acaso um homem amedrontado havia?
Não, embora soubessem os soldados
Que alguém a verdade não falava:
Eles responder não podiam,
Eles argumentar não podiam,
Eles obedecer e morrer podiam apenas:
Para o vale da Morte
Cavalgavam .seiscentos soldados
À direita, canhão,
À esquerda, canhão,
À frente, canhão
Atiravam e rimbobavam;
Com tiros e granadas fulminados,
Sem medo audazmente avançavam
Da Morte para as garras,
Do Inferno para a boca
Cavalgavam seiscentos soldados.
Num átimo, os sabres desembainhavam.
Os quais, no alto, cintilhantes,
Canhoneiros ali golpeavam,
Um exército atacando, diante
De um mundo atônito:
Da bateria pela fumaça sufocados;
Cossacos e russos,
Vacilantes ante os sabres dos golpes,
Destroçavam-se e partiam-se.
Recuaram em seguida, mas não –
Não os seiscentos soldados.
À direita, canhão,
À esquerda, canhão
Atrás, canhão
Atiravam e atroavam;
Por tiros e granadas fulminados,
Enquanto caem cavalos e heróis,
Logo eles, combatentes aguerridos,
Nas garras da Morte cair foram,
Da boca do Inferno de regresso,
Foi tudo o que restou
Desses seiscentos homens.
Pode, algum dia, sua glória se apagar
Oh, temerário esforço despendido!
O mundo inteiro se pergunta.
Honra à luta travada!
Honra à Brigada Ligeira,
Nobreza de seiscentos heróis!
(Tradução de Cunha e Silva Filho)
.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
A quem dar meu voto?
A quem dar meu voto?
Cunha e Silva Filho
Na conjuntura atual da política brasileira é possível votar com consciência plena do que estamos fazendo diante das urnas eletrônicas? Eis uma questão delicada, quase incontornável e, no meu entendimento insolúvel. Nada me sinaliza para um voto útil. Nada me dá certeza do que me estão apresentando como projetos de campanha. Se olho para trás, vejo uma triste história de corrupção,ladroagem e silêncio diante de fatos amplamente divulgados de desvios de conduta de grande parte de nossos homens que estão na política.
Se ligo o aparelho da TV, dou com a cara no horário obrigatório regulamentado pelo TRE. São cinquenta minutos de verborreia, de mentirada, de cinismo, de incompetência, em suma, de discursos vazios de verdade e de sentido.Tudo soa cômico, histriônico, patusco.
Um cenário de politicalha formado de um saco de gatos em que se metamorfosearam os partidos nacionais. O curioso é que a chamada esquerda (ainda existe isso?), com seus supostos membros, convive bem com as benesses do consumismo capitalista. No Brasil existe um partido: o do comunista burguês.
A vida partidária brasileira não passa de um faz-de-conta que se realimenta ad nauseam mantendo-se as aparentes diferenças que, no fundo, só visam ao poder de mandatos e das regalias que terão após serem investidos nos cargos.
Por que esquerdistas não abrem mão das mordomias auferidas no Senado e na Câmara dos Deputados? Duvido que para o Planalto iriam se a vida de políticos se modelasse, na prática, ao tipo de vida dos políticos da Suécia. É bem provável que o Congresso viraria um Saara e mesmo sumiria do mapa.
A chamada direita não merece nem comentários, de vez que todos sabemos a quem serve: aqueles que têm como meta de vida o enriquecimento, de preferência pelo consuetudinário método da exploração do trabalho através da mais-valia, ou seja, manter-se sempre no poder, a todo custo, preservando-se as diferenças na pirâmide social, concedendo por vezes alguma ascensão de uns poucos, mas tendo o maior cuidado para que essa subida não atinja a fronteira do poder absoluto do capital.
E o que dizer das chamadas centro-esquerda, centro-direita, ou extrema direita? As duas primeiras são gradações que escondem preferências sutilmente não assumidas, ou assumidas para não desagradarem os círculos sociais. Aparentar alguma simpatia pela esquerda é bem mais confortável. Já a extrema direita torna-se, por si própria, real objeto de desprezo dos opositores e até mesmo seus adeptos jamais se identificariam com essa ala política. Sua atuação pode ser visível na vida da sociedade, mas seus princípios teóricos são estrategicamente camuflados.
Diante desse quadro da realidade partidária a caminho das próximas eleições para Presidente da República, senadores governadores e deputados estaduais e federais, fica extremamente difícil a quem dar meu voto. Que Deus me inspire!
Cunha e Silva Filho
Na conjuntura atual da política brasileira é possível votar com consciência plena do que estamos fazendo diante das urnas eletrônicas? Eis uma questão delicada, quase incontornável e, no meu entendimento insolúvel. Nada me sinaliza para um voto útil. Nada me dá certeza do que me estão apresentando como projetos de campanha. Se olho para trás, vejo uma triste história de corrupção,ladroagem e silêncio diante de fatos amplamente divulgados de desvios de conduta de grande parte de nossos homens que estão na política.
Se ligo o aparelho da TV, dou com a cara no horário obrigatório regulamentado pelo TRE. São cinquenta minutos de verborreia, de mentirada, de cinismo, de incompetência, em suma, de discursos vazios de verdade e de sentido.Tudo soa cômico, histriônico, patusco.
Um cenário de politicalha formado de um saco de gatos em que se metamorfosearam os partidos nacionais. O curioso é que a chamada esquerda (ainda existe isso?), com seus supostos membros, convive bem com as benesses do consumismo capitalista. No Brasil existe um partido: o do comunista burguês.
A vida partidária brasileira não passa de um faz-de-conta que se realimenta ad nauseam mantendo-se as aparentes diferenças que, no fundo, só visam ao poder de mandatos e das regalias que terão após serem investidos nos cargos.
Por que esquerdistas não abrem mão das mordomias auferidas no Senado e na Câmara dos Deputados? Duvido que para o Planalto iriam se a vida de políticos se modelasse, na prática, ao tipo de vida dos políticos da Suécia. É bem provável que o Congresso viraria um Saara e mesmo sumiria do mapa.
A chamada direita não merece nem comentários, de vez que todos sabemos a quem serve: aqueles que têm como meta de vida o enriquecimento, de preferência pelo consuetudinário método da exploração do trabalho através da mais-valia, ou seja, manter-se sempre no poder, a todo custo, preservando-se as diferenças na pirâmide social, concedendo por vezes alguma ascensão de uns poucos, mas tendo o maior cuidado para que essa subida não atinja a fronteira do poder absoluto do capital.
E o que dizer das chamadas centro-esquerda, centro-direita, ou extrema direita? As duas primeiras são gradações que escondem preferências sutilmente não assumidas, ou assumidas para não desagradarem os círculos sociais. Aparentar alguma simpatia pela esquerda é bem mais confortável. Já a extrema direita torna-se, por si própria, real objeto de desprezo dos opositores e até mesmo seus adeptos jamais se identificariam com essa ala política. Sua atuação pode ser visível na vida da sociedade, mas seus princípios teóricos são estrategicamente camuflados.
Diante desse quadro da realidade partidária a caminho das próximas eleições para Presidente da República, senadores governadores e deputados estaduais e federais, fica extremamente difícil a quem dar meu voto. Que Deus me inspire!
SEM RUMO
SEM RUMO
Cunha e Silva Filho
Para Cunha e Silva Neto
Em qualquer parte estaremos. A vida, algumas vezes, nos dá o seu sem-sentido. Vago sortilégio nos empurra para algum lugar, conhecido ou não. Quem é o responsável pelos nossos rumos e andanças baudelairianos ou, em outros sentidos e latitudes, cesarioverdianos? “Pensamento de um Ocidental”. Que lindo, estranho e comovente poema!
Vejo largas ruas de Curitiba, Ruas que, na sua maioria, não conheço pelos nomes, nem pela exatidão topográfica. Dá trabalho para se conhecer uma cidade maior. No Rio de Janeiro foi a mesma coisa. Penei por mais de um mês pra poder me posicionar no tocante às ruas do Centro e este, a meu ver, não é tão grande assim. Apanhei, contudo, aprendi, não obstante os nomes de algumas delas ainda me confundam.
O mesmo diria de Teresina, onde vivi quinze anos consecutivos, pois, em Amarante, minha terra natal, só morei na infância de três anos. Hoje, a bela Cidade Verde”, tão sabiamente cantada em verso pelo poeta Hardi Filho, desconheço nos seus desdobramentos progressistas. Só a velha parte do Centro me é agora familiar. A nova Teresina, a sua nova periferia, os seus novos bairros e construções verticalizadas, isso tudo me é estranho e nesse mapa atualizado me perco. Invejo os que puderam acompanhar-lhe o crescimento sem perder por isso o bonde, não o da História, mas o da urbe.
Ruas curitibanas. São ruas pelas quais já passei muitas vezes, entretanto, na confusão automobilística, por elas cruzo e recruzo tentando em vão ( o grande Eça diria “debalde”) situar-me. Nunca fui bom de mapas e muito menos de assunto relacionado a espacialidade, ao contrário de minha mulher, que, uma vez visto um local, logo o guarda com a sua invejável memória, assim como o faz com respeito a números de telefones e celulares. Quanta memória que não tenho! Em compensação, minha capacidade retentiva se distingue potencialmente para armazenar palavras. Oh, como as guardo tão bem e, amiúde, até sei quando as vi pela primeira vez e mesmo nos contextos lingüísticos nos quais as aprendi!
Gosto de palavras, em especial das que desconheço. Elas me dão a medida correta de quanto somos, vocabularmente, pobres e desamparados.Uma vez uma professora de língua inglesa me contou que um colega dela, também professor dessa disciplina, sabia praticamente todas as palavras de um dicionário inglês-português. Suponho que de tamanho médio, porquanto reter os milhares de verbetes de um dicionário desk-type me parece descomunal e impossível, tendo em vista que esses gigantes lexicográfico contêm milhares de cross-refrences, ou seja, armazenamento só possível a um computador.
Na realidade, esta crônica, como se vê, não tem rumo. Será que tem sentido? A se ver pelo titulo, portanto, pela sua função catafórica, não tem com certeza. “Pouco me importa”, nesta situação aquela frase fina do diálogo entre o sedutor capitão Rett Butler, galã de “E o vento levou.”, no papel desempenhado pelo ator Clark Gable e Scarlet O’Hara, aquela linda e estouvada personagem vivida pela atriz Vivien Leigh. Não havia mais volta para uma possível reconciliação de um grande amor na tumultuada vida do belo par romântico.
Quem dita o rumo de uma crônica é o momento epifânico do ato da escrita. Só ele detém a autonomia deste mistério das palavras no papel ou na tela do computador. Só ele sabe por que me abalanço a alinhar à mão e, depois, a digitar no teclado, nesta meio cálida tarde de Curitiba, por sobre esta escrivaninha do quarto de minhas netinhas, estas divagações passageiras sem destino , forçando a mão e o pensamento a moldarem, na folha branca, alguma forma de comunicação íntima e unilateral, de vez que não estou cogitando aqui da figura do leitor ideal ou de qualquer classificação teórico-narratológica. Quem me dera pelo menos alcançasse o reduzido número de leitores de um certo romance de Machado de Assis!
O pensamento sem rumo ainda me empurra para o lado cultural curitibano e chego a uma conclusão que talvez, por sua natureza, se estenda a outras capitais brasileiras: a de que as histórias literárias, regionalmente falando, são tão fascinantes e enriquecedoras quanto as do conhecido eixo hegemônico Rio-São Paulo. Todas têm suas histórias específicas, suas “questões coimbrãs”, suas defasagens cronológicas em comparação com os centros culturais dominantes, todas têm seus nomes ilustres, suas figuras mais em evidência no passado e no presente,seus lances de virtudes e de vícios e, por último, suas costumeiras injustiças contra alguns escritores
. A vida literária dessas antigas províncias, seus episódios mais conspícuos que merecem os registros dos historiadores locais, mantêm entre si enormes semelhanças com os outros estados do país.
No Paraná, recortando o tempo de rupturas poéticas do fazer literário canônico, não se pode esquecer o nome de Paulo Leminski, da mesma maneira que, no Piauí, não se pode esquecer de H. Dobal, Mário Faustino ou, nas suas pretensões iconoclastas, de Torquato Neto.Em Curitiba, fiquei sabendo que Leminski (1944-1989) é autor de um romance experimental chamado Catatau, que, no meu juízo, precisa de ser mais divulgado.Me pus, desse modo, a par daquilo que não conhecia da história literária contemporânea paranaense, para mim só mais evidente através dos poetas Tarso da Silveira, Emiliano Perneta e Rocha Pombo, este último como poeta, não como autor de uma Historia do Brasil, um volume da qual havia na biblioteca de meu pai. De curitibanos já conhecia, os críticos Andrade Muricy, Temístocles Linhares, Wilson Martins e, na ficção contemporânea, o mais conhecido deles nacionalmente, o contista Dalton Trevisan.
Da mesma forma, esse recorte regionalista me faz pensar naquela antiga idéia de “ilhas culturais” ou regiões geográficas, em número de sete (Amazônia, Nordeste, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro concebidas pelo ensaísta e ficcionista gaúcho Viana Moog, formulação esta hoje algo ultrapassada, dados os seus vínculos tainianos ( clima, região e meios de produção) de unidades literárias separadas do conjunto geral da literatura brasileira, diante dos avanços das mídias atuais, tornando cada vez mais estreito o contato entre estados brasileiros, e mesmo assim longe ainda está do desejável ideal de reciprocidade.
Na minha deambulação mais recente levei comigo duas antologias, uma de autores franceses e outra, de ingleses e norte-americanos, uma obra de filosofia pra não filósofos e um livro de poemas, Onde humano (Teresina, PI, editora Nova Aliança, 2009, 114 p.) do jovem piauiense Luiz Filho de Oliveira, obra cuja leitura concluí em Curitiba e que me causou forte impressão.
No geral, pouco li do que levei, mas , em terras estranhas, os planos tornam-se sem rumo, tal como o título do cronista.
Cunha e Silva Filho
Para Cunha e Silva Neto
Em qualquer parte estaremos. A vida, algumas vezes, nos dá o seu sem-sentido. Vago sortilégio nos empurra para algum lugar, conhecido ou não. Quem é o responsável pelos nossos rumos e andanças baudelairianos ou, em outros sentidos e latitudes, cesarioverdianos? “Pensamento de um Ocidental”. Que lindo, estranho e comovente poema!
Vejo largas ruas de Curitiba, Ruas que, na sua maioria, não conheço pelos nomes, nem pela exatidão topográfica. Dá trabalho para se conhecer uma cidade maior. No Rio de Janeiro foi a mesma coisa. Penei por mais de um mês pra poder me posicionar no tocante às ruas do Centro e este, a meu ver, não é tão grande assim. Apanhei, contudo, aprendi, não obstante os nomes de algumas delas ainda me confundam.
O mesmo diria de Teresina, onde vivi quinze anos consecutivos, pois, em Amarante, minha terra natal, só morei na infância de três anos. Hoje, a bela Cidade Verde”, tão sabiamente cantada em verso pelo poeta Hardi Filho, desconheço nos seus desdobramentos progressistas. Só a velha parte do Centro me é agora familiar. A nova Teresina, a sua nova periferia, os seus novos bairros e construções verticalizadas, isso tudo me é estranho e nesse mapa atualizado me perco. Invejo os que puderam acompanhar-lhe o crescimento sem perder por isso o bonde, não o da História, mas o da urbe.
Ruas curitibanas. São ruas pelas quais já passei muitas vezes, entretanto, na confusão automobilística, por elas cruzo e recruzo tentando em vão ( o grande Eça diria “debalde”) situar-me. Nunca fui bom de mapas e muito menos de assunto relacionado a espacialidade, ao contrário de minha mulher, que, uma vez visto um local, logo o guarda com a sua invejável memória, assim como o faz com respeito a números de telefones e celulares. Quanta memória que não tenho! Em compensação, minha capacidade retentiva se distingue potencialmente para armazenar palavras. Oh, como as guardo tão bem e, amiúde, até sei quando as vi pela primeira vez e mesmo nos contextos lingüísticos nos quais as aprendi!
Gosto de palavras, em especial das que desconheço. Elas me dão a medida correta de quanto somos, vocabularmente, pobres e desamparados.Uma vez uma professora de língua inglesa me contou que um colega dela, também professor dessa disciplina, sabia praticamente todas as palavras de um dicionário inglês-português. Suponho que de tamanho médio, porquanto reter os milhares de verbetes de um dicionário desk-type me parece descomunal e impossível, tendo em vista que esses gigantes lexicográfico contêm milhares de cross-refrences, ou seja, armazenamento só possível a um computador.
Na realidade, esta crônica, como se vê, não tem rumo. Será que tem sentido? A se ver pelo titulo, portanto, pela sua função catafórica, não tem com certeza. “Pouco me importa”, nesta situação aquela frase fina do diálogo entre o sedutor capitão Rett Butler, galã de “E o vento levou.”, no papel desempenhado pelo ator Clark Gable e Scarlet O’Hara, aquela linda e estouvada personagem vivida pela atriz Vivien Leigh. Não havia mais volta para uma possível reconciliação de um grande amor na tumultuada vida do belo par romântico.
Quem dita o rumo de uma crônica é o momento epifânico do ato da escrita. Só ele detém a autonomia deste mistério das palavras no papel ou na tela do computador. Só ele sabe por que me abalanço a alinhar à mão e, depois, a digitar no teclado, nesta meio cálida tarde de Curitiba, por sobre esta escrivaninha do quarto de minhas netinhas, estas divagações passageiras sem destino , forçando a mão e o pensamento a moldarem, na folha branca, alguma forma de comunicação íntima e unilateral, de vez que não estou cogitando aqui da figura do leitor ideal ou de qualquer classificação teórico-narratológica. Quem me dera pelo menos alcançasse o reduzido número de leitores de um certo romance de Machado de Assis!
O pensamento sem rumo ainda me empurra para o lado cultural curitibano e chego a uma conclusão que talvez, por sua natureza, se estenda a outras capitais brasileiras: a de que as histórias literárias, regionalmente falando, são tão fascinantes e enriquecedoras quanto as do conhecido eixo hegemônico Rio-São Paulo. Todas têm suas histórias específicas, suas “questões coimbrãs”, suas defasagens cronológicas em comparação com os centros culturais dominantes, todas têm seus nomes ilustres, suas figuras mais em evidência no passado e no presente,seus lances de virtudes e de vícios e, por último, suas costumeiras injustiças contra alguns escritores
. A vida literária dessas antigas províncias, seus episódios mais conspícuos que merecem os registros dos historiadores locais, mantêm entre si enormes semelhanças com os outros estados do país.
No Paraná, recortando o tempo de rupturas poéticas do fazer literário canônico, não se pode esquecer o nome de Paulo Leminski, da mesma maneira que, no Piauí, não se pode esquecer de H. Dobal, Mário Faustino ou, nas suas pretensões iconoclastas, de Torquato Neto.Em Curitiba, fiquei sabendo que Leminski (1944-1989) é autor de um romance experimental chamado Catatau, que, no meu juízo, precisa de ser mais divulgado.Me pus, desse modo, a par daquilo que não conhecia da história literária contemporânea paranaense, para mim só mais evidente através dos poetas Tarso da Silveira, Emiliano Perneta e Rocha Pombo, este último como poeta, não como autor de uma Historia do Brasil, um volume da qual havia na biblioteca de meu pai. De curitibanos já conhecia, os críticos Andrade Muricy, Temístocles Linhares, Wilson Martins e, na ficção contemporânea, o mais conhecido deles nacionalmente, o contista Dalton Trevisan.
Da mesma forma, esse recorte regionalista me faz pensar naquela antiga idéia de “ilhas culturais” ou regiões geográficas, em número de sete (Amazônia, Nordeste, Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro concebidas pelo ensaísta e ficcionista gaúcho Viana Moog, formulação esta hoje algo ultrapassada, dados os seus vínculos tainianos ( clima, região e meios de produção) de unidades literárias separadas do conjunto geral da literatura brasileira, diante dos avanços das mídias atuais, tornando cada vez mais estreito o contato entre estados brasileiros, e mesmo assim longe ainda está do desejável ideal de reciprocidade.
Na minha deambulação mais recente levei comigo duas antologias, uma de autores franceses e outra, de ingleses e norte-americanos, uma obra de filosofia pra não filósofos e um livro de poemas, Onde humano (Teresina, PI, editora Nova Aliança, 2009, 114 p.) do jovem piauiense Luiz Filho de Oliveira, obra cuja leitura concluí em Curitiba e que me causou forte impressão.
No geral, pouco li do que levei, mas , em terras estranhas, os planos tornam-se sem rumo, tal como o título do cronista.
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