sábado, 22 de maio de 2010

O Brasil, o Irã e o urânio

O Brasil, o Irã e o urânio


Cunha e Silva Filho


Mesmo com as minhas discordâncias, algumas duras, contra o governo Lula, não resta dúvida de que o Presidente brasileiro conseguiu visibilidade no concerto das nações, a ponto de aparecer em capas de revistas internacionais famosas e ser reconhecido como líder mundial influente. Já se afirmou que Lula é um individuo de sorte, tem carisma e uma indiscutível forma conciliatória de conduzir-se como Chefe de Estado.
Me membro de que, na história política do Piauí, falavam mal da falta de instrução e de cultura do governador Pedro Freitas, com mandato de 1951 a 1955. Era até por vezes motivo de mofa da oposição. No entanto, ninguém lhe podia negar dotes de bom governante, de hábil administrador, o que nos leva á conclusão de que um político com invejável curriculum nem sempre será um governante vitorioso.
Já escrevi artigos contundentes contra o governo Lula e o seu partido, reprovando o injustificável silêncio e leniência do ex-sindicalista no abominável e longo episódio da política brasileira conhecido como “o escândalo do Mensalão”.
Nem por isso devo omitir aspectos positivos do seu governo, principalmente na recente questão da posição da nossa diplomacia com respeito ao direito que o Irã tem de desenvolver sua política de energia nuclear
É da índole política brasileira, pelo menos do Brasil moderno, procurar, através do diálogo, e não da força das armas e das invasões a territórios soberanos, dirimir questões delicadas que, no mínimo, são tratadas com transparência. Desta maneira, o governo Lula tem se conduzido com vontade de buscar soluções, pela via do diálogo, sem autoritarismos e arrogâncias imperialistas anacrônicas face a regiões do Planeta cheias de constantes conflitos geopolíticos, econômicos (o Irã é a segunda maior reserva de petróleo mundial, perdendo apenas para a Arábia Saudita) e ideológicos.
O nosso país cresceu e amadureceu em múltiplas setores de desenvolvimento. Conseguiu, pelo exemplo de sua política econômica, evitar que caíssemos na recente grave crise financeira internacional, de que foram vítimas principais os EUA e países europeus.
Conquistas como estas permitiram que o Brasil passasse a ser visto com outros olhos, como um país responsável e com um potencial afirmativo que decerto já o alçou a uma posição de respeito e de capacidade de liderança no palco internacional.
Por essa razão, não vejo que Lula tenha sido joguete do Irá nessa busca de encontrar um entendimento, junto às grandes potências, para permitir que o país dos aiatolás usufrua das mesmas prerrogativas no emprego do urânio para finalidades pacíficas, sobretudo nas áreas energética e médica.
Ao procurar mediar os conflitos do Irã com as nações ricas e fortemente armadas, o Presidente Lula, que não é prêmio Nobel da Paz, tem-se mostrado com maior espírito de liderança e de disposição para questões que envolvem a paz e a segurança mundial do que o Presidente Obama, o qual, até hoje, não conseguiu pôr termo às investidas no Afeganistão e no Paquistão, além de ainda manter intacta a vexatória prisão de Guantánamo no Caribe.
Por que – pergunto – os EUA não obstaram o crescente poderio bélico de Israel? O Irã tem direito, neste aspecto, a se defender também e como pode fazê-lo se há uma espada de Dâmocles pairando sobre Teerã através das ameaças de invasão norte-americana no seu território?
Fala-se que o Brasil vai sair perdendo por tentar encontrar solução pacífica entre o Irã e as nações hegemônicas, todas sob a tutela marcial implícita norte-americana.
Conquanto não logre, diante da não-aceitação dos Estados Unidos e de outros aliados ocidentais sobre o acordo firmado com o Irã na questão do programa nuclear, um assento permanente no Conselho de Segurança da Nações Unidas, o Brasil, com essa política externa extremamente aberta e cordial, terá dado ao mundo um exemplo de país que já conquistou maioridade política e a admiração de muitos países do orbe.
Não vejo que o Presidente Lula tenha feito papel de “Bobo útil” de Mahmoud Ahmadinejad. como levianamente definiu o analista Jackson Diehl, do Washington Post. Tampouco veria como um fracasso ou perda de “credibilidade internacional”, segundo ponderou o ex-ministro das Relações Exteriores do governo FHC, Luiz Felipe Lampreia, ” essa tentativa de o governo brasileiro negociar, através do diálogo, um caminho pacífico a fim de que o Irã possa dar continuidade ao seu programa nuclear. O que muito importou foi a tentativa de abrir vias de solução do problema e disso o nosso país tem consciência de haver dado sua contribuição.
O que cumpriria aos EUA seria suspender as sanções ao Irã, até porque o governo americano não pode ser o senhor do mundo e moralmente, nem pode agir como o faz, logo ele que detém arsenal capaz de varrer a Terra do Universo.

Um comentário:

  1. Os EUA sabotam a paz

    O acordo com o Irã é uma vitória histórica da diplomacia brasileira, quaisquer que sejam seus desdobramentos. A mídia oposicionista sempre repetirá os jargões colonizados de sua antiga revolta contra o destaque internacional de Lula.
    O governo de Barack Obama atua nos bastidores para destruir essa conquista. É uma questão de prestígio pessoal para Obama e Hillary Clinton, que foram desafiados pela teimosia de Lula. Mas trata-se também de uma necessidade estratégica: num planeta multipolarizado e estável, com vários focos de influência, Washington perde poder. E a arrogante independência do brasileiro não pode se transformar num exemplo para que outros líderes regionais dispensem a tutela da Casa Branca.
    Em outras palavras, a paz não interessa aos EUA. E, convenhamos, ninguém leva a sério os discursos pacifistas do maior agressor militar do planeta. Será fácil para os EUA bloquear a iniciativa brasileira, utilizando a submissão das potências aliadas na ONU ou atiçando os muitos radicais de variadas bandeiras, ávidos por um punhado de dólares. Mas alguma coisa rachou na hegemonia estadunidense, que já não era lá essas coisas.

    ResponderExcluir