Os dois lados
Cunha e Silva Filho
“Courtesy costs nothing”
(provérbio inglês)
- Não já lhe disse que é no terceiro andar? – falou-me asperamente aquela atendente do posto de saúde da Penha. Me tratou sem a mínima educação, parecendo antes que para ela não passava de um idiota. Engoli o mau trato. Não lancei mão do recurso “Não leve desaforos pra casa”.Minha formação era outra. Estava acima daquele atendimento dado no guichê pela funcionária antipática e desumana.
Dirigindo-me ao andar indicado, flui direto à atendente da clínica geral, que me pediu a carteira do ISERJ e anotou os dados numa folha de controle e, com um voz que demonstrava gentileza e calor humano, me deu o número de chamada e pediu que aguardasse minha vez.
Me sentei num dos bancos perto de sua mesa e fiqei acompanhando o movimento da atendente quem naquele uniforme branco impecavelmente lavado e passado, não dava um só sinal de cansaço ou má vontade no tratamento ao público. Todos que para ela eram encaminhados eram bem-recebidos, até com um sorriso – um belo sorriso entre meigo e sincero -, que desarmava os espíritos mais empedernidos que por acaso a procurassem.
Os bancos de espera estavam agora cheiinhos de pacientes que pacientemente esperavam a vez de serem chamados para o médico. O ambiente em volta era dos melhores naquela manhã sem sol. Ainda que doentes, mais doentes ou menos doentes, todos naquele dia pareciam ter recebido uma injeção de otimismo. Todos conversavam livremente sobre assuntos pessoais ou outros, como custo de vida, situação da saúde no país e no estado do Rio de Janeiro, violência e sobretudo doenças – um lugar adequado às confissões, não dos pecados da carne, m as das diversas doenças de que cada paciente fora acometido.
Novamente, a minha atenção foi atraída pela figura da atendente solícita que me recebera tão bem . Que diferença daquela bruxa – disse com meus botões. Daí comecei a traçar um paralelo entre as duas, o que logo me deu mais uma vez a certeza de que nem tudo está perdido. Dois irmãos, por exemplo, não são iguais, nem no caráter, nem na inteligência.Duas pessoas são duas almas diferentes. Se uma ilustra bem a imagem da ‘porta fechada’, outra tipifica a da “porta aberta’, isto e, o ser humano em disponibilidade, aberto à solicitude. Não é conveniente tirar conclusões generalizadamente. Conviver é viver as diferenças ainda que essas causem por vezes dores e dissabores. O se humano é único e intransferível. Nem tudo está perdido - repeti. Há sempre uma mudança de perspectivas, quer referentes às realidades da Natureza, quer em relação ao comportamento humano..
Se a primeira atendente me causou tanto desapontamento e me deixou humanamente arrasado, a segunda compensou-me plenamente.
Saindo da sala do médico, voltei-me pra ela e lhe agradeci de coração leve e com o espírito de uma criança. Suas palavras finais pra mim:
- Da próxima vez, não esqueça, filho, é no terceiro andar. Até parece que ela adivinhara o que a outra me havia feito. – Vá com Deus! Apanhe o remédio lá embaixo. Tchau!
Cunha e Silva Filho
“Courtesy costs nothing”
(provérbio inglês)
- Não já lhe disse que é no terceiro andar? – falou-me asperamente aquela atendente do posto de saúde da Penha. Me tratou sem a mínima educação, parecendo antes que para ela não passava de um idiota. Engoli o mau trato. Não lancei mão do recurso “Não leve desaforos pra casa”.Minha formação era outra. Estava acima daquele atendimento dado no guichê pela funcionária antipática e desumana.
Dirigindo-me ao andar indicado, flui direto à atendente da clínica geral, que me pediu a carteira do ISERJ e anotou os dados numa folha de controle e, com um voz que demonstrava gentileza e calor humano, me deu o número de chamada e pediu que aguardasse minha vez.
Me sentei num dos bancos perto de sua mesa e fiqei acompanhando o movimento da atendente quem naquele uniforme branco impecavelmente lavado e passado, não dava um só sinal de cansaço ou má vontade no tratamento ao público. Todos que para ela eram encaminhados eram bem-recebidos, até com um sorriso – um belo sorriso entre meigo e sincero -, que desarmava os espíritos mais empedernidos que por acaso a procurassem.
Os bancos de espera estavam agora cheiinhos de pacientes que pacientemente esperavam a vez de serem chamados para o médico. O ambiente em volta era dos melhores naquela manhã sem sol. Ainda que doentes, mais doentes ou menos doentes, todos naquele dia pareciam ter recebido uma injeção de otimismo. Todos conversavam livremente sobre assuntos pessoais ou outros, como custo de vida, situação da saúde no país e no estado do Rio de Janeiro, violência e sobretudo doenças – um lugar adequado às confissões, não dos pecados da carne, m as das diversas doenças de que cada paciente fora acometido.
Novamente, a minha atenção foi atraída pela figura da atendente solícita que me recebera tão bem . Que diferença daquela bruxa – disse com meus botões. Daí comecei a traçar um paralelo entre as duas, o que logo me deu mais uma vez a certeza de que nem tudo está perdido. Dois irmãos, por exemplo, não são iguais, nem no caráter, nem na inteligência.Duas pessoas são duas almas diferentes. Se uma ilustra bem a imagem da ‘porta fechada’, outra tipifica a da “porta aberta’, isto e, o ser humano em disponibilidade, aberto à solicitude. Não é conveniente tirar conclusões generalizadamente. Conviver é viver as diferenças ainda que essas causem por vezes dores e dissabores. O se humano é único e intransferível. Nem tudo está perdido - repeti. Há sempre uma mudança de perspectivas, quer referentes às realidades da Natureza, quer em relação ao comportamento humano..
Se a primeira atendente me causou tanto desapontamento e me deixou humanamente arrasado, a segunda compensou-me plenamente.
Saindo da sala do médico, voltei-me pra ela e lhe agradeci de coração leve e com o espírito de uma criança. Suas palavras finais pra mim:
- Da próxima vez, não esqueça, filho, é no terceiro andar. Até parece que ela adivinhara o que a outra me havia feito. – Vá com Deus! Apanhe o remédio lá embaixo. Tchau!
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