sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Sobre o poeta Elmar Carvalho

                                      


            Caro leitor,  saindo da formalidade  de alguns  artigos, crônicas, traduções ou mesmo  ensaios,  me vieram à mente  a oportunidade de  tecer alguns comentários sobre  o meu amigo, Elmar  Carvalho,   poeta nascido em Campo Maior, estado do Piauí.  Agora,  depois  de um longo  período atividades exercidas    na vida, se aposenta  como  juiz de direito, merecendo, pois,  seu otium cum dignitatem.
          Acompanhei  grande parte de sua   produção  poética. Resta, aqui,  desejar-lhe que,  a propósito de um   texto  que  escreveu  em seu  blog de título “Enfim, a aposentadoria” (Blog do poeta Elmar  Carvalho), onde manifesta, no final,   o  interesse de  poder, com  o  tempo  maior  que lhe vem, agora,   livre dos compromissos  e horários da magistratura,  dedicar-se à condição de  escritor e, quem sabe,   retomar  o entusiasmo  de produzir  poesia como nos velhos  tempos  da juventude e da  mocidade.
         Aos  58 anos,  podemos  dizer,  ainda moço, tem muito chão pela frente. Há algum tempo,  vem  escrevendo  uma obra  a que deu o título de  Diário  descontínuo ( a citada crônica  faz parte dessa obra), no qual  vem reunindo um pouco de tudo, do passado e do presente, uma espécie de “baú de tudo,” onde cabem a crônica, a ficção,   o memorialismo e sobretudo reflexões sobre    homens,  paisagens, bichos,  a natureza,  as histórias   vividas ou  inventadas na cidade ou  no campo,  narradas com  limpidez  estilística, com um  certo  acento  de sabor  clássico de algumas  expressões  usadas nos seus textos,   com  relatos    de natureza   sobrenatural,   com  relatos  de fundo  onírico.  Todas essa  narrativas ou relatos se referem a temática  piauiense, se não incorro em  erro.  
     O melhor disso tudo é que Elmar escreve praticamente tudo  que lhe vem  das  andanças por dever do oficio. E, ao   passar-lhe pelos olhos tão diferentes  lugares, tantas variedades   de costumes  interioranos,  de seres humanos  variados, de situações  dramáticas, ou  até jocosas, esse material  ele o transforma  em prosa   bem cuidada., com domínio dos seus recursos   de forma e linguagem. Não foi sem motivo  que, uma vez,  denominei seu estro de ‘voz poética,  histórica e geográfica do Piauí.’ (Ver meu texto “Encontro,   poesia  e vida”, apud CARVALHO, Elmar. Rosa dos ventos gerais.  2 ed. Teresina: SEGRAJUS, 2002, p. 17-20),  incluído como uma das introduções desse livro. Para não me alongar, vejamos os comentários, em forma de carta,  já anunciados no início deste  texto:
   
Caro Elmar Carvalho:
      
         Ainda me lembro do meu primeiro encontro com V. em Amarante. Era o ano de 1990. Data para mim sempre repassada de alguma tristeza, pois foi naquele ano que para aquela cidade me dirigi com meu filho Francisco Neto e familiares a fim de visitar a sepultura de Cunha e Silva(1905-2000), meu pai. Foi o encontro da crítica com a poesia, encontro, sim,  porque, de certa maneira, para mim poesia e crítica se complementam. Foi um encontro feliz regido pelo mero acaso das circunstâncias da vida terrena.

       Quando lhe perguntei pelo nome, V. me respondeu: "Elmar Carvalho. "Disse-lhe na  época que tinha nome de poeta, talvez por associar a sílaba "El" ao termo "mar," o qual,  para meus ouvidos, me soava liricamente, ou seja, a natureza simbolizada pelo significante/significado "mar" sempre me recorda o apego de alguns poetas ao mar, às ondas, à força da natureza, bela e por vezes desafiadora. Camões, Fernando Pessoa, "Vicente de Carvalho.

      O encontro foi duradouro, permanece até hoje, em outra época, a da pressa, das virtuais formas de comunicação. Porém, o verdadeiro encontro foi com a sua poesia, uma vez que  é no domínio estético que os espíritos mais se identificam e se entendem, mesmo no silêncio, mesmo na distância. E a poesia sua me disse o que V. talvez não me pudesse dizer no ramerrão da vida apressada e avassaladora de tempos  pós-modernos.

      Li toda a sua poesia que me chegou às mãos vibrei com alguns poemas seus e, de alguma forma, me tornei seu crítico, ou, pelo menos, quem mais tenha escrito sobre o que produziu.

      Reafirmo-lhe que  logo senti em V. a força da poesia, tanto na expressividade das metáforas, quanto na originalidade dos ritmos, das aliterações (tão caras a Da Costa e Silva) no jogo complexo da linguagem poética, sempre formulada com o suporte técnico, experimental do fazer poético com a sensibilidade de nos mostrar que se ama a natureza, a geografia poética, os fatos históricos, através da comunicação poética.

     Durante os anos de maior fervor de produzir poesia, V. deu muito de si  e procurou a companhia das musas por direito do talento e da preparação para esse gênero literário, quiçá o mais importante de todos porquanto é na poesia que se dá o encontro com o visível e o invisível, com a imagem e as virtualidades,, com a existência humana e suas contradições e, sobretudo, com o encontro final, em vida, que é um ajuste de contas com o mundo das palavras pelas palavras, pelo que possam dizer ou ocultar, afirmar e negar, e até mesmo exprimir o indizível, o que, no caso, a leva ao hermetismo, ao puramente estético. A leitura poética não é conduzir o leitor a conhecer uma história, mas a pensar os sentidos das palavras, ou as formas (metafóricas) de tentar entender o mundo, os seres e  sobretudo  a magia da linguagem e dos sons tão próximos da música.

     Fico feliz porque cumpriu,na vida pessoal, as funções que exerceu e o seu texto rememorativo o faz com a elegância e a dignidade de um escritor que sabe respeitar-se e respeitar seus pares.

Um abraço do 

Cunha e Silva Filho


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