Cunha e Silva Filho
Nas décadas de sessenta, setenta e oitenta fui um assíduo  frequentador de  livrarias do centro do  Rio de Janeiro quanto  dos  sebos. Esta cidade possui uma quantidade considerável  de sebos assim como outras capitais brasileiras.  
 
Como  naquela época  não dispunha de  dinheiro suficiente, ao entrar nas livrarias mais famosas ficava apenas “namorando” os livros nas prateleiras  das estantes  e naquelas mesas-estantes  muito comuns em algumas livrarias, sobretudo as mais antigas. Olhava os preços e desistia, tal como aquele personagem  de André Theurieut (1833-1907) que também  que ficara fascinado com  o título de um livro na vitrine que de imediato  desejara adquirir, mas não tinha dinheiro para tanto.
 O livro chamava-se: “Livro Mágico”, na  tradução livre. Só a custo o  conseguiu,  ou seja, depois que lutou para conseguir, ajudando estudantes a visitar exposições numa livraria,  um adiantamento  de dois francos da funcionária,  com os quais   pôde comprá-lo. Mas, pouco durou  o deslumbramento. Logo que  tomou posse do volume, verificou que ‘de mágico só  tinha o título” e o trocou por uma bola de ágata com um colega.
No meu caso  particular,  nunca fiquei sabendo se   alguns daqueles livros  que desejei comprar  se transformariam  em mais um exemplo de “livro mágico.”   Na minha situação,  era diferente porque não foi só um livro  que me  chamou tanto  a atenção. Foram várias e várias obras    que  sonhava obter   sem nunca ter conseguido.
O que me valeu um pouco  foram os livros antigos que, por serem mais baratos,  terminava por comprar: eram  excelentes livros  de autores estrangeiros, principalmente  sobre língua inglesa, gramáticas,  didáticos, livros teóricos,  de crítica literária, história literária, história,  livros  franceses, espanhóis, de latim, volumes de ensaios literários, de ficção,  de poesia etc. 
Quase todos  eles li, se não na íntegra, pelo menos  alguns capítulos. Muita  gente pensa que  já lemos  todos os livros que possuímos  e que formam  uma pequena, média ou grande biblioteca. Longe disso, há livros que compramos e que  jamais leremos, como há outros que lemos tempos depois. Não há uma regra  para esse nosso comportamento de leitor.  Livros há que lemos de imediato, de um fôlego. Outros, o fazemos pela metade,  de outros mais só lemos as orelhas. 
Confesso-lhe, leitor,  me dá uma grande  frustração por não  ter lido pelo menos todos os  que venho   colecionando há tanto tempo.  Vezes há que ainda reservamos uma dezena  ou vintena  de volumes  e nos prometemos que iremos  um dia começar a lê-los. Qual nada! O tempo passa e nada  de começarmos  a leitura do primeiro deles. Chegará  um tempo que não teremos mais tempo  de  enfrentá-los, mas então será “tarde, muito tarde”,  como diria o velho  pregador no seu último sermão.
Hoje  posso comprar  livros sem tanta dificuldade como de antanho. Não vou hoje  com tanta regularidade às livrarias nem aos sebos, sobretudo  porque estão  aí pra ficarem as livrarias virtuais de sebos, com milhões de  livros vendidos  pelos quatro cantos do país. Sem se falar nas estrangeiras que vendem livros novos e usados. Tenho usado muito   dessas livrarias. Compramos os livros  pela Internet e recebemos os volumes em casa pelo Correio. É confortável e cansa menos. Quanto aos livros novos,  vejo que  é um bom hobby  ir às livrarias, algumas delas  luxuosas, com serviço de bares,  poltronas para  leituras. Na verdade, recomendo a todos que   visitem as boas livrarias,  locus   propício  a  informações das  novidades do mercado editorial brasileiro e  estrangeiro. No Rio há lindas livrarias que dá  gosto  visitá-las com  assiduidade.
Porém, naqueles idos  de três décadas,  como doía,   no meu espírito ávido de  adquirir livros  e conhecimento,  não ter recursos  para  comprar aqueles livros cujo títulos,  nomes de autores e editoras se me fugiram  em definitivo da memória!
Só  me restava neles fixar longamente os olhos e imaginar que um dia poderia comprá-los. Naquele tempo,  a prioridade  era o sustento da família, não os livros, não obstante  tão almejados, tão necessários  à minha atualização. Me  imaginava  entrando no futuro nas   belas livrarias cariocas  comprando  o que quisesse, levando para casa  os volumes que tanto me fascinavam a ponto de  namorá-los, como já  disse atrás, toda vez que  pelas livrarias passava. Entretanto, havia que pensar primeiro na família, naqueles que de mim dependiam. Os livros  queridos e que me atraíam poderiam  esperar, esperar, esperar.  Haja esperança!
Nenhum comentário:
Postar um comentário