quinta-feira, 17 de novembro de 2016

SOBRE LEITURA





                                     Cunha e Silva Filho


         Este texto, vou avisando-o,  leitor,  não visa a dar  lições teóricas sobre o assunto nem aqui,  no espaço de um crônica, seria  conveniente cuidar de um  tema tão vasto e variado quanto  falar  de leitura.
        É apenas uma conversa livre, descontraída, sem jargão acadêmico. Leitura simplesmente. Leitura de um texto, de preferência literário, ficcional,  poético, dramatúrgico,  memorialístico, um best-seller,  ficção científica, de humor, quadrinhos,  gibi, auto-ajuda,  revistas sobre televisão,  sobre fofocas da vida de  artistas (celebridades),   os policiais, ensaístico, críticos, mesmo um texto de jornal, revista,  um artigo, um editorial,  uma reportagem, uma entrevista escrita, em suma,  um texto que seja bem escrito, criativo,  o que não quer dizer que seja politicamente correto,  normativo,  vernacular.
     Tampouco do assunto estou   excluindo os textos políticos, nacionais, internacionais, regionais nem os históricos,  sociológicos,  artísticos, filosóficos, científicos, geográficos, antropológicos, de religiões, os educacionais,  os didáticos,  os de referências, os gramaticais,  os linguísticos e suas variações múltiplas e  complicadas.
           Com tão amplo espectro de opções textuais, para todos os gostos e tipos de leitores, torna-se árdua a tarefa de saber como  iniciar uma discussão  que pode ter um cunho frívolo ou pode até  ajudar alguém  que precise de uma orientação  sobre o que  ler e o que escrever. 
          Se não cometo um deslize informativo,  acho que livros de orientação  sobre leituras  têm muita voga nos  EUA. De lá talvez tenham vindo  as influências  desse tipo de livro. Eu mesmo li alguns de origem  americana. Os autores são muitos meticulosos neste aspecto. Eu até escrevi  um capítulo de um livro meu (Breve introdução ao curso de letras: uma orientação (Quártica, 2009)  sobre o curso de letras em que dou meus palpites e ainda  remeto o leitor a obras desta natureza. Será,  me pergunto  algo cético, que vale a pena alguém  orientar  leitores ou estudantes, ou  o público em geral  com  algumas dicas  propedêuticas sobre assunto de leitura? O último  livro  discutindo a questão-chave da leitura de que tive notícia foi Como ler livros, de Mortmer J. Adler e Charles Van Doren ( São Paulo: É realização, 2010, 430 p. Trad. de Edward Horst Wolff e Pedro Sette-Câmara).
          Não sei, tenho cá minhas dúvidas. Vai ver que nem  o   autor que escreveu  livros deste tipo seguiu os passos  dele  mesmo ou de outros  autores lidos  por ele. Tudo pode. Há um distância grande entre o  planejado e o realizado na prática. No entanto,  é indispensável  elaborarem-se  projetos,  planos, programas, pois tudo isso envolve  metodologias, as quais são de suma  importância ao desenvolvimento do conhecimento dos saber humano.  
           Em conversa com gente de culturas diversas e de níveis de conhecimento do mais baixo ao mais alto tenho   ouvido  coisas assim:”Ah, compro um jornal,  leio alguns textos que me chamaram a atenção e os outros deixo de lado. Nada achei de tão  atraente que me fizesse ler a matéria.” Ao final,  praticamente esse leitor,  não leu  o jornal, cujo destino  vai servir para auxiliar no recolhimento do lixo, cobrir  a área do tanque  para  proteger  o piso na limpeza da cozinha.
         Um outro amigo me  diz que, hoje em dia, ninguém quase ler mais nada de importante. Prefere fica  mexendo no celular  ou  brincando com algum  jogo eletrônico ou lendo  ou até  preferindo ler  gibis a ler  um  importante  autor, segundo anos atrás me falou  um  conhecido livreiro do Rio de Janeiro.
            Certa vez, um  professor de literatura brasileira  desabafou  com os seus alunos de doutorado sobre a má vontade de seus alunos de graduação que teriam que ler um livro  bem volumoso. “Professor,  qual é! Por que não recomenda um  livro com menos página? O mestre,  um conhecido  ensaísta, lhes respondeu amuado: “Logo vocês,  estudantes de letras, vêm me dizer que não   gostam   de ler, têm medo de livros  volumosos!!! O mundo está perdido!”  - sentenciou ele.
          Tenho uma pergunta de alcance geral: será que esta realidade sobre  índices de leitura  se restringe somente aos leitores comuns, a alguns estudantes? Não aconteceria com alguns  professores de língua portuguesa ou mesmo  de literatura? Não acredito que minhas indagações não  tenham  procedência.  Já ouvi  histórias  em torno  desta situação de penúria de leituras  da parte de  alguns docentes.
        Eu até  não os reprovo tanto  diante de certas  conjunturas de política educacional  em que  o professor brasileiro se  encontrou  no passado e se enocontra  ainda   no presente. Pressionado por vários  fatores negativos,  o  professor  se vê impedido de  melhorar  o seu  cabedal  de leituras por falta de tempo, por  se sentir  desanimado  num país  em que os governantes pouca atenção dispensam  ao magistério,  ou melhor,  à educação, ao ensino, à aprendizagem, diferente de países como a China, o Japão e mesmo os Estados Unidos  e outra nações  bem adiantadas.
      Eu próprio soube  por minha  esposa  que, anos atrás,  indo  ela à Secretaria Municipal do Rio de Janeiro  levar  alguns documentos  meus a fim de ser beneficiado  por alguma vantagem salarial (curriculum  vitae, certificados  de cursos,   presença  em seminários, congressos etc) e   conversando com  uma professora, desta ouviu  esta pérola: “Mas, por que  o seu marido  faz tantos cursos? Não servem pra nada.”  Mal sabia ela que aqueles cursos, aqueles certificados, aqueles seminários me seriam de muito valia  nos anos seguintes. Com uma mentalidade tacanha daquela  professora jamais  poderá  um país  atingir  um  elevado nível  de ensino e de educação.
      Pelo andar da carruagem, o leitor pode  perceber que a leitura é um instrumento formidável de  progresso intelectual e de realização profissional. Neste sentido, deixo implícito o quanto a leitura serve ao estudioso e só com muita leitura é possível sair da mediocridade. Não tenho pejo de afirmar que sou mais um leitor intensivo do que compulsivo.  Admiro os compulsivos, mas cada livro que li,  o fiz  com critério, profundidade   e  paixão. Francamente,  lhe declaro   que todos nós temos gaps de leituras que não  fizemos no passado, na mocidade. Entretanto,  na medida do possível,  aos poucos vamos  completando as nossas deficiências  e lendo aqueles autores que, por um circunstância ou outra, deixamos de ler nas mais férteis  fases de  nossas vidas: a  juventude, a mocidade.

      

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