sexta-feira, 20 de março de 2015

Tradução do poema "The Vision", de H.W. Longfellow (1807-1882)







“HADST thou stayed, I must have fled!”
That is what the Vision said.


In his chamber all  alone,
Kneeling on  the floor of stone,
Prayed the monk in deep contrition
For his sins of  indecision;
Prayed for  greater self-denial
In temptation and in  trial;
It was noonday  by the dial
And the monk was all alone.

Suddenly, as if it lightened,
An unwonted splendour brightened
All within and without him
In that narrow cell of stone;
And he saw the blessed Vision
Of our Lord, with light Elysian,
Like a vesture wrapped about Him,
Like a garment round Him thrown.

Not as crucified and slain,
Not in  agonies  of  pain,
Not with bleeding hands and feet,
Did the monk his Master see;
But as in the village street,
In the house or harvest field,
Halt and lame and blind He healed,
When he walked in Galilee.

In an attitude imploring,
Hands upon bosom crossed,
Wandering, worshipping, adoring,
Knelt the monk in  rapture lost.
“Lord”, he thought, “ in heaven that reignest,
Who am I, that thus Thou deignest
To reveal Thyself to me?
Who am I, that from  the centre
Of Thy glory Thou shouldst enter
This poor cell, my guest to be?”
Then, amid his exaltation,
Loud the convent bell appalling,
From its belfry calling, calling,
Rang through court and corridor
With persistent iteration
He had never heard before.

It was now the appointed hour
When  alike in shine or shower,
Winter’s cold or summer’s heat,
To the convent portals came
All the beggars of the street,
For their dole of food
Dealt them by the brotherhood;
And their almoner was  he
Who upon his bended  knee,
Wrapt in silent ecstasy
Of divinest  self-surrender,
Saw the Vision and the splendour.

Deep  distress and hesitation
Mingled with  his adoration;
Should he go or should he stay?
Should he leave the poor to  wait
Hungry at the convent t gate,
Till the Vision    passed away?
Should he slight his radiant guest,
Slight visitant celestial,
For a crowd of ragged , bestial
Beggars at    the convent gate?
Would the   Vision there remain?
Would the Vision come again?

Then a voice within his breast
Whispered audible and clear,
As if  to the outward ear;
“Do thy duty; that is best;
Leave unto thy Lord the rest!”

Straightway to his feet he started,
And with longing look intent
On the   blessed Vision bent,
Slowly from  his  cell departed,
Slowly on the errand went.
At he the gate the   poor were waiting,
Looking through the iron grating,
With that terror in the eye
That is only seen in those
Who amid their wants and woes
Hear the sound of doors that  close,
And of feet that  pass them  by;
Grown familiar with disfavour,
Grown familiar with the savour
Of the bread by which men die!
But to-day, they knew not why,
Like the gate of Paradise
Seemed the convent gate to rise;
Like a sacrament divine
Seemed to them the bread and wine.

In his heart the monk was praying,
Thinking of the homeless poor,
What they suffer and endure;
What we see not, what  we see;
And the inward voice was saying:
“Whatever thing thou dost
To the least of Mine and lowest,
That thou doest unto Me!”

Unto Me! But had the Vision
Come to him in beggar’s clothing,
Come  a mendicant imploring,
Would he then have knelt adoring,
Or  have listened with derision,
And have turned away with loathing?

Thus his conscience put the   question,
Full of  troublesome suggestion,
As at   length, with hurried pace,
Towards his cell he turns his face,
And beheld the convent bright
With supernatural light,
Like a luminous cloud expanding
Over floor and wall and ceiling.

But he paused with awe-struck feeling,
At the threshold of  his door,
For the Vision still was  standing
As he left it there before,
When the convent bell  appalling,
From its belfry calling, calling,
Summoned him to  feed the poor.
Through the long hour intervening
It  had waited his return,
And he felt his bosom  burn,
Comprehending all  the meaning
When the blessed Vision said,
“Hadst thou stayed, I must have fled.”


             
               

                        A Visão

       “SE TIVÉSSEIS  permanecido, Eu o teria   abandonado.”


Solitário em seu aposento,
Ajoelhado no chão de pedra,
Orava um  monge, em profunda contrição,
Por seus  pecados de hesitação.
Orava por uma mais forte abnegação 
Quando tentado e provocado.
O relógio meio dia marcava.
Como se de repente iluminado
E o monge, sozinho, se encontrava.

Como se  de repente relampejasse,
Um esplendor incomum  iluminou
Todo o seu  íntimo e o seu  exterior
Naquele estreito aposento de pedra.
Viu ele a Visão abençoada
De nosso  Senhor no  esplendente Eliseu
Qual uma veste envolvendo-O,
Qual, em volta  Dele,  lançada uma vestimenta.

Não viu seu Mestre como crucificado e morto,
Nem na agonia  das dores,
Nem com as mãos e os  pés sangrando
Mas como  se estivesse na ruas do lugarejo,
Na casa ou nos campos  de colheita
Ao avistar os coxos  e os aleijados e  os cegos
Assim  que  na Galileia  entrou.

Implorando com um gesto,
As mãos no peito  cruzadas,
Maravilhando-se, adorando,  louvando,
Em êxtase, ajoelhou-se o monge.
“Senhor,” pensou, “nos céus onde reinais
Quem sou eu, assim,  que Vos dignastes
A revelar-Se  para mim?
Do centro da Vossa glória, quem sou eu
para merecer que entrásseis
Neste humilde aposento,  tornando-Vos meu  hóspede?”.
Em seguida,  em meio à sua  exaltação,
Do convento  o assustador sino, chamando, chamando bem alto
Ressonou por toda a parte do pátio e do corredor
De forma  intensa  e  contínua
Nunca antes ouvida em qualquer tempo.

Chegara  agora a hora  combinada
Quando, sob sol ou  forte chuva,
Ou frio  do  inverno  ou calor  do verão,
Ao portão  do  convento vinham
Todos os cegos e coxos e aleijados.
Todos os  mendigos  da rua
Receberem a esmola  diária
A eles distribuída pela irmandade
O seu esmoler   era  o monge,
O qual,  ajoelhado,
Mergulhado em silente  enlevo,
No mais divino  desprendimento
A Visão e o esplendor  presenciou.

Profunda depressão e dúvida
Misturavam-se à sua louvação..
Deveria ir ou deveria  ficar?
Deveria  deixar os  pobres  esperando,
Famintos, no  portão do convento
Até que  a Visão sumisse?
Deveria abandonar seu  precioso  hóspede,
Celestial passageiro  Visitante
Esquecendo  um multidão de andrajosos grosseiros,
Mendigos à espera no  portão?
Permaneceria ali a Visão?
Será que    voltaria?

Logo depois,  dentro de seu  peito  uma voz
Murmurou, clara e audível:
“Fazei vossa  obrigação, é o mais  aconselhável.
Deixai que do resto cuide o   Senhor!”

De inopinado pôs- de pé
E com uma intenção  nos semblante ardente,
Curvado sobre a Visão abençoada,
Devagar  partiu de sua  cela
Devagar, para a sua  missão,  encaminhou-se.
Os pobres à porta aguardavam.
O gradeado de ferro  examinaram
Com os olhos atemorizados,
 Tão comum àqueles
Que, em meio às carências e aflições,
Ouvem o som  das  que se fecham
E de pés que passavam  junto   deles.
Crescidos no meio do  desprezo,
Crescidos no meio  do cheiro
Do pão pelo qual os homens morrem!
Agora,  contudo, ignoravam a razão pela qual,
à semelhança do portão  do Paraíso,
O portão do convento   abrir-se parecia,
Tal qual um divino sacramento
Se lhes  figuravam o pão e o   vinho.

Rezava  o monge verdadeiramente
Pensando nos  pobres sem teto,
O quanto sofrem e resiste,
O quanto não vemos  ou vemos..
A voz interior afirmava:
“O que quer que façais
Por menos e mais simples  que seja em Meu nome,
Fazeis por Mim.!”

Por Mim! Contudo, se a Visão  lhe tivesse
Chegado na figura de mendigo
Implorando  qual um  esmoleiro,
Teria ele, então, se  ajoelhado adorando-O
Ou te-lo-ia  ele escutado com  desdém?


Desta  forma,  o interrogava a sua consciência
Plena de sugestões  perturbadoras.
Finalmente,  com  passo  ligeiro,
Volve  o rosto  para  o seu  aposento
E contemplou do convento o brilho
De uma luz sobrenatural
Tal como uma  nuvem expandindo-se
Por sobre o chão,  a parede e o teto.
Porém, amedrontado,  deteve-se
Na soleira  de sua  porta.
Eis que a Visão ainda ali  se  encontrava.
Da mesma maneira  que a havia  ali.deixado
O assustador sino do convento
Do seu campanário chamando, chamando,
Convocou-o a alimentar os pobres.
Durante  a longa interminável hora,
Ela havia esperado  por seu  regresso.
Sentiu o monge o peito em chamas
Compreendendo, por fim,  com clareza todo o sentido
Do que  falava a Visão abençoada:
“Se tivésseis  permanecido, Eu  o teria  abandonado.”

                                                           (Trad. de Cunha e Silva Filho)









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