Por que, no Piauí, não há mais suplementos literários?
Cunha e Silva Filho
No Brasil, regredimos muito no que respeita aos chamados suplementos literários. Agora mesmo, senti uma mudança para pior no caderno Ideias do JB. Não há mais um caderno independente dos outros cadernos, das outras seções. A derradeira página atual do caderno está colada a outra seção Carro & Moto, que nada tem a ver com literatura. Que lástima! O que houve? Com a página de rosto dispõe agora só de cinco páginas. Como não sou ligado aos bastidores do jornal, só me resta fazer conjecturas pessimistas sobre o que pode acontecer.
Quanto ao caderno Mais! da Folha de São Paulo, a edição que li ontem, (domingo, 16/05/2010) informa ser a última num caderno que durou dezoito anos. A direção do jornal, no entanto, comunica que, no próximo domingo, dia 23, o prestigioso Mais! será substituído por um novo caderno cultural, chamado Ilustríssima. Segundo a reportagem, Ilustríssima – não gostei do nome – será um caderno cultural renovado, sem jargões acadêmicos, mas atento à atualidade, à reflexão crítica, ao texto “prazeroso” e será aberto a gerações diferentes. Constará de ensaios, textos de ficção, dramaturgia, poesia e quadrinhos, entre outros itens. Ficará a cargo de Paulo Werneck, que é jornalista e tradutor, tendo já trabalhado em editoras de renome. Segundo ainda a reportagem, Aliás, o jornal no seu texto, receberá novo tratamento gráfico, visual e de conteúdo. Vamos, pois, torcer para que o novo caderno cultural, assim como a Folha inteira, seja um sucesso.
Mas, o que esta crônica deseja comentar é a situação de inatividade em que as páginas culturais ficaram de longo tempo para cá. Ainda quando morava em Teresina, nos inícios dos anos sessenta, havia jornais com, pelo menos, uma página sobre literatura e cultura, onde grandes intelectuais ou mesmo jovens aspirantes a atividade literária de Teresina, como foi o meu caso, assinavam, aos domingos, bons artigos ou pequenos ensaios. Quando o jornal não dispunha de uma página cultural, não deixavam de publicavam artigos sobre literatura ou outros assuntos relacionados à cultura. E aí valia tudo, crônica, contos, poesia, resenhas, tradução, noticiário acadêmico, como fizeram os jornais Estado do Piauí( de Josípio Lustosa) Jornal do Piauí, O Dia (do tempo de Mundico Santilo) entre outros. Foi uma época fértil para quem escrevia sobre literatura e cultura em geral. Tudo isso acabou praticamente. Hoje desconheço algum jornal do Piauí que tenha pelo menos uma página toda destinada a agasalhar matéria literária.
Um outro dado importante: não havia restrição a artigos grandes, que tirassem o espaço do jornal reservado à publicidade ou a outros itens mais lucrativos. Pessoalmente, não vejo que um jornal atento possa descuidar desse tema como meta a ser implementada pelos seus proprietários e diretores. Ainda que seja, em proporções pequenas, o espaço cultural-literário não vai trazer prejuízos aos donos dos jornais. É claro que as matérias dos autores, sendo remuneradas, irá atrair bons colunistas, críticos, resenhistas e intelectuais do meio jornalístico ou acadêmico. Tenho certeza de que os leitores cultos e o público médio em geral irão receber bem esse novo espaço jornalístico.
Por sua circulação em larga escala, ou seja penetrando em todo estado do Piauí, os jornais ainda têm a vantagem e a celeridade de serem um veículo de acesso direto ao leitor, sem falar na sua inegável força de divulgação de livros, de autores e do que está acontecendo no meio cultural de um estado. Valeria a pena tentar um empreendimento desses. Torço para que isso ainda possa motivar algum empresário do setor jornalístico que saiba valorizar o papel da literatura e da cultura em geral como fator de progresso da minha terra.
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