sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Primeira página do ano de 2015








                                       Cunha e Silva Filho


           É com Você, leitor,  do Rio,  de outros  estados e de outras  partes do mundo que   me  dá vontade  de  falar. Nada sei  da maioria e alguma coisa  sei de um  pequeno círculo de  amigos ou conhecidos. Sei também    que, em alguma parte, alguém  me lê ainda que seja por uma única vez. Vai procurar  outro blog entre os milhares que existem  para todos os gostos  , opiniões,  grupos  e ideologias.
        O colunista não vai   ficar zangado se  não obtiver uma resposta qualquer visto que a palavra que lhe  enviou nasceu de uma necessidade insopitável de me comunicar com Você através de um artigo,  de uma crônica,  de uma tradução, de uma resenha, de um pequeno   ensaio ou parte de um  ensaio maior ou até pelo  recurso, hoje  quase desnecessário, de  lhe dirigir  em inglês, tendo  eu  o cuidado de adicionar, logo após o texto  em inglês,  a minha tradução, não  a eletrônica,    mas  a minha mesmo, com todas as limitações  que possa haver, não obstante    sabendo  que, como acontece no  Face,  há sempre,   por debaixo do texto em língua estrangeira,  a acessibilidade de lhe   fornecerem a tradução  em  português.
        Como hoje, 2 de janeiro,  escrevo-lhe a primeira coluna do meu blog, a Você dedico as minhas observações,  os meus  “resmungos” (estou pedindo aqui  emprestado ao poeta Ferreira Gullar o termo que, se não me engano,   empregou como  título de sua primeira crônica para o jornal  Folha de São Paulo, Caderno  Ilustração aos domingos.
       Leitor,  se alguma vez  lhe feri  a sensibilidade,  lhe fui um pouco  rude,  ou  lhe contrariei  a visão  política, social,   religiosa,  filosófica ou de qualquer  campo  do conhecimento  humano, não foi  para  prejudicá-lo. Isso jamais  tive a intenção  de  fazer. Contudo, quem  escreve,  tem  suas preferências,  seu direito  de  externar uma  dada cosmovisão, que lhe pertence como  substrato   do seu ser  pensante,  da sua maneira  de ver um  dado  problema, quer   nacional, quer  internacional. 
     O escritor  tem que ser livre, livre até para ser   fiel  a si mesmo, ou até mesmo  para,   com  o tempo,  modificar sua   visão do mundo,  seus  pontos  de vista,   posto que nem sempre   correspondam  aos do  leitor, que,  por sua própria condição,   tem  igualmente  sua    maneira de ver o mundo, as pessoas, os fatos, enfim,  as questões que  interessam  ao ser humano.
      Assim como o  colunista   tem o direito  de  expressão  do seu  pensamento, desde que saiba respeitar  o leitor  com  uma linguagem  adequada  ao registro  da  mensagem  a ser   expressa, assim  também  tem  o leitor  de   externar  seus ângulos de visão   do mundo, dos homens  e de tudo  que   forma  essa complexidade  e diversidade  que  é  o   pensamento   humano. Entretanto, seria   muito  entediante  se o autor de um  artigo  pensasse  sempre  em consonância   com   pensamento  do leitor, condição   praticamente  impossível  e imprevisível.
      A meu ver,  não  é  tão acertado assim   ler somente  quem  partilhe de nossas  opiniões.  É preciso    que  entre o leitor e o autor  exista um mínimo de  dialética em questões   de  discussão   de um tema. As  ideias divergentes, ao se chocarem  entre si, impulsionam   o intelecto  a  aprofundamentos saudáveis  e  estimulantes.
     Nosso "horizonte de expectativa" só tem a lucrar com   interlocutores que não professam  os mesmos   ideais  nos múltiplos  campos   do saber  universal. O que não pode  ocorrer  é que  as  divergências  descambem para o terreno  pessoal,  para um nível de discussão,   no qual  só  um  julgue ser  senhor  das verdades. Neste altura  do embate das ideias,  o interlocutor  passa ao terreno  da  polêmica  meramente    conduzida  pelo personalismo,  pela subjetividade,  e assim  ficará cego por não  ser capaz de enxergar   as qualidade  do  adversário. 
      Escrevo sob a assunção de que  o leitor  há de ter  em mente  tanto  as  virtudes quanto as  fraquezas ou mesmo   erros (os “disparates de todos  nós” de que falou o mordaz  Agripino Grieco (1888-1973),  do  autor, do colunista, do escritor.  Não existe maior   exposição  de quem  escreve quando   o seu texto  torna-se  matéria  de  análise  ou comentário  do leitor. 
    Toda escrita  tem lá seus riscos  e percalços.  O ato,  contudo,  de escrever   implica   correr   riscos assim como   experimentar  deliciosas   sensações e enternecimentos  ou mesmo   suposições de que alguém que Você não  conhece nem talvez nunca conhecerá, por  alguns momentos  do tempo  da leitura,   vivenciou   juízos convergentes  e compreendeu que  vale a pena  o compartilhamento das ideias  e dos sentimentos   de alguém  para alguém, mesmo  se levarmos em conta  o indeterminado   background  cultural    entre os que  escrevem  e os que leem.
      Este  é o pacto,    leitor,  que  desejo  muito  estabelecer  com Você.  De um lado e de outro,  somos livres, livres para  acompanhar  o pensamento  do autor,  ou para dele discordar. Naturalmente,   que  o nosso pacto seja  o da liberdade  de  comigo  permanecer,  ou mesmo afastar-se ou finalmente  - é o que  aguardo  com ansiedade  -  voltar  a mim  com  o coração  aberto  e a alegria de  saber que  não escrevo só para mim, o que seria  egoísmo, mas para  externar  as minha ideias e minha  posições  sobre temas e questões tendo sempre  em conta a dignidade  e   a honestidade  de exercer  esse fabuloso   meio  de  comunicação, que é a escrita, comentando, analisando, e interpretando  o que   os acontecimentos do  mundo nos  provocam e, na medida do possível,   nos  instigam  a dar-lhes   respostas  dentro de nossas  possibilidades de   visão e compreensão.
     
        

       

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