You are never too old to set another goal or
to dream a new dream.
C.S.Lewis
Cunha e Silva Filho
Em 1940, o então jovem
intelectual baiano Afrânio
Coutinho publicou no Rio de Janeiro o ensaio
A filosofia de Machado de Assis, obra que, na
opinião de Tristão de Athayde, o
grande crítico do Modernismo da sua primeira fase (1920-1945), o “consagrou.”
Coutinho, antes, só era mais conhecido na
sua província natal, onde exerceu o
magistério secundário nas disciplinas de literatura e história, e, ao mesmo
tempo, desenvolvia atividade na imprensa. Já dera a lume três
ensaios, Daniel Rops e a ânsia do sentido novo da existência, publicado
na Bahia em 1935, O humanismo, ideal de vida (1938), e L’Exemple du métissage, editado
em Paris, em 1939. O segundo destes ensaios, todavia,
não aparece na relação do
conjunto de suas obras completas no espaço
reservado às edições de sua produção intelectual
Como seria natural a qualquer moço
estudioso de literatura, história, e
filosofia, Coutinho, no ano em que saiu
publicado seu ensaio
sobre Machado de Assis, enviou exemplares a vários críticos que militavam nos rodapés da imprensa do Rio de Janeiro e certamente de outros estados, alguns já firmados na vida literária brasileira,
entre eles, Sérgio Buarque de Holanda e
Álvaro Lins. Este último atuava intensamente
como crítico literário numa coluna do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro; o primeiro, nos anos 1940 e 1941, fora convidado
para exercer a crítica literária
no Diário de Notícias do Rio de
Janeiro.
Por obrigação do ofício, as obras recém-lançadas tinham que ser lidas com certa
rapidez e simultaneamente serem apreciadas com a necessária seriedade,
pelo menos é o que se esperava de um
crítico de rodapé consciente
e competente. Ao críticos
incumbidos de ler, opinar e
julgar um novo livro, caberia uma tarefa
espinhosa para a qual era de se
esperar que fossem eles
indivíduos de reconhecido preparo intelectual, sobretudo na esfera
literária. Em geral, assim como acontece
até hoje, os críticos pertenciam a profissões ligadas à vida cultural,
como professores, jornalistas,
escritores, autodidatas ou pessoas
de outras atividades mas que
também tinham vocação
para os estudos literários.
A atividade crítica através dos
rodapés de Suplementos Literários corresponde,
guardadas as diferenças de
estilo de escrita, extensão dos artigos e de objetivos
associados aos interesses da
imprensa, às chamadas resenhas das seções dos jornais
atualmente que ainda dedicam
um caderno ou seção de literatura, notas
de lançamentos de livros, anúncios de
eventos culturais, reportagens
sobre escritores e outras
matérias afins.
No mesmo ano de 1940, conforme
era de se esperar, o ensaio de Coutinho sobre Machado de Assis foi lido, entre
outros, pelos dois críticos
mencionados.
Inicialmente, posto que
identificando alguns pontos meritórios no ensaio A filosofia de Machado de Assis, os artigos de Álvaro Lins[2] e Sérgio Buarque de
Holanda,[3] cada qual à sua maneira, e
dentro de seus princípios estéticos de compreensão
no terreno da metacrítica, consideraram a análise
de Coutinho imperfeita no
seu conjunto, mal planejada e carente de argumentação plausível no tocante à defesa
do eixo central da tese, a qual,
em síntese, seria
afirmar ser Blaise Pascal
o ponto de apoio fundamental
como elemento de maior influência sobre o pensamento
do escritor Machado de Assis, principalmente, para
mostrar que Machado de Assis, como
autor e como intelectual, devotava
um sentimento abissal de “ódio à vida.”
Foi essa visão de Coutinho, i.e.,
eleger Pascal como o autor que mais influenciou Machado de Assis, quer como intelectual, quer como ficcionista, agravada, além disso, pelo
sentimento de “ódio da vida” na obra
machadiana, que desencadeou
algumas argumentações
desfavoráveis de Álvaro Lins e
de Sérgio Buarque de Holanda em torno do ensaio. Segundo Lins, esta questão do “ódio à vida” foi igualmente
levantada por outros exegetas de Machado de Assis.
Comentando a repercussão da
polêmica sustentada entre Álvaro Lins e Afrânio Coutinho, o ensaísta João Cezar
de Castro Rocha, em tom de desabafo, conciliatório
e favorável a Álvaro Lins, considerou ter sido o artigo de Sérgio
Buarque de Holanda muito mais devastador
do que o de Álvaro Lins, consoante as
palavras de Castro Rocha: “(...) à luz dessa resenha, o artigo de Álvaro Lins
transforma-se num grande elogio.”
Não vemos
tanto assim, porquanto Lins é mais contundente e mais incisivo ao
levantar a questão do
estilo
da escrita de Coutinho.
A par disso, o artigo-ensaio, conquanto,
inicialmente se mostre receptivo com
o ensaio, ressaltando-lhe algumas
qualidades, nos deixa perceber certa ironia
que bem pode ser evidente quando,
por exemplo, alude ao ensaio de
Coutinho como um ‘exercício’ literário indiciado pelo sentido catafórico do título do artigo-ensaio: “O segundo Afrânio, um ‘exercício’ literário acerca de Machado de Assis”
Quem tenha maior conhecimento da obra de Lins
sabe o quanto o crítico pernambucano valorizava nos seus julgamentos, além da
personalidade literária de um autor e o
valor da obra, a qualidade de estilo de um
escritor e, no caso específico de um crítico literário, a valorização desse aspecto ainda tinha
para ele maior peso.
De resto, desde a publicação do
seu segundo trabalho, o conhecido
ensaio
História literária de Eça de Queiroz,
escrito
quando ainda muito moço,
Lins, já àquela época
da edição desse ensaio sobre o romancista português, destinara um
importante capítulo, o de número onze, “O problema do estilo,” a uma
discussão sobre o
“instrumento verbal”
do
autor de
O primo Basílio que, desde
logo, confirma a importância que o
ensaísta brasileiro dava à linguagem
literária no que tange ao
elemento do estilo, e essa preocupação estética se faz patente ao longo de toda a sua
obra de crítico.
Na realidade, ao censurar o estilo
da escrita de Coutinho, Lins, embora
muito cedo tivesse demonstrado ser um espírito
lúcido nos seus juízos críticos,
choveu no molhado e não conseguiu
lobrigar um aspecto no desenvolvimento
da vida de um escritor, e mesmo do ser
humano em geral, quer dizer, uma falha estilística pode figurar apenas uma fase passageira na escrita de um autor,
assim como um mesmo autor pode, em outros trabalhos, escrever com uma qualidade
bem superior.
Escritores há, em todos os tempos, e aí podemos incluir
igualmente os críticos – por que
não? – os quais se modificam, se
aperfeiçoam e atingem uma fase admirável
de sua expressão escrita. A
formação literária, em qualquer gênero, desde que exercitada com seriedade e
devotamento à atividade, desejo de
superar-se, pode alcançar
um bom ou mesmo
excelente nível de elaboração literária, ainda que não
possamos generalizar, como é exemplo
o caso do crítico José
Veríssimo, por sinal lembrado
por Lins no mencionado
artigo.
No entanto, vendo, sob outra
perspectiva, o incidente biográfico-literário envolvendo Coutinho, nos
inclinamos a reconhecer que qualquer mortal, em sã consciência, não tende a receber passiva e
generosamente uma observação severa de um
elemento decisivo da linguagem de qualquer escritor, que é o estilo, além do mais
em artigo-ensaio que, na sua
generalidade, economiza comentários
favoráveis a um texto escrito
com competência, boa pesquisa e
com um objetivo indisfarçável de
contribuir para o evoluir dos estudos machadianos entre nós.
Mesmo em faixas de
maior amadurecimento intelectual, não faltam exemplos, mais no passado do que no presente - é bom que se frise -, de esgrimistas de ideias discordantes, reagindo contra um adversário, ao contrário de
algumas polêmicas que, de vez em quando, surgem atualmente nos cadernos culturais dos maiores jornais do país. Geralmente, são bem
mais comportadas e não ostentam a
virulência expressa na linguagem
desabusada das antigas polêmicas, que desancavam os
oponentes e os transformavam
em retratos caricatos e grotescos.
Hoje, não, as divergências de ideias
são expostas, em geral, com maior
respeito ao antagonista. Quando menos educada, de ordinário não passam
da tréplica no uso do espaço da
imprensa ou de outros meios de comunicação, de parte a parte em defesa de posições
supostamente feridas.
Ninguém gosta
de receber críticas de outrem em plano algum da vida social ou cultural,
O troco logo vem de quem se sente
ultrajado com o que produz,
especialmente no plano intelectual. A vítima da crítica geralmente parte para o revide, que pode ou não se transformar em polêmica, a qual
pode ser duradoura - repetimos - como o
foi na refrega entre Coutinho e Lins.
Por outro lado, o fulcro dessa polêmica, a nosso ver,
está radicalmente atrelado a
razões de política literária, de
disputa de hegemonia intelectual no cenário
brasileiro, ao lado de outros motivos também prevalentes: visões diferentes, em muitos temas no campo da crítica literária, da relação entre jornalismo literário e
crítica, de ensino universitário.
Em outras palavras, o vetor principal da
polêmica foi o embate entre o
Impressionismo e a Nova Crítica.
O que a nossa experiência de
leitura da obra crítica de Lins indica é
que, para Lins,
não seria coerente e
sensato fugir ao dever
intelectual de apontar qualidades e
deficiências de obras que passassem pelo seu julgamento. Por isso, não manifestava o
mínimo gesto de indulgência diante de uma obra considerada por ele sem qualidades, não somente . na área estritamente
literária, mas também em outros domínios
por onde circulava a sua
curiosidade intelectual.
Um exemplo
marcante dessa postura do crítico
foi o seu julgamento do romance naturalista,
A carne, de Júlio Ribeiro,
obra que para Lins não significava nada
para a literatura brasileira, ou como
ele costumava dizer citando uma frase
no original de uma das
línguas que possivelmente mais dominava: “hors de la littérature...”
Seu raio de ação na incansável atividade
de crítico, suas posições
vigorosas, destemidas e sua independência
intelectual provavelmente tenham levado
o poeta Carlos Drummond de
Andrade a chamá-lo de “Imperador da
Crítica,” antonomásia que esconde um tanto de
sutil ironia, dado que o
primeiro elemento do sintagma,
“imperador,” (do latim “imperator,
significando “mandar,” “comandar,” figurativamente, “senhor”, “árbitro da vida
de alguém”)
não deixa de remeter a um sentido
plurívoco, i.e, soberania crítica, espírito de liderança, autoridade
intelectual, poder de controle
sobre valores estéticos, bem ajustado, por sinal, àquela declaração de guerra contra Lins
feita por Fausto Cunha, ou seja,
a “(...) da luta contra a perpetuação da
mentalidade critica que lhe parecia
simbolizar.”
Lembraríamos a propósito e de relance que o lado relativo
e perverso da crítica é que, ao se
rebelarem contra figuras e companheiros da experiência literária, sobre uma forma
de práxis crítica ainda
utilizada, mas já reputada
como ultrapassada por uma nova geração, invariavelmente, mais adiante, os mesmos
agentes detratores se tornam da mesma
forma rejeitados pela outra geração mais nova, nessa
espécie de eterna linha de
tempo volúvel de surgimento de outros approaches
e visões estéticas.
Isto serve tanto para os gêneros
literários tradicionais ou
para novas formas
de experiências e ousadias ficcionais
ou poéticas quanto para
essa forma de gênero de prosa - uma atividade visceralmente
estético-filosófico-literária denominada crítica literária, em suas
várias correntes do pensamento contemporâneo.
Ora, desfrutando de uma posição
proeminente nos áureos tempos
como crítico impressionista, a vertente crítica a que se
filiava decerto seria o alvo mais
indicado a fim de que Coutinho disparasse toda a munição de que dispunha na
peleja para ver implantada
no país a Nova Crítica no nível
do ensino secundário e da
universidade – diríamos - na
“unidade de sua diversidade,” segundo
era sua pretensão, num tempo em
que mal começava a funcionar
o ensino superior de letras.
De 1940 à década de 1950, aproximadamente,
podemos considerar Álvaro Lins um dos
maiores críticos de sua geração
com inegável prestígio na segunda fase do Modernismo,
período em que a sua militância critica o alçava a uma posição
de liderança no papel por vezes
nem sempre confortável de julgar
autores, novos ou já firmados na
produção literária brasileira.
. Tal se
deu com o surgimento, em nosso
país, de novas correntes do pensamento
crítico provenientes dos Estados Unidos
e da
Europa a partir das décadas de
30, 40, 50 e 60 do século
passado e cujos métodos aqui foram progressivamente sendo aplicados graças
à experiência de intelectuais brasileiros com formação
em grandes centros
norte-americanos ou europeus em geral, ou
por via das leituras de livros
importados com os quais estudiosos nossos
se atualizavam, numa época em que no país iam
surgindo as primeiras Faculdades de Letras e de Filosofia.
Mais uma década após a
publicação do artigo de Álvaro Lins, ou seja, precisamente, em 1951, outro fato circunstancial coloca Lins e Coutinho em situação de confronto ou de competição, qual
seja, num concurso daquele ano para duas
vagas da cátedra de Literatura do
Colégio Pedro II, se inscreveram quatro candidatos, dois dos quais eram
Lins e Coutinho. Lins vinha lecionando
no Colégio Pedro II desde 1941. Coutinho, de regresso dos Estados
Unidos, em 1947, da mesma forma fora nomeado professor interino daquela instituição federal de ensino, permanecendo nessa
condição até 1951, ano do concurso.
Realizado o concurso, Lins e Coutinho foram aprovados. O primeiro
apresentou a tese A técnica do
romance em Marcel Proust, trabalho depois
publicado em livro; o segundo a tese Aspectos
da literatura barroca, a qual, da mesma sorte foi
publicada em livro.
Coincidentemente, as duas teses, em forma de
livro, tiveram grande repercussão, sendo que
Aspectos da literatura barroca,
conforme assinalou José Paulo
Paes, foi estudo
pioneiro no país, inclusive,
é obra citada na bibliografia sobre o Barroco na notável obra Teoria
da literatura de René Wellek
e Austin Warren, a qual, em tradução portuguesa, veio a lume em
1962. Aspecto da literatura barroca foi ainda citada na monumental
obra Teoria da literatura, de
Vítor Manuel de Aguiar e Silva.
Um estudioso
da vida e obra de Afrânio
Coutinho, Odilon Belém, no livro
Afrânio
Coutinho filosofia - uma
filosofia da literatura,
apresenta, todavia, outra versão sobre a realização do concurso nestes
termos:
Concorreram a duas cátedras quatro
candidatos. Dois deles bafejados pela maioria
da congregação, sendo que uma das duas cátedras, todos sabiam, destinava-se ao
postulante que faz carreira na imprensa e que tinha
por trás de si um dos grandes jornais da época, de que era redator. (...) (grifo nosso)
Na mesma obra do trecho citado
acima, Odilon Belém relata que o concurso teve características de um “evento”comemorativo, espécie de torcidas
organizadas, acompanhando
pari passu as fases do certame, as conversas dos bastidores, o que
pensavam os componentes da banca, a congregação do Colégio Pedro II,
e podemos
imaginar o quadro que ali se
desenhava ou a paisagem física,
humana, o clima de tensão e nervosismo
de candidatos de mistura com a
tranquilidade da exposição de outros
candidatos durante a prova oral, cujo tema sorteado para todos era discorrer sobre Rousseau. Relata Odilon
Belém que Coutinho estava “tranquilo” durante a exposição e dela saiu-se de forma brilhante.Belém ainda menciona um
pequeno trecho lido na imprensa do momento que, acerca do concurso, afirmou ter sido ‘um dos
pleitos mais memoráveis do espírito
naquele educandário’.
Não é preciso grande esforço da parte do
leitor da obra de Odilon Belém
para identificar que o “postulante” em causa é o crítico Álvaro
Lins e o jornal não é nada menos
do que o
Correio da manhã, do
qual Lins fora
redator-chefe
As circunstâncias nas quais
transcorreu o concurso são,
en passant, relatadas na obra
A
luta literária,
do crítico
e ficcionista Fausto Cunha,
intelectual que, junto com outros, no ano de 1951, se colocou ao lado
de Afrânio durante o concurso, assim como igualmente esteve a favor de Coutinho, na
refrega que este travava contra o Impressionismo na sua coluna dominical “Correntes Cruzadas,” do
Suplemento Literário
do
Diário de Notícias,
do Rio de Janeiro.
Fausto
Cunha e outros companheiros,
perfilhando os mesmos propósitos de
desbancar o Impressionismo
crítico e “o primado crítico de Álvaro Lins”, escreviam na revista
Ensaio e Revista Branca. A meta de Fausto Cunha e de
seus colegas era a mesma de Coutinho,
lutar por mudanças e renovação
da crítica literária
brasileira. No dia do concurso de
Coutinho Fausto Cunha estava presente e torcia, como outros companheiros,
pela vitória de Coutinho.
Era a primeira vez que via o
escritor baiano pessoalmente. Fausto Cunha aproveitou a realização do concurso para, através da
Revista Branca, fazer “uma
cobertura entusiástica” do evento.
Representa, ao lado de outros companheiros,
desse modo, a claque dos que queriam
a cátedra para Coutinho, assim como provavelmente haveria os simpatizantes de Lins.
Fausto Cunha e seu grupo já contavam com a
vitória de Lins, dado o seu prestígio
na época, assim podemos deduzir. Por essa razão, segundo Fausto, a
“participação de Lins no concurso era de
significação secundária.”
O
que ele e o seu grupo só desejavam era, repetimos, o sucesso de Coutinho ou como ele mesmo declara: “(...) a vitória de um novo conceito
de critica e de uma nova atitude perante
o fato literário”.
No capítulo “A Nova Crítica’ da mencionada obra de Fausto Cunha, o crítico assume abertamente a defesa de Afrânio diante do clima tenso
resultante da polêmica entre Lins e Afrânio, que já durava até então dez anos:
Tínhamos
naquele tempo, Afrânio Coutinho e eu
um ponto em comum: a luta contra o primado de Álvaro Lins –
dizendo melhor, a luta contra a perpetuação
da mentalidade crítica que ele parecia simbolizar. Na verdade,
combatíamos em campos quase opostos. Eu
via no autor do
Jornal de crítica um representante da ‘crítica colonial,’
mas via nele sobretudo a encarnação por excelência do
banausismo literário.(...)
(grifo do autor)
Porém, em nota de pé de página do
citado livro de ensaios, Fausto Cunha, se não renega a sua posição
crítica na guerra contra o Impressionismo
crítico de Álvaro Lins, no início dos
anos de 1950, da mesma forma não deixa
escapar esta confissão, a nosso ver,
reveladora na primeira metade dos anos de 1960:
(...) Minha posição em relação a Álvaro Lins
como crítico foi sustentada em vários artigos; hoje não valeria a pena
evocá-los. São crises de idealismo literário, cuja importância o tempo e o meio
se encarregam de esfriar. Hoje considero sua obra perfeitamente válida em
muitos pontos admirável.”
Convém assinalar que aquela nota
de pé de página se reporta à data
de publicação de A
luta literária, i.e., 1964. No mesmo
ensaio, Fausto Cunha, em outra nota de pé de página, a de nº 1, faz
outra afirmação pertinente:
“Também aqui vale o que ficou dito na primeira nota. Lembrar que tudo se passou
em 1951 e que de lá para cá muitos ventos sopraram. Nada renego, mas também já não tenho as mesmas ilusões imberbes”. (grifos nossos)
Naquele ano do concurso, 1951, a polêmica ainda
estava bem acesa, notadamente pela continuidade
dos artigos de Coutinho na já
aludida coluna dominical “Correntes
cruzadas,”do Suplemento Literário do Diário de Notícias. Persistiam os
ataques fulminantes do
crítico baiano ao Impressionismo de
alguns críticos brasileiros. Sua virulência, da mesma sorte,
se voltava para o estado, segundo
ele, deplorável da vida literária de então, onde grassavam o compadrio, os
grupelhos, os conchavos entre escritores
e lideranças intelectuais
cristalizadas.
Entretanto, a meta principal de Coutinho,
consoante acentuamos anteriormente, era
atingir o Impressionismo de Lins e seus seguidores. Grande parte dos
artigos saídos na coluna “Correntes cruzadas,” cujo início data de 1948 e vai até 1953, foi,
mais tarde, selecionada e reunida em livro que levou o nome da coluna.
Afirma
Coutinho, na longa introdução
ao volume, ter incluído, além dos artigos, chamados
por ele de “crônicas,” outros textos
publicados em lugares e datas
diferentes. Da mesma sorte, ele
coligiu outros artigos antes saídos na imprensa datados de 1952 a 1959, que farão parte
do livro No hospital das letras, editado em 1963.