quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Aviso



Prezados leitores,

 Estarei  afastado por um tempo, não muito,  desta minha Coluna.
Até à minha volta. Obrigado.
Cordialmente,
Cunha e Silva Filho
                .....
Dear readers, I'' be  away from  this Column for some time,  but   not  for long.
Until my  return! Thank you.
Cordiallly,

Cunha e Silva Filho


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Depois das eleições...






                                                        Cunha e Silva Filho


           Será, leitor, em qualquer parte do país ou do mundo (estou  querendo  competir  com  os leitores de Machado de Assis,  só que em sentido antípoda aos minguados   leitores   por  ele divisados) que o mito das eleições, dividindo cidadãos brasileiros, entre dois candidatos"  teoricamente”  adversários, significará mais em prol do  pais vivendo  tantas chagas e com parte,  quase a metade,  de seu  povo  rindo, ovacionando os eleitos,  proclamando  algum   herói popular ou uma dama  encantada com os afagos dos seus  prosélitos,   com a multidão  delirante  parecendo que  vai  ganhar  de repente o  paraíso  brasílico só porque,  sabe Deus como,  conseguiu,  em vitória estreita,   sufragar mais um mandato para seu candidato dirigir  este   país-continente?
          O grande Brasil,  gigante adormecido,   cá  retorna ao seu  simples  e às vezes insípido  cotidiano, com todas as suas  falhas, defeitos, virtudes, alegrias e dores. Demos um crédito, pelo menos, nesta hora que  o segundo mandato  é coisa líquida e certa.
          Todavia, as eleições são muito parecidas com  o futebol  brasileiro em alguns ângulos, como,  por exemplo,  o do fanatismo que se apodera do espírito do  eleitor e aí, não há quem possa segurar  os desmandos  de linguagem e de desaforos trocados entre dois times com a clareza  de  que,   para cada time,   o seu favorito  é Deus, e o do oponente,  o diabo (não vou dar mole  pra  maiusculizar, à feição dos poetas  simbolistas,  o  adversário-mor  do Altíssimo).
           Nas redes sociais,  tomemos  o  Facebook,  a competição  foi  - vou ter que usar para dar o tom e a atmosfera  exigida -  o surrado  adjetivo  “acirrada.” E o  mais desagradável  é que, de ambos os  flancos,   um dava sinais de que estava  certo e o outro,  errado. Um era o caminho da glória e da bem-aventurança; o outro,  o caminho  da  perdição e da miséria com a exclusão de todos as benesses propiciadas  pelo  bolsa-família e outras bolsas  tantas, salvação  da  pobreza do brasileiro e oportunidade de  uma virada para uma  “classe  média”  que nem os sociólogos  sabem explicar talvez, a não que sejam  do   lulismo  encravado em solo   pátrio e disposto a fazer  o maior ciclo de grandeza e de  felicidade  dos bruzundangas...
          O grande líder,  o sebastianista na Terra de Santa Cruz, diante de toda   bajulação  dos palacianos  e do populacho macunaímico,  se a dama encantada  fizer, no mínimo,  um  governo sofrível,  já tem garantida a sua vitória terceira (pois o poder  terreno  e imperial  cria o vício e  a ambição  do mandonismo)    cantado em prosa e verso  de cordel  pelo  país afora.
           Não sei por que cargas d’água a imprensa internacional  teima em  tachar  o lulismo   como  uma corrente  política   da esquerda, quando sabemos, mesmo  que não sejamos  cientistas  políticos,  que não se pode misturar  alhos com bugalhos, i.e.,  capitalismo com   comunismo. Ademais,  sabemos que  o prócer-chave do PT  é hoje um senhor  bem  aquinhoado  na vida e,  por esse motivo,   um  comensal   do que há de melhor das  delícias e gulodices  do consumismo  globalizado e neoliberal com ramificações  familiares  que vão  confluir  nos  frigoríficos  de primeira linha e bem assim de outras   guloseimas apetitosas  dos arrivistas   e dos  parvenus.
           Um pergunta se impõe: e agora,  José? Como ficamos ou não ficamos os que  perdidos somos  na torcidas  das  arenas (ou arengas) políticas?  As torcidas, antes amigos ou falsos amigos,  ou amigos  cordiais,  ou  inimigos figadais, como farão o caminho de volta  ao  ramerrão da vala comum? Não creio que as divergências,  usando de uma linguagem desabusada,  irão  às pazes  de amigos (ou seriam  inimigos?) cordiais.  
          Se voltássemos   ao período  pré-corrida presidencial, alguma coisa me leva a acreditar  que  não fizemos senão  papéis de   uma peça  teatral  bem encenada e, neste  caso,   há uma  possibilidade de voltarmos  às antigas convivências amistosas. No entanto, se os papéis foram  protagonizados  no realismo  das  eternas  mesquinharias e   antipatias  humanas, então continuaremos  contumazes  adversários   políticos  e/ou pessoais. Prefiro,  concluindo e ainda  mimetizando o pensamento de  Machado de Assis, não obstante não  o citando  ipis verbis, lhe dizer o seguinte: a ambiguidade  é que, muitas vezes,  salva  a dúvida sobre nós e sobre  os outros. O contrário  teria também  o mesmo  efeito da dúvida e da derrisão.  















       


        




             

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Sobre o poeta Elmar Carvalho

                                      


            Caro leitor,  saindo da formalidade  de alguns  artigos, crônicas, traduções ou mesmo  ensaios,  me vieram à mente  a oportunidade de  tecer alguns comentários sobre  o meu amigo, Elmar  Carvalho,   poeta nascido em Campo Maior, estado do Piauí.  Agora,  depois  de um longo  período atividades exercidas    na vida, se aposenta  como  juiz de direito, merecendo, pois,  seu otium cum dignitatem.
          Acompanhei  grande parte de sua   produção  poética. Resta, aqui,  desejar-lhe que,  a propósito de um   texto  que  escreveu  em seu  blog de título “Enfim, a aposentadoria” (Blog do poeta Elmar  Carvalho), onde manifesta, no final,   o  interesse de  poder, com  o  tempo  maior  que lhe vem, agora,   livre dos compromissos  e horários da magistratura,  dedicar-se à condição de  escritor e, quem sabe,   retomar  o entusiasmo  de produzir  poesia como nos velhos  tempos  da juventude e da  mocidade.
         Aos  58 anos,  podemos  dizer,  ainda moço, tem muito chão pela frente. Há algum tempo,  vem  escrevendo  uma obra  a que deu o título de  Diário  descontínuo ( a citada crônica  faz parte dessa obra), no qual  vem reunindo um pouco de tudo, do passado e do presente, uma espécie de “baú de tudo,” onde cabem a crônica, a ficção,   o memorialismo e sobretudo reflexões sobre    homens,  paisagens, bichos,  a natureza,  as histórias   vividas ou  inventadas na cidade ou  no campo,  narradas com  limpidez  estilística, com um  certo  acento  de sabor  clássico de algumas  expressões  usadas nos seus textos,   com  relatos    de natureza   sobrenatural,   com  relatos  de fundo  onírico.  Todas essa  narrativas ou relatos se referem a temática  piauiense, se não incorro em  erro.  
     O melhor disso tudo é que Elmar escreve praticamente tudo  que lhe vem  das  andanças por dever do oficio. E, ao   passar-lhe pelos olhos tão diferentes  lugares, tantas variedades   de costumes  interioranos,  de seres humanos  variados, de situações  dramáticas, ou  até jocosas, esse material  ele o transforma  em prosa   bem cuidada., com domínio dos seus recursos   de forma e linguagem. Não foi sem motivo  que, uma vez,  denominei seu estro de ‘voz poética,  histórica e geográfica do Piauí.’ (Ver meu texto “Encontro,   poesia  e vida”, apud CARVALHO, Elmar. Rosa dos ventos gerais.  2 ed. Teresina: SEGRAJUS, 2002, p. 17-20),  incluído como uma das introduções desse livro. Para não me alongar, vejamos os comentários, em forma de carta,  já anunciados no início deste  texto:
   
Caro Elmar Carvalho:
      
         Ainda me lembro do meu primeiro encontro com V. em Amarante. Era o ano de 1990. Data para mim sempre repassada de alguma tristeza, pois foi naquele ano que para aquela cidade me dirigi com meu filho Francisco Neto e familiares a fim de visitar a sepultura de Cunha e Silva(1905-2000), meu pai. Foi o encontro da crítica com a poesia, encontro, sim,  porque, de certa maneira, para mim poesia e crítica se complementam. Foi um encontro feliz regido pelo mero acaso das circunstâncias da vida terrena.

       Quando lhe perguntei pelo nome, V. me respondeu: "Elmar Carvalho. "Disse-lhe na  época que tinha nome de poeta, talvez por associar a sílaba "El" ao termo "mar," o qual,  para meus ouvidos, me soava liricamente, ou seja, a natureza simbolizada pelo significante/significado "mar" sempre me recorda o apego de alguns poetas ao mar, às ondas, à força da natureza, bela e por vezes desafiadora. Camões, Fernando Pessoa, "Vicente de Carvalho.

      O encontro foi duradouro, permanece até hoje, em outra época, a da pressa, das virtuais formas de comunicação. Porém, o verdadeiro encontro foi com a sua poesia, uma vez que  é no domínio estético que os espíritos mais se identificam e se entendem, mesmo no silêncio, mesmo na distância. E a poesia sua me disse o que V. talvez não me pudesse dizer no ramerrão da vida apressada e avassaladora de tempos  pós-modernos.

      Li toda a sua poesia que me chegou às mãos vibrei com alguns poemas seus e, de alguma forma, me tornei seu crítico, ou, pelo menos, quem mais tenha escrito sobre o que produziu.

      Reafirmo-lhe que  logo senti em V. a força da poesia, tanto na expressividade das metáforas, quanto na originalidade dos ritmos, das aliterações (tão caras a Da Costa e Silva) no jogo complexo da linguagem poética, sempre formulada com o suporte técnico, experimental do fazer poético com a sensibilidade de nos mostrar que se ama a natureza, a geografia poética, os fatos históricos, através da comunicação poética.

     Durante os anos de maior fervor de produzir poesia, V. deu muito de si  e procurou a companhia das musas por direito do talento e da preparação para esse gênero literário, quiçá o mais importante de todos porquanto é na poesia que se dá o encontro com o visível e o invisível, com a imagem e as virtualidades,, com a existência humana e suas contradições e, sobretudo, com o encontro final, em vida, que é um ajuste de contas com o mundo das palavras pelas palavras, pelo que possam dizer ou ocultar, afirmar e negar, e até mesmo exprimir o indizível, o que, no caso, a leva ao hermetismo, ao puramente estético. A leitura poética não é conduzir o leitor a conhecer uma história, mas a pensar os sentidos das palavras, ou as formas (metafóricas) de tentar entender o mundo, os seres e  sobretudo  a magia da linguagem e dos sons tão próximos da música.

     Fico feliz porque cumpriu,na vida pessoal, as funções que exerceu e o seu texto rememorativo o faz com a elegância e a dignidade de um escritor que sabe respeitar-se e respeitar seus pares.

Um abraço do 

Cunha e Silva Filho


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

BRAZIL'S OVERVIEW CORNER.The only way out: life sentence at once!




[ A Portuguese  translation of this article is found at the end of  this text]



                                             By Cunha e Silva Filho



  Sometimes I think to myself, dear reader,  why has the population of  São Paulo State re-elected  its  governor? Consider the  fact that it is on the governor’s hands  the function  of  leading  the  Military  Police and so  be the  main  responsible  for the  citizen’s security, to   quell disorders and demand  the necessary  and  compelling   orders  to   determine  what is best  to   minimize  the high level of  crimes   occurred  daily  not only  in the capital  itself but also  in the whole state,  I really  cannot find  a plausible reason  for the  people of  São Paulo to  have behaved  like  that  in the  election  for   the  next mandate of their governor.
Needless to  say that São Paulo  is not the only one  state of the Federation  to  show such  high rates of  homicides, but  it  undoubtedly ranks first as the  most   violent  state of  Brazil. The strange   thing is that as crimes   grow more and more,   one   cannot  see any  effective steps  taken   towards   trying to solve  this   ghastly  situation.
 I cannot understand  what    prevents  the governor not  to  be well  informed about  what is going on  the streets of the capital of São Paulo and its  neighboring  sections, including the slums scattered  around far off surroundings, where  poor or miserable  people  barely survive.
 It is not  possible   security  authorities  are not   following  the numberless  news of   cruel  crimes   committed by  outlaws who seem to be  the  ones   who   rule  this state and are  positioned above   law and   authorities. .It is well enough to  watch  the  TV programs  that daily   report the atrocities  committed by   monsters  who  seem to dominate  the  public   space of  São Paulo city. Thus,  it  give us the impression  that there is  a stage of  anarchy  as far   the  management  of   state rules are concerned.
Bandits   are like  savage animals at large  waiting  for their  preys;  in other words,   the  inhabitants  of  the most  important city   in Latin America.  It is a shame  for the  most  important authority  of the  government  who , so it seems, is  incompetent  for  tackling the    issue  and  make a  radical  change in the    choices of  those who are specifically    to be in charge of    people’s security.
I recognize that  the blame for this   unbearable and unprecedented   crime   situation  is not only  of the government, but  its  responsibility is to be held by  the  federal  government  which  should   together with   the  state  police   devise  plans  of security for  São Paulo  and  other  Brazilian regions.
To fight  crimes  in Brazil  is something  that is   deeply   related to  o the country  Penal Code and consequently   it  all depends on  the   radical  changes  that should be   immediately  made in the  legislation. If new laws are not  made, approved and enforced in a short  term by  the  federal legislative   power,  Brazil  will  know  a kind  of   uncontrolled   state of   keeping  order. That is why it seems feasible and  necessary for  Brazil  to  institute life imprisonment  for the most   hideous crimes and very hard penalties  for   other  cruel  crimes.
Violence is so deep-rooted in our society that it  does not   trust in  our  public  institutions any more.  This   empty space  in the sphere  of  Brazilian  State  machine    runs the risk  of losing  the respect  towards  authorities and  the    control  of security nationwide; in such a case,  the  aftermaths  are  unpredictable.
So,  it is  up to the Federal   government and all  Brazilian   states, in a  joint action with the  indispensable  support of  the Armed  Forces if necessary,   to   draw up  an extensive national  plan to  fight  the  escalation  of  violence.
Firstly, carry it out, as I have  repeated   referred to  in my preceding  articles, some  urgent  measures  must be  taken: the   reduction  of  age-bracket of  minors recognized as  abominable  murderers.  Secondly,  one should not put off revising  penalties for the following crimes:  mugs  followed by deaths, traffic crimes, especially when the driver is identified as being drunk.  home   violence  against  women, children and  old people, rapes, rapes followed by  deaths,    kidnappings,  private   imprisonment, bank robberies and this new kind of  high cruelty  crime of  setting fire  to cars with  drivers   inside them who are burned out to death just because, for example,   a supposed  bandit  has been shot by  policemen. The same should be   true for criminals who set fire to   buses due to the same circumstances. Such  crimes mentioned, according to  the nature  of  hideousness, would have high levels of  penalties that, as the case may be,  might  reach  the highest one,  life  sentence.
In addition, another  type of crime   that  humiliates security  authorities  is the one    in which   drug  dealers order  commerce   in a section  of  the city  to  close their  doors  whenever    a policeman,    during a confrontation   with  criminals, shoots  dead  a bandit of a gang, especially  in or near  a slum.
 In other words,    it is a shame  the  constituted  democratic  institutions    do not  take any  steps  to  put an end to  these acts of  insurgency   on the part of    dangerous and daring   criminals. As one can  easily  see,  the  actions  from criminals  are so challenging and   daring that the  anomalous  social   disorder  entails   rigid  measures to be taken    from  high  ranked authorities  of    federal  government  in order to  reduce   crimes  that are  already    jeopardizing Brazilian   national security and Brazilian  image   all over the world.
 One final   word I would like to add:  if  Brazilian  authorities  do not   regard the  present “state of unpunishment”(both for murderers and for  white-collars  criminals) as the most   serious problem to be  taken  into   account    -  it will be of no avail. What is worse,  it will tend to be spread  throughout   the country.





A  única saída para o Brasil: prisão perpétua já!


                                         Cunha e   Silva Filho


      Por vezes,  penso com os meus botões, caro leitor,  por que a população de São Paulo reelegeu o governador.Considere o  fato de que ao governador  cabe a função de conduzir a Polícia  Militar e, desta forma,   ser o  principal  responsável pela segurança  do cidadão,  reprimir  desordens e exigir   o cumprimento  das necessárias e  obrigatórias  determinações do que  se afigure  melhor para  diminuir  o alto nível de crimes  acontecidos diariamente não só na capital mas também em todo o estado. Não posso  na realidade   atinar com uma  argumento plausível de o  povo  paulista ter reagido  assim na eleição de um novo  mandato  para o governador.
    Nem é preciso  afirmar que  São Paulo  não é o  único estado da Federação  a  exibir índices  tão  elevados  de homicídios,  mas  indubitavelmente se coloca como  o primeiro no rank do mais  violento  estado  brasileiro. Causa  estranheza  que,  à medida  em que  os crimes  aumentam,  não vejo nenhum  passo   efetivo  do governo  buscando  soluções  para  esta   situação   aterrorizadora.
                   Não entendo  as razões  pelas  quais  o governador não  esteja a par do  que  está ocorrendo nas ruas  da capital de São  Paulo e de seus bairros  vizinhos,  incluindo as favelas  espalhadas  nos locais  mais distantes,  onde populações  pobres ou miseráveis  a custo sobrevivem.
         Não é possível que  as autoridades de segurança não estejam   acompanhando  as  repetidas  notícias de crimes   cruéis perpetrados  por marginais  que  parecem  se arvorar em  detentores   do estado e se portarem   acima da lei e das autoridades. Basta  ver os programas de televisão  que diariamente  dão testemunho das atrocidades  cometidas  por monstros  que  parecem  ter o domínio do espaço público  da cidade de São Paulo. Dessa maneira,  tem-se a impressão  de que   existe um   estágio de anarquia no que concerne à aplicação  das leis do  estado.
              Bandidos  são como  animais selvagens  soltos, à espreita  de suas presas, ou seja, os habitantes  da  mais  importante  cidade da América Latina. É um vexame para a mais  importante   autoridade  do governo que,  ao que parece,  dá  exemplo de  incompetência em  atacar  o problema  e realizar as mudanças   radicais nas escolhas  daqueles que especificamente  se incumbem  da segurança   da população.
           Reconheço que a culpa  desta situação   insuportável   e sem  precedentes da criminalidade não é somente  do governo, mas  a  responsabilidade  cabe também  ao governo federal  que  deveria, juntamente com a polícia   do estado, equacionar  planos de segurança para  São Paulo e outras  regiões do país.
          Combater  crimes no  Brasil é algo que  está  profundamente    relacionado  ao Código  Penal  do país e,  por conseguinte,  tudo depende das modificações radicais  que se deveriam fazer  de imediato na legislação. Se novas leis não forem feitas, aprovadas  e  postas em vigor em  curto prazo pelo  poder legislativo federal, o Brasil se deparará com um situação  incontrolável  para manter a ordem. Essa é a razão pela qual se torna   factível  e  necessária ao   país implantar a prisão  perpétua reservada aos crimes mais  hediondos  e penas  bem  rigorosas  para outros crimes cruéis.
         A violência  está  tão  enraizada em nossa sociedade que  esta não mais confia nas instituições  públicas. Este vazio na esfera da máquina  do  Estado  Brasileiro corre o risco de perder  o respeito das autoridades e o controle da segurança  em âmbito  nacional; em tal caso,  os desdobramentos são imprevisíveis.
      Sendo assim,  cumpre  ao governo  federal e a todos os estados brasileiros, numa ação conjunta com  o imprescindível apoio  das  Forças Armadas, se necessário,  formular  um   extenso  plano  nacional  de combate  à escalada  da violência. Para consegui-lo, seria preciso  primeiro tomar  algumas medidas de caráter  urgente: redução  da maioridade  penal  de crimes   juvenis reconhecidamente   abomináveis  em decorrência   da frequência de casos desse tipo de criminosos.  Em segundo  lugar,  seria  inadiável  rever as penalidades para os seguintes  crimes: assaltos  seguidos de morte,  violência  doméstica contra as mulheres,  crianças e  idosos, estupros e estupros seguidos de morte,  sequestros,  assaltos a bancos, crimes  de trânsito,   onde  criminosos  ateiam fogo  em carros  com  motoristas dentro dos veículos, ou em  ônibus  com passageiros.   Tais crimes, de acordo com  o caráter de hediondez,  teriam  aplicação de penas duríssimas até  chegar  à prisão perpétua. 
        Além disso,  um outro tipo de crime que desmoraliza as autoridades é aquele  no qual traficantes de drogas obrigam o comércio de uma bairro da  cidade a fechar as portas sempre que um policial, durante um confronto de tiroteio  com marginais,   mata um bandido de uma quadrilha, especialmente  numa favela ou perto dela.
Em outras palavras,  será vergonhoso  para as autoridades constituídas  e democráticas se  não  tomarem   nenhuma   atitude  para pôr  termo  a estes  atos de insurgência da parte  de criminosos  perigosos e  desafiadores. Conforme se pode  constatar   facilmente, as ações de  marginais  são tão  desafiadoras e  prepotentes que a desordem  social  impõe que  medidas rígidas sejam  tomadas  pelas altas  autoridades do governo federal a fim de reduzir os crimes que já estão  pondo em   perigo a segurança  nacional e prejudicando a imagem do Brasil no exterior.
Um  último comentário gostaria de  acrescentar: se as autoridades  brasileiras não considerarem, na  área de segurança  pública,    o “estado de impunidade” (tanto  para criminosos de colarinho branco  como  para   assassinos) o mais  sério problema atualmente, nada se conseguirá  como   solução O que é pior,  ele tenderá a se agravar  pelo  país inteiro.


domingo, 19 de outubro de 2014

As urnas dividiram o povo brasileiro e dizimaram o sentido da alteridade









                                                      Cunha e Silva Filho


         A premiada escritora  Ana Maria Machado,  agora colunista   de O Globo,   que  substituiu Cacá Diegues,  em artigos publicados  aos sábados,  lamenta a circunstância de que  pessoas que admiramos (ver seu artigo “O dia seguinte,” O Globo, 18.10.2014),  a quem  respeitamos  pelos suas qualidades  intelectuais,  ou por outros  dotes ou valores, quando  vistas   no campo  de preferências  políticas, nos  provocam  perplexidades, ao percebermos   que   nada têm a ver com as nossas convicções,  as nossas visões  partidárias  ou  ideológicas. De alguma maneira,  isso  nos  causa,  lá no nosso  interior,   uma decepção (logo ele/a a quem  tanto   prezo!).
      Nesse terreno de discussões,   como que perdemos   um  lado   nosso   de lógica  e de racionalidade e  passamos  a ver   uma certa  “realidade” derivada  talvez  de íntimos   interesses   que não poderiam   ser  perdidos    sob  pena  de  sofrermos   consequências  que abalariam  o nosso  conforto e as nossas conquistas materiais. Por exemplo,  quem,  no passado, fosse monarquista,  não  desejaria uma mudança   para o regime  republicano,  ou seja,  perder  os  direitos e as prerrogativas que  aquele  sistema  de poder  lhe concedia.  
      Essa postura, de alguma  forma,  impede  o indivíduo  de enxergar,  com  isenção,  o outro, o diferente no   terreno  das ideias  e  visões na condução  do governo ou numa  forma  de  administrá-lo. É nesse ponto  que somos  tomados  pelo  proselitismo,  nos tornamos sectários e não  vemos senão  o lado errado e o espelho  invertido ou estilhaçado, em que o  outro, na condição de mero   eleitor,   transmuda-se, em tese,  em adversário  e, para  agravar mais o quadro  das divergências,  o partido  do qual discordamos  torna-se  objeto de nosso  escárnio, de nosso  desprezo.
        Essa alteridade dos agentes políticos, protagonizados como  candidatos de um partido,  se anula,  dando  origem  a  refregas  intoleráveis. Os candidatos são objeto de distorções, mentiras, manipulações  seja dos marqueteiros, seja  dos eleitores  que não abrem  mão  de suas  posições extremadas, gerando a “cegueira,”  a ofensa e o  vilipêndio.
        Todos os podres da vida pregressa dos candidatos  são escancarados publicamente e,  nessa agressividade mútua, não há medidas nem limites. Tudo vale,  verdade ou  dissimulação,  no caldeirão dos ataques  com fotos, vídeos,  textos, cartoons, desconstruindo (é o termo  em moda) a pessoa  política e a personalidade de cada candidato. Valem até as palavras   chulas,  as fotos  deformadoras das expressões  fisionômicas, seja da Dilma, seja a do Aécio, para a Presidência, seja a do Pezão e do Crivela, para governador. Não há  quase o meio termo, ou são  oito ou  oitenta. Neste lamaçal com setas  venenosas atiradas de ambas as partes,  o eleitor  comum vê-se  enredado  num labirinto  de uma saída  para um  opção   conclusiva  sobre a polarização incandescente.
        Entretanto,   essa  agressividade sectária e anuladora da alteridade, no país,  remonta  há décadas na história  política  brasileira. Nas campanhas  políticas  do tempo da UDN e do PSD, intervalos de maior   agressividade daquelas campanhas,   não só havia   brigas  entre  partidários  na condição de eleitores,  mas   desavenças  violentas  entre os candidatos que  vasculhavam  os mínimos detalhes da vida  privada de um  candidato, até mesmo a sua  opção  sexual  ou a sua suposta condição  de  corno convencido.
      Os candidatos,  em campanhas  pelo  interior  dos estados,  nos comícios  em praças públicas  ou em carrocerias  de  caminhões estacionadas em  lugares   centrais  das cidades,  desancavam   seus  opositores, muitas vezes  acompanhados de capangas disfarçados no meio da  população   a fim de garantirem   a integridade física   dos candidatos. A violência se estendia entre famílias de   partidos  antagônicos a tal ponto que  seus membros  não se  falavam  e se tornavam  inimigos  durante  anos, se não  até  à morte. Quando mais  virulentas,  iam  às vias de fato  e  mesmo a homicídios   entre  opositores.
        Não houve,  por conseguinte,  melhoria  nos ânimos exaltados   de hoje por parte dos  eleitores.  Basta ver o que se posta no Facebook e o que se afirma e se diz  dos candidatos.  Impera o reino  das aleivosias, do achincalhe. Entre as sujeiras do  petismo   e  a empulhação  dos tucanos,   fica, assim, difícil  a escolha.
      Com os avanços  da  tecnologia e  dos meios virtuais de comunicação, uma  denúncia daqui, outra dali,   são suficientes  para abalar  a consciência dos eleitores. O  que é mais curioso  e intrigante,  a campanha  política é uma  luta  de foice, com já afirmei alhures,   a qual semelha, em muitos ângulos, às divergências   religiosas,  de futebol  e de escola  de samba e, se forçarmos  a barra,  há até uma  dose  de carnavalização, de espetáculo  burlesco,  de pantomima e momice. A semelhança  se sustenta  pelo fanatismo  e,   por este motivo,   espinhosa  é a tarefa de  fazer  um eleitor  mudar  de opinião. Ele se torna empedernido,  intratável algumas vezes, pois, segundo  ele, a verdade e  a certeza  estão  na suas  convicções  formadas ao longo do tempo.
      E  não é a diferença   social,  econômica,  ou de nível de escolaridade, não é a separação entre letrados e não letrados, que vai  fazer alguém  mudar  a sua opção. Se alguém  buscar  um pouco de racionalidade na consciência  do eleitor,   decerto não a encontrará. Isso se deve a um  componente  imponderável: cada eleitor  tem (ou não)   a sua  formação  ético-moral, as suas conveniências, os seus interesses inconfessos (ou confessos)  individuais  os seus   compromissos   classistas ou   de corporativismos. As diferenças, as alteridades, diante dessas  contingências,  não se contam, i.e., se  diluem e perdem a sua grandeza, quando não,  se  transformam  em  contundente    polêmica.


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Um diálogo imaginário sobre os candidatos à Presidência da República)







                                                          Cunha e Silva Filho


   Enfrentando, agora, a bipolaridade entre petistas e   tucanos,   o eleitor  brasileiro se acha dividido, conforme as últimas pesquisas, quase em nível de empate, numa espécie de gangorra entre a posição de um e outro. Há pouco,  saindo de casa, o porteiro telefonava à mãe , na Paraíba,  exortando-a a votar na Dilma. Ele sentiu o meu olhar de surpresa e logo me foi dizendo: “Seu Francisco,  a Dilma é dos pobres,  o  Aécio,dos ricos. Ora,  não precisa ser  cientista (ou sociólogo)  político  para  entender  a posição  do  porteiro. A Dilma simboliza o Bolsa-Família; o Aécio representa  a “esquerda  caviar,” expressão de um  escritor  cujo nome não me ocorre agora. O diálogo imaginário, seguinte, não referencial,  portanto,  dá continuidade  a essa discussão:

Eleitor 1: Você sabe, amigo, que a Dilma livrou  o país. da  pobreza  absoluta,   distribuiu  benefícios sociais, moradia,  vale- gás,   educação,  emprego pelo  Nordeste  inteiro. Ela é a “mãe dos pobres” Está  com  os desfavorecidos, os analfabetos,   os miseráveis, a plebe ignara,  a arraia-miúda. Ainda por cima,  é  muito generosa  com os ricos, os bancários, os juros altos,  a inflação,  a classe média (Nem desconfia o  eleitor 1 que está  em contradição  nos seus  elogios  a Dilma). Trabalha  nos extremos  da pirâmide, embora saiba que os extremos não se tocam.  Divide e reina. (O eleitor 1 ainda ainda não  se dá conta  que está  fazendo  gol contra). É só ver os restaurantes cheios nos fins de semana. Os supermercados estão lotados  de alimentos, as farmácias com  filas e filas  de compradores, as ruas  atoladas  de carros, parecendo até que  o país é um paraíso de prosperidade, sem falar  nos shoppings, nas viagens, agora, aéreas de  nordestinos  de baixa renda.  Me disseram há pouco que os professores  das universidades federais  estão todos  com ela. Você queria governo  melhor do que isso?

Eleitor 2( este não revela o nome do seu   candidato).  Até reconheço alguns pontos  favoráveis a  Dilma, mas não se engane. Dilma não é da esquerda,  Lula,  seu guru,  tornou-se  capitalista, Doutor  “Honoris Causa,” é elogiado  no  exterior  por  ser um  homem da esquerda (risos) seus filhos, idem. Dilma, tem o apoio  incondicional  de  homens  ricos do  Brasil:  Collor,  Sarney,  Martha Suplicy, os empresários,  os banqueiros. A própria Dilma,  fala-se,  tem  dois três ou quatro apartamentos.Além disso,  pesa sobre o PT  o fantasma do “Mensalão” envolvendo  membros   de proa do  petismo  brasileiro. Lula nada sabe sobre isso, mas os adversários  dele  afirmam  que  ele  é peça-chave  nos múltiplos  escândalos em que o PT  joga  um papel   de protagonista  de “malfeitos.”    Acredito que o PT, se perder a eleição,  será por causa  dos tramoias  atribuídas ao  governo   dos “trabalhadores,” do “sapo barbudo.” O pior ainda é que o PT está envolvido,  segundo  comenta a imprensa,   no escândalo da Petrobrás,  que  sorveu  milhões de reais  do povo brasileiro.A Polícia  Federal  está aí  para confirmar   minhas palavras.Sei também que  o Zé povinho e outros segmentos  mais   altos  da pirâmide social   não se importam  com  o lado ético  dos escândalos  e desvios do dinheiro  público   imputados ao PT. O povo brasileiro  nunca deu provas  de  ser um   país unido. Longe disso,  a nossa egolatria  vai tão longe que, se  estamos  bem,  os outros  que se lixem. Vivemos a morte das ideologias, como há pouco  lembrou,  numa crônica da Folha de São Paulo,  o  poeta  Ferreira Gullar, um quase-empossado “imortal” da Academia  Brasileira de Letras,    reconhecidamente crítico  dos erros do PT. Ora,  sem  mais ideologia, segundo afirma o poeta maranhense,   suponho eu,  todos os partidos  se igualam, e o que passa  a  dominar é a sociedade  de consumo, que contamina do alto a baixo a escala social da cidadania brasileira.

Eleitor1: Não vamos  brigar entre nós. Os grandes que se entendam. “O mundo é um palco.”  E convenhamos,  de lado a lado da  coisa política,  ninguém  é inocente nem anjinho.

Eleitor  2: Só me resta  em parte  concordar com você em alguns pontos,  pois não sou  como os fanáticos  da futebol,  da religião e da política  que só veem  as qualidades  dos seus eleitos.

 Eleitor 2: Eu, que sou o que alguém  chamou de um “pessimista  realista”,  vou  usar  do direito  de respeitar o segredo do meu  voto. Que venha o segundo turno e que  os Céus  protejam  o povo brasileiro. (O leitor 2 não dá  bolas  para  a quebra do ilusionismo  realista, ou seja,  se declara mesmo  o autor  da introdução a este diálogo).  Me restam  o  pessimismo e o desejo  apenas de,  neste diálogo escrito,  usar da tela do  computador, ao contrário  do Conselheiro Aires do Memorial de Aires (1908), de Machado de Assis (1839-1908), que se utilizava, na condição de narrador-autor,  do “papel amigo”naquele   tom  meio  incrédulo sobre os homens e a vida: “Fique  isto confiado a ti somente,   papel amigo,  a quem digo  tudo o que penso e tudo o que não penso.”







domingo, 12 de outubro de 2014

A vida literária no Brasil atual: o papel da crítica







                                                       Cunha e Silva Filho

           Não julgue precipitadamente, amável leitor,  que  eu  tenha a pretensão de radiografar  o  “vasto mundo” do que   se produz hodiernamente no país. O esforço é sobejamente  impossível e o  trabalho  nessa direção, se  realizado  individualmente,  tende  ao insucesso. A paisagem nacional  literária,  segundo  acentuei,  é muito ampla, muito  tortuosa e, se tentasse  mapear  autores e obras editados  na contemporaneidade,   já poderia antecipar  que  o papel da crítica literária   se defrontaria  com um monumental  embaraço.  Mesmo se  quiséssemos   inventariar, diga-se – uma “síntese” – estaríamos  fadados  a um  estrondoso  insucesso, sendo o pior deles  a injustiça  que cometeríamos   não  incluindo  alguns nomes  de qualidade  nos vários gêneros  literários.
       O grande desafio da crítica  é que ela  já perdeu  a dimensão  de poder de militância que  tinha  no século  passado através  dos jornais  que  mantinham  a crítica de rodapé nos áureos tempos de um Agripino  Grieco,  Tristão de Athayde,  Álvaro Lins,  Sérgio  Buarque de Holanda,  Antonio Candido,  Olívio Montenegro, só para  fazer essa breve   citação  nominal  de autores.
       Com o surgimento  incalculável de novos autores de que  tomo  conhecimento  toda vez quase que abro a folha de um  caderno cultural,  me espanta  qualquer  veleidade  de  se falar  em militância  crítica, inclusive  porque  ela  praticamente sumiu  dos jornais, só restando  uns poucos   críticos  que ainda  dispõem de um  cantinho  do jornal  para  discutir  livros  recém-saídos.
Ao falar  com justiça das mazelas e das  imposturas  da vida literária brasileira, sobretudo no grande centro representado  pela vida  literária  carioca,  lembro-me  do historiador e crítico  Afrânio Coutinho (1911-2000), na pequena obra,  No hospital das letras(1963)  que traça, com veia crítica,  numa reunião de artigos antes publicados em jornais  das décadas de 1940 e 1950, a situação  interna, os bastidores,   o compadrio, as “igrejinhas,” o que chamara “a comédia da vida literária,” enfim, as deturpações  que  presenciara no meio  literário   do Rio de Janeiro.
Fico a imaginar  que,   mutadis mutandi,   o universo  em que  transita   o escritor  brasileiro  hoje não é tão  diferente  de antigamente.  As igrejinhas  ainda persistem, os apadrinhados  idem,  as dificuldades  que arrostam os escritores para penetrar  nos meios editoriais, verdadeiro   cipoal  de grupos fechados,  que  deitam normas  de avaliação  para um  escritor, novo ou velho e desconhecido,    adentrar   essa floresta  de desencanto  e  de   insulamento  em que  vive  o autor   nacional, desprestigiado e desiludido da vida literária por se sentirem   injustiçados. Muitos deles desistem por lhes faltarem estímulos.
O escritor  de nosso país é um  isolado, como disse,   alguém ilhado  nos seus próprios   espaços  de  “emparedado,”seja para  poder  lançar   um livro, seja para   ter  um   lugar  em que   possa  demonstrar  sua capacidade  no exercício da palavra escrita. Não  empreendi nenhum  estudo  ou pesquisa  para  ir a fundo nessas questões afetas à vida  editorial  brasileira, contudo  suspeito  que  semelhante  situação  ocorra em outros estados  brasileiros.
Na questão da crítica literária,  tanto   na sua produção quanto  na sua   procura de espaço  disponível  a  algum pretendente, o fato é  que a sua atuação   ficou  mesmo   relegada  aos  limites do que   se costuma chamar  crítica  universitária, exercida, a meu ver,  na sala de aula,  nas revistas  especializadas  das universidades e eventualmente nos livros  editados, sobretudo por algumas universidades.
A multiplicidade de autores que editam  suas obras  não  pode ser  atendida  pelo  trabalho da crítica, mesmo  da crítica universitária, por lhe faltar tempo e  fôlego. Desta forma, cria-se uma outra realidade no  universo da cultura literária, ou seja,  a crítica literária,  não deixando de ser uma atividade   de alta relevância  ao aprimoramento   da  literatura   e dos leitores,  se apequena   pela impossibilidade de  dar conta   da mencionada    multiplicidade  de autores. O papel  do crítico  fica, pois, agora,    numa quase  absoluta  desproporção de  julgar  obras  de novos autores, com a agravante de que  ainda há  a circunstância   de que  o crítico  não poderá  deixar de  estar ao corrente dos autores  estrangeiros,  também  revelando  um  número gigantesco. 

O que tenho  observado, no entanto, vale como  uma   saída  à solução  do problema: a busca da especialização,  seja de autores,  seja  de gêneros,  seja  da “periodologia   estética” nos moldes  concebidos   por Afrânio Coutinho. Ora, o abarcar-se de forma  pessoal  um conjunto gigantesco  de  autores que continuam  a surgir no panorama da literatura brasileira   forçou   uma seleção  limitadora do   trabalho   do crítico. O crítico  passou  a estudar,  por exemplo, certos temas, e obras, aprofundando o conhecimento de sua área de atuação.A crítica é uma atividade  com tempo datado para seus cultores justamente  por  exigir muita  leitura,  muita pesquisa,  muito suor e paciência.
Enfim,  queremos  significar  que o  papel  atual do crítico  torna-se cada vez mais  restrito e lacunoso e, de certa forma,  nisso   ele perde  a noção  geral  do conjunto   do sistema literário. Essa é a condição  do ônus que tem  a pagar  a crítica literária   contemporânea. Seu raio de ação  tornou-se, na pós-modernidade, de curto alcance,  fragmentário, espaçado, fortuito. O individualismo  crítico é, agora,  um  dado do passado e a sobrevivência da crítica literária, para não perder  seu  campo  de  ação, deve, como já tem sido  feito,  sempre constituir  um   trabalho coletivo,  de  conjunto, i.e.,  quando  seu  objetivo for  mapear,  historiar, discutir e analisar  as obras literárias de um  povo.  

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

No Brasil, além da impunidade, da violência e da corrupção, agora, o ebola






                                                             Cunha e Silva Filho


                 Não é de hoje que tenho  tido notícias da doença do ebola (em Portugal, dizem ébola). Nos meados dos  anos de 1970, tinha por hábito ler uma  excelente  revista  americana de orientação   evangélica denominada  The Plain Truth,  dirigida pelo norte-americano Herbert W.  Armstrong (1892-1986), Pastor e fundador da Worldwide Church of God, autor, entre outros livros,  de    Autobiography, volume 1. Não sei se chegou a publicar um segundo volume  da obra -  fruto de sua  grande experiência e tirocínio  como   doutrinador evangélico em âmbito mundial. Naquela  época,  li inúmeros  artigos  e reportagens na mencionada  revista que já  divulgava   as ameaças e os perigos  do ebola,  doença  mortal de procedência  do Congo (hoje Zaire). A revista  tinha certo relevo  porque,  embora   de viés  religioso-doutrinário,  ela reservava um largo espaço  para  discutir temas   de alta  importância para a humanidade e em clave de discussão   aberta e despreconceituosa. Sua assinatura era gratuita, a impressão de alta qualidade e os artigos  sobre  questões internacionais  eram valiosos  para a  época. Com a morte do seu líder Armstrong, houve a decadência, até à extinção  da  The Plain Truth.
As previsões do ebola,  ao lado de outras moléstias, como a gripe aviária ou  do  frango,  tinham  fundamentos, mas é bem  pouco  provável  que  o mundo   se  preocupasse com  ela. Por outro lado, nos inícios dos anos de 1980 iria surgir  o primeiro caso   de uma doença - a AIDS -  que iria se disseminar mundialmente matando   um grande  número  de pessoas, por contato sexual,  ou por  transfusão  de sangue, com grande   perdas de vidas  para  os hemofílicos e, no Brasil,  por isso mesmo  perdemos  figuras  bem queridas,  como  Herbert de Sousa,  Henfil,  Cazuza, entre tantos  outras. O curioso  é que essas doenças,  segundo  os especialistas,  estão associadas   a contaminação   proveniente  de animais, como  o macaco e até o morcego, se não me engano,  quando   usado  para alimento   do macaco.
O vírus se propaga com  facilidade,  e, para evitá-lo,  cumpre  usar todos os recursos atuais  de que dispõe a medicina  e  fornecer à sociedade  a orientação segura  dos infectologistas sem  alarmes  exagerados. A transmissão  já passou as fronteiras dos países onde  se identificaram  as primeiras vítimas fatais.
Num mundo que se tornou pequeno e profundamente   interligado   geograficamente,   não  é de causar surpresa que a doença  transponha  as fronteiras   dos países  onde foram  identificados  indivíduos infectados  que, lamentavelmente,  chegaram  a óbitos. Já deu  sinal  de ocorrência do ebola em  países  adiantados,  como   na Espanha,  na Inglaterra,   nos Estados Unidos e, agora,  ainda em  termos de  uma suposta ocorrência   no  Brasil, onde  do Paraná,   veio a notícia de uma pessoa com alguns  sinais  da doença e que foi  encaminhada para  um centro de referência  em infectologia do Instituto  Oswaldo Cruz.
 Desta maneira,   cumpre às autoridades  sanitárias  daqui  envidar todos os esforços  no sentido  de que  um simples   caso não se   se   transforme em   muitos casos. Todo o cuidado é pouco na vigilância  atenta  dos aeroportos, portos,  fronteiras  terrestres.  
Não há ainda uma vacina  que  seja   eficiente  no tratamento  da doença, ainda que,    detectada  em tempo,   haja  recursos   de medicamentos    que possam   bloquear    os efeitos   letais    e salvar vidas. Um dos procedimentos  é isolar-se  a pessoa   infectada e bem assim   dotar as equipes médicas de    todos os cuidados  possíveis   a fim de evitar que  sejam  também  contaminadas.
Já há uma bibliografia médica  imensa  tratando    teoricamente    dessa doença letal.   Urge que  o combate  a ela seja feito   em conjunto   e em âmbito mundial, sendo para  tanto   indispensáveis ações  imediatas e contínuas  da OMS. Somos, hoje, seres globalizados,  desenvolvemos   trabalhos humanitários além-fronteiras,   como os  médicos  que  enfrentam  o alto  risco de perder a própria vida para cuidar  de  doentes   no mundo inteiro,  especialmente em   regiões africanas  de extrema pobreza e de escassos  recursos da medicina, como os heroicos  “médicos sem fronteiras,” os trabalhos de missionários   que  também  enfrentam   perigos de doenças  em regiões  em confrontos  bélicos.  Outras  organizações  internacionais, sem fins lucrativos,     pelo mundo afora,   realizam   relevantes   serviços  em defesa dos seres   humanos,  sobretudo   de crianças, que são    os mais desprotegidos   e dependem tanto da ajuda dos adultos.  
Do meu ponto de vista, o ebola  já deveria,  a esta altura de  pesquisas  mundiais,   estar  com um   vacina  eficaz  contra  o vírus.  O ser humano é imprevidente em alguns casos  onde  não deveria ser,  por exemplo,  as doenças  mortais  que  podem  se transformar em  epidemia. O mundo, através dos países ricos,  ao invés de  investir em  armas  cada vez mais  destruidoras,   deveria   se dedicar  aos avanços  no campo da  infectologia. A palavra de ordem seria  “prevenção,” e isso se aplica a todas as nações desenvolvidas e em desenvolvimento, mormente no mundo contemporâneo, no qual,  segundo já  assinalei, os contatos  dos povos   são  quase imediatos  pelas facilidades  das viagens  intercontinentais. 
O Brasil deve,  portanto,  estar  de olho atento a esse   problema de saúde pública,  principalmente para evitar  o mal maior,  o surto de   epidemia. Atenção aos responsáveis pelo Ministério da Saúde. Não se brinca com  doenças   mortais capazes de dizimar  milhares   de pessoas.        


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Será que, no Brasil, alguém merece o nosso voto?







                                              Cunha e Silva Filho



               Se política brasileira constitui uma soma de simulacros, em que as imagens dos candidatos  se constroem   graças à publicidade  enganosa,  a marqueteiros   vendilhões, a mentiras  trocadas entre candidatos e, agora,  no segundo turno,   a recomposição de candidatos que, antes   se   atacavam olho no olho  ou em  viagens  pelo  país  afora,  já começam  a  jogar seus papéis múltiplos    no ping-pong de partidos   de orientações   ideológicas  díspares e incompatíveis com os seus programas  de governo e metas a serem   atingidas  durante  seus mandatos, como  é que fica  a cabeça do eleitor sem  ponto  de apoio  seguro,  transparente, diante   de tanta   balbúrdia?
            O segundo  turno   gerou a bipolarização pronta  a vender a alma  ao diabo  desde que seja  o vencedor   dessa segunda rodada. Os antigos  inimigos  se tornam, agora,   amigos de  oportunismo porque, na peleja  renhida,  tudo vale  nas alianças feitas. Os  fundamentos   ideológicos  dos candidatos  se esfarelam,  viram   uma salada  mista,   um saco de gatos,  um samba do crioulo doido.
           No meio  desse mafuá  de  novas   combinações   estapafúrdias,   o país  continua  desatrelado das suas obrigações e compromissos  assumidos da candidata-presidente: aumento  dos preços,  novas revelações de  corrupção,  violência  calamitosa,   o estado de Santa Catarina  em  polvorosa,  com  explosões de violência,  ônibus   incendiados,  bandidos  à solta  teleguiados  por  ordens de   alto crime  cujas decisões  partem  dos presídios. O país está em baixa,  política, moral  e eticamente.  Até  os  eleitores menos instruídos  que, porém,  têm   experiência da vida e dos homens, me  dizem   em conversas  na  rua  que   o país  vai  mal,  que ninguém  acredita mais em  políticos  nem  em melhorias para a Nação,  que estão decepcionados  com  todos e tudo  que  traz o sinete  do que  chamam de política.
           A crise  política  é de  ordem  ética,  de falta  de confiança nos nossos homens  públicos. Vejam-se alguns candidatos  reeleitos para  a Câmara dos Deputados ou para o Senado.  Vejam que os mais  bem  votados   nada podem  representar   de útil  ao país; são oportunistas  que,  por  pertencerem  à mídia  cultural,  são feitos   deputados e senadores. O pior: esses candidatos, durante  os mandatos   anteriores,   nada  fizeram  pelos  seus estados. Fizeram, sim,   para si  mesmos, ou seja,  para se   beneficiarem  das condições de marajás – condições  estas   que  não mudaram  desde os tempos   do Collor que,  por sinal,   foi  eleito  senador.
                   Transformamos a eleição  num  espetáculo  circense, no qual os eleitores  estão  presentes ao voto  para  se divertirem   com o próprio  cinismo  e falta   de auto-respeito.
        Não vejo  o voto nulo,  o  voto em branco  como  falta  de  atitude  cidadã.  Esse comportamento do eleitorado  tem sua razão de  ser: ele  espelha  a náusea que  cada um sente  pelo que  está  vendo acontecer no país. Ele sabe que,   ao se eleger  um   político para defender os   direitos  e  atender   aos anseios  da sociedade,  nada se concretiza das promessas   falaciosas  do que afirmou  na campanha.  Foram palavras ocas,  sem substância,  sem  o peso da verdade.
       Essa postura negativista  do eleitorado  é um sinal de alerta  ao sistema democrático  que, assim,  é posto  em dúvida  no que concerne à sua  validade. Quando  o embuste,  a mentira,  a falsidade,  e mormente  o cinismo   se tornam  moeda corrente entre  quem   abraça   a política  por  oportunismo   e interesses pessoais,  o nível de   ceticismo,  de  descrença do eleitorado   ascende  a proporções  alarmantes e perigosas  para   os alicerces da democracia  e se torna  presa fácil  para o arrivismo populista  ou messiânico, ou senão para  lançar os incautos  à fogueira  dos  regimes  de força  de triste  memória,  não só no Brasil como em outros  países.
Não se pense  que as manifestações –  compreenda-se, as pacíficas -  do ano  passado  contra   os erros da  política  brasileira, contra a corrupção  e outros  males nacionais foram  em vão. O  futuro  governante   da Nação  não pode nem deve subestimá-las. Elas  permanecem como um vulcão   pronto a entrar em  erupção novamente e com mais  poder de  força caso  não sejam   solucionados  os  graves  problemas   do país.
 O “homem cordial”  brasileiro tem suas complacências,  seu   lado  pacífico  e  ordeiro, mas,  se sentir   aviltado,  esbulhado em suas  justas  reivindicações,    saberá como agir sem violência nem depredações,  mas com a  firmeza  da massa  indignada contra os desmandos  do poder   arbitrário. E o mesmo vale para  todos  os  três poderes constituídos.   Lembrem-se os futuros governantes que  o mero  fato de  conquistar mandatos  políticos  não  lhes faculta    o  uso  do autoritarismo,  da prepotência,   da  enganosa  ilusão que, no exercício do poder,  possa arvorar-se  em   donos” do poder. A soberania  da nação  é apanágio  do  povo, não  de   políticos   de plantão.
O merecimento de nosso  voto  está  em estreita dependência  dos valores  morais, da integridade , competência  e do  real  desejo de os políticos   propiciarem  o bem-estar da   sociedade.

  



segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Memórias da infância de um estudante


                                                   


                         Cunha  e Silva Filho


         Havia aquela merenda deliciosa composta mais de frutas (a  melancia que gostosura,  doce e fresca!) enviada  por mamãe  toda manhã à hora do  recreio, ansiosamente   esperada  todos os dias  de  aula. Era uma empregada de mamãe que ia levá-la.
       Da aula em si, da professora, do colegas,   pouco  me  lembro. Creio que nunca era boa a aula em si,  e a criança  ficava ansiosa por  voltar  pra casa,  que ficava no   Centro de Teresina, pertinho da Praça João Luiz Ferreira, aquela  onde  ficava o único prédio  mais alto na época,  em  Teresina, conhecido geralmente como  o  Instituto.  Suava  pra   passar o tempo do turno da manhã na escola primária  Demóstenes  Avelino, do professor Felismino  Weser.O sobrenome  do diretor   sempre   me dava   a sensação  de que era um   estrangeiro.
       A parte do primário   ficava numa ala  de lado que dava pra   rua em subida.Quando vinha de casa com meus irmãos Sonia e Winston,  tinha que  subir aquela rua  meio  íngreme. O professor Felismino Weser teve um filho  com grande  vocação  poética, mas que  faleceu  precocemente. Nem mesmo  me lembro  se eu  já  estava sabendo ler.Vem-me à  lembrança  o  problema   enfrentado  pelo  grande sociólogo  Gilberto Freyre  um caso quase perdido  nos  primeiros tempos  de  vida escolar. 
      Ao contrário  do meu tempo  de  ginásio,  nunca fui um estudante   feliz nos primeiros anos  escolares. Era curioso como eu e meus irmãos   trocávamos  de escola, até parecendo  uma daquelas advertências   que constavam  no preâmbulo da  minha  primeira versão da  Carteira Profissional,  com data de fevereiro de 1964,  tirada justamente no  prédio  do Instituto e  que, à falta de outra  palavra,  me dava como  profissão  a de comerciário, coisa que jamais   entrou nos meus  planos  de    ter como  atividade profissional,  visto  que queria mesmo   era ver  preenchida à mão, no espaço de  “profissão,” a de "jornalista” (imagine, a ousadia de um   jovem  que mal completara   dezoito anos e só porque já tinha  publicado, em jornais   de Teresina,   alguns  artigos  juvenis sobre literatura).
      Um escritor  piauiense, J. Miguel de Matos, autor  de um     romance que, à época, havia lido chamado  Brás da Santina,  por  sinal,  se encontrava no Instituto e, vendo a minha  pretensão  de que,  na carteira,   fosse  colocado  “jornalista,”  chegou a  falar sem muita energia: “Ele merece.”    
      A insinuada advertência   fala de dois  perfis   de profissional, alguém  que, na carteira assinada,   demonstra ter sido  constante  num determinado  emprego e outro que se compararia a uma  “abelha,”   i.e., alguém  que  não  parava  nas fábricas   por onde andou  trabalhando, daí a  metáfora da “abelha” Veja-se a conotação que  imprime  o autor do texto,   de nome Alexandre  Marcondes Filho, a qual está  intimamente  ligada  à atividade do operário. O tom  burocrático   do  texto é bem  explícito  na sua intenção  de ser a Carteira Profissional  um  instrumento de  identidade e de  recomendação,  boa ou  negativa,  a um eventual   patrão  ou empregador  privado  ou  público. Tanto é que,  a nova Carteira Profissional  que   tirei no Rio de Janeiro, em 1971,  ainda   repete aquele  texto  de advertência de Alexandre  Marcondes  Filho. 
            Retomando  o núcleo  deste artigo,   devo  reafirmar   que o meu  período  de  estudos  primários   foi  bem confuso,  bem  mutável.  Não  gostava de nenhum lugar  por onde   transitei  como  nômade acompanhado de meus  irmãos  já mencionados.
            Tampouco sei   por que  houve tantas mudanças. Tempos depois, já no ginásio e muito feliz, por sinal, jamais levantei esse assunto com meu  pai, com quem  confidenciava  com muita frequência  em seu  quarto-biblioteca – quarto  que teve   um relevo  especial   pra minha  formação    de adolescente  chegado  a leituras  e  aos estudos  das minhas  áreas  preferidas, de resto  passagem de minha vida já  narrada tendo como   cenário doméstico  meu  pai sentado na rede e    eu, ao pé dele,  com um pente  passando-lhe  pela parte  superior  da cabeça  que começava a ficar  grisalha.
         Nas minhas reminiscências da infância, há esse gap   de entendimento e percepção  sobre  como  se processou   a minha formação de leitura,  de domínio  dessa competência.  Creio,  por outro lado,  que ela está  muito   conexionda   ao aprendizagem da leitura,  a qual pode ser por  deficiências  minhas como  provavelmente   pode ter origem na timidez  que,   em  assuntos   de  estudos,  tanto me atrapalhou.
         Infiro  que talvez tenha sido   ainda  por falta   de   tato  pedagógico-didático  de professoras   que cuidaram  de mim, das quais não  tenho  boas lembranças do tipo   que a maioria das pessoas    definem, com justiça,   com muito  carinho e afeto: “Oh, minha  querida!  professora primária!” de nome  tal. Comigo não houve isso,  o que me sobrou de relembrança  me  remete a certas passagens de Graciliano Ramos   com  respeito  aos seus  pais e, assim,  não  diretamente   relacionadas aos estudos.  
Em compensação,   quando fui  estudar  no Domício(nome famoso e  popular  pelo qual ficou  conhecido o Ginásio "Des. Antonio Costa," em Teresina, Piauí),   acompanhado   ainda pelos meus  dois  irmãos,   Sonia e Winston,   e ainda  cursando  o primário,  houve uma  repentina  mudança   de minha visão   da escola. Ainda  não  era  aquela que experimentei ao cursar o  período  preparatório  do admissão ao ginásio, cujos   exames me proporcionaram momentos profundas    de contentamento  e de alegria  de  estar  de bem com os  estudos  e com a vontade   incoercível e  prosseguir meus estudos  ginasianos.
         Portanto,  foi no ginásio   que me encontrei  com  a magia  dos estudos, das leituras, da vontade  de abrir  tantos  caminhos     do meu  universo   mental.  E tudo isso,  como  já   relatei  em  outros textos meus,   graças   ao período de quatro anos   do  Domício. Lá aprendi  a  amar  todas as disciplinas, especialmente,  a leitura  de autores  brasileiros e  portugueses, a gramática da minha língua, o estudo   da sintaxe portuguesa,    de  me aplicar  ao  estudos do inglês, do francês, do latim.
        Aprendi, sim, no ginásio,   a ser aluno exemplar, a amar meus  mestres queridos, a sentir  o  prazer inefável  de  estar na   escola, de conviver com  alguns tão bons  companheiros de classe, muitos dos quais devem  estar ainda vivos  por lugares  do Piauí  ou em terras   diversas. Descobri, um dia, que  estava lendo em inglês e francês naquela sempre lembrada biblioteca-quarto de meu  pai, onde me  escondia   solitariamente  longe  do “burburinho das ruas.”  Foi no ginásio, que para Olavo Bilac, era o período mais importante da aprendizagem  do adolescente,  que me preparei  para os complexos  e longos    estudos, de leitura e do exercício  da   escrita  literária, de levar os estudos a sério como se fosse ainda um  adolescente.

No entanto, a dúvida sobre  o período  obscuro  e  infeliz do primário continua  a me  martelar  a cabeça,  procurado  as razões  primeiras,   os motivos   fundos, dos quais,  quiçá, só  a psicanálise me possa indicar  alguns   caminhos de  entendimento  daquela quadra   de deambulações passageiras (até em grupo escolar)  por escolas,  do medo  de professoras,  de ausência de alegrias  e  de    sentimento    de  prazer  em   lidar com os meus  primeiros anos   de vida escolar. Esses fantasmas  ainda  retomarei   em  textos  futuros  de natureza  memorialística.