Cunha e Silva Filho
Estão brincando com fogo, ou melhor, com água,
pois as águas estão rolando em Paris, em toda a França, e furiosas, não respeitando nem as belezas das cidades nem o seus
inesquecíveis e imponentes monumentos,
museus, sua invejável Torre Eiffel, seu Arco do Triunfo, a Catedral de Notre Dame, sua avenida Champs Elysées, seu Bois de Boulogne, praças, quer dizer, marcos históricos, arquitetônicos de
incomparável beleza, os quais podem ser danificados com as inundações sem trégua. Deus nos livre delas! Já imaginou
o mundo sem Paris?
Em termos de finesse, de encantamento, de
civilização, de erudição, de vida civilizada, de alta filosofia, dos grande poetas e
prosadores, a primeira cidade que
me vem à mente é sempre Paris, a “vitrine do mundo,” como diria um crítico
brasileiro aludindo à sua densidade cultural O Sena (Le Saône, em francês) que elegantemente
atravessa a capital francesa, com
toda o seu charme fluvial, seus
barcos turísticos, desta vez
subiu além das medidas, tal qual fez em 1910, deixando mortos, e tal
qual ocorreu em 1982, segundo informa
uma reportagem saída no Globo (04/06/2016), na seção “Mundo.”
O que neste artigo quero ressaltar é a
discussão das mudanças do clima no mundo hoje.As inundações devastadoras na Europa
e mesmo em outros continentes, segundo os cientistas, se devem ao velho e batido
tema do aquecimento global, questão à
qual não se tem dado a devida importância
ainda que consideremos os órgãos ou entidades mundiais e as reuniões
de países que se debruçaram sobre essa
questão sem que, todavia, seus resultados
tenham sido aproveitados
para que o nosso planeta recue nas taxas altas de poluição, de
esbanjamento de dióxido do
carbono por todas as cidades do mundo.
Debates,
seminários, reuniões de
especialistas têm sido realizados sem que, até agora, vislumbremos
um quadro menos sombrio.Os sinais
de situações catastróficas estão à vista
de todos. Até crianças já sabem que os
efeitos do CO2 são para valer e que a
humanidade aguente as consequências que não são
alvissareiras. Muito ao contrário.
A citada mesma reportagem, refere duas
opiniões nada otimistas sobre o clima no planeta. Uma, de Chris
Feild, coordenador, em 1912, de um
relatório do “Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas” Foram
suas palavras: (...) uma atmosfera mais quente é capaz de reter mais água, e
como consequência, as chuvas tornam-se mais pesadas.” A outra é de Michael Oppenheimer, da
Universidade de Princeton EUA), ainda mais
dramática: (...) Chuvas forte? Inundações? Acostumem-se! Com as
mudanças climáticas, essa é a nova
realidade.”
Diante de um panorama apreensivo como o atual,
há que discutir
profundamente o que se poderia
mesmo fazer a fim de amenizar os desastres das águas. Não é tão difícil de equacionar, mas o difícil mesmo é mudar as mentalidades dos chefes de Estado que, não obstante comparecendo
alguns às reuniões de cúpulas, estabelecem
limites de diminuição de níveis de poluição de CO2, para seus respectivos países,
inclusive com marcos temporais
para implementação de
medidas visando à redução dos gases
poluentes. Na prática, não temos segurança bastante de que se cumprirão esses
acordos.
A hesitação de chefes de Estado é fácil
deduzir – tem profundas
implicações econômicas, i.e., a
ambição natural dos homens põe à
frente o dado econômico, e , em segundo plano, o ser humano. Mas, isso
é um raciocínio distorcido que não resiste nem mesmo à mais frágil argumentação. Se, em
primeiro plano, só se pensa nos
lucros da economia, do capitalismo
desenfreado e cada vez mais devorador
dos valores éticos do ser humano, a contrapartida vem pelos golpes mortais da Natureza-Mãe, que é sábia e não
se dobra à avidez da produtividade
global desmedida.
Depois, não me venham se queixar dos
bilhões de prejuízos ( o caso agora de Paris , da França) causados pelas
inundações e outros efeitos
destruidores do meio-ambiente, os
quais lhes serão mais
nefastos do que os ganhos
financeiros em razão da insistência na
produção multiplicada e desenfreada para
a satisfação fútil do consumismo. Ou seja,
nesse barco furado de adesão das pessoas
aos produtos do capitalismo ególatra e hedonista, saem perdendo todos
os consumidores doentios
mais ainda os grandes
empresários e os governos. É por essa razão que países como os Estados Unidos, por exemplo, não têm
presença tão marcante em cúpulas onde se discutem as reduções
exigidas em defesa da despoluição terrestre.
Daí ter dito linhas acima que a questão dos poluentes de todas as formas, sobretudo do CO2, exige uma reforma de mentalidades de líderes
mundiais. Obviamente, se não derem a devida
atenção a esse debate, não podemos vislumbrar nossas cidades livres de catástrofes e acts of
God que porão em risco a
continuação da vida em nosso planeta.
Os avisos das águas não são de brincadeira. São para valer.
Nessa batalha contra a poluição,
os escapamentos de gases de
veículos, de chaminés, de altos-fornos, de queimadas criminosas, do desflorestamento (da Amazônia, sobretudo), de
desapreço pela limpeza de nossos rios e mares, nós, que não temos peso ou voz de líderes mundiais ou nacos de barganha junto
aos países ricos e desenvolvidos, o que temos que fazer de bom é repudiar,
por todos os meios de comunicação, com o nosso clamor de indignação contra os
predadores da Terra.
V., consumista inveterado, pense em nosso planeta, já por si, tão vilipendiado, tão escavado,
tão esburacado (vejam as explorações contínuas das minas pelo mundo), tão explodido em testes de armas atômicas, ou ameaçado por usinas nucleares , pense nos seus semelhantes que não têm a sua mentalidade, e nos
deixe viver em paz e principalmente deixe em paz o nosso planeta, lindo, maravilhoso,
deslumbrante, que é a Terra, com a sua lua, o seu sol e o espaço sideral,
à noite, pontilhado de estrelas.
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