Cunha e Silva Filho
Não irei falar da violência em São Paulo , que é catastrófica.
Deixemo-la pelo menos neste artigo São
Paulo, a cidade, o interior também
estão vivendo suas vacas magras,
com problemas de toda ordem, sendo
dois deles de consequências sérias: a cidade sofre
por falta de água
para abastecer o cotidiano de seus habitantes. Li, num legenda na TV, uma frase que me amargurou como brasileiro: “São Paulo vira deserto.” Além da escassez da
água, padece também de chuvas e tempestades
que a dilaceram , fazendo um estrago enorme, com árvores
caindo sobre postes, carros,
casas, às vezes causando
mortes e com um percentual
elevadíssimo de raios que
atingem a grande metrópole da América Latina – o sustentáculo do país na indústria, nas fábricas, no comércio. São Paulo não merece o que está
vivendo agora. Por isso, os brasileiros devemos fazer alguma coisa por essa cidade de
magnitude ímpar para a engrenagem
do país na sua totalidade.
Se suas fontes de água estão
sumindo, se seus reservatórios estão
em baixa, há que
se fazer urgentemente algo à
altura da grandiosidade dessa cidade. Não é possível que não se
vislumbre uma solução
científico-tecnológica para
que a cidade possa
voltar a passados anos
de traquilidade no que concerne à água potável.
Vejo que a situação calamitosa de São
Paulo, nos itens da água
e das inundações, não são somente obras da natureza,
mas indiscutivelmente aí tem o
dedo destruidor e depredador do homem e da negligência
e imprevidência de seus governantes que não
se mexeram para fazerem
algo de construtivo a fim de
amenizar as agruras por que os paulistanos e os paulistas estão
passando. Veja um exemplo gritante:
o do rio Tietê, que há
tempos tem sido massacrado
com a poluição e o descaso das
autoridades que, ao longo dos anos, nada fizeram
para que esse importante rio, que é presença contínua
na paisagem urbana, de quem mora em São Paulo e de quem passa
pela cidade. A despoluição do
rio Tietê seria
uma obra de grande significação cívica
e de sustentabilidade ambiental da vida cidade. Não é a
natureza que está matando esse rio,
é o homem e sua mão destruidora. `Foram e são seus prefeitos e governadores. Foi e é a ignorância de seus habitantes que
concorreram e concorrem para sujar
as águas do Tietê. Que vergonha
pra nós brasileiros quando vemos rios bem cuidados como o Tâmisa,
o Sena, o Mississipi, o Danúbio, o Tejo. São os rios que dão, por assim dizer, alma e
vida às cidades. Sem eles, as
cidades não existiriam.
Se os governos têm
dinheiro para obras faraônicas
e por vezes dispensáveis, por que
não investir já numa forma
moderna de devolver
ao sistema hídrico paulistano e
paulista a capacidade de abastecer os habitantes da cidade
e do Estado? O país é rico em grandes rios. Por que não planejar e
executar obras que
levem água em quantidade
compatível com a demanda
enorme dos paulistanos? É uma vergonha
para nós brasileiros sabermos que
lugares desérticos do Oriente
se transformam em áreas férteis. De que adianta tanto volume d'água de grandes
rios brasileiros se é mal
distribuído?
Resolver os dois problemas de alta relevância e vitais
à cidade de São Paulo constitui uma obrigação inarredável do governador de São Paulo. Não se pode esconder do povo e dos brasileiros o que
está atravessando São Paulo
de privação de água potável e
de uma urgente infraestrutura moderna de escoamento da água pelos bueiros e pelas meios
subterrâneos. As torneiras
paulistanas estão secando,
os filetes d’água estão sumindo e os habitantes da cidade
já não mais aguentam tantas promessas e conversa fiada das autoridades.
Ao prejudicarem o
abastecimento de água de São Paulo, ao não cuidarem
para solucionar os estragos
das chuvas torrenciais, os governos
municipais e estaduais poderão
ser responsabilizados pelos grandes
prejuízos materiais e econômicos
de São Paulo. Os paulistanos não vão
suportar períodos mais longos
de escassez de água e de danos
ao patrimônio particular que
logo logo afetarão a arrecadação de impostos e de tarifas diversas. O parque industrial também
não suportará deficiências dessa
natureza.
São Paulo não vai “virar um deserto.” Se isso
por acaso acontecesse, seria uma tragédia. Ainda bem que Mário de Andrade (1893-1945), louvador do rio Tietê não está mais vivo para ver
a tantas tantas desgraças desse rio.
O brasileiro em geral não sabe
reclamar pelos erros e omissões dos governantes. Parece que ficaram
anestesiados depois de
manifestações públicas que praticamente não deram em nada. Pelo contrário, o
governo federal, com o seu
novo homem forte da Fazenda, só parece estar interessado em
recuperar, com impostos
e aumentos do custo de vida, os destroços que fizeram
em gastanças de campanhas
para um partido se manter no
poder escondendo todos os
abacaxis que estavam
abafados nos discursos demagógicos da campanhas para presidente,
deputados e senadores. Será
que, só depois de saírem
vitoriosos descobriram todos
os desastres financeiros
provocados pelo próprio
partido do governo? Por que não
discutiram antes que
a inflação estava alta, que o povo seria sacrificado com aumentos de energia e o escambau? A imoralidade de um governo não conhece
limites de cinismo
e de promessas falsas
que não serão cumpridas.
Mas, voltemos a São Paulo. Penso
que se não houver uma mobilização geral
(veja o exemplo da união civil de
uma país como a França
em torno de uma causa, a da liberdade de expressão) contra as duas calamidades por que
está passando o espaço físico de São Paulo, a cidade pode entrar em colapso. Falta de água e fortes chuvas não atingem
só os pobres, as periferias. Os bairros luxuosos dos bacanas também
já estão dando sinais de mal-estar. Do
mal-estar é um pulo para a indignação e o confronto com
as autoridades.
De nada vale o governador Alckmin
reconhecer que São Paulo está em fase de
economizar água. Por que não o
declarara antes? Os problemas
agudíssimos dos paulistanos aí estão
clamando por ações
construtivas, realizáveis. Já
está passando da hora de o governador
e o prefeito arregaçarem as mangas
e lutarem de imediato para
procurarem amenizar o sofrimento
do povo e dar continuidade à “locomiotiva do país.” São Paulo não pode esperar. Que venham as obras
e as ideias dos que querem
ver a cidade funcionando e para isso não faltam
cérebros e gente inteligente em várias áreas
que, se chamadas,
seguramente darão todo o seu
suporte e expertise a fim de
encontrarem caminhos mais
felizes e realizáveis para a maior metrópole do país.
O país não funciona plenamente
sem a
prosperidade de São Paulo. O Padre José de Anchieta (1534-1597), um dos
fundadores da cidade de São Paulo, já canonizado, só
terá que agradecer a todos que se voltarem
para salvar a cidade da natureza inclemente e dos inimigos
desta.
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