Cunha e
Silva Filho
Este texto, vou avisando-o, leitor,
não visa a dar lições teóricas
sobre o assunto nem aqui, no espaço de
um crônica, seria conveniente cuidar de
um tema tão vasto e variado quanto falar
de leitura.
É apenas uma conversa livre, descontraída,
sem jargão acadêmico. Leitura simplesmente. Leitura de um texto, de preferência
literário, ficcional, poético,
dramatúrgico, memorialístico, um best-seller, ficção científica, de humor, quadrinhos, gibi, auto-ajuda, revistas sobre televisão, sobre fofocas da vida de artistas (celebridades), os policiais, ensaístico, críticos, mesmo um
texto de jornal, revista, um artigo, um
editorial, uma reportagem, uma
entrevista escrita, em suma, um texto
que seja bem escrito, criativo, o que
não quer dizer que seja politicamente correto,
normativo, vernacular.
Tampouco do assunto estou excluindo os textos políticos, nacionais,
internacionais, regionais nem os históricos,
sociológicos, artísticos, filosóficos,
científicos, geográficos, antropológicos, de religiões, os educacionais, os didáticos,
os de referências, os gramaticais,
os linguísticos e suas variações múltiplas e complicadas.
Com
tão amplo espectro de opções textuais, para todos os gostos e tipos de
leitores, torna-se árdua a tarefa de saber como
iniciar uma discussão que pode
ter um cunho frívolo ou pode até ajudar
alguém que precise de uma
orientação sobre o que ler e o que escrever.
Se
não cometo um deslize informativo, acho
que livros de orientação sobre
leituras têm muita voga nos EUA. De lá talvez tenham vindo as influências desse tipo de livro. Eu mesmo li alguns de
origem americana. Os autores são muitos
meticulosos neste aspecto. Eu até escrevi
um capítulo de um livro meu (Breve
introdução ao curso de letras: uma orientação (Quártica, 2009) sobre o
curso de letras em que dou meus palpites e ainda remeto o leitor a obras desta natureza.
Será, me pergunto algo cético, que vale a pena alguém orientar
leitores ou estudantes, ou o
público em geral com algumas dicas
propedêuticas sobre assunto de leitura? O último livro
discutindo a questão-chave da leitura de que tive notícia foi Como ler livros, de Mortmer J. Adler e
Charles Van Doren ( São Paulo: É realização, 2010, 430 p. Trad. de Edward Horst
Wolff e Pedro Sette-Câmara).
Não
sei, tenho cá minhas dúvidas. Vai ver que nem
o autor que escreveu livros deste tipo seguiu os passos dele
mesmo ou de outros autores
lidos por ele. Tudo pode. Há um
distância grande entre o planejado e o
realizado na prática. No entanto, é
indispensável elaborarem-se projetos,
planos, programas, pois tudo isso envolve metodologias, as quais são de suma importância ao desenvolvimento do
conhecimento dos saber humano.
Em conversa com gente de culturas diversas
e de níveis de conhecimento do mais baixo ao mais alto tenho ouvido
coisas assim:”Ah, compro um jornal,
leio alguns textos que me chamaram a atenção e os outros deixo de lado.
Nada achei de tão atraente que me
fizesse ler a matéria.” Ao final,
praticamente esse leitor, não
leu o jornal, cujo destino vai servir para auxiliar no recolhimento do
lixo, cobrir a área do tanque para
proteger o piso na limpeza da
cozinha.
Um outro amigo me diz que, hoje em dia, ninguém quase ler mais
nada de importante. Prefere fica mexendo
no celular ou brincando com algum jogo eletrônico ou lendo ou até
preferindo ler gibis a ler um
importante autor, segundo anos
atrás me falou um conhecido livreiro do Rio de Janeiro.
Certa
vez, um professor de literatura
brasileira desabafou com os seus alunos de doutorado sobre a má
vontade de seus alunos de graduação que teriam que ler um livro bem volumoso. “Professor, qual é! Por que não recomenda um livro com menos página? O mestre, um conhecido
ensaísta, lhes respondeu amuado: “Logo vocês, estudantes de letras, vêm me dizer que não gostam
de ler, têm medo de livros
volumosos!!! O mundo está perdido!”
- sentenciou ele.
Tenho uma pergunta de alcance geral: será
que esta realidade sobre índices de
leitura se restringe somente aos
leitores comuns, a alguns estudantes? Não aconteceria com alguns professores de língua portuguesa ou
mesmo de literatura? Não acredito que
minhas indagações não tenham procedência.
Já ouvi histórias em torno
desta situação de penúria de leituras
da parte de alguns docentes.
Eu até
não os reprovo tanto diante de
certas conjunturas de política
educacional em que o professor brasileiro se encontrou
no passado e se enocontra ainda no presente. Pressionado por vários fatores negativos, o
professor se vê impedido de melhorar
o seu cabedal de leituras por falta de tempo, por se sentir
desanimado num país em que os governantes pouca atenção
dispensam ao magistério, ou melhor,
à educação, ao ensino, à aprendizagem, diferente de países como a China,
o Japão e mesmo os Estados Unidos e
outra nações bem adiantadas.
Eu próprio soube por minha
esposa que, anos atrás, indo ela à Secretaria Municipal do Rio de
Janeiro levar alguns documentos meus a fim de ser beneficiado por alguma vantagem salarial (curriculum
vitae, certificados de
cursos, presença em seminários, congressos etc) e conversando com uma professora, desta ouviu esta pérola: “Mas, por que o seu marido
faz tantos cursos? Não servem pra nada.”
Mal sabia ela que aqueles cursos, aqueles certificados, aqueles
seminários me seriam de muito valia nos
anos seguintes. Com uma mentalidade tacanha daquela professora jamais poderá
um país atingir um
elevado nível de ensino e de
educação.
Pelo andar da carruagem, o leitor pode perceber que a leitura é um instrumento formidável
de progresso intelectual e de realização
profissional. Neste sentido, deixo implícito o quanto a leitura serve ao
estudioso e só com muita leitura é possível sair da mediocridade. Não tenho
pejo de afirmar que sou mais um leitor intensivo do que compulsivo. Admiro os compulsivos, mas cada livro que
li, o fiz
com critério, profundidade
e paixão. Francamente, lhe declaro
que todos nós temos gaps de
leituras que não fizemos no passado, na
mocidade. Entretanto, na medida do
possível, aos poucos vamos completando as nossas deficiências e lendo aqueles autores que, por um
circunstância ou outra, deixamos de ler nas mais férteis fases de nossas vidas: a juventude, a mocidade.
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