terça-feira, 26 de agosto de 2014

Winston Roosevel: um artista da escultura piauiense



                                                           Cunha e Silva Filho


           Talvez desconhecido em partes do Piauí, quiçá até na capital,  Teresina,  Winston  Roosevelt, completou,   neste mês de agosto,  setenta anos. Ele nasceu em Amarante,  em  2 de agosto de 1944.Temperamento   visceralmente  de artista,  na vida boêmia que levou  na juventude e na mocidade, um lado dele permaneceu  constante e renitente:  produzir  esculturas, trabalhar com o bronze, ou outros meios  usados  pela escultura,    dar vida  a seres, mortos ou vivos,  dependendo  do que  lhe possa chegar como  encomenda.
           Um autodidata,  que nasceu  para dar formas  à figuras  humanas,  animais ou  qualquer  que seja o objeto ou o ser criado. Formas de arte que me comovem pela perfeição  dos traços,  dos detalhes, das linhas,  do conhecimento  da  anatomia humana, da perfeição  artesanal que mãos habilíssimas   da matéria amorfa transmudam em obras de arte perduráveis, soprando  vidas a latejarem  do silêncio  da beleza  imóvel.Um grande   artista é um  observador   privilegiado  da matéria  física e da dimensão  humana. Contudo,  não se pode negar que  a escultura  é uma  arte  da qual não pode  ficar ausente a dimensão   espiritual, não puramente   por imitação dos seres que  têm ou tiveram  vida, .mas por  recriação  sob  o comando  da  ação e potencialidade do artista que detém os meios  natos  e  aperfeiçoados  pela experiência no seu ofício.
          Ninguém  lhe  ensinou a pintar,  a desenhar e sobretudo a esculpir. Tudo lhe  veio  da predisposição  inata às formas  plásticas. Desde  criança,  ainda nos primeiro anos da adolescência,  meu  irmão  Winston Roosevelt já  surpreendia a todos nós  com seus inúmeros  desenhos a carvão  de figuras  humanas  feitas  nas calçadas  ou numa simples folha  papel   num canto de um quarto das residências em que moramos nos anos  cinquenta em Teresina..
       Inteligência  incomum,  memória  grandiosa,  criatividade  para   até  inventar   textos ficcionais na memória  e que, ainda hoje,  provavelmente,   ainda  consegue   relembrar parte deles 
      Na escola,  não foi  bom aluno, queria mesmo era brincar, namorar as  belas morenas   do Ginásio  “ Des. Antonio Costa”( o “Domício,” dos irmãos  Magalhães, de saudosa  recordação). Vaguear, deambular    pelas praças  da capital,   numa vida que se aproximava   dos  pícaros espanhóis. era um traço seu. Nunca se adaptou  aos  regulamentos   dos  colégios e da  disciplina escolar. Estudou  o ginásio no Domício, do qual  foi  colega meu de turma.Ainda  se matriculou no Liceu Piauiense para cursar o científico,  mas largou  logo no primeiro ano.O que desejava mesmo  era  aventurar-se  pelas ruas de Teresina,   fazer amizades. Meus pais  é que nunca viram bem isso. A vida artística, porém,   não  deixou de lado. Creio que  sempre lhe foi a principal   meta de vida, com todas  as  dificuldades que atravessou e com todas  as possibilidades que perdeu por ser  pessoalmente  desorganizado e viver  a “dolce vita” do presente. A Arte o chamava apesar da boêmia,   das   noitadas  etílicas, dos amores   passageiros,   dos cabarés,   dos becos  ocultos  da velha  Teresina.
        Nos anos  sessenta,  esteve  por um ano no Rio de Janeiro, quando  eu já aqui  iniciava minha vida  de estudante me preparando  para a universidade.  Na grande Cidade  Maravilhosa,   Winston, como era de  se esperar,  não se adaptou,  não se firmava em  trabalhos   com rigor de horário.  Sua alma é de boêmio e suponho que ainda o seja apesar dos cabelos brancos,   do cansaço dos anos  e  de se tornar  avô  e pai de  muitos filhos.
Winston é um talento que  não teve a chance  de  se aprimorar nos grandes centros urbanos do Rio de Janeiro, São Paulo e mesmo  europeus.Talento  e engenho sempre os teve e muito. Sei  que, ao longo dos anos,  com  uma vida de dificuldades,  ainda conseguiu  produzir  um bom número de esculturas. Poderia estar economicamente bem se não  tivesse esse temperamento   dado  à boêmia, gastando  o que  tem e não tem, e, assim,  sempre ficando  em agruras  financeiras. Uma vez,  concitei os irmãos  a fim de  que pudéssemos ajudá-lo, mas  não pude  contar  com o a minha proposta. 
Talvez, se tivesse tido uma  melhor orientação   familiar,   estaria  numa posição  mais visível  no mundo artístico, mesmo   se considerarmos  só  o Piauí.
Dei-lhe  muitos conselhos em cartas para Teresina. Contudo,  o seu temperamento   artístico  é rebelde. Segue o seu próprio  impulso.Foi a sua escolha  de vida e também  o  quinhão que recebeu  de  suas próprias ações, algumas erradas, outras certas.. Ninguém nunca  haverá de entender a alma dos artistas, os seus modos  pessoais de encarar a vida,  a sua eterna  condição  de  ser um  indivíduo  diferente, não adaptável  às formalidades   da sociedade, aos seus mecanismos   ocultos, indevassáveis,  e ao mesmo  tempo  injustos.  
Só sei que  meu  mano Winston   atinge seus setenta anos e, se os meios culturais locais,  não lhe deram  maior   visibilidade e maior  destaque,  da minha parte  de simples observador da vida cultural,  não paira  dúvida alguma de que  Winston  Roosevelt  seja um  grande  artista piauiense. Sua  esculturas,  suas hermas,   suas figuras humanas ou de outra natureza, em tamanho normal,  certamente estão espalhadas em  residências ou  outros lugares de Teresina, ou mesmo  no interior  piauiense.


domingo, 24 de agosto de 2014

Fragmentos ubíquos




                                  Cunha e Silva  Filho


             A primeira notícia que me ocorre agora é a morte de um  jovem negro americano em Ferguson, cidade americana, dizem que pequena. Falam que era assaltante,  mas  isso não justifica a ação  brutal de um  policial branco que lhe dá um tiro  mortal. O incidente  me traz à mente os anos terríveis  do  racismo  americano,  as segregações  de todos os lados,  até nos  ônibus. Ao mesmo tempo,  me vem à lembrança  a luta  gloriosa de Martin Luther King, trágico herói  negro americano. Inteligente, corajoso,  determinado,  foi ele próprio  vítima  covarde de  uma bala assassina. Percebo, em  pleno   segundo mandato  do  presidente Obama,  ele mesmo um quase negro,   alguma forma  tardia de  retrocesso entre brancos e negros americanos. Negro  pobre – vale melhor  afirmar –, que  não é celebridade nem  possuidor de milhões de dólares  do capitalismo em país ainda com  sérios problemas  de  sobrevivência,   continua sendo  vítima de preconceito de alguns brancos.
        Um  outro quadro que me assusta, não nos EUA apenas,  mas no  Brasil, em São Paulo,  se não estou certo. É este: a  polícia  tende, no mundo pós-moderno,  a ser cada vez mais  poderosa no que concerne a armamentos e força de repressão. Não vejo com bons olhos tantos gastos  para  equipar-se um  “exército” de policias  com  tantos   poder de fogo, até mesmo superior  às Forças Armadas  brasileiras.  Máquina do Estado Moderno  não quer  contestações,   greves,  protestos. Seu desejo  é que o rei nu  seja  “visto” como se estivesse sempre  vestido. Nada de  manifestações, boca  calada, “não se meta nisso, que você é  coisa pequena diante  dos poderosos." Esta me parece  a voz  do diktat. Privatizou-se a privacidade. O Big Brother mantém,vigilante,  todas as portas de saída. Estamos  emparedados como  naquele texto famoso   do poeta  simbolista  brasileiro  Cruz e Sousa.(1861-1898).
       Se é que toda essa parafernália  de força é para ser empregada em  manifestações populares   contra  os erros do poder  nacional,  estadual ou   municipal,  até para  indicar que tudo isso  só serve para tornar o cidadão comum  ainda muito mais   receoso  de  reivindicar seus direitos civis, sinto arrepios  de  imagens    fantasmagóricas  de um  mundo   onde só a repressão tem lugar e nenhum direito pode ser posto em  discussão, Diante da truculência  da nova imagem   dos uniformes  de policiais,  armados até os dentes, tem-se a sensação um  remake das legiões romanas com  mil vezes mais     capacidade  de  derrotar  qualquer oposição ao diktat do Estado Moderno. Um  Leviatã com cores   nazi-fascistas. Que Deus no livre disso tudo.
     Todo esse gasto com  uniforme  policial cheirando a pólvora,   custando milhões aos cofres públicos,   poderia ser canalizado para  a  formação de jovens  com saúde moral,  cívica, patriótica  e o pensamento distante da sedução das drogas. Não estamos  precisando de  soldados   truculentos,  robotizados e gélidos. Precisamos, sim, de policiais  humanos,  valentes, corajosos, educados que,  usando da palavra firme, possam  ajudar  os desprotegidos   da tirania   do Estado  repressor. 
     Preparar  policiais  para combater  manifestantes  desarmados é tudo o que  a cidadania brasileira  repudia. Por que não  destacar  esse tipo  de  policiais  para   enfrentar  as gangs  poderosas que  andam   apavorando  todo esse  país e sobretudo  os mais   fracos?  Não é a ostentação robótica de  policiais  que  vai  mudar  a alta  violência das ruas  e dos lares  brasileiros. Constato,  contudo,  que no Ocidente e   em  países comunistas e poderosos, como a China,  a Coreia  do Norte,  não vejo  nenhuma diferença  entre o que aqui se está implantando  no tocante a  forças  policiais de alta repressão contra a sociedade.
Continuam  as guerras na Faixa de Gaza, entre  o grupo Hamas, considerado  terrorista e os  israelenses. O mundo  parece que, através de seus  organismos de  segurança  internacionais,  está de mãos atadas Já estou cansado de ouvir  tantas notícias de negociações que  não têm conduzido a quase  nada,  pois os conflitos  continuam a desafiar  a humanidade. De igual maneira,  persistem  os conflitos  no Iraque,  na Síria,  na Ucrânia, enquanto as três potências   EUA, China e Rússia se sentem desafiadas,  e enfrentando  a Rússia,  as retaliações  dos EUA e da União  Europeia  em forma de  sanções econômicas.
No Brasil, mudando o assunto,  a Propaganda Eleitoral  Gratuita mostra a sua cara em forma de  comédias de erros  e de pantomima. Nesta comédia tudo  vale: a desqualificação de grande parte dos candidatos que nos  envergonha como  país, e a forma  publicitária dos  grandes partidos  apregoando   suas ideias,   seus  feitos e suas empulhações   que, a se confiarem  nelas,  o telespectador   seria subliminarmente  levado a  estar  vivendo  no país   paradisíaco, em que tudo  está  funcionando  às mil maravilhas,  desde a educação  pública,  a saúde,  a segurança até  o bem-estar geral  da  pátria amada. Chega a ser histriônico que um candidato a presidente da República venha  a dizer que, em seu governo,  caso se eleja,  o conjunto de auxiliares  pode vir de qualquer  partido.
Ora,  como isso  pode  dar certo se  ele chamar um  comunista,  um  centrista,  um  direitista,  um anarquista para compor a unidade   político-estrutural  do seu governo? Alega o candidato  que  o importante é que  o convidado  a exercer uma função relevante seja  pessoa preparada. Ora, se isso fosse  possível,  então o seu programa de governo  não teria uma marca  própria, seria um baú de  tudo,  do bom e do ruim, o que tornaria   seu governo  uma colcha de retalho. Ainda por cima, cumpre  assinalar que nem  todos os  que são competentes são moralmente   recomendáveis  a cargos  públicos. Em resumo,  o eleitor está tão  perdido  no meio de  coligações  disparatadas com  diferentes   orientações   ideológicas que, ao chegar às urnas, será acometido  de  confusão mental. 
Em meio a tantas  notícias  desagradáveis que tenho ouvido aqui e no exterior,  meu  único refúgio, ainda  que  por  alguns instantes diários, é a literatura,o ler e o escrever,  os estudos de línguas que faço   para   aperfeiçoar-me  até onde possa a fim de não  as esquecer,  o convívio  com a minha família, alguns poucos amigos, dar uma passeio e  tocar a vida que  ainda me    sobra...


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

BRASIL'S OVERVIEW CORNER: The United States, its people and foreign policy


 [A Portuguese translation of this article is found at the  end of the  English   text]



                                                     By  Cunha  e Silva Filho
 

         One has to distinguish  between  American  society from  its  government and its   political  institutions, i.e., one should never blame the people themselves   for whatever  bad action is  taken  by  their government. It is difficult  to  see any logical  connection   between a President of  a great nation  with remarkable historical   founding fathers and  at least the last  three  Presidents that have  ruled the nation, being that the  current one is a winner of  a Nobel Peace Prize. Only  Barack  Obama’s  sheer condition  of  being the holder  of a Nobel Peace  Prize is enough  to  regret  what  his government   is doing   in terms  of  foreign  policy.  In spite of   the  fact that he is  the commander-in-chief of  the  country, one cannot  accept  at all  that  his  government  allows  furnishing Israel  with  a great deal of  powerful   deadly  weapons that will  be used  against    the  Palestinians  living  in Gaza Strip. That is in   utter  disagreement  with  the  function   Obama   is  entrusted with.
 If he really  wants  to give  evidences of deserving the  status of a true  statesman, he  should  never   permit  his country to send  weapons which,    even to an allied nation, will certainly  be the  cause of  hundreds of  innocents  killed in  the  territory of  Gaza. Moreover,   this   attitude   is   not worthy  of  a  Nobel  Prize  winner. Rather,  it  sounds as if  the  American  President  were  endorsing all the atrocities   done by  Israel Armed Forces in the conflict  with  Palestinians.
Thus,  Obama’s  government  is not  acting   correctly, but  far otherwise,   he is  contributing to the  declining  position  of  a country  that in the  past  counted upon brilliant    men such as Lincoln,  Washington, Thomas Jefferson,  Benjamin Franklin, Franklin  Delano  Roosevelt,  Martin  Luther King. Of course,  Obama  does not  want  to  spoil the  old good  revered image of  the United States. Therefore,  it is in his hands  to  show  the world’s nations  that  his country  will not   be co-responsible for   high levels tolls of  children’s   deaths in  Gaza Strip. He has to   draw up a peace  plan    to  change   his strategies. In other words,  he should  rather endeavor to take steps  towards achieving  a lasting   truce  in the  Palestinian-Israeli   conflict.. Only by  shifting  his  strategies  would  he  help both  Israel and  Gaza Strip.
The international   Community   can no longer  stand  watching so much  bloodshed unworthy of   our times and our  condition  of supposedly  educated and  civilized human beings.  Several non-profit world institutions  havae   the scope  to  look for  ways to  avoid  wars and  instead  striving  for  peace by doing their best to  achieve their aims along these lines. For sure, the  UN and  other  instances of world  power have  worked  so as to   find  ways  to solve  the conflict  through  peaceful  men, i.e.,  through  conversations   and  planned  meetings carried out  by  representatives of  both sides  of  the war.
However,  organisms  of world   security, have   not yet taken  so far  a   decisive step   towards solving  the Palestinians-Israelis conflict. I guess   all is not  lost: there must be a way out to come to an  agreement  involving  both  sides and, to  achieve it  is by no  means   through  one of the   ways  used by   Obama’s government: by  selling or sen ding  weapons  to  Israel government. Actually,  this is the  wrong  manner of  tackling this   important   issue.
If the USA   wants  peace among the two  opposing  peoples, Obama    should   stop sending  successive  amounts of  lethal  arms  to  strengthen  Israeli military forces. By the way,    the   role played  by  International  Amnesty organization, including its branch  located in  Brazil.  is not only to denounce wrongdoings by any nation, but also to look for ways to reach peace and help unprotected  people  around the  world. 
Should USA go on behaving   diplomatically   like this,    Abe  Lincoln’s leading  nation will surely   gain  growing  unpopularity and even  hatred   of  several  world nations. So, Obama knows  that  his  political   positions for foreign affairs leaves much to be desired  as it follows a wrong  direction that will only  harm him as President both  in the USA and abroad.
Rest assured that   this columnist is not   advocating   only the side of  the  Palestinians. I can   understand  Hamas’   group warlike strategies should be changed too, and this could only be  attained  by putting aside  any terroristic  trace   this armed  group   has been  known  for. Their  stance  must be  changed  into  norms of  political  positions  in  dealing with  Israel. In other words,  Hamas should   strive for conquering their  rights  and  territory  through  frank dialogs with  the  opposed side in such a way  that  they  end by  having  their  claims accepted by Israel government. On the other side,  Israel  must stop  killing  innocents  from  Gaza. If we   counted  the fatal victims  from the side of  Gaza,  we would  easily see that the    toll is  disproportional  in relation  to the Gaza victims,  chiefly children and civilians. .If we also  take into account casualties numbers,   armed  men  deaths toll from  Gaza are far  superior to those from Israel. The same holds true for wounded ones.
Countries  that  maintain  diplomatic  relations with  the  USA  should try to  persuade  the USA government,  at  meetings  held in the UN, to give up  arming more and more  Israel to fight  Palestinians. No one would say  the conflict is a simple  problem  to  solve, but it is  quite  reasonable  to  understand  that there are  concrete possibilities  for both sides  to come to   feasible compromise. It all depends on not being  too insensitive  to pave the  way   for  the desired  peace. Consider a good example here in  Brazil where immigrants Arabs and Jews get along very well and so  with no  conflicts  whatsoever between   them. Such   an example should be followed in  the Middle  West. After all, we are   humans,   beings endowed with   intelligence and  reasoning, therefore,  people  able to   live in harmony and  independence, wiping out  for ever  ethnic   hatred.
By  continuing fighting   each other,  both sides   will only  lose  as far as  devastations are concerned: cities  destruction,   the high financial  cost  of  a lasting   war,  deaths, mutilated  people,   historical  patrimony and, above all, an absence of a  peaceful living.
A final question: is it   possible   to   reach  the  goals leading  to peace? Yes,  it is quite  possible. Should we prioritize  humanitarian  reasons, that would undoubtedly be  a first great  step ahead. Nevertheless,  should  this  suggestion  be   discarded, I am  certain  that  these  conflicting   peoples  shall never have a deserved and definitive  peace.
If  I addressed a heart-felt  message to the President of  the United States, I would  not hesitate  to recommend  him this piece of advice: stop  sending  heavy deadly  weapons to Israel if you wish to   justify  your  receiving the Nobel Peace Prize Award in 2009 together  with Thorbjorn Jagland.




Os Estados Unidos: seu povo e sua política internacional

                                                      Cunha e Silva Filho


Deve-se  distinguir a sociedade americana  do seu governo e de suas instituições  políticas, ou seja,  não se deve nunca  pôr a culpa no povo por quaisquer que sejam  as  ações tomadas  pelo seu governo. Difícil  é ver alguma  relação  lógica entre um Presidente de uma grande nação  construída  pelo brilho de  seus  pais fundadores e pelo menos  os três últimos  presidentes que a governaram, sendo que o atual é um detentor de um Prêmio Nobel da Paz.Só que  a  simples condição de Barack Obama como  ganhador de uma Nobel da Paz é suficiente para lamentarmos  o que seu  governo  anda fazendo no que  respeita à sua política externa. A despeito de ser o comandante-em-chefe do seu  país, não se pode aceitar absolutamente  que seu  governo  permita suprir  Israel de uma  grande quantidade  de  poderosos  armamentos mortíferos  a ser empregado contra os palestinos da Faixa de Gaza. Essa atitude está  inteiramente  em  desacordo com  a função  que lhe  é  atribuída  ao cargo.
Se na realidade  ele  quiser  dar demonstrações   de que é merecedor  do status de um verdadeiro estadista,  ele jamais  deveria   consentir que seu país  enviasse  armas, mesmo a uma nação  aliada, que viesse  provocar  a morte de centenas  de inocentes no território de Gaza. Além disso,  esta atitude não é digna de um  ganhador de  um  Nobel da Paz. Pelo contrário,  o  Presidente americano  nos ´dá  a impressão de que avaliza   todas as atrocidades  perpetradas pelas Forças Armadas  israelenses no conflito com os  palestinos.
Desta forma,  o governo de Obama não  está  agindo  certo, mas muito ao contrário,  está  contribuindo  para a posição  de declínio de um país que, no passado,  já contou  com  homens  brilhantes como  Lincoln, Washington, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin,  Franklin    Delano  Roosevelt, Martin Luther King, entre outros. Obama não  desejaria  macular a velha e boa imagem  do passado  americano. Portanto,  a ele caberá  mostrar às nações do mundo que seu país  não irá  ser co-responsável pelos altos índices de mortes  de crianças na Faixa de Gaza. A ele  cabe  formular um plano de paz a fim de  mudar as estratégias que vem  empregando. Em outras palavras,   antes deveria   esforçar-se para tomar medidas  em direção  a uma  trégua  duradoura no conflito. Somente alterando  suas  estratégias ele estaria  colaborando com os dois lados..
A Comunidade  Internacional não suporta mais  assistir a tanto derramamento de sangue,  algo  indigno  para os  tempos  atuais e para a nossa condição  de seres  humanos  instruídos e civilizados. Várias instituições mundiais  não-lucrativas, têm finalidade   procurar meios  de evitar  guerras e,  tanto quanto possível,  envidar  esforços na direção  da paz. Obviamente,  as Nações Unidas e outras  instâncias mundiais do poder têm  trabalhado de modo a  solucionar  o conflito através de meios pacíficos, i.e., através de  conversações e reuniões   programadas  conduzidas  por representantes  de ambos os lados  da guerra.
Todavia, até agora nenhuma medida decisiva  de organismos  mundiais de segurança  foi tomada com vistas a solucionar  o conflito  palestino-israelense. Creio  que nem tudo está perdido: deve haver uma saída  para se chegar a um acordo satisfatório  a ambos  os lados e,  para  consegui-lo, não é certamente  através dos expedientes  utilizados  pelo governo de Obama: vendendo ou  enviando armas  a Israel. Na realidade,  este é um modo  equivocado de  enfrentar  esta  questão  relevante.
Se os EUA desejarem paz entre os dois  povos, cumpriria  a Obama parar de  enviar  sucessivas  quantidades de armas letais a fim de fortalecer os  israelenses militarmente. Por sinal,    o papel desempenhado  pela    Anistia Internacional, inclusive sua  representação no  Brasil, é  o de denunciar malfeitos praticados por quaisquer nações, assim como  procurar  caminhos   que levem à paz e ajudar  pessoas  desprotegidas no mundo  todo. 
No caso de os EUA prosseguirem  nessa linha  diplomática, a influente  nação  de Abe Lincoln com certeza tornar-se-á ainda mais  impopular e será  vítima do ódio de várias nações do mundo.Por conseguinte,  Obama tem consciência de que sua  posição política para assuntos   estrangeiros deixa muito a desejar já que segue uma  direção  errônea que apenas  o prejudicará como  Presidente tanto no EUA quanto no  exterior.
Que fique claro   ser a posição  deste colunista a de não defender apenas o lado palestino. Posso entender que  as estratégias belicosas  do grupo Hamas devem ser  modificadas  igualmente, e isso somente  poderia  ser  concretizado caso  este grupo armado colocasse de lado seu  traço  terrorista pelo qual ficou  conhecido. Esta postura deve ser alterada  para  posições  políticas em lidar com os israelenses. Em outras palavras,  o  Hamas deveria esforçar-se para  conquistar seus direitos e território através de diálogos  francos com os seus opositores de tal sorte que suas reivindicações  sejam  aceitas  pelo governo de Israel. Por outro lado,  Israel  deve  deixar de  assassinar  inocentes de Gaza. Se contássemos as vítimas  fatais  do lado de Gaza,  facilmente  veríamos  que a estatística é  muito desproporcional em  relação às vítimas de Gaza, sobretudo em número de crianças e civis. Se da mesma forma  levarmos em conta as baixas militares, as vítimas  de Gaza são muitíssimo  superiores às de Israel. O mesmo  raciocínio  serviria para o número de feridos.
Países que  mantêm  relações diplomáticas  com  os EUA deveriam  procurar  persuadir  o governo americano, em  reuniões  das Nações Unidas, a desistirem  de armar cada vez mais  Israel. Ninguém  diria que  o conflito é fácil de ser  contornado, mas é bem razoável  entender que  há  possibilidades  concretas para ambos os lados  chegarem  a acordos  exequíveis. Tudo depende de maior sensibilidade a fim de pavimentar  um caminho em direção  à paz ansiada. Veja-se o  o bom exemplo no Brasil onde imigrantes árabes e judeus convivem em harmonia, sem  quaisquer conflitos entre si. Esse exemplo deveria ser   imitado no Oriente Médio. Afinal de contas,  somos  humanos, seres  dotados de inteligência e razão, por conseguinte,   pessoas capazes  de viver em  harmonia   e independência, apagando para sempre  o ódio  étnico.
A continuarem se  digladiando, ambas as partes somente  terão prejuízos e devastações: cidades arrasadas,  alto custo  financeiro devido  a uma  combate  duradouro, mortes, gente mutilada,  patrimônio histórico  perdido, e, acima de tudo,   a ausência de uma  existência  em paz.
      Uma pergunta final: é  possível atingir os objetivos que conduzem  à paz? Sim, é bem possível. Se   colocássemos  as prioridades nos motivos humanitários, isso  sem dúvida seria o primeiro  grande  passo dado. No entanto,  na hipótese de  descartarmos   esta recomendação,  tenho  certeza de que estes povos  em    conflito não hão de  merecer  uma paz  definitiva.
    Se tivesse que me dirigir de coração aberto ao  Presidente dos  Estados Unidos, não hesitaria em dar-lhe um  conselho:  elimine a remessa  de armas  pesadas e mortais a Israel se desejar  fazer jus  ao Prêmio Nobel da Paz que lhe foi  concedido, juntamente  com  Thorbjon Jagland, em 2009.
.


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A vida é breve, a leitura é longa

Cunha e Silva Filho


 A respeito desta  outra edição Flip, realizada  em Parati, Rio de Janeiro,  li que alguns escritores que  delas têm participado  andam se queixando e com razão de que em geral  o que mais   está ficando evidente  é que o público  tem   dado mais  atenção,  não  à leitura   dos  livros  que estão sendo  lançados  por ocasião  do Festival Cultural, mas  ao espetáculo  em si  rodeando  as figuras de autores,  suas performances de bom  expositor  ou sua  facilidade de   seduzir  com suas palestras  ou  falas  o auditório, pois este está mais   estimulado a  ouvir  o que  dizem sobre  literatura,  sobre  os processos  criativos de escrever  um romance ou  um livro  de poesia  do que  comprar  e  desejar    ler  mesmo  as obras  ali  exibidas  de autores  nacionais e   estrangeiros.
Dois deles, pelo menos,  sinalizaram com essa  mesma   queixa dando a entender que estão cansados de desempenhar mais  o papel  de  expositores  ou  de exibir seus dotes  de  captar a  atenção do público do que de  levarem    este  à efetiva  leitura dos livros comentados.Em outras  palavras,  o que tais autores  deixam escapar é que falar sobre a sua obra  ou sua   técnica  narrativa  já está  se tornando  cansativo. Eu aproveito  estas dicas  para  afirmar  que os autores  que  pensam assim   estão  com razão .
 E mais:  não acho que  relatar   as  próprias     formas  de compor  uma  obra de ficção ou de  fazer  poemas possa  ser tão útil  assim  a qualquer  leitor, inclusive  até   sou  levado a  pensar  que os próprios escritores  talvez, em muitos   casos,  não  gostem  de confessar  em público  sobre seus  “processos de criação   ficcional.”   Há certos aspectos   da criação  literária  que o autor   guarda para si  mesmo, como  uma  espécie  de segredo  íntimo,   inconfessável,   que não conviria   revelar. No entanto, da parte de um determinado público constitui sempre uma grande curiosidade  saber  como  se origina   mesmo  uma  obra  literária, como se  desejasse  com isso    aproveitar-se   das lições dos  criadores   algumas centelhas de    vias de acesso  ao  por vezes  denominado   “mistério” da   criação   ou do imaginário   que  serviriam   a potenciais  candidatos  a escritores.
Caberia lembrar  aqui  a definição de “poeta” nos  já famosos   versos   de Fernando  Pessoa de  que  o  poeta é um ‘fingidor,”  que se estenderia  não só à poesia  mas  também a todos os gêneros  literários que   trabalham  com  a arte da palavra   na sua  expressão  estético-criativa.
Do que concluí dos desabafos  dos escritores – e vale destacar – todos  eles  das novas gerações  foi o seguinte:  todos  indistintamente   aspiram a  ver as pessoas  lendo as obras  e não  se preocupando  apenas com   o lado  edulcorado  ou  o charme  das apresentações   de autores  que  enfrentam  um público ávido   da, diga-se assim,   espetacularidade   do evento  literário   e não  da necessidade de  conhecer   o que  os novos livros   exibidos  nas feiras  contêm  de  conhecimento  da vida e dos homens, i.e.,  das questões colocadas para discussão  no  que concerne aos  desafios do mundo social, da História da humanidade, das condições  de vida de um povo, dos seus anseios  e dificuldades,   vistos no seu espaço  regional  ou universal, não importa.
Ler as obras me parece  ser  o nó  górdio das preocupações dos autores.  Fazer  as pessoas lerem  o que escrevem  , eis  , a meu ver,   toda a inquietação   desses autores. Alguns deles  chegam mesmo   a pensar  em dar  algum  tempo  a tais eventos  a fim de  que  possam,   por assim dizer,   afastar-se um pouco  dessa  forma  superficial  de  estar sempre   disponível  a fazer  o papel  de celebridade, de justificar  sua condição de autor,  de  revelar  sua  fórmula  individual  de   produzir obras. Aquela antiga “aura” que  distinguia  as obras  literárias  ou  de outra  natureza artística, que se  desfez  na era da “reprodutibilidade técnica"  de que  fala o crítico e filósofo alemão Walter  Benjamin (1892-1940), já atingiu  seu  ponto mais   alto  de exaustão com todas as consequências   boas ou más.
Não é  que esteja  advogando  a volta à torre de marfim de tempos  envelhecidos e inatuais.
 Contudo  um pouco de reclusão  voluntária  e saudável  com  o  objetivo de  repensar  novas  investidas no campo da  criação literária, seja  em  experiências   inovadoras de construção   ficcional,  poética ou  dramatúrgica, seja no adensamento  de novos  temas a serem  explorados, faz-se  necessária  e imperiosa sob pena de  se transformar  a  figura do escritor  em mero  “entertainer” de auditórios  aficionados  do fetiche da compra ou por vezes da  simples   frivolidade como forma de derivativo socialesco sem  compromisso  com o  efetivo   ato de abrir uma  livro comprado  e  fruir  o prazer  democrático  proveniente  de sua leitura como   insuperável forma  de  conhecimento, de formação  crítica  e aperfeiçoamento  cultural.    

Se esses novos autores  andam assim pensando   é porque   a experiência   que  os festivais tem lhes  ensinado já deu demonstração de que  algo de  inovador  deve ser  feito  para que   o verdadeiro   compromisso   dos escritores, que é fazer  aumentar  o número  de leitores e assim  dinamizar o processo  de leitura  como  hábito a ser adquirido  o mais cedo  possível  e mantido ao longo da  vida  de cada um. Se objetivos   desta  natureza  forem  alcançados, ganharão os autores  profissionais, ganharão  os editores e os livreiros, e o livro, mesmo tendo  perdido  sua  “aura,” continuará  exercendo a sua função   precípua: a de fazer  circular  o conhecimento não apenas no país  mas também  ganhando  o mercado  exterior, tornando a . literatura  brasileira mais  conhecida e, quem sabe,  mais  apreciada em âmbito mundial.   

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O que o governo federal deixou de fazer para o bem do povo








                                                       Cunha e Silva Filho

         Estamos quase em plena campanha pela corrida presidencial  no país. Os candidatos  mais   conhecidos e com maior  índice  nas pesquisas  de  eleitores não irão perder  oportunidades de levantar  questões   urgentes  para   tornar a vida do brasileiro menos dolorosa em alguns aspectos cruciais: violência,  saúde (pública  e privada), transporte, educação.   De propósito,   a ordem  em que  essas questões prioritárias  aqui são  mencionadas se refere ao descaso   com que  vêm sendo  tratadas  pelo  governo da  Presidente Dilma Rousseff.  Por outro lado,  é de se assinalar a  posição   privilegiada da candidata  à reeleição nos índices  de  aprovação   do  povo.
Claro  é que,  estando   no  primeiro lugar    na preferência das pesquisas, há um  contradição que  é preciso  elucidar: o grande   número de eleitores da Sra. Dilma Rousseff faz parte  dos que são beneficiados  pelo  programa   social do  Bolsa Família, reforçado  pelo    nível   de   consciência  política   do povo brasileiro,  que é baixíssimo, sobretudo no  interior do país, de Norte a Sul, mas em particular no  Nordeste. Esse  é o grande  trunfo   da atual   Presidente  a despeito  de todas  as mazelas que  continuam  castigando  os brasileiros  na  sua  totalidade,   ou seja,  considerando  os níveis  sociais mais baixos.se excetuarmos a questão da criminalidade, a qual  afeta igualmente as classes mais elevadas. 
A arraia-miúda não quer saber  se houve mensalão,  se foram   bem  julgados seus responsáveis, se há outros  escândalos  ainda  entranhados no seio  da administração  pública  brasileira. O povão quer mesmo  é  se assegurar de que o país  ainda  tem   futebol, praia, mulheres  bonitas,  samba,  baile funk, rap, carnaval e outros   derivativos  para  as suas deficiências   de cidadania.  Quer dizer,  se não  falta   esse lado  hedonista,   o país vai andando  com pernas   bambas, mas ainda  assim satisfeito e até esquece  que os hospitais públicos   estão arrasados, que os ônibus  são  armas  mortais,  que  a escola pública   é feita  só   para  pobres e, de forma  geral, é  deficiente.O populacho  não  quer saber se o governo  é da direita, da esquerda  ou de qualquer  outras     orientação  ideológica.
Enquanto isso, as elites, em cada  estado  brasileiro,    vivendo  do melhor,   nas grandes  festas, nos  melhores hotéis,  nas viagens  ao exterior,  com seus saldos  bancários  sem limites   de saque  pouco  estão se lixando  para o zé-povinho que,  desde tempos imemoriais, desde o   Brasil Colônia, nos dois  impérios e nas fases  diferentes da República,  sofre  na cabeça e no corpo  e teima em ser  subserviente  ao poder   instituído.As classes dominantes  quase nada se  diferenciam  entre si e em qualquer  parte do mundo.
Agora,  um  problema  de alta prioridade  está desafiando  os potentados e o resto da  população  brasileira: a a violência  desenfreada que não livra ricos, pobres  e miseráveis, numa  grau de  epidemia   que se   alastra pelo  país afora, tanto nas capitais quanto nas cidades. De outra parte,  os  órgãos de segurança   não estão dando conta    desse  descontrole  de agressividade  que campeia entre nós. Arrisco-me a afirmar que  o nosso  país  é, em certos aspectos da  criminalidade,  o mais violento do mundo e é voz corrente que,  se no Brasil,  não temos  ainda  guerra civil,  as estatísticas de assassínios são  de longe  bem superiores  a países em  guerras civis. Isso é monstruoso, e monstruoso principalmente se  levarmos em conta  que  os criminosos  não  têm  respeito mais  pela  polícia, pelas autoridades de segurança, pelas forças armadas.
O pior é que  a criminalidade aqui, que ceifa inocentes,  jovens,  crianças, adultos e  idosos, ainda conta com  um  grande  auxílio dentro das própria  estrutura   da legislação penal  brasileira: a impunidade. Ora,  sabendo alguém  que, se cometer um  crime,  do mais leve ao mais  abjeto,  não  é  punido com  a força da Lei,  a cultura do crime  se fortalece,  tem seu   vasto campo livre para comprar armas  de países   fronteiriços  sem que  as autoridades  brasileiras  do setor de  segurança  tomem  posições   rigorosas  contra  os  malfeitores.
Num país como  o nosso  com  instituições já criadas pelos sistemas democráticos e em funcionamento,  é muito estranho que as soluções para  a escalada da violência  diuturna  no país nunca  se configurem  de modo  eficiente e não produzam resultados  duradouros.  É preciso ainda   acentuar  um outro  tipo de crime deletério  e abominável: o do enriquecimento  ilícito, aquele  proveniente  de superfaturamentos,  de propina, de licitações  fajutas,  de formação de quadrilhas de colarinho branco. 
 Por exemplo, durante  todo  o período  do governo  Lula  e da sua sucessora, o que se tem visto é  amais despudorada  sequência  de   denúncias contra  gente ligada ao poder  político atual. Tem-se, assim, a impressão de  que nosso  homens  públicos  em geral  são formados  de   gente  sem caráter  e lapidado  com cinismo   sem  limites,  ou seja,  cometem   desídias envolvendo  dinheiro   do Erário Público  como se fossem  criminosos   explodindo  caixas eletrônicos em todos os rincões do país, notadamente, agora,  em cidades   do interior.  
Ora,  a se manter  uma situação   de imoralidade administrativa, em vários setores  do governo federal  e dos governos estaduais e municipais, agravada  com atos de vilania  administrativa  além-fronteiras (caso da  refinaria de Pasadena, de denúncias  de  contas   ilícitas  em bancos suíços etc.),  o pais vai  chegar a um  ponto   insuportável   e o resultado  de tudo isso  será   sentido nas urnas  e nas  manifestações  em praças  públicas.
O país, com todos  esses  agudos  e escabrosos   problemas,  não vai aguentar-se como nação.Ou teremos  homens  de grande  espírito democrático no poder, ou seremos uma  nação  sem futuro.

NOTA: Ao concluir este artigo,  acabo de  ver aqui mesmo  na internet que o  candidato  pernambucano à Presidência da República, Eduardo Campos, 49 anos,  morreu hoje de manhã em acidente  de avião. De minha parte,  envio à família dele as minhas   sinceras  condolências, porque esse jovem  político, que concedeu  entrevista ontem  mesmo à noite, no Jornal Nacional,  me passou uma boa impressão com suas  ideias,  propostas  e  intenção  de  realizar  um governo  de melhoria   para o  Brasil, de ser um  homem  equilibrado,  amável  e de grande futuro  para a política  brasileira. O país fica mais  triste  e sem esperança.Que Deus o tenha e lhe  conforte os familiares em face  desta dor imensa.  




sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Espaço da memória






                                              “ A friend in need is a friend indeed.”
                                       

 Cunha e Silva Filho


                  Sei, leitor, que eu, você, todo mundo, em geral,  estamos errados quando,  tantas vezes,  deixamos de lado  a continuidade de uma amizade  que, com o tempo, se vai,  pouco a pouco,  embora e, o que é pior,  quando pensamos  em reatá-la, já é  impossível, visto que  o amigo ou a amiga  podem não estar mais   entre nós. Falo disso  a propósito de  amigos  que  perdemos de vista  por longo tempo e  estes, conforme tão  lucidamente vemos  em romances de Machado de Assis,  vão desaparecendo até mesmo   com  muita  frequência, o que é de lamentar do  ângulo da condição  humana. 
               Lá por volta dos anos de 1960, diria melhor,  1963 até 1968 aproximadamente,   minha  esposa  mantinha uma  grande amizade  com  a família  Freire,  então gerente-geral do Banco do Brasil, agência Centro, Rua Primeiro de Março, no prédio onde hoje funciona   o Centro  Cultural  Banco do Brasil. A esposa do Sr. Moacyr Freire era a D. Santuzzi e eles tinham  um casal de filhos.   Moacyr   Freyre era do  Piauí, não sei se exatamente  da capital. Sei de um irmão dele, o Sr. Zequinha Freire, que morava em  Teresina e, de vez em quando,  visitava o irmão Moacyr. O Sr. Moacyr Freire  morava no belo  bairro de  Ipanema, na rua Visconde de Pirajá.
Naquele tempo, eu  ainda era  namorado  de minha esposa. Foi ela quem me apresentou  ao Sr. Moacyr Freire. Antes,  me contara  em que circunstâncias  o conhecera. Tendo chegado do Piauí  muito jovem, necessitou  de ir ao Banco do Brasil receber uma   ordem de pagamento que lhe  enviara  a mãe, em União. Ocorre que, por algum motivo,  houve atraso na chegada  da ordem de pagamento. Ela ficara   aflita, pois  necessitava   do valor   enviado.
 Conversando  com um funcionário  do banco,  e  expondo-lhe   o problema, contara-lhe   que era do Piauí. O funcionário, solícito,  logo entendeu o desespero da  jovem e, com  boa  vontade,  lhe sugeriu que falasse com  o gerente, o Sr. Mocyr Freire, por sinal,  do Piauí, conterrâneo dela.
O funcionário, muito  educado,  levou-a até ao gerente. Ela  lhe   relatou  a ocorrência  do  atraso  da ordem de pagamento. O gerente a  ouviu atentamente e, numa  ação de bondade  que iria ainda se repetir tantas  vezes, lhe disse:  “Não se preocupe,  menina,  vamos fazer  assim. Eu lhe empresto  agora o   valor que  lhe remeteram e,  depois,  você  me paga.”
Nasceu daí  uma  boa  amizade. A amizade se estendeu, depois,  a mim   igualmente,  pois fora  o Sr. Moacyr Freire que me  tinha conseguido uma colocação num  banco de uma  agência  do Centro,   na Rua  Primeiro de Março. Era o  Banco do  Intercâmbio Nacional (hoje extinto), departamento de câmbio,  onde iria  trabalhar como   escriturário  principiante, que,  na prática,  redundou  mais em  escrever  carta em inglês comercial, ou em verter  para o  inglês cartas  em português enviadas  pela  gerência   de câmbio.
Por um lado foi muito bom  ter trabalhado  naquele banco,  uma vez que me vi  compelido a aprender  bastante   a terminologia  do inglês comercial e bancário. Até havia  comprado  pra mim  um  ótimo  compêndio das Edições de Ouro que ensinava a escrever cartas  comerciais  em inglês, cujo autor ainda  guardo  na memória:  Leônidas  Gontijo de Carvalho. Era o ano de 1968, ano em que nasceu  meu  primeiro  filho,  hoje  moço vitorioso,  professor  de Direito em Curitiba, Paraná e Procurador Municipal.
A amizade do Sr Moacyr foi sempre motivo  de   orgulho  para a minha   esposa e a ele  e à  sua esposa,  D. Santuzzi (não sei bem se a grafia  está  correta)  ela deveu muitos favores,  favores que não podem ser nunca esquecidos. Da família do  Sr. Moacyr  sei que tenho  as melhores  recordações   de amizade e de gratidão. Me  recordo de  que  o seu filho  estava na época   cursando   engenharia em Petrópolis e que a sua  irmã,  uma moça  muito  bonita,   se casara com  um  moço  também  educadíssimo que,  uma vez,   da mesma forma, me quis  arranjar uma  colocação,   se não me engano,  num estaleiro em  Niterói.
          O casal  Moacyr Freire, para resumir,  nos apoiou até  à época de meu casamento. Sempre  esteve disposto a  ajudar-nos, assim como  o fizeram outros poucos amigos, aqui no Rio de Janeiro, que  conhecemos  nesta vida.
           O tempo passou. Não nos vimos mais. Porém,  temos  vontade de saber   alguma notícia  de nossos  benfeitores, bem como de  sua família.O Sr.  Moacyr Freire, a sua esposa são  dessas  pessoas a quem  jamais  apagamos   do mais  fundo  dos nossos corações.  Agradeceria se alguém que,  por ventura, me lesse,   pudesse  fornecer-me   informações sobre  aquele lindo casal  da  Rua  Visconde de Pirajá. Ficaremos  confortados,  minha  esposa   e eu.



quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Entre o real, o virtual e o espiritual



            

                                    Cunha e Silva Filho


              Vivemos num mundo  asfixiantemente impessoal, cercado de gadgets,  de aparelhos  de comunicação,  numa palavra,  de máquinas eletrônicas, afora todas  as   consequências do espaço virtual em que  estamos afundados até o pescoço.Em casa,  dominam o computador,  a televisão,  o rádio,  os tablets,  os celulares.O reino, se assim podemos  chamar, da virtualidade tem algo de mágico, mas é um mágico da  objetividade,  das distâncias do “eu.”  Quem com ele mais se afina são as  novas gerações,  as crianças de agora,  que parecem  nascer já com  a vocação  de lidar  com  todas  esses equipamentos  eletrônicos, ao passo que os mais velhos,  os bem velhos  sobretudo,   sentem  um certo  receio de se aproximarem  desse novo mundo. Com eles não se  identificam, podem até  deles gostar ou odiar, quem  sabe.    
            Na rua,  pessoas falando  em celulares, absortas  nos  seus problemas  pessoais mais imediatos, mais parecendo  estar falando  sozinhas como se fossem   loucos. Realmente,  antes do advento dos celulares,  quando  alguém,de repente,  passava ao nosso lado falando  sozinho,  a única conclusão que  tirávamos era de que se tratava de um  desvairado conversando sozinho. Hoje,   já não nos causa  tanta   estranheza quando alguém  fala ao celular. Quer dizer,  nos habituamos  aos poucos  com  a força  e a  influência da tecnologia.Há poucos anos,   saíam  notícias de que  o uso  imoderado de celulares  causaria  câncer nas pessoas.Agora,  ninguém mais fala  nessa possibilidade. Às favas,   o mal  que possam  causar, o que  querem mesmo  é falar,  falar, falar.
Porém, não é este  exatamente o assunto que me traz  a esta coluna. O que lhe quero  relatar,  leitor, é algo   que está acima do puramente  racional,  lógico,  cartesiano. É algo que  se situaria  na esfera da fé religiosa.  Tem-se fé ou não se tem. Acredita-se em Deus ou não,  quando  nos alinhamos  aos ateus. Ou, seguindo   outro caminho, não podemos  afirmar  nem negar a existência de Deus,  o que nos poria na posição  de agnósticos. Ficamos, neste caso,  em cima do muro.Neste domínio da fé e do espiritual, já mesmo  ouvi  dizer que alguns padres – acredito que são  bem poucos -  não  acreditam  piamente em Deus.
Em questão de fé,  acho admirável quem  tenha   esse  sentimento, com toda a força  de sua convicção. Me emociono profundamente  quando  vejo  alguém  orando e, no seu olhar, percebo claramente  a pureza do  senti mento que lhe vai  na alma, no semblante,  nos  gestos,  nas atitudes. Vejam  os peregrinos  no  interior do país. Veja os devotos dos santos   padroeiros,  veja  a multidão  nas catedrais,  nas igrejas, das mais   ricas e belas às mais humildes. Veja ainda  os devotos  do  padim  Ciço, os peregrinos  de Aparecida..Veja os peregrinos  que  visitam  o  Vaticano, a Basílica de São Pedro e querem  receber a bênção papal. Veja os que creem  nos  três  pastorinhos  de Fátima, em Portugal.  Veja os que  viajam a Jerusalém, a fim de  percorrer os mesmos caminhos   trilhados  por  Jesus ou visitam  a  Igreja do Santo  Sepulcro, ou o lugar  do Horto das Oliveiras, ou vão a Nazaré, ou  molhar os rostos  no  rio  Jordão, ou orar  junto  ao Muro das Lamentações.
Quem  não se comove  ao ler o Velho e o Novo  Testamento,  ou as hagiografias  dos santos  famosos,  ou as leituras  de Santo  Agostinho?  De Tomás de Aquino? Ou a Oração de São Francisco de Assis? Quem  não se enternece também  com aquele  conto    maravilhoso de Eça  de Queiroz,  o “Suave  Milagre?” Quem  não aprecia  os poemas religiosos  do padre  José de Anchieta?Quem não  se sente confortado  e protegido  com as  orações   da Ave-Maria  e do  Padre-Nosso? Acredito que até os ateus...
Hoje mesmo,  pensando  haver perdido  minha identidade,  fiquei  desesperado e pus toda a família em  polvorosa,  com  todos  procurando,  em  lugares  os mais    impensáveis, onde eu havia  colocado  a  identidade. Chegamos ao  ponto de  sair de casa e perguntar nos lugares   por onde  andamos, um restaurante  na vizinhança,   a livraria do Shopping, uma farmácia  onde  compramos  um remédio. E nada de alguém  dizer  que havia   encontrado  o objeto.E olhe, leitor,  que  só hoje dei conta  de que  a identidade tinha  sumido. Contando  os dias,   a provável  perda  teria  acontecido no domingo,  dia  3 de agosto. E só dei conta do sumiço  da carteira  porque   hoje  teria que ir ao banco  pagar  contas. Um Deus-nos-acuda.  De  repente,  me vem à lembrança  aquele santo  popular,  São Longuinho, que, segundo  informações colhidas no  Google,  só é  reverenciado  na Espanha e no  Brasil. As origens  dele  são  imprecisas. Contudo,  teólogos  e estudiosos  de hagiografia  afirmam  ter sido ele um  centurião  romano, de nome Cássio,  convertido ao  Cristianismo e por isso  foi martirizado. Ao se converter,  fugiu para  Cesareia e, ao ser descoberto,  foi  decapitado.
   Conta-se que, na condição  de soldado   e escolhido  para  vigiar Cristo na Cruz,  acertou  o  coração  de Jesus  com uma lança e, ao fazer isso,  recebeu um jato de sangue nos olhos. Acontece que Cássio sofria de uma doença da vista. Há relatos de que sofria de ‘cegueira  espiritual,’ segundo informa o padre Aparecido Pereira, pesquisador  da vida dos santos.” O respingo do sangue de Cristo  curou-lhe a enfermidade. “instantaneamente.”
Regressando pra casa, outra maratona vasculhando  tudo, armários,   gavetas,   livros,  papéis,   envelopes etc. etc. Nada de aparecer  a identidade.  Entretanto,  enquanto   procurava  a carteira de identidade,   me veio a ideia de invocar a ajuda  de São Longuinho.Só no meu íntimo  passei a lhe pedir que  me fizesse  encontrar  o objeto  desaparecido. Me deu  vontade de reabrir um dos armários, revirei umas   pastas e, vendo tudo  com cuidado,  tive a  impressão de que do nada surgiu a carteira de identidade. Gritei: São Longuinho! São  Longuinho!  Obrigado! 
 Tudo  à nossa volta    serenou. Chorei lágrimas de  felicidade,  de alívio,  de saber que,  não  encontrasse  a identidade,  teria  aqueles problemas todos que o  brasileiro   tão bem conhece:   ir à Delegacia de Polícia fazer o boletim de ocorrência  do  objeto  perdido; o medo  que se tem  de um objeto  dessa espécie   cair  nas mãos  de  marginais; tirar  foto para  um novo pedido de   identidade, enfim,  uma série de problemas.  
Desgaste inútil   andando  pelas  ruas e lugares  em que  poderia  encontrar  o objeto  perdido. São Longuinho  foi a salvação da pátria,  ou melhor, do lar. A história de São  Longuinho  é folclore? É. É uma simpatia  popular entre nós? É. Mas,  a verdade é que a  fama desse Santo  querido e amado já correu  país afora.  Já é antiga e a minha   esposa  me conta que a avozinha dela  costumava  invocar  São Longuinho nas horas do  aperto,  i.e.,  nas horas  das perdas, assim como ainda  falava  aquela avozinha que,  ao se  receber  o milagre,  a agente tem que  dar  três  pulinhos e dizer três vezes: “Obrigado  São Longuinho.”

Folclore  ou não,  o certo é que São  Longuinho me  salvou: “Suave milagre.”

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Tradução do poema « Le maître et l’écolier », de Tournier – Premières chansons)



«Qu’il fait sombre dans cette classe!
Rien qu’un mur gris,un tableau noir,
Et puis toujours la même place,
Et toujours le même devoir!

Toujours, toujours ce même livre,
Et toujours ce même cahier!
Peut-on appeler cela vivre?
Moi, je l’appelle s’ennuyer!»

Ainsi parlait, dans son école,
Un petit écolier mutin.
Le maître alors prit la parole,
Et lui dit: «Quoi! chaque matin,

Toujours de  cette même cahier,
Répéter la même leçon,
Enseigner la même grammaire
A ce même petit garçon,

Qui reste toujours quoi qu’on fasse ,
Ignorant, distrait, paresseux!
Lequel devrait, dans cette classe
S’ennuyer le plus de nous deux?»

Tu le vois l’eleve et le maître
Ont chacun son joug à charger
Mon enfant ; mais veux-tu connaître
Le vrai moyen de l’alléger ?.

Aime ton maître comoe il t’aime :
C’est tout le secret d’obéir ! »


O mestre e o aluno

« Que classe tão soturna !
Uma só parede cinza, um quadro-negro
Além disso,  o mesmo  lugar  de sempre
O mesmo dever de sempre !

Sempre, sempre este livro
E este igual  caderno.
Pode-se lá isso chamar de vida ?
Monotonia seria a palavra certa.

Falava assim, na sua escola,
Um revoltado  pequeno discente
Então, o mestre da palavra fez uso
Ao dizer : Como! cada manhã

Repetindo deste mesmo  caderno 
A lição costumeira
A mesma gramática ensinando
A esta mesma  criança,

Que,  por melhor que faça, continua sempre
Ignorante,   alheia,  indolente!
Qual de nós dois razão teria de
Mais  amuado  ficar ?

Veja, filho, uma coisa : aluno e mestre
Cada um tem o seu papel  a cumprir :
Queres saber, agora,  qual a
Verdadeira  forma de  melhorar tudo isso ?

Ama teu mestre como ele a ti ama.
Eis aí  da obediência  todo o segredo.

                                                                (Trad. de Cunha e Silva Filho)




                                          


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Nota zero para a educação brasileira




                                             Cunha e Silva filho


                Já reparou, leitor, que o Brasil é um  enigma  indecifrável, onde existe o que dá certo,  o que   dá  errado,  o que prejudica, o que faz mal  a tantos  e nada se faz para melhorar  nada? Vejamos um dos  setores   da  nossa sociedade  civil que causa vexame às nações  civilizadas  e sérias: a desvalorização dos professores públicos  em todos os níveis.
              Antigamente, era um lugar  comum, ou melhor,  uma   constatação  de  que  o país  paga  miseravelmente seus professores  primários e   secundários  a tal  ponto   que um velho  programa do saudoso  humorista  Chico Anísio, a “Escolinha do Professor Raimundo,” que durou por muito tempo  e sempre  batia na tecla de que o salário do professor brasileiro  não passava de um  "ó." simbolizado  corrosivamente  com  a junção do  polegar com o indicador.
         Ora,  não foi  difícil  sair  da tela da TV para o consenso   da comunidade  o fato de que  o professor  era um pé de chinelo,  a quem  ninguém   reconhecia  status   social  e  principalmente   financeiro. Conheci um professor do ensino médio estadual  do Rio de Janeiro  que queria  alugar um apartamento no subúrbio da cidade e, quando  teve que  dizer ao  “senhorio,” geralmente  portugueses,   que era professor, isso  foi bastante  para que  quase fosse escorraçado pelo  proprietário como  cachorro   doido.
       O programa   do Chico  Anísio, como uma vez  analisei  em artigo, tinha, a meu ver,  um efeito   deplorável:  a caricatura do professor  antes  serviu como combustível para aumentar   o descaso   da sociedade   para a figura  do  professor. Até nas novelas  de televisão um personagem  professor é visto  como alguém  sem crédito e sem realce tanto pela  burguesia quanto pela classe média e mesmo as classes  menos  favorecidas que, hoje,  - dizem ( será verdade?) -  ascendeu  à classe média. 
        Leio na Folha de São Paulo  de ontem, dia  3 de agosto,   um contundente   artigo  com  título em    interrogação (“Quanto vale um professor?")  expondo as agruras dos  professores e as injustiças  cometidas contra eles.   Desta vez,   trata-se  de professores  estaduais   de São Paulo,  estado com o Orçamento  mais rico   da Federação, conforme  lembram  os autores, porquanto o artigo  é assinado a quatro mãos,  com  autores   de alto nível  reafirmando  essa  vergonha  nacional. O  mais  grave  é que o poder público   estadual  alega   que são muitos os gastos com as universidades  estaduais  paulistas e,  por essa razão   não pode  remunerar  bem  os docentes.
Com  razão queixam-se os  articulistas, - vamos nomeá-los -  os jovens  professores Daniel Damásio Borges e Ana Gabriela Mendes Braga, da área de Direito, de  que, se os salários dos professores  universitários  estaduais  de São Paulo forem  comparados  aos de outros setores  do funcionalismo  estadual, torna-se  gritante    a injustiça  contra  os mestres. Citam  os autores  o exemplo de um  professor  com doutorado e com  regime de  dedicação exclusiva, cujo  salário  não passa de  nove mil  reais, enquanto um médico, “nos termos  do recente  plano  de carreira do governo estadual”,  perceberá  um salário   “muito superior”, - pasmem! – a de um  professor  titular da Faculdade de Medicina com  dedicação  exclusiva. Sem  desejar  subestimar  outras    profissões,  um professor  universitário não se faz  em  quatro anos.
Uma vez que abrace por vocação   e destino  a  atividade  docente   fazendo uma   carreira, muitas vezes, brilhante, atrás dele  há uma  longa  história  de  estudos,  de produção  científica, de aperfeiçoamento,   muitas,  vezes,  nos grandes centros  culturais  do mundo,   de  dedicação  ao saber  e à  cultura de seu  país.São longos anos   debruçados  nos livros,   isolados nos laboratórios,  na participação com trabalhos  de ponta em congressos  nacionais e internacionais, na orientação   de especialistas,   mestres e doutores e  na  coordenação de  pós-doutores,  i.e., no  crescimento  contínuo  da produção  do conhecimento  em elevado  nível de  aprofundamento. É um  construção  intelectual-científica  de toda uma vida.
Ora,  um governo ( e aqui  me  refiro aos governos  federal, estaduais   e  municipais)   que  não valoriza seus professores  seguramente  nunca  atingirá  uma  posição  de relevo  nos vários campos  do conhecimento  humano. Estamos atrasados em séculos   em  setores  vitais à demanda    das necessidades   do mundo  contemporâneo.Vejam os exemplos  magníficos  do  valor  à educação  em países  como   a China,  o Japão,  e mesmo os Estados Unidos, a França,  a Inglaterra,  a Alemanha    e outros  países   adiantados que respeitam  o ensino e a educação.
     Numa coisa o país  cresceu admiravelmente: na corrupção,  nas injustiças,  na  malversação do  dinheiro  público,  na  politicagem  hoje  completamente  desacreditada, na violência  crônica, na falta  de vergonha   em escala  nacional.
    Têm  sobras de   razão  os professores  signatários do artigo publicado,  por sinal,  na  página  “Tendências/Debates do mencionado  jornal.Eu não  consigo  entender como  candidatos, nas próximas  eleições, terão   tranquilidade  para  virem a público  elogiar  a educação brasileira  quando  todos os que  têm  um pouco de consciência  de nossos   direitos  de cidadania  sabemos   que  os governos brasileiros  há décadas   vêm  dizendo  inverdades   sobre  uma  suposta   melhoria   do  ensino   público,  sobretudo   estadual e municipal.  O privado, da mesma forma,   tem   suas misérias e seus  descalabros,  uma vez que há diferentes  níveis  de  qualidade do  ensino particular, que vão do  péssimo  ao  ótimo e em diferentes   regiões do país.
Com que cara  aparecerão  nas telas de TVs os responsáveis pela  educação  brasileira   diante  do fechamento   de   Universidade  Gama  Filho, por exemplo,  uma instituição  que  já teve seu   tempo de apogeu em  décadas atrás? Como ficarão seus   formandos   que  estão tendo    sérios  problemas   de ordem  pessoal e de auto-estima   em face  da  falta   de  ajuda   do governo   federal  para   uma  universidade   que já formou  tantos  profissionais na graduação e  pós-graduação que  hoje estão  em posições   relevantes  em sua atividades   profissionais?
.O governo federal  não  já socorreu até  canais de televisão  em apuros financeiros, e até   bancos privados para que   dessem continuidade  à suas atividades? Por que não ajudar, na forma de  Lei,  aquelas universidades privadas  que,  por má gestão administrativa, foram  levadas   à falência? O que o Estado  Brasileiro  deveria  ter feito  era apurar as irregularidades praticadas  pelos dirigentes dessas universidades, puni-los  com rigor  e encampar   tais  instituições. Em países que preservam   suas universidades, isso  jamais  aconteceria.
Como se sentirá  um ex-aluno de uma  universidade que  deixa de existir? E sua imagem, e seus brios   e sua finalidade   cultural  para o conjunto   das universidades  privadas? Um país que  respeita  o conjunto de seu   ensino superior,  independentemente  de ser  uma  universidade  privada  ou   pública, é um país  que  preserva  a sua  história social.