Cunha
e Silva Filho
Até pensei que as
eleições presidenciais seriam realizadas em clima de respeito mútuo. Não é
o que está acontecendo para vergonha de todos nós eleitores.
Depois do
infausto acidente aéreo de Eduardo Campos, duas
competidoras saíram a campo (sem
trocadilho), uma atacando, a
petista Dilma, a outra, Marina, se defendendo com o discurso da prudência.
Marina vem das lutas ambientais, de voz
mansa, baixa, pouca
adequada ao timbre de vozes
de candidatos que almejam
vencer no grito. Marina é tranquila, não provoca, não
alardeia, lembra um pouco as mulheres
indianas, mas, no corpo frágil, como
Gandhi, parece ser dotada
de uma determinação de querer
vencer, de enfrentar os desafios
enormes do país. O PT não lhe dá
trégua, indiretamente a ataca quando associa
o nome do falecido Eduardo Campos em outro
escândalo relacionado a benefícios fraudulentos envolvendo
governadores, deputados e
senadores de vários partidos,
inclusive petistas. Mal
foram prestadas homenagens a
um político em ascensão, morto precocemente, e já tem seu nome
conspurcado pela fúria dos abutres politiqueiros. A família de Campos
deveria, agora, vir a público defendê-lo e exigir
retratação. Afinal, um morto não pode se defender, o que torna mais covarde
a suposta calúnia.
Dilma, por sua
vez, sempre com suas
declarações evasivas, diz que as investigações devem ser
feitas e os implicados punidos caso sejam considerados responsáveis por seus delitos. É fácil perceber que o PT vai jogar todos as suas cartas, todo o
seu veneno a fim de não perder as regalias
do poder imperial de que desfruta
desde a primeira posse do Lula.
Aécio
Neves, em segundo plano diante das
duas candidatas, procura
tirar seus dividendos sem grandes
ataques, sem ferocidades, o que
lhe poderá render alguns votos a mais.
Porém, a polarização já está lançada. Dilma não quer arredar do poder. Ninguém, segundo suas
convicções, lhe poderá tascar a faixa presidencial. Ela ainda quer andar, por mais quatro anos,
de Rolls-Royce nas paradas de
Sete de Setembro, com toda a sua
coorte e
áulicos palacianos. Marina é a
sua preocupação, a “pedra no meio do caminho.”
É preciso derrubar a frágil Marina, mulher sem ostentação de vaidades femininas, de gestos
moderados, de voz pausada, de olhar profundo como se estivesse
sondando todos os possíveis golpes
baixos dos adversários. Lembra
mesmo o tipo comum de vestir-se de uma evangélica, de
uma mulher simples,
sem physique de rôle. Nem
quando foi ministra ou senadora dava a impressão exterior
de que exercia um cargo importante..
O
apresentador Boris Casoy, em mesa redonda, conversando com jornalistas,
pôs em dúvida a capacidade de Marna
para ser Presidente da República. Não atinei com a
perplexidade dele porque a Dilma nunca foi
prefeita, governadora, i.e., não
tinha experiência de cargos executivos
e, no entanto, aí está como Presidente. O pior foi o Lula, sem competência nem escolaridade para
dirigir o mais alto
cargo da Nação.Só tinha a seu favor a habilidade de armar seus discursos populistas, sua lábia, sua malandragem política, seu messianismo, sua fácil
e sedutora comunicação com as massas. Neste talento é quase imbatível.
Conseguiu conquistar o gosto tanto do povão quanto
dos sociólogos europeus ou
americanos, que o admiram e julgam que seja
um político da esquerda, quando
sabemos que,hoje, sua
família já se elitizou e ele
próprio, já mudou
muito seu aspecto físico, sua indumentária., que não é mais a
de um ex-torneiro mecânico ou
sindicalista.
Na
verdade, um Presidente da República,
para governar bem, tem que escolher pessoas
competentes e íntegras para
serem seus ministros. No
entanto, o PT, durante toda o seus
período no poder, não
escolheu as pessoas corretas
para os cargos mais importantes.
A nomeação por razões politiqueiras e não pelo bom currículo do indicado. Os cargos são, por assim dizer,
loteados, mercadejados, pelos diversos partidos
que constituem a chamada base
política do governo, e é aí que o
desempenho da governança se perde no submundo
dos conchavos, dos
conluios, dos bastidores escusos
do balcão sujo e fétido das decisões
a serem tomadas ao arrepio da autenticidade dos princípios democráticos, nas
esferas dos poderes executivo e
legislativo, assim como no Congresso
Nacional e até mesmo respingando no judiciário.
O
Brasil ainda está longe de atingir um nível
de excelência na sua forma
de realizar eleições. Persistem
os mesmo vícios atávicos, a propaganda
política na televisão e fora dela
ainda se cerca de
um ritualística que mais
se aproxima da pantomima, de um tosco
espetáculo circense, de
saltimbancos, prestidigitadores e ilusionistas de teatro de revista de segunda ou terceira
categoria. É uma ópera bufa, uma cena
burlesca, uns cinquenta minutos dignos de uma
peça satírica vicentina. Esse
palco de momices, de figuras
caricatas, grotescas, é um
banho, em geral, de imbecilidades empurradas goela abaixo de quem assiste
a esse teatro de comédia.
Essa
interrupção obrigatória foi com
justiça chamada pelo brasileiros de “programa
humorísticos.” Não sei por que cargas d’água ainda o
Tribunal Eleitoral mantém
essa configuração rabaelaisiana.
A continuar com está, o país nada
renovou nas formas de divulgar
as ideias, em elevado nível, de
seriedade e de discussão
dos grandes problemas brasileiros.
Com
a balbúrdia de coligações de partidos
de colorações as mais díspares,
ou melhor, disparatadas, não é
possível aperfeiçoar nossa democracia em bases de
elevação moral.Quando um país como o
Brasil elege oportunistas de todos os
segmentos da sociedade que se
candidatam para auferir vantagens
e mordomias, quando não envolvimento
em maracutaias, mensalões e negociatas
com criminosos danos
ao Erário Público, difícil
se torna ainda ter esperança numa democracia de
verdade entre nós.
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