Reflexões sobre o Prêmio Nobel
Cunha e Silva Filho
O leitor pensará logo no início desta crônica que abordarei o tema - também porque não a conheço ainda -, da obra da mais nova detentora do Nobel de Literatura de 2009, a romeno-alemã Herta Müller, de 56 anos. A escritora é a 15ª mulher a ganhar esse prêmio Disputando o maior prêmio de Literatura mundial, concedido pela Academia Sueca, com o romancista israelense Amós Oz (era o favorito desta vez), a romancista, tradutora e cineasta argelina Assis Djebar, e a romancista norte-americana Joyce Carol Oates,. Herta Muller é conhecida no Brasil apenas pelo romance O companheiro (Ed. Globo) traduzido por Lya Luft ( o interessante é que a tradutora brasileira, poeta, ficcionista, ensaísta, na época em que traduziu o romance de Herta, não lhe deu tanta importância assim, conforme vi, na imprensa eletrônica, declaração dela recente ) e por um conjunto de contos organizados pelo crítico e tradutor Marcelo Backes, sob o título Escombros e caprichos (Ed. L&PM).
Cunha e Silva Filho
O leitor pensará logo no início desta crônica que abordarei o tema - também porque não a conheço ainda -, da obra da mais nova detentora do Nobel de Literatura de 2009, a romeno-alemã Herta Müller, de 56 anos. A escritora é a 15ª mulher a ganhar esse prêmio Disputando o maior prêmio de Literatura mundial, concedido pela Academia Sueca, com o romancista israelense Amós Oz (era o favorito desta vez), a romancista, tradutora e cineasta argelina Assis Djebar, e a romancista norte-americana Joyce Carol Oates,. Herta Muller é conhecida no Brasil apenas pelo romance O companheiro (Ed. Globo) traduzido por Lya Luft ( o interessante é que a tradutora brasileira, poeta, ficcionista, ensaísta, na época em que traduziu o romance de Herta, não lhe deu tanta importância assim, conforme vi, na imprensa eletrônica, declaração dela recente ) e por um conjunto de contos organizados pelo crítico e tradutor Marcelo Backes, sob o título Escombros e caprichos (Ed. L&PM).
Já Backes vê a premiação como justa. Pelo que se vê, e não entrando aqui no mérito da escolha e da concessão do ambicionado e importante prêmio literário, geralmente os autores que o recebem não são do conhecimento mais amplo dos leitores brasileiros e mesmo mundialmente.
Uma pergunta, porém, se impõe sempre que se anuncia um novo ganhador do laureado prêmio. Por que o Brasil, até hoje, nunca foi contemplado com esse galardão? De vez em quando, se mobilizam pessoas do grand monde literário e tentam levar para a Academia Sueca a indicação de um nome de um escritor brasileiro. No caso nosso, se não estou enganado, o primeiro que se cogitou de apontar para o Nobel foi o romancista Jorge Amado, escritor de renome internacional, sucesso de venda de livros traduzidos em várias línguas, homem ligado, no passado, ao partido comunista e escritor em parte admirado por leitores e críticos brasileiros.
Outro nome que apareceu sendo cogitado por aqui foi o do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, cronista, contista e principalmente poeta de expressão nacional e de nível literário internacional. Outro escritor de amplos recursos literários, Guimarães Rosa, também não passou de nossa vontade de vê-lo detentor de um Nobel. Outra vez, mais recentemente, pensou-se em indicar o nome de outro grande poeta brasileiro, dramaturgo e crítico de arte, o maranhense Ferreira Gullar. Não me lembro de outro nome ilustre que fosse objeto de indicação para o Nobel, cujo primeiro detentor foi o escritor francês Sully Prudhomme, vencedor em 1901, no próprio ano em que se criou o Nobel. Não nos esqueçamos, da mesma forma, de que grandes nomes da literatura mundial nunca foram contemplados com essa láurea, como Marcel Proust. Jean Paul Sartre o ganhou, mas o recusou.
É verdade que, em língua portuguesa, temos o José Saramago e, por isso, a alegação de que os brasileiros não são contemplados por escreverem em português, não deve ser a razão maior de nossa ausência no rol dos premiados ao longo da existência dessa premiação. Qual seria, então, o motivo da marginalização de nossos autores? Políticos? Econômicos? Pouco conhecimento por parte dos europeus de nossa literatura, do nosso idioma, da insuficiência de autores nossos pouco traduzidos? É difícil saber-se ao certo.
Comenta-se que os motivos que levam à vitória para um Nobel sejam os associados às diretrizes seguidas pela comissão julgadora ou outra instância deliberativa que terminam pela escolha de um nome sufragado para o famoso prêmio. Fala-se ainda que a escolha é mesmo de ordem política. Há interesses ideológicos por detrás das premiações. Me parece que essas razões são, com efeito, as mais fortes.
Enquanto isso, nossos grandes escritores, romancistas, poetas, dramaturgos, contistas, ensaístas, críticos, filósofos, pensadores, vão envelhecendo, morrem e não são contemplados com o cobiçado prêmio. Não me digam que um escritor de valor não se sinta lisonjeado com o coroamento de uma carreira literária valorizada internacionalmente por um Nobel. Isso é mais do que humano. O Nobel, em tempos de alto capitalismo, significa também melhoria financeira para quem o recebe e possibilidade de publicação de sua obra em vários países. Enfim, significa fama internacional e ganhos financeiros.
Além do valor material do prêmio, é natural que um país vencedor se torne de repente um lugar de desataque no plano cultural mundial e o seu escritor galardoado passe a ser reconhecido no estrangeiro, com consequências favoráveis à divulgação da obra do autor premiado, que passa a ser mais traduzida, mais lida e discutida nos meios acadêmicos mais adiantados.
Não é questão de bairrismo nacional o fato de que, até hoje, o brasileiro se sinta um tanto decepcionado com a ausência de um grande autor nosso como vencedor de um Nobel. Perdemos a oportunidade com ilustres escritores do passado que poderiam bem ter sido ganhadores de um Nobel. Não há nada melhor do que um dia após outro. A esperança é que, algum dia, cedo ou tarde, um escritor de alta projeção nacional, seja o primeiro nome de um brasileiro a vencer os complicados caminhos burocrático-político-ideológicos que levam ao Nobel de Literatura. Torcerei continuadamente por esse objetivo.
Uma pergunta, porém, se impõe sempre que se anuncia um novo ganhador do laureado prêmio. Por que o Brasil, até hoje, nunca foi contemplado com esse galardão? De vez em quando, se mobilizam pessoas do grand monde literário e tentam levar para a Academia Sueca a indicação de um nome de um escritor brasileiro. No caso nosso, se não estou enganado, o primeiro que se cogitou de apontar para o Nobel foi o romancista Jorge Amado, escritor de renome internacional, sucesso de venda de livros traduzidos em várias línguas, homem ligado, no passado, ao partido comunista e escritor em parte admirado por leitores e críticos brasileiros.
Outro nome que apareceu sendo cogitado por aqui foi o do grande poeta Carlos Drummond de Andrade, cronista, contista e principalmente poeta de expressão nacional e de nível literário internacional. Outro escritor de amplos recursos literários, Guimarães Rosa, também não passou de nossa vontade de vê-lo detentor de um Nobel. Outra vez, mais recentemente, pensou-se em indicar o nome de outro grande poeta brasileiro, dramaturgo e crítico de arte, o maranhense Ferreira Gullar. Não me lembro de outro nome ilustre que fosse objeto de indicação para o Nobel, cujo primeiro detentor foi o escritor francês Sully Prudhomme, vencedor em 1901, no próprio ano em que se criou o Nobel. Não nos esqueçamos, da mesma forma, de que grandes nomes da literatura mundial nunca foram contemplados com essa láurea, como Marcel Proust. Jean Paul Sartre o ganhou, mas o recusou.
É verdade que, em língua portuguesa, temos o José Saramago e, por isso, a alegação de que os brasileiros não são contemplados por escreverem em português, não deve ser a razão maior de nossa ausência no rol dos premiados ao longo da existência dessa premiação. Qual seria, então, o motivo da marginalização de nossos autores? Políticos? Econômicos? Pouco conhecimento por parte dos europeus de nossa literatura, do nosso idioma, da insuficiência de autores nossos pouco traduzidos? É difícil saber-se ao certo.
Comenta-se que os motivos que levam à vitória para um Nobel sejam os associados às diretrizes seguidas pela comissão julgadora ou outra instância deliberativa que terminam pela escolha de um nome sufragado para o famoso prêmio. Fala-se ainda que a escolha é mesmo de ordem política. Há interesses ideológicos por detrás das premiações. Me parece que essas razões são, com efeito, as mais fortes.
Enquanto isso, nossos grandes escritores, romancistas, poetas, dramaturgos, contistas, ensaístas, críticos, filósofos, pensadores, vão envelhecendo, morrem e não são contemplados com o cobiçado prêmio. Não me digam que um escritor de valor não se sinta lisonjeado com o coroamento de uma carreira literária valorizada internacionalmente por um Nobel. Isso é mais do que humano. O Nobel, em tempos de alto capitalismo, significa também melhoria financeira para quem o recebe e possibilidade de publicação de sua obra em vários países. Enfim, significa fama internacional e ganhos financeiros.
Além do valor material do prêmio, é natural que um país vencedor se torne de repente um lugar de desataque no plano cultural mundial e o seu escritor galardoado passe a ser reconhecido no estrangeiro, com consequências favoráveis à divulgação da obra do autor premiado, que passa a ser mais traduzida, mais lida e discutida nos meios acadêmicos mais adiantados.
Não é questão de bairrismo nacional o fato de que, até hoje, o brasileiro se sinta um tanto decepcionado com a ausência de um grande autor nosso como vencedor de um Nobel. Perdemos a oportunidade com ilustres escritores do passado que poderiam bem ter sido ganhadores de um Nobel. Não há nada melhor do que um dia após outro. A esperança é que, algum dia, cedo ou tarde, um escritor de alta projeção nacional, seja o primeiro nome de um brasileiro a vencer os complicados caminhos burocrático-político-ideológicos que levam ao Nobel de Literatura. Torcerei continuadamente por esse objetivo.
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