quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Um diálogo imaginário sobre os candidatos à Presidência da República)







                                                          Cunha e Silva Filho


   Enfrentando, agora, a bipolaridade entre petistas e   tucanos,   o eleitor  brasileiro se acha dividido, conforme as últimas pesquisas, quase em nível de empate, numa espécie de gangorra entre a posição de um e outro. Há pouco,  saindo de casa, o porteiro telefonava à mãe , na Paraíba,  exortando-a a votar na Dilma. Ele sentiu o meu olhar de surpresa e logo me foi dizendo: “Seu Francisco,  a Dilma é dos pobres,  o  Aécio,dos ricos. Ora,  não precisa ser  cientista (ou sociólogo)  político  para  entender  a posição  do  porteiro. A Dilma simboliza o Bolsa-Família; o Aécio representa  a “esquerda  caviar,” expressão de um  escritor  cujo nome não me ocorre agora. O diálogo imaginário, seguinte, não referencial,  portanto,  dá continuidade  a essa discussão:

Eleitor 1: Você sabe, amigo, que a Dilma livrou  o país. da  pobreza  absoluta,   distribuiu  benefícios sociais, moradia,  vale- gás,   educação,  emprego pelo  Nordeste  inteiro. Ela é a “mãe dos pobres” Está  com  os desfavorecidos, os analfabetos,   os miseráveis, a plebe ignara,  a arraia-miúda. Ainda por cima,  é  muito generosa  com os ricos, os bancários, os juros altos,  a inflação,  a classe média (Nem desconfia o  eleitor 1 que está  em contradição  nos seus  elogios  a Dilma). Trabalha  nos extremos  da pirâmide, embora saiba que os extremos não se tocam.  Divide e reina. (O eleitor 1 ainda ainda não  se dá conta  que está  fazendo  gol contra). É só ver os restaurantes cheios nos fins de semana. Os supermercados estão lotados  de alimentos, as farmácias com  filas e filas  de compradores, as ruas  atoladas  de carros, parecendo até que  o país é um paraíso de prosperidade, sem falar  nos shoppings, nas viagens, agora, aéreas de  nordestinos  de baixa renda.  Me disseram há pouco que os professores  das universidades federais  estão todos  com ela. Você queria governo  melhor do que isso?

Eleitor 2( este não revela o nome do seu   candidato).  Até reconheço alguns pontos  favoráveis a  Dilma, mas não se engane. Dilma não é da esquerda,  Lula,  seu guru,  tornou-se  capitalista, Doutor  “Honoris Causa,” é elogiado  no  exterior  por  ser um  homem da esquerda (risos) seus filhos, idem. Dilma, tem o apoio  incondicional  de  homens  ricos do  Brasil:  Collor,  Sarney,  Martha Suplicy, os empresários,  os banqueiros. A própria Dilma,  fala-se,  tem  dois três ou quatro apartamentos.Além disso,  pesa sobre o PT  o fantasma do “Mensalão” envolvendo  membros   de proa do  petismo  brasileiro. Lula nada sabe sobre isso, mas os adversários  dele  afirmam  que  ele  é peça-chave  nos múltiplos  escândalos em que o PT  joga  um papel   de protagonista  de “malfeitos.”    Acredito que o PT, se perder a eleição,  será por causa  dos tramoias  atribuídas ao  governo   dos “trabalhadores,” do “sapo barbudo.” O pior ainda é que o PT está envolvido,  segundo  comenta a imprensa,   no escândalo da Petrobrás,  que  sorveu  milhões de reais  do povo brasileiro.A Polícia  Federal  está aí  para confirmar   minhas palavras.Sei também que  o Zé povinho e outros segmentos  mais   altos  da pirâmide social   não se importam  com  o lado ético  dos escândalos  e desvios do dinheiro  público   imputados ao PT. O povo brasileiro  nunca deu provas  de  ser um   país unido. Longe disso,  a nossa egolatria  vai tão longe que, se  estamos  bem,  os outros  que se lixem. Vivemos a morte das ideologias, como há pouco  lembrou,  numa crônica da Folha de São Paulo,  o  poeta  Ferreira Gullar, um quase-empossado “imortal” da Academia  Brasileira de Letras,    reconhecidamente crítico  dos erros do PT. Ora,  sem  mais ideologia, segundo afirma o poeta maranhense,   suponho eu,  todos os partidos  se igualam, e o que passa  a  dominar é a sociedade  de consumo, que contamina do alto a baixo a escala social da cidadania brasileira.

Eleitor1: Não vamos  brigar entre nós. Os grandes que se entendam. “O mundo é um palco.”  E convenhamos,  de lado a lado da  coisa política,  ninguém  é inocente nem anjinho.

Eleitor  2: Só me resta  em parte  concordar com você em alguns pontos,  pois não sou  como os fanáticos  da futebol,  da religião e da política  que só veem  as qualidades  dos seus eleitos.

 Eleitor 2: Eu, que sou o que alguém  chamou de um “pessimista  realista”,  vou  usar  do direito  de respeitar o segredo do meu  voto. Que venha o segundo turno e que  os Céus  protejam  o povo brasileiro. (O leitor 2 não dá  bolas  para  a quebra do ilusionismo  realista, ou seja,  se declara mesmo  o autor  da introdução a este diálogo).  Me restam  o  pessimismo e o desejo  apenas de,  neste diálogo escrito,  usar da tela do  computador, ao contrário  do Conselheiro Aires do Memorial de Aires (1908), de Machado de Assis (1839-1908), que se utilizava, na condição de narrador-autor,  do “papel amigo”naquele   tom  meio  incrédulo sobre os homens e a vida: “Fique  isto confiado a ti somente,   papel amigo,  a quem digo  tudo o que penso e tudo o que não penso.”







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