Cunha e Silva Filho
Enfrentando, agora, a bipolaridade entre petistas e tucanos,
o eleitor brasileiro se acha
dividido, conforme as últimas pesquisas, quase em nível de empate, numa espécie
de gangorra entre a posição de um e outro. Há pouco, saindo de casa, o porteiro telefonava à mãe ,
na Paraíba, exortando-a a votar na
Dilma. Ele sentiu o meu olhar de surpresa e logo me foi dizendo: “Seu
Francisco, a Dilma é dos pobres, o Aécio,dos ricos. Ora, não precisa ser cientista (ou sociólogo) político
para entender a posição
do porteiro. A Dilma simboliza o
Bolsa-Família; o Aécio representa a “esquerda caviar,” expressão de um escritor
cujo nome não me ocorre agora. O diálogo imaginário, seguinte, não
referencial, portanto, dá continuidade a essa discussão:
Eleitor 1: Você sabe, amigo, que
a Dilma livrou o país. da pobreza
absoluta, distribuiu benefícios sociais, moradia, vale- gás,
educação, emprego pelo Nordeste
inteiro. Ela é a “mãe dos pobres” Está com os desfavorecidos,
os analfabetos, os miseráveis, a plebe
ignara, a arraia-miúda. Ainda por
cima, é muito generosa
com os ricos, os bancários, os juros altos, a inflação, a classe média (Nem desconfia o eleitor 1 que está em contradição nos seus
elogios a Dilma). Trabalha nos extremos
da pirâmide, embora saiba que os extremos não se tocam. Divide e reina. (O eleitor 1 ainda ainda não se dá conta
que está fazendo gol contra). É só ver os restaurantes cheios
nos fins de semana. Os supermercados estão lotados de alimentos, as farmácias com filas e filas
de compradores, as ruas atoladas de carros, parecendo até que o país é um paraíso de prosperidade, sem falar nos shoppings, nas viagens, agora, aéreas
de nordestinos de baixa renda. Me disseram há pouco que os professores das universidades federais estão todos
com ela. Você queria governo melhor
do que isso?
Eleitor 2( este não revela o nome
do seu candidato). Até reconheço alguns pontos favoráveis a
Dilma, mas não se engane. Dilma não é da esquerda, Lula,
seu guru, tornou-se capitalista, Doutor “Honoris Causa,” é elogiado no
exterior por ser um
homem da esquerda (risos) seus filhos, idem. Dilma, tem o apoio incondicional
de homens ricos do
Brasil: Collor, Sarney,
Martha Suplicy, os empresários,
os banqueiros. A própria Dilma,
fala-se, tem dois três ou quatro apartamentos.Além
disso, pesa sobre o PT o fantasma do “Mensalão” envolvendo membros
de proa do petismo brasileiro. Lula nada sabe sobre isso, mas os
adversários dele afirmam
que ele é peça-chave
nos múltiplos escândalos em que o
PT joga
um papel de protagonista de “malfeitos.” Acredito
que o PT, se perder a eleição, será por
causa dos tramoias atribuídas ao
governo dos “trabalhadores,” do “sapo
barbudo.” O pior ainda é que o PT está envolvido, segundo
comenta a imprensa, no escândalo
da Petrobrás, que sorveu
milhões de reais do povo brasileiro.A
Polícia Federal está aí
para confirmar minhas palavras.Sei
também que o Zé povinho e outros
segmentos mais altos
da pirâmide social não se
importam com o lado ético
dos escândalos e desvios do
dinheiro público imputados ao PT. O povo brasileiro nunca deu provas de ser
um país unido. Longe disso, a nossa egolatria vai tão longe que, se estamos
bem, os outros que se lixem. Vivemos a morte das ideologias,
como há pouco lembrou, numa crônica da Folha de São Paulo, o
poeta Ferreira Gullar, um quase-empossado
“imortal” da Academia Brasileira de
Letras, reconhecidamente crítico dos erros do PT. Ora, sem
mais ideologia, segundo afirma o poeta maranhense, suponho
eu, todos os partidos se igualam, e o que passa a
dominar é a sociedade de consumo,
que contamina do alto a baixo a escala social da cidadania brasileira.
Eleitor1: Não vamos brigar entre nós. Os grandes que se entendam.
“O mundo é um palco.” E convenhamos, de lado a lado da coisa política, ninguém
é inocente nem anjinho.
Eleitor 2: Só me resta em parte
concordar com você em alguns pontos,
pois não sou como os fanáticos da futebol,
da religião e da política que só veem as qualidades dos seus eleitos.
Eleitor 2: Eu, que sou o que alguém chamou de um “pessimista realista”,
vou usar do direito
de respeitar o segredo do meu
voto. Que venha o segundo turno e que
os Céus protejam o povo brasileiro. (O leitor 2 não dá bolas
para a quebra do ilusionismo realista, ou seja, se declara mesmo o autor
da introdução a este diálogo). Me
restam o
pessimismo e o desejo apenas
de, neste diálogo escrito, usar da tela do computador, ao contrário do Conselheiro Aires do Memorial de Aires (1908), de Machado de Assis (1839-1908), que se utilizava, na condição de narrador-autor, do “papel amigo”naquele tom
meio incrédulo sobre os homens e a vida: “Fique isto confiado a ti somente, papel
amigo, a quem digo tudo o que penso e tudo o que não penso.”
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