quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Protejamos a cidade de São Paulo




                                                          Cunha e Silva Filho


          Não irei falar da violência em São Paulo, que é catastrófica. Deixemo-la pelo menos  neste artigo São Paulo, a cidade,  o interior  também  estão  vivendo  suas vacas magras, com problemas  de toda ordem, sendo dois deles de   consequências   sérias: a cidade  sofre  por  falta       de água para abastecer  o cotidiano  de seus habitantes. Li, num legenda na TV,  uma frase que me  amargurou como brasileiro:  “São Paulo vira deserto.” Além da escassez da água, padece também  de chuvas  e tempestades  que a dilaceram , fazendo um estrago enorme, com  árvores  caindo sobre  postes,  carros,  casas,  às vezes  causando  mortes   e com um  percentual   elevadíssimo  de  raios que   atingem a grande metrópole  da América Latina – o sustentáculo do  país na indústria, nas fábricas,   no comércio. São Paulo  não merece o que  está  vivendo  agora. Por isso,  os brasileiros  devemos fazer alguma coisa por  essa  cidade  de magnitude  ímpar para  a engrenagem  do país  na sua totalidade. 
      Se suas  fontes de água  estão sumindo,  se  seus reservatórios   estão  em  baixa,  há que  se fazer  urgentemente  algo   à altura   da grandiosidade    dessa cidade.  Não é possível que  não se  vislumbre  uma  solução  científico-tecnológica  para que  a cidade  possa  voltar  a passados  anos  de  traquilidade  no que concerne  à água potável.
     Vejo que a situação calamitosa de São Paulo,  nos itens  da água  e  das  inundações,  não são  somente obras  da natureza,  mas  indiscutivelmente aí tem o dedo   destruidor e  depredador do homem e da  negligência  e imprevidência  de  seus governantes  que não  se mexeram  para  fazerem  algo de   construtivo   a fim de  amenizar   as agruras  por que os paulistanos  e os paulistas  estão  passando. Veja um exemplo gritante:  o do rio Tietê, que  há tempos  tem sido  massacrado  com a poluição e o descaso  das autoridades  que, ao longo dos anos,  nada fizeram  para  que  esse importante   rio,  que   é presença    contínua  na paisagem urbana,    de quem mora  em  São  Paulo e de quem  passa  pela cidade. A despoluição do  rio  Tietê  seria  uma obra   de grande   significação   cívica  e  de sustentabilidade  ambiental  da  vida   cidade. Não é a natureza que  está matando  esse rio,  é o   homem e sua mão   destruidora. `Foram  e são seus prefeitos e governadores.  Foi e é a ignorância de seus habitantes   que  concorreram e concorrem  para  sujar  as águas  do Tietê. Que vergonha pra nós brasileiros quando  vemos  rios bem cuidados como  o Tâmisa,  o Sena,   o Mississipi, o Danúbio,  o Tejo. São os rios que dão,  por assim dizer,  alma  e vida às cidades. Sem eles,  as cidades  não existiriam.
    Se os governos  têm  dinheiro  para obras  faraônicas  e por vezes dispensáveis,  por que não   investir já  numa forma   moderna  de  devolver  ao sistema hídrico  paulistano e paulista  a capacidade de abastecer   os habitantes   da cidade  e do Estado? O país  é rico  em   grandes rios. Por que não  planejar  e  executar  obras  que  levem  água  em quantidade  compatível  com  a demanda   enorme dos paulistanos?     É uma vergonha  para nós  brasileiros  sabermos que  lugares  desérticos do  Oriente  se transformam  em  áreas férteis. De que adianta  tanto   volume d'água  de  grandes  rios  brasileiros  se  é  mal  distribuído?
  Resolver  os dois  problemas   de alta relevância  e vitais   à cidade  de São Paulo constitui  uma obrigação  inarredável do governador  de São Paulo. Não se pode   esconder do povo e dos brasileiros  o que    está  atravessando  São Paulo  de privação   de água  potável e  de  uma urgente   infraestrutura  moderna  de  escoamento  da água  pelos bueiros e  pelas   meios  subterrâneos. As torneiras  paulistanas   estão  secando,  os filetes d’água estão sumindo e os habitantes   da cidade  já não mais  aguentam    tantas promessas  e conversa fiada  das autoridades. 
   Ao prejudicarem  o abastecimento  de água   de São Paulo, ao  não cuidarem   para   solucionar  os estragos   das chuvas torrenciais, os governos  municipais e estaduais  poderão ser responsabilizados   pelos    grandes    prejuízos  materiais  e  econômicos    de São Paulo.  Os paulistanos  não vão suportar   períodos mais    longos   de    escassez de água  e de danos  ao patrimônio   particular  que  logo logo  afetarão  a  arrecadação   de impostos    e de tarifas   diversas. O parque industrial  também  não  suportará   deficiências   dessa  natureza.
  São Paulo não  vai “virar um deserto.”  Se isso  por acaso  acontecesse, seria uma tragédia. Ainda  bem que Mário de Andrade (1893-1945), louvador  do rio Tietê não está mais vivo  para  ver a tantas  tantas desgraças    desse rio.
  O brasileiro em geral não sabe  reclamar  pelos erros e   omissões dos governantes. Parece que ficaram anestesiados  depois  de  manifestações  públicas  que praticamente não  deram em nada. Pelo contrário,  o  governo federal, com o seu  novo  homem  forte da Fazenda,   só parece   estar interessado  em    recuperar,  com  impostos  e  aumentos  do custo de vida,  os destroços que  fizeram  em gastanças   de  campanhas  para  um partido   se manter no  poder escondendo   todos  os  abacaxis  que  estavam  abafados  nos discursos demagógicos  da campanhas para  presidente,  deputados e senadores.  Será que,  só depois  de  saírem  vitoriosos descobriram    todos  os  desastres   financeiros   provocados  pelo  próprio  partido  do governo?  Por que não  discutiram  antes  que  a  inflação  estava alta, que o povo  seria   sacrificado com  aumentos de energia e o escambau?  A imoralidade de um governo não conhece limites   de  cinismo  e de  promessas   falsas  que não  serão  cumpridas.
   Mas, voltemos  a São Paulo. Penso que se não houver uma mobilização geral  (veja o exemplo da união civil  de uma  país como  a França  em torno  de uma  causa, a da liberdade   de expressão) contra as duas calamidades  por que  está  passando   o espaço físico   de São Paulo,  a cidade pode entrar em colapso. Falta de água e   fortes chuvas  não atingem  só os pobres,  as periferias. Os bairros   luxuosos dos bacanas   também  já estão dando sinais  de  mal-estar. Do  mal-estar  é um  pulo para a indignação   e o confronto  com   as autoridades.
  De nada vale  o governador  Alckmin  reconhecer que   São Paulo está   em fase de   economizar  água. Por que não  o  declarara  antes? Os problemas agudíssimos  dos paulistanos   aí estão  clamando  por   ações  construtivas,   realizáveis. Já está passando da hora  de  o governador  e o  prefeito arregaçarem  as mangas  e lutarem  de imediato   para  procurarem   amenizar  o sofrimento  do  povo  e dar  continuidade  à “locomiotiva do  país.”   São Paulo  não pode esperar. Que venham  as obras  e as ideias  dos que   querem  ver   a cidade  funcionando e para isso  não faltam   cérebros  e gente  inteligente em várias  áreas   que, se chamadas,   seguramente   darão  todo o seu   suporte   e expertise a fim de   encontrarem    caminhos   mais  felizes  e   realizáveis para  a maior metrópole  do país.
   O país não funciona  plenamente sem   a  prosperidade de São Paulo. O Padre José de Anchieta (1534-1597), um dos fundadores  da cidade de São Paulo, já canonizado,  só terá que agradecer  a todos que    se voltarem  para   salvar  a cidade  da natureza  inclemente  e dos inimigos  desta. 

   

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