Os temas discutidos neste blog se concentram sobretudo na área de Literatura Brasileira, mas se estendem a outros temas e áreas culturais afins. Os gêneros literários da preferência da produção do autor são crítica literária, ensaios e crônicas. tradução de poesia estrangeira. Áreas de pesquisa e interesse do autor: teoria literária,história literária, vida literária.relação entre literatura, pobreza e violência, literatura universal e literatura de autores piauienses
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Aviso
Prezados leitores,
Estarei afastado por um tempo, não muito, desta minha Coluna.
Até à minha volta. Obrigado.
Cordialmente,
Cunha e Silva Filho
.....
Dear readers, I'' be away from this Column for some time, but not for long.
Until my return! Thank you.
Cordiallly,
Cunha e Silva Filho
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Depois das eleições...
Cunha e Silva Filho
Será, leitor, em qualquer parte do país ou do
mundo (estou querendo competir
com os leitores de Machado de
Assis, só que em sentido antípoda aos
minguados leitores por
ele divisados) que o mito das eleições, dividindo cidadãos brasileiros,
entre dois candidatos" teoricamente”
adversários, significará mais em prol do
pais vivendo tantas chagas e com
parte, quase a metade, de seu
povo rindo, ovacionando os
eleitos, proclamando algum
herói popular ou uma dama encantada
com os afagos dos seus prosélitos, com a multidão delirante
parecendo que vai ganhar
de repente o paraíso brasílico só porque, sabe Deus como, conseguiu, em vitória estreita, sufragar mais um mandato para seu candidato
dirigir este país-continente?
O grande Brasil, gigante adormecido, cá
retorna ao seu simples e às vezes insípido cotidiano, com todas as suas falhas, defeitos, virtudes, alegrias e dores.
Demos um crédito, pelo menos, nesta hora que
o segundo mandato é coisa líquida
e certa.
Todavia, as eleições são muito parecidas
com o futebol brasileiro em alguns ângulos, como, por exemplo,
o do fanatismo que se apodera do espírito do eleitor e aí, não há quem possa segurar os desmandos
de linguagem e de desaforos trocados entre dois times com a clareza de que, para
cada time, o seu favorito é Deus, e o do oponente, o diabo (não vou dar mole pra
maiusculizar, à feição dos poetas
simbolistas, o adversário-mor do Altíssimo).
Nas redes sociais, tomemos
o Facebook, a competição foi -
vou ter que usar para dar o tom e a atmosfera
exigida - o surrado adjetivo
“acirrada.” E o mais desagradável é que, de ambos os flancos, um dava sinais de que estava certo e o outro, errado. Um era o caminho da glória e da bem-aventurança;
o outro, o caminho da perdição
e da miséria com a exclusão de todos as benesses propiciadas pelo
bolsa-família e outras bolsas
tantas, salvação da pobreza do brasileiro e oportunidade de uma virada para uma “classe
média” que nem os sociólogos sabem explicar talvez, a não que sejam do
lulismo encravado em solo pátrio e disposto a fazer o maior ciclo de grandeza e de felicidade
dos bruzundangas...
O grande líder, o sebastianista na Terra de Santa Cruz,
diante de toda bajulação dos palacianos e do populacho macunaímico, se a dama encantada fizer, no mínimo, um
governo sofrível, já tem garantida
a sua vitória terceira (pois o poder
terreno e imperial cria o vício e a ambição
do mandonismo) cantado em prosa e verso de cordel
pelo país afora.
Não
sei por que cargas d’água a imprensa internacional teima em
tachar o lulismo como
uma corrente política da esquerda, quando sabemos, mesmo que não sejamos cientistas
políticos, que não se pode misturar alhos com bugalhos, i.e., capitalismo com comunismo. Ademais, sabemos que
o prócer-chave do PT é hoje um
senhor bem aquinhoado
na vida e, por esse motivo, um comensal
do que há de melhor das delícias
e gulodices do consumismo globalizado e neoliberal com ramificações familiares
que vão confluir nos frigoríficos
de primeira linha e bem assim de outras
guloseimas apetitosas dos arrivistas e dos
parvenus.
Um pergunta se impõe: e agora, José? Como ficamos ou não ficamos os que perdidos somos na torcidas
das arenas (ou arengas) políticas? As torcidas, antes amigos ou falsos
amigos, ou amigos cordiais,
ou inimigos figadais, como farão
o caminho de volta ao ramerrão da vala comum? Não creio que as
divergências, usando de uma linguagem desabusada,
irão
às pazes de amigos (ou seriam inimigos?) cordiais.
Se voltássemos ao período pré-corrida
presidencial, alguma coisa me leva a acreditar
que não fizemos senão papéis de
uma peça teatral bem encenada e, neste caso,
há uma possibilidade de
voltarmos às antigas convivências amistosas.
No entanto, se os papéis foram protagonizados no realismo
das eternas mesquinharias e antipatias
humanas, então continuaremos
contumazes adversários políticos
e/ou pessoais. Prefiro, concluindo
e ainda mimetizando o pensamento de Machado de Assis, não obstante não o citando
ipis verbis, lhe dizer o
seguinte: a ambiguidade é que, muitas
vezes, salva a dúvida sobre nós e sobre os outros. O contrário teria também
o mesmo efeito da dúvida e da
derrisão.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Sobre o poeta Elmar Carvalho
Caro leitor, saindo da
formalidade de alguns artigos, crônicas, traduções ou mesmo ensaios,
me vieram à mente a oportunidade
de tecer alguns comentários sobre o meu amigo, Elmar Carvalho,
poeta nascido em
Campo Maior , estado do Piauí.
Agora, depois de um longo
período atividades exercidas na
vida, se aposenta como juiz de direito, merecendo, pois, seu otium
cum dignitatem.
Acompanhei grande parte de
sua produção poética. Resta, aqui, desejar-lhe que, a propósito de um texto
que escreveu em seu
blog de título “Enfim, a aposentadoria” (Blog do poeta Elmar Carvalho), onde manifesta, no final, o
interesse de poder, com o tempo maior
que lhe vem, agora, livre dos
compromissos e horários da magistratura, dedicar-se à condição de escritor e, quem sabe, retomar o entusiasmo de produzir
poesia como nos velhos
tempos da juventude e da mocidade.
Aos 58
anos, podemos dizer,
ainda moço, tem muito chão pela frente. Há algum tempo, vem
escrevendo uma obra a que deu o título de Diário descontínuo ( a citada crônica faz parte dessa obra), no qual vem reunindo um pouco de
tudo, do passado e do presente, uma espécie de “baú de tudo,” onde cabem a
crônica, a ficção, o memorialismo e
sobretudo reflexões sobre homens, paisagens, bichos, a natureza,
as histórias vividas ou inventadas na cidade ou no campo, narradas com
limpidez estilística, com um certo
acento de sabor clássico de algumas expressões
usadas nos seus textos, com relatos
de natureza sobrenatural, com
relatos de fundo onírico. Todas essa narrativas ou relatos se referem a temática piauiense, se não incorro em erro.
O
melhor disso tudo é que Elmar escreve praticamente tudo que lhe vem
das andanças por dever do oficio.
E, ao passar-lhe pelos olhos tão
diferentes lugares, tantas variedades de costumes
interioranos, de seres
humanos variados, de situações dramáticas, ou até jocosas, esse material ele o transforma em prosa
bem cuidada., com domínio dos seus recursos de forma e linguagem. Não foi sem
motivo que, uma vez, denominei seu estro de ‘voz poética, histórica e geográfica do Piauí.’ (Ver meu
texto “Encontro, poesia e vida”, apud
CARVALHO, Elmar. Rosa dos ventos
gerais. 2 ed. Teresina: SEGRAJUS,
2002, p. 17-20), incluído como uma das
introduções desse livro. Para não me alongar, vejamos os comentários, em forma
de carta, já anunciados no início
deste texto:
Caro Elmar Carvalho:
Ainda
me lembro do meu primeiro encontro com V. em Amarante. Era o ano
de 1990. Data para mim sempre repassada de alguma tristeza, pois foi naquele
ano que para aquela cidade me dirigi com meu filho Francisco Neto e familiares
a fim de visitar a sepultura de Cunha e Silva(1905-2000), meu pai. Foi o
encontro da crítica com a poesia, encontro, sim, porque, de certa maneira, para mim poesia e
crítica se complementam. Foi um encontro feliz regido pelo mero acaso das
circunstâncias da vida terrena.
Quando
lhe perguntei pelo nome, V. me respondeu: "Elmar Carvalho. "Disse-lhe
na época que tinha nome de poeta, talvez
por associar a sílaba "El" ao termo "mar," o qual, para
meus ouvidos, me soava liricamente, ou seja, a natureza simbolizada pelo
significante/significado "mar" sempre me recorda o apego de alguns
poetas ao mar, às ondas, à força da natureza, bela e por vezes desafiadora.
Camões, Fernando Pessoa, "Vicente de Carvalho.
O encontro foi duradouro, permanece até
hoje, em outra época, a da pressa, das virtuais formas de comunicação. Porém, o
verdadeiro encontro foi com a sua poesia, uma vez que é no domínio estético que os espíritos mais se
identificam e se entendem, mesmo no silêncio, mesmo na distância. E a poesia
sua me disse o que V. talvez não me pudesse dizer no ramerrão da vida apressada
e avassaladora de tempos pós-modernos.
Li
toda a sua poesia que me chegou às mãos vibrei com alguns poemas seus e, de
alguma forma, me tornei seu crítico, ou, pelo menos, quem mais tenha escrito
sobre o que produziu.
Reafirmo-lhe que logo senti em V. a força da poesia, tanto na
expressividade das metáforas, quanto na originalidade dos ritmos, das
aliterações (tão caras a Da Costa e Silva) no jogo complexo da linguagem
poética, sempre formulada com o suporte técnico, experimental do fazer poético
com a sensibilidade de nos mostrar que se ama a natureza, a geografia poética,
os fatos históricos, através da comunicação poética.
Durante os anos de maior fervor de produzir
poesia, V. deu muito de si e procurou a
companhia das musas por direito do talento e da preparação para esse gênero
literário, quiçá o mais importante de todos porquanto é na poesia que se dá o
encontro com o visível e o invisível, com a imagem e as virtualidades,, com a
existência humana e suas contradições e, sobretudo, com o encontro final, em
vida, que é um ajuste de contas com o mundo das palavras pelas palavras, pelo
que possam dizer ou ocultar, afirmar e negar, e até mesmo exprimir o indizível,
o que, no caso, a leva ao hermetismo, ao puramente estético. A leitura poética
não é conduzir o leitor a conhecer uma história, mas a pensar os sentidos das
palavras, ou as formas (metafóricas) de tentar entender o mundo, os seres e sobretudo a magia da linguagem e dos sons tão próximos
da música.
Fico feliz porque cumpriu,na vida
pessoal, as funções que exerceu e o seu texto rememorativo o faz com a
elegância e a dignidade de um escritor que sabe respeitar-se e respeitar seus
pares.
Um abraço do
Cunha e Silva Filho
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
BRAZIL'S OVERVIEW CORNER.The only way out: life sentence at once!
[ A Portuguese translation of this article is found at the
end of this text]
By
Cunha e Silva Filho
Sometimes I think to myself, dear reader, why has the population of São
Paulo State
re-elected its governor? Consider the fact that it is on the governor’s hands the function
of leading the
Military Police and so be the
main responsible for the
citizen’s security, to quell
disorders and demand the necessary and
compelling orders to
determine what is best to
minimize the high level of crimes
occurred daily not only
in the capital itself but
also in the whole state, I really
cannot find a plausible
reason for the people of
São Paulo to have behaved like
that in the election
for the next mandate of their governor.
Needless
to say that São Paulo is not the only one state of the Federation to
show such high rates of homicides, but it
undoubtedly ranks first as the
most violent state of
Brazil. The strange thing is
that as crimes grow more and more, one cannot
see any effective steps taken
towards trying to solve this ghastly situation.
I cannot understand what prevents the governor not to be
well informed about what is going on the streets of the capital of São Paulo and
its neighboring sections, including the slums scattered around far off surroundings, where poor or miserable people
barely survive.
It is not
possible security authorities
are not following the numberless news of
cruel crimes committed by
outlaws who seem to be the ones who
rule this state and are positioned above law and
authorities. .It is well enough to
watch the TV programs
that daily report the
atrocities committed by monsters
who seem to dominate the
public space of São Paulo city. Thus, it
give us the impression that there
is a stage of anarchy
as far the management
of state rules are concerned.
Bandits
are like savage animals at large waiting
for their preys; in other words, the
inhabitants of the most
important city in Latin
America. It is a shame for the
most important authority of the
government who , so it seems,
is incompetent for
tackling the issue and
make a radical change in the choices of
those who are specifically to
be in charge of people’s security.
I
recognize that the blame for this unbearable and unprecedented crime
situation is not only of the government, but its responsibility is to be held by the
federal government which
should together with the
state police devise
plans of security for São Paulo
and other Brazilian regions.
To
fight crimes in Brazil
is something that is deeply
related to o the country Penal Code and consequently it all
depends on the radical
changes that should be immediately
made in the legislation. If new
laws are not made, approved and enforced
in a short term by the
federal legislative power, Brazil
will know a kind
of uncontrolled state of
keeping order. That is why it
seems feasible and necessary for Brazil to institute life imprisonment for the most
hideous crimes and very hard penalties
for other cruel
crimes.
Violence
is so deep-rooted in our society that it does not
trust in our public
institutions any more. This empty
space in the sphere of
Brazilian State machine
runs the risk of losing the respect
towards authorities and the control of security nationwide; in such a case, the
aftermaths are unpredictable.
So, it is up to the Federal government and all Brazilian
states, in a joint action with
the indispensable support of
the Armed Forces if necessary, to
draw up an extensive
national plan to fight
the escalation of
violence.
Firstly,
carry it out, as I have repeated referred to in my preceding articles, some
urgent measures must be taken: the
reduction of age-bracket of minors recognized as abominable murderers. Secondly, one should not put off revising penalties for the following crimes: mugs followed by deaths, traffic
crimes, especially when the driver is identified as being drunk. home
violence against women, children and old people, rapes, rapes followed by deaths, kidnappings,
private imprisonment, bank
robberies and this new kind of high
cruelty crime of setting fire
to cars with drivers inside them who are burned out to death just
because, for example, a supposed bandit
has been shot by policemen. The
same should be true for criminals who
set fire to buses due to the same circumstances. Such crimes mentioned, according to the nature
of hideousness, would have high
levels of penalties that, as the case
may be, might reach
the highest one, life sentence.
In
addition, another type of crime that humiliates security authorities
is the one in which drug dealers
order commerce in a section
of the city to close
their doors whenever a policeman, during a confrontation with
criminals, shoots dead a bandit of a gang, especially in or near
a slum.
In other words, it is a shame the
constituted democratic institutions
do not take any steps
to put an end to these acts of
insurgency on the part of dangerous and daring criminals. As one can easily
see, the actions
from criminals are so challenging
and daring that the anomalous
social disorder entails rigid
measures to be taken from high
ranked authorities of federal
government in order to reduce
crimes that are already
jeopardizing Brazilian national
security and Brazilian image all over the world.
One final
word I would like to add: if Brazilian
authorities do not regard the present “state of unpunishment”(both for
murderers and for white-collars criminals) as the most serious problem to be taken
into account - it will be of no avail. What is worse, it will tend to be spread throughout the country.
A
única saída para o Brasil: prisão perpétua já!
Cunha
e Silva Filho
Por vezes, penso com os meus
botões, caro leitor, por que a população
de São Paulo reelegeu o governador.Considere o fato de que ao governador cabe a função de conduzir a Polícia Militar e, desta forma, ser o
principal responsável pela
segurança do cidadão, reprimir
desordens e exigir o
cumprimento das necessárias e obrigatórias
determinações do que se
afigure melhor para diminuir
o alto nível de crimes
acontecidos diariamente não só na capital mas também em todo o estado.
Não posso na realidade atinar com uma argumento plausível de o povo
paulista ter reagido assim na
eleição de um novo mandato para o governador.
Nem é preciso afirmar que São Paulo
não é o único estado da Federação a
exibir índices tão elevados
de homicídios, mas indubitavelmente se coloca como o primeiro no rank do mais violento
estado brasileiro. Causa estranheza
que, à medida em que os crimes
aumentam, não vejo nenhum passo
efetivo do governo buscando
soluções para esta
situação aterrorizadora.
Não entendo as razões
pelas quais o governador não esteja a par do que
está ocorrendo nas ruas da
capital de São Paulo e de seus
bairros vizinhos, incluindo as favelas espalhadas
nos locais mais distantes, onde populações pobres ou miseráveis a custo sobrevivem.
Não
é possível que as autoridades de
segurança não estejam acompanhando as
repetidas notícias de crimes cruéis perpetrados por marginais
que parecem se arvorar em
detentores do estado e se portarem
acima da lei e das autoridades. Basta ver os programas de televisão que diariamente dão testemunho das atrocidades cometidas
por monstros que parecem
ter o domínio do espaço público da
cidade de São Paulo. Dessa maneira,
tem-se a impressão de que existe um estágio de anarquia no que concerne à aplicação das leis do
estado.
Bandidos são como
animais selvagens soltos, à
espreita de suas presas, ou seja, os
habitantes da mais
importante cidade da América
Latina. É um vexame para a mais
importante autoridade do governo que, ao que parece, dá
exemplo de incompetência em atacar
o problema e realizar as
mudanças radicais nas escolhas daqueles que especificamente se incumbem
da segurança da população.
Reconheço que a culpa desta situação insuportável e sem
precedentes da criminalidade não é somente do governo, mas a
responsabilidade cabe também ao governo federal que
deveria, juntamente com a polícia
do estado, equacionar planos de
segurança para São Paulo e outras regiões do país.
Combater crimes no
Brasil é algo que está profundamente relacionado ao Código
Penal do país e, por conseguinte, tudo depende das modificações radicais que se deveriam fazer de imediato na legislação. Se novas leis não
forem feitas, aprovadas e postas em vigor em curto prazo pelo poder legislativo federal, o Brasil se
deparará com um situação incontrolável para manter a ordem. Essa é a razão pela qual se torna factível e necessária ao país implantar a
prisão perpétua reservada aos crimes
mais hediondos e penas
bem rigorosas para outros crimes cruéis.
A
violência está tão enraizada
em nossa sociedade que esta não mais
confia nas instituições públicas. Este
vazio na esfera da máquina do Estado
Brasileiro corre o risco de perder
o respeito das autoridades e o controle da segurança em âmbito
nacional; em tal caso, os
desdobramentos são imprevisíveis.
Sendo
assim, cumpre ao governo
federal e a todos os estados brasileiros, numa ação conjunta com o imprescindível apoio das
Forças Armadas, se necessário,
formular um extenso
plano nacional de combate
à escalada da violência. Para
consegui-lo, seria preciso primeiro
tomar algumas medidas de caráter urgente: redução da maioridade penal
de crimes juvenis
reconhecidamente abomináveis em decorrência da frequência de casos desse tipo de
criminosos. Em segundo lugar,
seria inadiável rever as penalidades para os seguintes crimes: assaltos seguidos de morte, violência
doméstica contra as mulheres, crianças
e idosos, estupros e estupros seguidos
de morte, sequestros, assaltos a bancos, crimes de trânsito,
onde criminosos ateiam fogo
em carros com motoristas dentro dos veículos, ou em ônibus
com passageiros. Tais crimes, de
acordo com o caráter de hediondez, teriam
aplicação de penas duríssimas até
chegar à prisão perpétua.
Além
disso, um outro tipo de crime que
desmoraliza as autoridades é aquele no
qual traficantes de drogas obrigam o comércio de uma bairro da cidade a fechar as portas sempre que um policial,
durante um confronto de tiroteio com marginais, mata um bandido de uma quadrilha,
especialmente numa favela ou perto dela.
Em outras palavras, será vergonhoso para as autoridades constituídas e democráticas se não tomarem
nenhuma atitude
para pôr termo a estes
atos de insurgência da parte de
criminosos perigosos e desafiadores. Conforme se pode constatar
facilmente, as ações de
marginais são tão desafiadoras e prepotentes que a desordem social
impõe que medidas rígidas
sejam tomadas pelas altas autoridades do governo federal a fim de reduzir os crimes
que já estão pondo em perigo a segurança nacional e prejudicando a imagem do Brasil no
exterior.
Um
último comentário gostaria de
acrescentar: se as autoridades
brasileiras não considerarem, na área
de segurança pública, o “estado de impunidade” (tanto para criminosos de colarinho branco como
para assassinos) o mais sério problema atualmente, nada se conseguirá como
solução O que é pior, ele tenderá
a se agravar pelo país inteiro.
domingo, 19 de outubro de 2014
As urnas dividiram o povo brasileiro e dizimaram o sentido da alteridade
Cunha e Silva Filho
A premiada escritora Ana Maria Machado, agora colunista de O
Globo, que substituiu Cacá Diegues, em artigos publicados aos sábados,
lamenta a circunstância de que pessoas que admiramos (ver seu artigo “O dia
seguinte,” O Globo, 18.10.2014), a quem
respeitamos pelos suas
qualidades intelectuais, ou por outros
dotes ou valores, quando
vistas no campo
de preferências políticas,
nos provocam perplexidades, ao percebermos que nada têm a ver com as nossas convicções, as nossas visões partidárias
ou ideológicas. De alguma
maneira, isso nos
causa, lá no nosso interior,
uma decepção (logo ele/a a quem
tanto prezo!).
Nesse terreno de discussões, como que perdemos um lado nosso de lógica e de racionalidade e passamos
a ver uma certa “realidade” derivada talvez de íntimos
interesses que não poderiam ser
perdidos sob pena
de sofrermos consequências que abalariam
o nosso conforto e as nossas
conquistas materiais. Por exemplo, quem,
no passado, fosse monarquista, não
desejaria uma mudança para o
regime republicano, ou seja,
perder os direitos e as prerrogativas que aquele
sistema de poder lhe concedia.
Essa postura, de alguma forma,
impede o indivíduo de enxergar,
com isenção, o outro, o diferente no terreno
das ideias e visões na condução do governo ou numa forma
de administrá-lo. É nesse
ponto que somos tomados
pelo proselitismo, nos tornamos sectários e não vemos senão
o lado errado e o espelho
invertido ou estilhaçado, em que o
outro, na condição de mero
eleitor, transmuda-se, em
tese, em adversário e, para
agravar mais o quadro das
divergências, o partido do qual discordamos torna-se objeto de nosso escárnio, de nosso desprezo.
Essa
alteridade dos agentes políticos, protagonizados como candidatos de um partido, se anula,
dando origem a refregas intoleráveis. Os candidatos são objeto de distorções,
mentiras, manipulações seja dos
marqueteiros, seja dos eleitores que não abrem
mão de suas posições extremadas, gerando a “cegueira,” a ofensa e o vilipêndio.
Todos os podres da vida pregressa dos
candidatos são escancarados publicamente e, nessa agressividade mútua, não há
medidas nem limites. Tudo vale, verdade
ou dissimulação, no caldeirão dos ataques com fotos, vídeos, textos, cartoons,
desconstruindo (é o termo em moda) a
pessoa política e a personalidade de
cada candidato. Valem até as palavras chulas, as fotos
deformadoras das expressões
fisionômicas, seja da Dilma, seja a do Aécio, para a Presidência, seja a
do Pezão e do Crivela, para governador. Não há
quase o meio termo, ou são oito
ou oitenta. Neste lamaçal com setas venenosas atiradas de ambas as partes, o eleitor
comum vê-se enredado num labirinto
de uma saída para um opção
conclusiva sobre a polarização
incandescente.
Entretanto, essa
agressividade sectária e anuladora da alteridade, no país, remonta
há décadas na história política brasileira. Nas campanhas políticas
do tempo da UDN e do PSD, intervalos de maior agressividade daquelas campanhas, não só havia brigas entre
partidários na condição de
eleitores, mas desavenças
violentas entre os candidatos
que vasculhavam os mínimos detalhes da vida privada de um
candidato, até mesmo a sua opção sexual
ou a sua suposta condição de corno convencido.
Os candidatos, em campanhas
pelo interior dos estados,
nos comícios em praças públicas ou em carrocerias de
caminhões estacionadas em
lugares centrais das cidades,
desancavam seus opositores, muitas vezes acompanhados de capangas disfarçados no meio
da população a fim
de garantirem a integridade física dos candidatos. A violência se estendia
entre famílias de partidos antagônicos a tal ponto que seus membros
não se falavam e se tornavam
inimigos durante anos, se não
até à morte. Quando mais virulentas,
iam às vias de fato e
mesmo a homicídios entre opositores.
Não houve, por conseguinte, melhoria
nos ânimos exaltados de hoje por
parte dos eleitores. Basta ver o que se posta no Facebook e o que se afirma e se diz dos candidatos. Impera o reino
das aleivosias, do achincalhe. Entre as sujeiras do petismo
e a empulhação dos tucanos, fica, assim,
difícil a escolha.
Com os avanços da
tecnologia e dos meios virtuais
de comunicação, uma denúncia daqui,
outra dali, são suficientes para abalar
a consciência dos eleitores. O
que é mais curioso e intrigante, a campanha
política é uma luta de foice, com já afirmei alhures, a qual semelha, em muitos ângulos, às divergências religiosas,
de futebol e de escola de samba e, se forçarmos a barra,
há até uma dose de carnavalização, de espetáculo burlesco,
de pantomima e momice. A semelhança
se sustenta pelo fanatismo e, por este motivo, espinhosa
é a tarefa de fazer um eleitor
mudar de opinião. Ele se torna
empedernido, intratável algumas vezes,
pois, segundo ele, a verdade e a certeza
estão na suas convicções
formadas ao longo do tempo.
E não é a diferença social,
econômica, ou de nível de escolaridade,
não é a separação entre letrados e não letrados, que vai fazer alguém
mudar a sua opção. Se alguém buscar
um pouco de racionalidade na consciência do eleitor,
decerto não a encontrará. Isso se deve a um componente
imponderável: cada eleitor tem (ou
não) a sua formação ético-moral, as suas conveniências, os seus
interesses inconfessos (ou confessos)
individuais os seus compromissos classistas ou de corporativismos. As diferenças, as
alteridades, diante dessas contingências, não se contam, i.e., se diluem e perdem a sua grandeza, quando não, se
transformam em contundente
polêmica.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
Um diálogo imaginário sobre os candidatos à Presidência da República)
Cunha e Silva Filho
Enfrentando, agora, a bipolaridade entre petistas e tucanos,
o eleitor brasileiro se acha
dividido, conforme as últimas pesquisas, quase em nível de empate, numa espécie
de gangorra entre a posição de um e outro. Há pouco, saindo de casa, o porteiro telefonava à mãe ,
na Paraíba, exortando-a a votar na
Dilma. Ele sentiu o meu olhar de surpresa e logo me foi dizendo: “Seu
Francisco, a Dilma é dos pobres, o Aécio,dos ricos. Ora, não precisa ser cientista (ou sociólogo) político
para entender a posição
do porteiro. A Dilma simboliza o
Bolsa-Família; o Aécio representa a “esquerda caviar,” expressão de um escritor
cujo nome não me ocorre agora. O diálogo imaginário, seguinte, não
referencial, portanto, dá continuidade a essa discussão:
Eleitor 1: Você sabe, amigo, que
a Dilma livrou o país. da pobreza
absoluta, distribuiu benefícios sociais, moradia, vale- gás,
educação, emprego pelo Nordeste
inteiro. Ela é a “mãe dos pobres” Está com os desfavorecidos,
os analfabetos, os miseráveis, a plebe
ignara, a arraia-miúda. Ainda por
cima, é muito generosa
com os ricos, os bancários, os juros altos, a inflação, a classe média (Nem desconfia o eleitor 1 que está em contradição nos seus
elogios a Dilma). Trabalha nos extremos
da pirâmide, embora saiba que os extremos não se tocam. Divide e reina. (O eleitor 1 ainda ainda não se dá conta
que está fazendo gol contra). É só ver os restaurantes cheios
nos fins de semana. Os supermercados estão lotados de alimentos, as farmácias com filas e filas
de compradores, as ruas atoladas de carros, parecendo até que o país é um paraíso de prosperidade, sem falar nos shoppings, nas viagens, agora, aéreas
de nordestinos de baixa renda. Me disseram há pouco que os professores das universidades federais estão todos
com ela. Você queria governo melhor
do que isso?
Eleitor 2( este não revela o nome
do seu candidato). Até reconheço alguns pontos favoráveis a
Dilma, mas não se engane. Dilma não é da esquerda, Lula,
seu guru, tornou-se capitalista, Doutor “Honoris Causa,” é elogiado no
exterior por ser um
homem da esquerda (risos) seus filhos, idem. Dilma, tem o apoio incondicional
de homens ricos do
Brasil: Collor, Sarney,
Martha Suplicy, os empresários,
os banqueiros. A própria Dilma,
fala-se, tem dois três ou quatro apartamentos.Além
disso, pesa sobre o PT o fantasma do “Mensalão” envolvendo membros
de proa do petismo brasileiro. Lula nada sabe sobre isso, mas os
adversários dele afirmam
que ele é peça-chave
nos múltiplos escândalos em que o
PT joga
um papel de protagonista de “malfeitos.” Acredito
que o PT, se perder a eleição, será por
causa dos tramoias atribuídas ao
governo dos “trabalhadores,” do “sapo
barbudo.” O pior ainda é que o PT está envolvido, segundo
comenta a imprensa, no escândalo
da Petrobrás, que sorveu
milhões de reais do povo brasileiro.A
Polícia Federal está aí
para confirmar minhas palavras.Sei
também que o Zé povinho e outros
segmentos mais altos
da pirâmide social não se
importam com o lado ético
dos escândalos e desvios do
dinheiro público imputados ao PT. O povo brasileiro nunca deu provas de ser
um país unido. Longe disso, a nossa egolatria vai tão longe que, se estamos
bem, os outros que se lixem. Vivemos a morte das ideologias,
como há pouco lembrou, numa crônica da Folha de São Paulo, o
poeta Ferreira Gullar, um quase-empossado
“imortal” da Academia Brasileira de
Letras, reconhecidamente crítico dos erros do PT. Ora, sem
mais ideologia, segundo afirma o poeta maranhense, suponho
eu, todos os partidos se igualam, e o que passa a
dominar é a sociedade de consumo,
que contamina do alto a baixo a escala social da cidadania brasileira.
Eleitor1: Não vamos brigar entre nós. Os grandes que se entendam.
“O mundo é um palco.” E convenhamos, de lado a lado da coisa política, ninguém
é inocente nem anjinho.
Eleitor 2: Só me resta em parte
concordar com você em alguns pontos,
pois não sou como os fanáticos da futebol,
da religião e da política que só veem as qualidades dos seus eleitos.
Eleitor 2: Eu, que sou o que alguém chamou de um “pessimista realista”,
vou usar do direito
de respeitar o segredo do meu
voto. Que venha o segundo turno e que
os Céus protejam o povo brasileiro. (O leitor 2 não dá bolas
para a quebra do ilusionismo realista, ou seja, se declara mesmo o autor
da introdução a este diálogo). Me
restam o
pessimismo e o desejo apenas
de, neste diálogo escrito, usar da tela do computador, ao contrário do Conselheiro Aires do Memorial de Aires (1908), de Machado de Assis (1839-1908), que se utilizava, na condição de narrador-autor, do “papel amigo”naquele tom
meio incrédulo sobre os homens e a vida: “Fique isto confiado a ti somente, papel
amigo, a quem digo tudo o que penso e tudo o que não penso.”
domingo, 12 de outubro de 2014
A vida literária no Brasil atual: o papel da crítica
Cunha e Silva Filho
Não julgue precipitadamente, amável leitor, que
eu tenha a pretensão de radiografar o “vasto mundo” do que se produz hodiernamente no país. O esforço é
sobejamente impossível e o trabalho
nessa direção, se realizado individualmente, tende
ao insucesso. A paisagem nacional
literária, segundo acentuei,
é muito ampla, muito tortuosa e,
se tentasse mapear autores e obras editados na contemporaneidade, já poderia antecipar que o
papel da crítica literária se defrontaria com um monumental embaraço.
Mesmo se quiséssemos inventariar, diga-se – uma “síntese” – estaríamos fadados a um
estrondoso insucesso, sendo o
pior deles a injustiça que cometeríamos não
incluindo alguns nomes de qualidade
nos vários gêneros literários.
O grande desafio da crítica é que ela
já perdeu a dimensão de poder de militância que tinha no
século passado através dos jornais
que mantinham a crítica de rodapé nos áureos tempos de um Agripino Grieco, Tristão de Athayde, Álvaro Lins,
Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido, Olívio Montenegro, só para fazer essa breve citação
nominal de autores.
Com o surgimento incalculável de
novos autores de que tomo conhecimento
toda vez quase que abro a folha de um
caderno cultural, me espanta qualquer
veleidade de se falar
em militância crítica,
inclusive porque ela
praticamente sumiu dos jornais,
só restando uns poucos críticos
que ainda dispõem de um cantinho
do jornal para discutir
livros recém-saídos.
Ao falar com
justiça das mazelas e das
imposturas da vida literária
brasileira, sobretudo no grande centro representado pela vida
literária carioca, lembro-me do historiador e crítico Afrânio Coutinho (1911-2000), na pequena
obra, No hospital das letras(1963) que traça, com veia crítica, numa reunião de artigos antes publicados em
jornais das décadas de 1940 e 1950, a situação interna, os bastidores, o compadrio, as “igrejinhas,” o que chamara “a comédia da vida literária,”
enfim, as deturpações que presenciara no meio literário
do Rio de Janeiro.
Fico a imaginar
que, mutadis mutandi, o
universo em que transita
o escritor brasileiro hoje não é tão diferente
de antigamente. As
igrejinhas ainda persistem, os
apadrinhados idem, as dificuldades que arrostam os escritores para penetrar nos meios editoriais, verdadeiro cipoal
de grupos fechados, que deitam normas
de avaliação para um escritor, novo ou velho e desconhecido, adentrar
essa floresta de desencanto e de insulamento
em que vive o autor
nacional, desprestigiado e desiludido da vida literária por se sentirem injustiçados. Muitos deles desistem por lhes faltarem estímulos.
O escritor de
nosso país é um isolado, como disse, alguém ilhado
nos seus próprios espaços de “emparedado,”seja
para poder lançar
um livro, seja para ter um
lugar em que possa
demonstrar sua capacidade no exercício da palavra escrita. Não empreendi nenhum estudo ou pesquisa
para ir a fundo nessas questões afetas
à vida editorial brasileira, contudo suspeito
que semelhante situação ocorra em outros estados
brasileiros.
Na questão da crítica literária, tanto
na sua produção quanto na
sua procura de espaço disponível
a algum pretendente, o fato é que
a sua atuação ficou mesmo
relegada aos limites do que se costuma chamar crítica
universitária, exercida, a meu ver,
na sala de aula, nas revistas especializadas das universidades e eventualmente nos
livros editados, sobretudo por algumas universidades.
A multiplicidade de autores que editam suas obras
não pode ser atendida
pelo trabalho da crítica,
mesmo da crítica universitária, por lhe faltar tempo e fôlego. Desta
forma, cria-se uma outra realidade no
universo da cultura literária, ou seja,
a crítica literária, não deixando
de ser uma atividade de alta relevância ao aprimoramento da
literatura e dos leitores, se apequena pela impossibilidade de dar conta
da mencionada multiplicidade de autores. O papel do crítico fica, pois, agora, numa quase
absoluta desproporção de julgar
obras de novos autores, com a agravante
de que ainda há a circunstância de que
o crítico não poderá deixar de
estar ao corrente dos autores
estrangeiros, também revelando
um número gigantesco.
O que tenho
observado, no entanto, vale como
uma saída à solução
do problema: a busca da especialização, seja de autores, seja
de gêneros, seja da “periodologia estética” nos moldes concebidos por Afrânio Coutinho. Ora, o abarcar-se de
forma pessoal um conjunto
gigantesco de autores que continuam a surgir no panorama da literatura brasileira forçou uma seleção
limitadora do trabalho do crítico. O crítico passou
a estudar, por exemplo, certos
temas, e obras, aprofundando o conhecimento de sua área de atuação.A crítica é uma atividade com tempo datado para seus cultores justamente por exigir muita leitura, muita pesquisa, muito suor e paciência.
Enfim, queremos
significar que o papel
atual do crítico torna-se cada vez
mais restrito e lacunoso e, de certa
forma, nisso ele perde
a noção geral do conjunto
do sistema literário. Essa é a condição
do ônus que tem a pagar a crítica literária contemporânea. Seu raio de ação tornou-se, na pós-modernidade, de curto
alcance, fragmentário, espaçado, fortuito. O individualismo
crítico é, agora, um dado do passado e a sobrevivência da crítica
literária, para não perder seu campo
de ação, deve, como já tem
sido feito, sempre constituir um
trabalho coletivo, de conjunto, i.e., quando seu
objetivo for mapear, historiar, discutir e analisar as obras literárias de um povo.
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
No Brasil, além da impunidade, da violência e da corrupção, agora, o ebola
Cunha e Silva Filho
Não é de hoje que tenho tido notícias da doença do ebola (em
Portugal, dizem ébola). Nos meados dos
anos de 1970, tinha por hábito ler uma
excelente revista americana de orientação evangélica denominada The
Plain Truth, dirigida pelo
norte-americano Herbert W. Armstrong (1892-1986),
Pastor e fundador da Worldwide Church of God, autor, entre outros livros, de Autobiography, volume 1. Não sei se
chegou a publicar um segundo volume da
obra - fruto de sua grande experiência e tirocínio como
doutrinador evangélico em âmbito mundial. Naquela época,
li inúmeros artigos e reportagens na mencionada revista que já divulgava
as ameaças e os perigos do
ebola, doença mortal de procedência do Congo (hoje Zaire). A revista tinha certo relevo porque,
embora de viés religioso-doutrinário, ela reservava um largo espaço para
discutir temas de alta importância para a humanidade e em clave de
discussão aberta e despreconceituosa. Sua
assinatura era gratuita, a impressão de alta qualidade e os artigos sobre
questões internacionais eram valiosos para a
época. Com a morte do seu líder Armstrong, houve a decadência, até à
extinção da The Plain Truth.
As previsões do ebola, ao lado de outras moléstias, como a gripe aviária ou do frango, tinham
fundamentos, mas é bem pouco provável
que o mundo se
preocupasse com ela. Por outro
lado, nos inícios dos anos de 1980 iria surgir
o primeiro caso de uma doença - a AIDS - que iria se disseminar mundialmente matando um grande
número de pessoas, por contato
sexual, ou por transfusão
de sangue, com grande perdas de
vidas para os hemofílicos e, no Brasil, por isso mesmo perdemos figuras
bem queridas, como Herbert de Sousa, Henfil,
Cazuza, entre tantos outras. O
curioso é que essas doenças, segundo
os especialistas, estão associadas a contaminação proveniente
de animais, como o macaco e até o
morcego, se não me engano, quando usado
para alimento do macaco.
O vírus se propaga com
facilidade, e, para evitá-lo, cumpre usar todos os recursos atuais de que dispõe a medicina e fornecer à sociedade a orientação segura dos
infectologistas sem alarmes exagerados. A transmissão já passou
as fronteiras dos países onde se
identificaram as primeiras vítimas
fatais.
Num mundo que se tornou pequeno e profundamente interligado
geograficamente, não é de causar surpresa que a doença transponha
as fronteiras dos países onde foram identificados indivíduos
infectados que, lamentavelmente, chegaram
a óbitos. Já deu sinal de ocorrência do ebola em países
adiantados, como na Espanha,
na Inglaterra, nos Estados Unidos e, agora, ainda em
termos de uma suposta ocorrência no
Brasil, onde do Paraná, veio a notícia de uma pessoa com alguns sinais
da doença e que foi encaminhada
para um centro de referência em infectologia do Instituto Oswaldo Cruz.
Desta maneira, cumpre às autoridades sanitárias
daqui envidar todos os esforços no sentido
de que um simples caso não se se transforme em muitos casos. Todo o cuidado é pouco na
vigilância atenta dos aeroportos, portos, fronteiras
terrestres.
Não há ainda uma vacina que
seja eficiente no tratamento
da doença, ainda que,
detectada em tempo, haja
recursos de medicamentos que possam
bloquear os efeitos letais
e salvar vidas. Um dos procedimentos
é isolar-se a pessoa infectada e bem assim dotar as equipes médicas de todos os cuidados possíveis a fim de evitar
que sejam também
contaminadas.
Já há uma bibliografia médica imensa tratando teoricamente dessa doença letal. Urge que
o combate a ela seja feito em conjunto
e em âmbito mundial, sendo para
tanto indispensáveis ações imediatas e contínuas da OMS. Somos, hoje, seres globalizados, desenvolvemos trabalhos humanitários além-fronteiras, como
os médicos que
enfrentam o alto risco de perder a própria vida para
cuidar de doentes
no mundo inteiro, especialmente
em regiões africanas de extrema pobreza e de escassos recursos da
medicina, como os heroicos “médicos sem
fronteiras,” os trabalhos de missionários
que também enfrentam
perigos de doenças em
regiões em confrontos bélicos.
Outras organizações internacionais, sem fins lucrativos, pelo mundo afora, realizam
relevantes serviços em defesa dos seres humanos,
sobretudo de crianças, que são os mais desprotegidos e dependem tanto da ajuda dos adultos.
Do meu ponto de vista, o ebola já deveria,
a esta altura de pesquisas mundiais,
estar com um vacina
eficaz contra o vírus. O ser humano é imprevidente em alguns
casos onde não deveria ser, por exemplo,
as doenças mortais que
podem se transformar em
epidemia. O mundo, através dos países ricos, ao invés de
investir em armas cada vez mais
destruidoras, deveria se dedicar
aos avanços no campo da infectologia. A palavra de ordem seria “prevenção,” e isso se aplica a todas as nações
desenvolvidas e em desenvolvimento, mormente no mundo contemporâneo, no qual, segundo já
assinalei, os contatos dos
povos são quase imediatos pelas facilidades das viagens
intercontinentais.
O Brasil deve,
portanto, estar de olho atento a esse problema de saúde pública, principalmente para evitar o mal maior,
o surto de epidemia. Atenção aos
responsáveis pelo Ministério da Saúde. Não se brinca com doenças
mortais capazes de dizimar
milhares de pessoas.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Será que, no Brasil, alguém merece o nosso voto?
Cunha
e Silva Filho
Se política brasileira constitui
uma soma de simulacros, em que as imagens dos candidatos se constroem
graças à publicidade enganosa, a marqueteiros vendilhões, a mentiras trocadas entre candidatos e, agora, no segundo turno, a recomposição de candidatos que,
antes se atacavam olho no olho ou em viagens pelo
país afora, já começam
a jogar seus papéis múltiplos no
ping-pong de partidos de orientações ideológicas
díspares e incompatíveis com os seus programas de governo e metas a serem atingidas
durante seus mandatos, como é que fica
a cabeça do eleitor sem
ponto de apoio seguro,
transparente, diante de tanta balbúrdia?
O segundo turno
gerou a bipolarização pronta a vender
a alma ao diabo desde que seja o vencedor
dessa segunda rodada. Os antigos
inimigos se tornam, agora, amigos de
oportunismo porque, na peleja
renhida, tudo vale nas alianças feitas. Os fundamentos ideológicos
dos candidatos se esfarelam, viram
uma salada mista, um saco de gatos, um samba do crioulo doido.
No meio desse mafuá
de novas combinações
estapafúrdias, o país continua
desatrelado das suas obrigações
e compromissos assumidos da candidata-presidente:
aumento dos preços, novas revelações de corrupção,
violência calamitosa, o estado de Santa Catarina em
polvorosa, com explosões de violência, ônibus
incendiados, bandidos à solta
teleguiados por ordens de
alto crime cujas decisões partem
dos presídios. O país está em baixa, política, moral e
eticamente. Até os
eleitores menos instruídos que, porém, têm
experiência da vida e dos homens, me
dizem em conversas na
rua que o país vai
mal, que ninguém acredita mais em políticos
nem em melhorias para a Nação, que estão decepcionados com
todos e tudo que traz o sinete
do que chamam de política.
A crise
política é de ordem ética, de falta
de confiança nos nossos homens públicos.
Vejam-se alguns candidatos reeleitos para a Câmara dos Deputados ou para o Senado. Vejam que os mais bem
votados nada podem representar
de útil ao país; são
oportunistas que, por
pertencerem à mídia cultural,
são feitos deputados e senadores.
O pior: esses candidatos, durante os mandatos anteriores,
nada fizeram pelos
seus estados. Fizeram, sim, para si
mesmos, ou seja, para se beneficiarem
das condições de marajás – condições estas que não
mudaram desde os tempos do Collor que, por sinal,
foi eleito senador.
Transformamos a eleição num espetáculo circense, no qual os eleitores estão
presentes ao voto para se divertirem com o próprio cinismo
e falta de auto-respeito.
Não vejo o voto nulo,
o voto em branco como
falta de atitude
cidadã. Esse comportamento do
eleitorado tem sua razão de ser: ele
espelha a náusea que cada um sente
pelo que está vendo acontecer no país. Ele sabe que, ao se eleger
um político para defender
os direitos e atender aos anseios
da sociedade, nada se concretiza
das promessas falaciosas do que afirmou na campanha. Foram palavras ocas, sem substância, sem o
peso da verdade.
Essa postura negativista do eleitorado
é um sinal de alerta ao sistema
democrático que, assim, é posto
em dúvida no que concerne à
sua validade. Quando o embuste,
a mentira, a falsidade, e mormente
o cinismo se tornam moeda corrente entre quem abraça
a política por
oportunismo e interesses
pessoais, o nível de ceticismo,
de descrença do eleitorado ascende
a proporções alarmantes e
perigosas para os alicerces da democracia e se torna
presa fácil para o arrivismo populista ou messiânico, ou senão para lançar os incautos à fogueira
dos regimes de força
de triste memória, não só no
Brasil como em outros países.
Não se pense
que as manifestações –
compreenda-se, as pacíficas - do
ano passado contra
os erros da política brasileira, contra a corrupção e outros
males nacionais foram em vão. O futuro
governante da Nação não pode nem deve subestimá-las. Elas permanecem como um vulcão pronto a entrar em erupção novamente e com mais poder de
força caso não sejam solucionados
os graves problemas
do país.
O “homem
cordial” brasileiro tem suas complacências, seu
lado pacífico e
ordeiro, mas, se sentir
aviltado, esbulhado em suas justas
reivindicações, saberá como
agir sem violência nem depredações, mas
com a firmeza da massa
indignada contra os desmandos do
poder arbitrário. E o mesmo vale
para todos os três
poderes constituídos. Lembrem-se os futuros governantes que o mero
fato de conquistar mandatos políticos
não lhes faculta o
uso do autoritarismo, da prepotência, da enganosa ilusão que, no exercício do poder, possa arvorar-se em donos”
do poder. A soberania da nação é apanágio do
povo, não de políticos
de plantão.
O merecimento de nosso
voto está em estreita dependência dos valores
morais, da integridade , competência e do real desejo de os políticos propiciarem o bem-estar da sociedade.
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Memórias da infância de um estudante
Cunha e
Silva Filho
Havia aquela merenda deliciosa
composta mais de frutas (a melancia que
gostosura, doce e fresca!) enviada por mamãe toda manhã à hora do recreio, ansiosamente esperada
todos os dias de aula. Era uma empregada de mamãe que ia levá-la.
Da aula em si, da professora, do
colegas, pouco me
lembro. Creio que nunca era boa a aula em si, e a criança
ficava ansiosa por voltar pra casa,
que ficava no Centro de
Teresina, pertinho da Praça João Luiz Ferreira, aquela onde
ficava o único prédio mais alto
na época, em Teresina, conhecido geralmente
como o
Instituto. Suava pra
passar o tempo do turno da manhã na escola primária Demóstenes
Avelino, do professor Felismino
Weser.O sobrenome do diretor sempre
me dava a sensação de que era um estrangeiro.
A parte do primário ficava numa ala de lado que dava pra rua em subida.Quando vinha de casa com meus
irmãos Sonia e Winston, tinha que subir aquela rua
meio íngreme. O professor
Felismino Weser teve um filho com grande
vocação poética, mas que faleceu
precocemente. Nem mesmo me
lembro se eu já estava sabendo ler.Vem-me à lembrança
o problema enfrentado
pelo grande sociólogo Gilberto Freyre um caso quase perdido nos
primeiros tempos de vida escolar.
Ao contrário do meu tempo
de ginásio, nunca fui um estudante feliz nos primeiros anos escolares. Era curioso como eu e meus
irmãos trocávamos de escola, até parecendo uma daquelas advertências que constavam no preâmbulo da minha
primeira versão da Carteira Profissional, com data
de fevereiro de 1964, tirada justamente
no prédio do Instituto e que, à falta de outra palavra,
me dava como profissão a de comerciário, coisa que jamais entrou nos meus planos
de ter como atividade profissional, visto
que queria mesmo era ver preenchida à mão, no espaço de “profissão,” a de "jornalista” (imagine, a
ousadia de um jovem
que mal completara dezoito anos
e só porque já tinha publicado, em
jornais de Teresina, alguns
artigos juvenis sobre literatura).
Um escritor
piauiense, J. Miguel de Matos, autor
de um romance que, à época,
havia lido chamado Brás da Santina, por sinal, se encontrava no Instituto e, vendo a minha pretensão
de que, na carteira, fosse
colocado “jornalista,” chegou a
falar sem muita energia: “Ele merece.”
A insinuada advertência fala de dois perfis de profissional, alguém que, na carteira assinada, demonstra ter sido constante
num determinado emprego e outro
que se compararia a uma “abelha,” i.e., alguém
que não parava
nas fábricas por onde andou trabalhando, daí a metáfora da “abelha” Veja-se a conotação
que imprime o autor do texto, de nome Alexandre Marcondes Filho, a qual está intimamente
ligada à atividade do operário. O
tom burocrático do
texto é bem explícito na sua intenção de ser a Carteira Profissional um
instrumento de identidade e
de recomendação, boa ou
negativa, a um eventual patrão
ou empregador privado ou
público. Tanto é que, a nova
Carteira Profissional que tirei no Rio de Janeiro, em 1971, ainda
repete aquele texto de advertência de Alexandre Marcondes
Filho.
Retomando o núcleo
deste artigo, devo
reafirmar que o meu período
de estudos primários
foi bem confuso, bem
mutável. Não gostava de nenhum lugar por onde
transitei como nômade acompanhado de meus irmãos
já mencionados.
Tampouco sei por
que houve tantas mudanças. Tempos
depois, já no ginásio e muito feliz, por sinal, jamais levantei esse assunto
com meu pai, com quem confidenciava
com muita frequência em seu quarto-biblioteca – quarto que teve
um relevo especial pra minha
formação de adolescente chegado
a leituras e aos estudos
das minhas áreas preferidas, de resto passagem de minha vida já narrada tendo como cenário doméstico meu
pai sentado na rede e eu, ao pé
dele, com um pente passando-lhe
pela parte superior da cabeça
que começava a ficar grisalha.
Nas minhas reminiscências da infância, há esse gap de entendimento e percepção sobre
como se processou a minha formação de leitura, de domínio
dessa competência. Creio, por outro lado, que ela está
muito conexionda ao aprendizagem da leitura, a qual pode ser por deficiências
minhas como provavelmente pode ter origem na timidez que,
em assuntos de
estudos, tanto me atrapalhou.
Infiro que talvez tenha sido ainda
por falta de tato
pedagógico-didático de
professoras que cuidaram de mim, das quais não tenho
boas lembranças do tipo que a
maioria das pessoas definem, com
justiça, com muito carinho e afeto: “Oh, minha querida!
professora primária!” de nome tal.
Comigo não houve isso, o que me sobrou
de relembrança me remete a certas passagens de Graciliano Ramos
com
respeito aos seus pais e, assim, não
diretamente relacionadas aos
estudos.
Em compensação,
quando fui estudar no Domício(nome famoso e popular pelo qual ficou conhecido o Ginásio "Des. Antonio Costa," em Teresina, Piauí),
acompanhado ainda pelos
meus dois irmãos,
Sonia e Winston, e ainda cursando
o primário, houve uma repentina
mudança de minha visão da escola. Ainda não
era aquela que experimentei ao
cursar o período preparatório do admissão ao ginásio, cujos
exames me proporcionaram momentos profundas de contentamento e de alegria
de estar de bem com os
estudos e com a vontade incoercível e prosseguir meus estudos ginasianos.
Portanto, foi no ginásio que me encontrei com a
magia dos estudos, das leituras, da
vontade de abrir tantos
caminhos do meu universo
mental. E tudo isso, como
já relatei em
outros textos meus, graças ao período de quatro anos do
Domício. Lá aprendi a amar
todas as disciplinas, especialmente,
a leitura de autores brasileiros e
portugueses, a gramática da minha língua, o estudo da sintaxe portuguesa, de me
aplicar ao estudos do inglês, do francês, do latim.
Aprendi, sim, no ginásio, a ser
aluno exemplar, a amar meus mestres
queridos, a sentir o prazer inefável de estar
na escola, de conviver com alguns tão bons companheiros de classe, muitos dos quais
devem estar ainda vivos por lugares
do Piauí ou em terras diversas. Descobri, um dia, que estava lendo em inglês e francês naquela
sempre lembrada biblioteca-quarto de meu
pai, onde me escondia solitariamente longe
do “burburinho das ruas.” Foi no
ginásio, que para Olavo Bilac, era o período mais importante da aprendizagem
do adolescente, que me
preparei para os complexos e longos estudos, de leitura e do exercício
da escrita literária, de levar os estudos a sério como
se fosse ainda um adolescente.
No entanto, a dúvida sobre o período
obscuro e infeliz do primário continua a me martelar
a cabeça, procurado as razões
primeiras, os motivos fundos, dos quais, quiçá, só a psicanálise me possa indicar alguns
caminhos de entendimento daquela quadra de deambulações passageiras (até em grupo
escolar) por escolas, do medo
de professoras, de ausência de
alegrias e de
sentimento de prazer
em lidar com os meus primeiros anos de vida escolar. Esses fantasmas ainda
retomarei em textos
futuros de natureza memorialística.
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