Geografias literárias
Cunha e Silva Filho
A idéia é auspiciosa, essa de se levar a bom termo pesquisas interdisciplinares envolvendo a geografia, a estatística, a literatura e a historia.
A idéia partiu de geógrafos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), todos eles já familiarizados com trabalhos de campo por várias regiões brasileiras. O objetivo da pesquisa se concentra, agora, no levantamento de dados históricos e geográficos partindo da leitura de escritores brasileiros, antigos e modernos.
Interligar a geografia à literatura brasileira como instrumental complementar dos dados estatísticos e históricos oferece-se, assim, como um novo filão nos estudos literários que só enriquecerão a pesquisa no campo da literatura brasileira.
A idéia dessa forma de pesquisa não é nova nem original, pois, ao que tudo indica, ela se inspira nos trabalhos pioneiros do ensaísta italiano Franco Moretii, que já vinha imprimindo a marca de suas investigações nos estudos de literatura servindo-se do arsenal interdisciplinar das disciplinas geografia, teoria da evolução e história quantitativa.
Os pesquisadores do IBGE almejam traçar um Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras. Escritores brasileiros como José de Alencar ( um autor de talento indiscutível, mas discutível no seu “imaginário geográfico” de fundo romântico de um Brasil que, em parte, segundo se sabe, não conhecia in loco), Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Coelho Neto, Dinah Silveira de Queiroz já foram contemplados pelos volumes concluídos.
Torcemos para que, mais uma vez, ao abordarem na pesquisa a região nordeste, não se esqueçam de escritores piauienses que, por suas características locais e de validade literária, bem poderiam se enquadrar no escopo dessas pesquisas. No exemplo da geografia literária do Piauí, creio que não faltará interesse por autores tais como Francisco Gil Castelo Branco, Bugyga Brito, Fontes Ipiapina, Abdias Neves (Um manicaca,1909), Alvina Gameiro, Artur Passos, Permínio Ásfora Magalhães da Costa, Assis Brasil, William Palha Dias, Afonso Ligório Pires de Carvalho, O. G. Rego de Carvalho, Humberto Guimarães, Chico Miguel de Moura, Adrião Neto, Oton Lustosa, José Ribamar Garcia e outros autores que não me chegaram ao conhecimento.
A divisão do trabalho de pesquisa feito pelos estudiosos do IBGE, auxiliados por informações colhidas em especialistas de literatura e história, levou em conta a “ocupação do território brasileiro: Costa, Sertão, Brasil Meridional e Amazônia.” (Cf. Carolina Leal, “A literatura brasileira, enfim, está no mapa”, Jornal do Brasil, Caderno Ideias, 01/08/09).
Acredito que, em algumas situações, não só caberiam autores de ficção, mas também alguns poetas brasileiros com obras bem coladas à geografia brasileira e que bem poderiam ampliar o leque das pesquisas do IBGE. O “espaço” poético, bem diverso do tratamento do “espaço” trabalhado pelos ficcionistas, apresentaria também, a meu ver, inegáveis subsídios ao “conhecimento humano” dentro dos parâmetros de pesquisas que poderiam ser empreendidas pelos trabalhos desses geógrafos brasileiros.
Se a geografia como ciência se concentra no estudo do espaço físico da região, de sua topografia, clima, flora, fauna, ser humano, costumes, usos, cultura, folclore e manifestações artísticas, a importância desse Atlas Literário ganha ainda maior vigor quando aliada às inúmeras investigações, no campo da teoria literária contemporânea, dedicadas aos estudos da espacialidade da obra ficcional, espacialidade esta que não se cinge apenas à physis brasileira mas também à psiquê humana. Essa categoria literária tem muito a oferecer aos pesquisadores.
Aguardamos, pois, que o Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras não olvide os contributos que autores piauienses, antigos e novos, podem propiciar a esse novo campo de investigação literária.
Cunha e Silva Filho
A idéia é auspiciosa, essa de se levar a bom termo pesquisas interdisciplinares envolvendo a geografia, a estatística, a literatura e a historia.
A idéia partiu de geógrafos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), todos eles já familiarizados com trabalhos de campo por várias regiões brasileiras. O objetivo da pesquisa se concentra, agora, no levantamento de dados históricos e geográficos partindo da leitura de escritores brasileiros, antigos e modernos.
Interligar a geografia à literatura brasileira como instrumental complementar dos dados estatísticos e históricos oferece-se, assim, como um novo filão nos estudos literários que só enriquecerão a pesquisa no campo da literatura brasileira.
A idéia dessa forma de pesquisa não é nova nem original, pois, ao que tudo indica, ela se inspira nos trabalhos pioneiros do ensaísta italiano Franco Moretii, que já vinha imprimindo a marca de suas investigações nos estudos de literatura servindo-se do arsenal interdisciplinar das disciplinas geografia, teoria da evolução e história quantitativa.
Os pesquisadores do IBGE almejam traçar um Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras. Escritores brasileiros como José de Alencar ( um autor de talento indiscutível, mas discutível no seu “imaginário geográfico” de fundo romântico de um Brasil que, em parte, segundo se sabe, não conhecia in loco), Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Coelho Neto, Dinah Silveira de Queiroz já foram contemplados pelos volumes concluídos.
Torcemos para que, mais uma vez, ao abordarem na pesquisa a região nordeste, não se esqueçam de escritores piauienses que, por suas características locais e de validade literária, bem poderiam se enquadrar no escopo dessas pesquisas. No exemplo da geografia literária do Piauí, creio que não faltará interesse por autores tais como Francisco Gil Castelo Branco, Bugyga Brito, Fontes Ipiapina, Abdias Neves (Um manicaca,1909), Alvina Gameiro, Artur Passos, Permínio Ásfora Magalhães da Costa, Assis Brasil, William Palha Dias, Afonso Ligório Pires de Carvalho, O. G. Rego de Carvalho, Humberto Guimarães, Chico Miguel de Moura, Adrião Neto, Oton Lustosa, José Ribamar Garcia e outros autores que não me chegaram ao conhecimento.
A divisão do trabalho de pesquisa feito pelos estudiosos do IBGE, auxiliados por informações colhidas em especialistas de literatura e história, levou em conta a “ocupação do território brasileiro: Costa, Sertão, Brasil Meridional e Amazônia.” (Cf. Carolina Leal, “A literatura brasileira, enfim, está no mapa”, Jornal do Brasil, Caderno Ideias, 01/08/09).
Acredito que, em algumas situações, não só caberiam autores de ficção, mas também alguns poetas brasileiros com obras bem coladas à geografia brasileira e que bem poderiam ampliar o leque das pesquisas do IBGE. O “espaço” poético, bem diverso do tratamento do “espaço” trabalhado pelos ficcionistas, apresentaria também, a meu ver, inegáveis subsídios ao “conhecimento humano” dentro dos parâmetros de pesquisas que poderiam ser empreendidas pelos trabalhos desses geógrafos brasileiros.
Se a geografia como ciência se concentra no estudo do espaço físico da região, de sua topografia, clima, flora, fauna, ser humano, costumes, usos, cultura, folclore e manifestações artísticas, a importância desse Atlas Literário ganha ainda maior vigor quando aliada às inúmeras investigações, no campo da teoria literária contemporânea, dedicadas aos estudos da espacialidade da obra ficcional, espacialidade esta que não se cinge apenas à physis brasileira mas também à psiquê humana. Essa categoria literária tem muito a oferecer aos pesquisadores.
Aguardamos, pois, que o Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras não olvide os contributos que autores piauienses, antigos e novos, podem propiciar a esse novo campo de investigação literária.
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