Cunha e Silva Filho
  Fica difícil  entender este país. Já não consigo enxergar nada à minha frente, entender ainda pior. Como entender se a mistura dispar e camaleônica  já se instalou, confundindo todos qual uma  conhecida  comédia shakespeariana, ou seria beckettiana ? Não sei mais de nada, tudo se complicou. Perdi  minha referência. Estou à deriva. Procuro e não encontro.  Bato e a porta não se abre. O mundo às avessas. Meu Deus, o que  está acontecendo com o  país e o mundo, pois o mundo  está no país dentro daquele velho conceito retórico de parte e todo – do conhecido tropo, a metonímia -  tão bem explorado numa página de Vieira ( 1608-1697) 
Os candidatos à eleição  presidencial, depois de tanto barulho,  escolhem seus vices, figuras que nem sabíamos  dispostas pelo menos para  exercerem  mandatos  executivos, uma vez  que  pensávamos só fariam  carreira na  Câmara  ou no Congresso.  Para nós, eleitores compulsórios, ainda que  uma delas, o Presidente do PMDB, Michel Temer, por força de sua função, constantemente apareça na  mídia, não o víamos como provável  candidato à vice-presidência da República. Que razões estão  escondendo,  sobretudo o PT, e  o PSDB, para que  fossem os vices os que aí estão já  selecionados? Que pobreza de bons candidatos está exibindo a política nacional! 
Um velho jornalista do JB, volte  e meia, deplora  a penúria de grandes  políticos de que o país necessita tanto, principalmente para os tempos que correm,  tempos enganadores  que colocaram a esperteza e o oportunismo(leia-se: privilégios do “melhor emprego do mundo”) como a meta  principal  da atuação  dos representantes do povo.Quais  as grandes e ilustres  figuras do Parlamento brasileiro? São poucas, pouquíssimas. A política, em grande parte do mundo, não está dando bom exemplo nem está sendo conduzida pelo que há de melhor  dos membros da sociedade.  É triste, infelizmente, constatar isso. Será que está  definitivamente  enterrada a era dos  grandes  e respeitados líderes  da História? Peço a Deus  que não.
Quanto às siglas partidárias, além de numerosas e que só concorrem para aumentar a confusão e a divisão,  numa fragmentação  que causa  embaraços na  cabeça do eleitor, nos  assusta o fato de que  se reuniram recentemente, nesta antecipação de campanha presidencial,    numa  espécie de  confraternização  social entre mulheres da alta  sociedade, antigos contestadores da burguesia capitalista  tupiniquim, a elite econômica da classe das mulheres,  à frente das quais  a dama global servindo de anfitriã,  viúva  do megaempresário Roberto Marinho,  uma  velha   professora de formação e orientação marxista e    a  principal convidada, a candidata do Lula, Dilma Rousseff, pertencente a um partido que  se  autoproclama da esquerda, num coro  que se estende além-fronteiras. Como é do conhecimento geral da nação,  Dilma  participou ativamente da  luta contra a ditadura militar. Finalmente, estiveram também  presentes no encontro festivo outras  mulheres  do universo brasileiro  artístico e social. Num caldeirão desses não há como   proclamar, alto e bom  som, que  a polarização  direita-esquerda tornou-se uma    balela, um faz-de-conta,  um antagonismo poroso, contraditório e hipócrita  que se dilui diante do desdobramento do fenômeno da globalização  e que, por outro lado,   constituirá,  sem dúvida, um campo fértil  para acalorados e polêmicos    estudos  sociológicos e antropológicos  em virtude  do intrincado cipoal  de tendências  multifacetadas  e difusas no  qual desaguou  o teatro  político brasileiro e, por tabela,  o mundial. 
Ainda no contexto de perplexidades  e descaminhos,  acaba de ser majoritariamente  votada   pelos deputados federais  uma lei que prevê sanções para  pais que  dão palmadas nos filhos. Ora bolas! Os deputados não têm mais o que fazer do que discutirem  uma questão  que só diz respeito à privacidade  da família?  Daqui a pouco haverá leis  que  regulamentarão  a frequência  da atividade  sexual entre os casais. Que é isso? Por que não se preocupam com  as reformas  do confiscatório  imposto de renda e com os  altíssimos  planos de saúde  que estão  sufocando  as despesas das famílias  de classe média?  Aliás, são inúmeras  as  questões urgentes e de  ampla relevância social que não  se tornam objeto  de debates  pelo poder legislativo. Esta lei da palmada   é irrelevante  porque  a legislação brasileira já  dispõe de   sanções penais  para pais que maltratam   os filhos.  Um castigo leve e dado com bom senso corrige e educa as  crianças  sem  maiores traumas  ou  consequências mais graves. Só pais despreparados e desequilibrados maltratarão seus filhos. A lei me parece  redundante  e de aplicação até  impossível, dado que seria impraticável   e descabido  fiscalizar as famílias em situações de  flagrante privacidade.  A lei antes  provoca  mais  conflitos entre pais e filhos do que outra coisa. Será mais uma lei  que, pela sua natureza, se tornará,  enquanto  em vigor,  uma verdadeira  petição de princípio.
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