Ao utilizar-se desse sintagma, duplamente
preconceituoso na combinação do
substantivo e do adjetivo chulo, as duas fases da vida mergulham numa contradição que dói pela
obtusidade unilateral dos
mais novos e pelo
violência que sinaliza ou seja, pela quebra do respeito entre o interlocutor
jovem e o de idade bem avançada, entre
a inexperiência cega e a experiência enriquecida
dos anos. A expressão faz
parte do campo semântico dos “tabus
linguísticos” e seu emprego
só vem à tona quando a incivilidade dos mais jovens é contrariada justa ou
injustamente pelos mais velhos. No entanto, do uso
dela no instante em que é
proferida não existe tantos anos-luz assim. O tempo é
breve e acelerado e o que se
afirmava contra um outro de repente se
volta para si mesmo como um
despertar de um longo sonho.E aí é que a dor causada pelo vil preconceito
se torna dor própria,
sangrando tão ou mais fortemente do que há tempos passados
machucou a alma de alguém.
Atenção ao tempo que, célere,
passa e, ele, o tempo, como a maré
do provérbio inglês, “...não esperam por ninguém.” O instante é a eternidade. O presente, o passado e o futuro, naquele tempo
tríduo gilbertofreiriano, é
o momento presente, abissal e devorador como a “Areia,
grão a grão, escoa na ampulheta...” do soneto de Da Costa e
Silva (1855-1950).
“Cuidado, pois, com o que dizes diante de um ancião, ó ser finito e relativo!” O
tempo é contratempo na voragem dos
instantes fluidos, no escoamento dos anos dos
tempos apressados,
idiotamente apressados, sem rumo e sem remo.
Envelhecemos a cada dia, embora aparentemente,
ao olharmos para alguém, não sintamos
a nitidez dessa transformação. Não adiante,
jovem, sonhar com o elixir da longa vida,
nem com os poderes dos pactos fáusticos nem
com a aventura malograda
de Dorian Gray. O tempo é voraz,
ávido das travessias do corpo, da matéria física, da beleza
apolínea e das fugazes ilusões
dionisíacas. Nada consegue detê-lo. Nem
as plásticas mais refinadas dos
tempos high tech, nem a última promessa da beleza física
que luta contra a eternidade do finito belo. Tudo isso
porque, caros jovens, somos
mortais, eternamente mortais.
Todo cuidado é pouco com
as expressões que ferem
o corpo e o espírito e deixam sempre marcas da ausência do respeito àqueles que um dia também foram
belos, jovens e pensavam
que tudo aquilo seria
duradouro.
Quero concluir este texto com uns versos
de um velho poema
de Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882), que já traduzi no verdes anos e que, depois, na maturidade, republiquei com algumas modificações: “For age is opportunity no less/Than
youth itself in another dress,/And
as the evening twillight fades
away/The sky is filled with stars, invisible by day” [Tradução: "Porquanto a velhice é oportunidade não menor/E, à proçorção que a tarde vai morrendo,/O firmamento se nos desvela prenhe de estrelas, invisíveis à luz do dia".]
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