Cunha e Silva Filho
Quem diz que ele foi grandioso,
herói, líder mundial conspícuo, não está sendo imparcial, Fidel
Castro (1926-2016), no meu entender, só
fez três coisas importantes na
idílica ilha de Cuba: 1) livrar o pequeno país do
jugo do ditador, que, primeiro, foi presidente eleito, Fulgencio Batista (1901-1973), uma joguete nas mãos dos
norte-americanos que transformou Cuba num
grande lupanar visitado por
turistas, sobretudo norte-americanos; 2)
desenvolveu um louvável
sistema de saúde pública, se bem que,
no interior, esse setor
era negligenciado. Só se fazia eficiente na área urbana; 3)
reduziu a quase zero o índice de analfabetismo. Alguém poderia negar
esses feitos de grande
alcance social? Ninguém, nem os seus
opositores.
No entanto, nem tudo são flores. Há um lado pernicioso nos seus longos anos de
comandante geral dos cubanos. Seria o
outro lado da sua personalidade carismática, que é ter-se
batido contra a ditadura do seu antecessor e haver prometido direcionar
seu governo a um sistema
político aberto, democrático e com liberdade de expressão e
locomoção. Formado em direito, logo
que conquistou o poder,
esqueceu o passado. As promessas e a magia do poder o tornaram mais um ditador, alguém que
se pôs na mesma condição do antecessor se entendermos que o termo
“ditador” ainda conserva o mesmo sentido de um
governante tirano, autoritário,
autocrático, enfeixando em suas mãos todo o
poder acima das leis e dos direitos inalienáveis do ser humano, que é ter
o direito de divergir,
de discordar. As promessas de
fazer Cuba um país livre e com sistema
de governo de alternância de poder periódica,
consoante fazem as nações minimamente democráticas,
foram olvidadas, tornaram-se papel
queimado, viraram cinzas.
A ditadura predominou,
as dissidências foram sufocadas, seja
pelo paredón (fuzilamento), seja
pelas masmorras, às quais foram
mandados os políticos que se lhe tornaram adversários ou desafetos inimigos da
revolução castrista, alguns deles
antigos companheiros da luta
revolucionária que culminou
com a queda do ditador Fulgencio em 1959.
Fidel Castro, portanto,
não pode ser rotulado de ícone
e libertário digno de ser exemplo
para outros países que almejem
a mesma posição e esquema político que caracterizou a duradoura
ditadura cubana. Se olharmos com
isenção a política cubana e seus
feitos econômicos, o seu desenvolvimento industrial, a condição
do povão, vemos facilmente que o país
não cresceu durante meio século
de regime discricionário e conduzido com mão de ferro.
Com as devidas diferenças histórico-culturais, o Brasil sob o governo
petista, sobretudo no primeiro
mandato do presidente Lula, modificou, ninguém
pode negar, alguns hábitos
de governança arcaica
e elitista, em relação às condições
do povão. Houve progresso social. Mas,
isso não é suficiente
para exaltarmos o lulopetismo, de vez que, do outro lado da moeda, esse
governo, falazmente dito da “esquerda,” cometeu
e deixou cometer os
mais aviltantes escândalos
de corrupção de que já se teve notícia
na História do Brasil com uma
administração caracterizada pelo
contumaz jogo espúrio da propina
e pelos desvios do dinheiro público.
Isso tudo resultando no deplorável
estado de nossas finanças públicas
que atingiram níveis de bancarrota, repercutindo até hoje com estados brasileiros sofrendo
as consequências deletérias do que
o governo federal fez de errado.
O que torna respeitável um governo é a sua transparência ética,
suas decisões calcadas na decência e
proteção de seus ativos, de seus gastos controlados
e nas suas realizações a serviço
de uma sociedade mais justa O
petismo passou muito ao largo de toda essa ética fundamental
à grandeza de um nação. Por isso, caiu. O que norteou a plataforma de governo
elaborada pelos seus
ideólogos foi, com o tempo, desvirtuando de seus objetivos cívicos iniciais. O mesmo, voltando a
Fidel Castro, poderia dizer
dessa figura de ditador hiperbolicamente
exaltada pelos seus admiradores
aqui e fora do país, sobretudo no meio acadêmico universitário.público.
A meu ver, Fidel Castro, senhor absoluto do poder de Cuba,
foi, ao contrário, infeliz
e um mau estrategista que só infelicitou e
atrasou o país quanto ao seu crescimento econômico
e em outros setores, a começar do
regime político ali
implantado, regime este que só trouxe
àquela sociedade dissabores e uma vida
apertada e humilde. Se tivesse tido maior visão política, a despeito dos
pronunciamentos fatigantes, e habilidade
diplomática, teria feito
aberturas políticas em seu governo e organizado
o país de forma
independente e sem ser servil
aos Estados Unidos.
Se o tivesse feito, não teria sofrido
o injusto embargo americano vigorante até hoje. Faltou-lhe
tato, apesar das várias situações
dramáticas pelas quais passou o seu
longo percurso de ditador. Sua miopia de não se ter
atualizado como político, ainda
que impulsionado pelo socialismo real superado de estofo soviético, foi o seu erro palmar.
Enquanto países comunistas como a
China absorveram as vantagens
do capitalismo em sua economia, Fidel Castro
ainda vivia repetindo, ao longa de décadas, a sua
cantilena contra o que dizia
ser o imperialismo americano.
Essa posição casmurra
tanto prejudicou a sua imagem quanto o desenvolvimento de Cuba. Projetar os destinos
da bela ilha caribenha não
me está nos interesses de observador da cena política
internacional, mas pode-se
tentar um palpite: Cuba, no futuro não muito distante, encontrará o caminho
da liberdade de expressão e das
divergências sem polarizações ou recursos à violência política.
Para finalizar estas considerações, existe um dado sombrio e contraditório dessa figura tão incensada pela esquerda, que me deixa perplexo. Segundo dados da Forbes, Fidel Castro era um homem milionário. Como explicar que um ditador milionário venha a falar de melhoria de seu povo e ao mesmo tempo se dizia socialista ou marxista? Então, seria a vez de indagar: o seu socialismo só servia para si mesmo, sua família, sua nomenklatura e para uso externo com finalidades midiáticas?
Para finalizar estas considerações, existe um dado sombrio e contraditório dessa figura tão incensada pela esquerda, que me deixa perplexo. Segundo dados da Forbes, Fidel Castro era um homem milionário. Como explicar que um ditador milionário venha a falar de melhoria de seu povo e ao mesmo tempo se dizia socialista ou marxista? Então, seria a vez de indagar: o seu socialismo só servia para si mesmo, sua família, sua nomenklatura e para uso externo com finalidades midiáticas?
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