Por que insistir em viver no exterior?
Cunha e Silva Filho
Tirante diplomatas, políticos, altos funcionários de governos e gente abastada da sociedade (os milionários são bem-vindos e se parecem em toda a parte do mundo) no passado e principalmente na contemporaneidade, seja de que nacionalidade for, a condição dos imigrantes mais humildes apresenta-se sempre como um risco iminente.
O sonho de um Eldorado vitorioso no exterior, sobretudo em países como os Estados Unidos e a Inglaterra, bem explorados pela publicidade e pelo cinema, em particular, o americano, em geral, de grande penetração entre a juventude, transforma-se em irresistíveis e constantes apelos, principalmente para jovens da América latina, do México, que se encantam, primeiro, com a língua inglesa, idioma difundido mundialmente nesta faixa etária, com seus atores e atrizes, com seus filmes de amplos recursos técnicos, depois, com os padrões angloamericanos de cultura, de música, de alta tecnologia Desse modo, sonham em fazer sucesso no exterior, ganhar a vida, realizar, de certa forma, a sua meta existencial: arranjar um emprego, ainda que para fazer trabalhos mais pesados que um nativo não faria, aprender uma língua começando, muitas vezes, do zero, e morar no exterior em país mais adiantado e com uma moeda mais forte.
Tal foi o exemplo daquele jovem mineiro, Jean Charles de Menezes, que já estava empregado na Inglaterra e, uma vez, como fazia toda a semana, andando de metrô, em direção ao lugar de trabalho, foi assassinado por policiais confundido, segundo eles, com um terrorista. Paranóia infernal dos tempos planetários! Seus assassinos, até hoje, pelo que sei, não foram devidamente punidos. Até veio ao Brasil uma comissão da polícia inglesa pedir suas desculpas pelo ocorrido. Mas, só isso. Nem mesmo se indenizou a família pelo ato de irresponsabilidade e incompetência dos que o alvejaram
.São muitos os exemplos de brasileiros que decidem procurar uma vida melhor no exterior e, quando lá chegam, se arrependem. Sofrem, não conseguem nada e, se permanecerem como clandestinos, ainda pioram sua situação de imigrante, porque estarão sempre amedrontados com o fantasma do serviço de imigração que pode pilhá-los a qualquer hora e deportarem-nos para o Brasil.
Brasileiros sem qualificação para trabalhos de maior nível e de perspectiva de melhoria efetiva no exterior se iludem ao pensar que a ventura do sonho americano ou inglês dará certo. A realidade, entretanto, tem mostrado que não é assim. Pura ilusão, bobagem de jovens incautos que pensam serem tais países lugares que os irão acolher fraternalmente.
Mesmo aqueles que já têm dupla nacionalidade, quatro de cinco brasileiros músicos paranaenses que se encontram em Londres, podem ser vítimas de truculentas abordagens policiais.. Tal se deu com esses jovens brasileiros que, vindos de um culto evangélico, no dia 18 de março, foram arrastados, espancados covardemente por quatro policiais ingleses, levando tapas na cabeça, chutes e pisadas como se fossem cães danados. Foram algemados. Estavam num carro. Os policias os pararam pensando que se tratava de um grupo de traficantes procurados e que, segundo a Polícia, estavam num carro com as mesmas descrições daquele em que se encontravam os brasileiros. Conforme a reportagem do JB (01/05/10), os jovens já fizeram queixa-crime na Comissão Independente de Queixas contra a Polícia, um órgão que cuida de investigar abusos de policiais da Inglaterra. Um dos jovens, de nome Thiago Antonio Murador, levou choque elétrico e teve uma costela quebrada devido à violência com que agiram os policiais.
O fato mais grave disso tudo foi que, de acordo com a informações prestadas em entrevista ao JB pelo diretor da Casa do Brasil em Londres, Carlos Mellinger, os policiais armados – oh, como distantes estão dos antigos bobbies que nem usavam arma e gozavam de boa popularidade! – ainda continuaram sendo violentos e irascíveis mesmo após constatarem que os jovens eram inocentes.
Neste ponto, é hora de o governo brasileiro, através de sua embaixada em Londres, procurar as autoridades diplomáticas inglesas e delas exigir imediata punição dos culpados. Não é esse o comportamento que se espera de um policial responsável e competente. Para mim, não passam de bandidos travestidos de policiais, que devem sofrer real punição por parte dos órgãos oficiais de segurança inglesa. Além do mais, o fato só tende a desmoralizar ainda mais a imagem de um país que se diz civilizado e amante das leis. .Na realidade, o que se tem visto mais nos últimos anos e em várias partes do mundo é o mau exemplo de policias cometendo atos de truculência e mesmo homicídios, igualando-se, desta forma, aos chamados criminosos comuns. Os órgãos de repressão do Estado hoje pouco se diferem uns dos outros no tocante a barbaridades e covardias cometidas ao arrepio das leis. Mesmo porque, nos tempos modernos, a logística da repressão, quer dizer, armas, instrumentos de coação, tecnologias, para fins de enfrentamentos entre a polícia e a sociedade civil, são praticamente iguais de um país para outro. Para isso, estão aí os intercâmbios, os cursos de treinamento entre policias de países diversos. Tudo se uniformizou. Em tudo isso só muda a língua, mas a coreografia é a mesma, assim como as intenções se igualam nos seus fins e nos seus meios. Tempos difíceis, paranoicos, esse que vivemos, onde o inimigo, se não se encontra, se fabrica.
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