Cunha e Silva Filho
Fidel Castro, aos oitenta e três, anos,  recuperou em parte a saúde. Sua autoridade no  país caribenho ainda é sentida e tem peso. Por detrás do  seu substituto, seu irmão Raúl Castro, continua a pairar a sombra  do caudilho cubano que livrou a bela e pequena ilha de governos corruptos e inimigos do povo. Castro conseguiu limpar as impurezas do país cujos governos (o último dos quais , o de Fulgêncio Batista, foi  por ele derrubado) recebiam o apoio norte-americano. Antes da revolução,  todos os governos forma pró-americanistas, governos que geraram  tremendas desigualdades sociais, miséria,  fome, corrupção, tudo isso  acobertado pelos EUA, que, na pequena  ilha,  tinham negócios rendosos 
Entretanto, os rumos da revolução cubana, ao longo de um percurso já longo, não seguiram os caminhos que dela se esperava, uma vez que, realizada a mudança,   seu líder preferiu a receita comunista, tornando a nação  uma espécie de satélite político da do comunismo russo  do qual  por  muito tempo recebeu apoio comercial e logístico,  particularmente em razão do  impiedoso, injusto  e cruel embargo  decretado pela política externa estadunidense. Até aí, poder-se-ia compreender o regime  socialista, implantado em Cuba, que não abriu mão de mudanças por vias democráticas, ou seja,  eleições livres,  alternância de poder e formação de partidos livres. 
Seria,  isso sim,  o comportamento  que de Fidel  há muito  as nações politicamente   avançadas dele  esperavam. Mas, os ventos de mudanças não vieram. Fidel entronizou-se  no poder a ferro e fogo e procurou  desenvolver estratégias de  opressão  contra  qualquer voz  política dissonante,  ou seja,  pelo fuzilamento  ou  encarceramento.  Do poder  despótico não quis  apear, havendo apenas  sucessão,  por via indireta e nepotista, através da  entrega do poder ao irmão, Raúl Castro.  
Cuba, ficou, assim,  amordaçada politicamente. Contudo,  procurou melhorar  em alguns setores, como na saúde. Lá a medicina  conheceu melhores dias,  saiu revigorada,  dando exemplo ao mundo de um serviço médico  de alta  qualidade, que ninguém pode negar. 
O povo continua pobre,  mas não miserável. A educação  é de qualidade.A economia estatizada distribui suas fatias de renda de modo ainda  muito frugal. Ninguém lá morre de fome -  esta é uma vitória que não pode ser esquecida Mas, no país não há modernização  dos transportes e nos demais  setores  da vida  econômico–industrial. O país ainda não desfrutou da prosperidade e do progresso pleno. Não pode ser feliz um povo que vive pela metade, que não conhece  os principais  benefícios  da modernidade e, sobretudo,  da liberdade de expressão.
Um país em estado perene de censura à imprensa, que não admite oposição explícita em seu  solo, não pode encontrar as vias  do  soerguimento   na sua plenitude.
O maior problema de Cuba é a falta de liberdade, de livre expressão do pensamento, da discussão pública, falada ou   escrita, da mídia  sem censura. Todos os presos políticos que, até  hoje, conseguiram  liberdade, esta se deu por mera pressão  internacional.
Um país, com um número elevado de presos  políticos, se torna uma nação incompleta, fadada a autodestruir-se. Nenhum argumento por parte de seus governantes pode se sustentar sob a censura e a prisão  de adversários políticos.
Cuba  precisa de oxigenar-se política e ideologicamente. O regime comunista russo  não mais existe como  era  no auge da Guerra Fria ou anteriormente. O mundo  é outro e anseia por um valor incontrastável: a liberdade  de opinião e de permitir que seus concidadãos possam  usufruir do direito de ir e  vir, de não serem tutelados em  seus modos de vida, em seus desejos  e aspirações.
Cuba não sobreviverá no  isolamento, sobretudo num mundo cada vez mais interligado.
Desconfio de que Fidel teme abrir o seu flanco ainda  contaminado de ideias já   ultrapassadas. Até entendo  a sua cautela, o seu medo de que  o país caia novamente na armadilha  de  oportunistas e demagogos sem  princípios.
No meu modesto  juízo, Cuba deve, sim, abrir, com mais desenvoltura, as suas  portas ao mundo. Nem tudo é impuro e deletério  no mundo  contemporâneo. Nações há dignas e ansiosas de que países como Cuba saiam do marasmo e do atraso ideológico.  O pluralismo  das ideias não significa  sucumbir  aos cantos de sereias  dos  mistificadores de plantão em todos os quadrantes da Terra.
Ao determinar, há poucos dias, a liberdade de sete  presos  políticos,  vejo que o governo cubano  dá sinal de reorientação ao debate dessa questão cruciante  para o regime  e sobrevivência  de  Cuba,  não obstante um deles,  o professor universitário  e  economista, Antonio Villarreal  Acosta,  tenha declarado  a Luisa Belchior, colaboradora da Folha de São Paulo em Madrid, que esse gesto do governo cubano não significa qualquer forte indicação de que  vai mudar  seu endurecimento   no que concerne  a contestadores  do  regime. Oxalá esse dissidente não tenha razão.
Só vislumbro para Cuba dois caminhos em direção  à paz política; a  instituição,  em médio prazo, da democracia e  o banimento definitivo da censura à liberdade de expressão. Logrando isso,  o país pode, com prudência e amadurecimento, inserir-se no concerto das nações  civilizadas e não hegemônicas.
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