Cunha e Silva Filho
A Copa Mundial de Futebol de 2014 acabou há pouco no Maracanã.
Para os alemães foi uma apoteose. Os argentinos, à frente Messi,
grande craque da Seleção argentina, jogaram
bem e duramente. Foram intrépidos,
fizeram tudo o que podiam
mas não levantaram a tão almejada
Taça, que, agora, pertence à
Alemanha até 2018.
Não vi o jogo
do final do campeonato mundial
dentro do Maracanã, esse magnífico
estádio famoso mundialmente.. Estava em casa,
assistindo atentamente à partida
decisiva.
Já desde a
manhã, pelas ruas principais
da Tijuca, tropas da Polícia
Militar se colocavam
estrategicamente, fortemente
armadas, sobretudo na
Praça Saens Peña, coração do
bairro. Quem saiu para comprar alguma
coisa no supermercado, pôde verificar
a exibição de forças de segurança.
Soube, mais tarde, que na Praça Saens Peña,
ia haver uma manifestação de pessoas
contra a Copa. À noite, na internet, me
informam que o número de
manifestantes chegara a 400. No entorno do Maracanã as ruas estavam todas bloqueadas. Os jornais informam que houve tentativa de manifestação perto do Maracanã, mas os militares dispersaram o grupo energicamente, usando bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e tiros de paintball. Não preciso dizer que, mais uma vez, no Rio de Janeiro, a Polícia Militar agiu com truculência com um saldo de feridos e alguns presos.
Fico a imaginar:
o estado do Rio de Janeiro tem condições de dar segurança ao povo,. Entretanto, não o faz
no dia-a-dia da população. O aparato do Estado
Brasileiro foi feito para atender
aos maiorais, nacionais ou aos Chefes de Estado.Ah, se tudo isso
fosse dispensável, quer dizer, se não houvesse essa humanidade bárbara e violenta, e todos
pudéssemos nos dar as mãos
sem medo nem desconfianças num estado
deplorável de ver inimigos em
toda a parte do mundo e prontos a
aniquilar dignitários e o
povo sem proteção. Sobre as
cabeças dos homens comuns aos
dirigentes das nações paira uma grande
espada de Dâmocles. Instaurou-se
mais hoje do que no passado, em escala
planetária, um clima de paranoia,
a ameaça do inimigo oculto que pode surgir
de qualquer lugar a fim de destruir gente importante ou mesmo um cidadão
anônimo, mais aquela do que este.Todos desconfiam de todos e, assim, a vida em sociedade se vai esgarçando,
perdendo aquele estado de tranquilidade e bem-estar, de paz
e de alegria de viver.
Escrevo,
agora, esta crônica, em meio ao barulho ensurdecedor dos helicópteros do Exército levando, além de militares, as autoridades nacionais e internacionais que compareceram
ao Jogo Final do Campeonato Mundial de Futebol. Os helicópteros pousaram e decolaram no campo de esportes do Colégio Militar do Rio de Janeiro, na Tijuca, pertinho do Maracanã e de minha rua. Da TV pude ver Ângela Merkel, Putin, o Presidente da África do Sul, a Presidente Dilma que recebeu algumas vaias
e xingamentos de alguns grupos presentes
nas arquibancada – gesto que
reprovo porque não é assim que devemos tratar
um Presidente da República. Ainda
acredito que o maior protesto de
um povo
que não aceita um governante
é destituí-lo pelo voto. Só o voto, em eleições limpas, pode mudar uma situação política
pela raiz. Dizer palavrões contra um governante
é ato de incivilidade. Não serve para nada esse tipo
de falta de respeito.
Todos
os erros do presente governo federal podem ser denunciados
em manifestações pacíficas, sem
violência nem xingamentos. Nenhum aparato
policial pode fazer frente a um
clima pacífico de cidadãos brasileiros. Se o Brasil tivesse um
povo unido nas suas mais justas reivindicações – e são muitas e urgentes
-, poder-se-ia alterar substancialmente
o quadro
de corrupção e de injustiças
sociais crônicas em vários setores
da vida pública e privada. Porém,
para isso – repito - cumpre que a nossa sociedade seja mais
unida, solidária e honesta.
Voltemos
ao tema inicial de nossa crônica: o
futebol. Já se discutiu muito a importância de um esporte como o futebol e dessa importância devemos extrair um potencial que possa ser canalizado para fortalecer as forças solidárias
que devem orientar
nossos sentimentos de brasilidade,
de amor devotado ao nosso país, de desejos de que
a nossa sociedade modifique as suas tendências de individualismo.
Querer viver
numa redoma de egoísmo consumista, de desejar tudo em excesso e esquecendo os irmãos da mesma pátria, como
costumo exprimir o meu sentimentos de repúdio às guerras fratricidas do passado e do presente, é uma forma
insana de perpetuar um status
quo indefensável diante da dor alheia, da miséria
, da fome e da indiferença pelo
outro.
Um
volta aos velhos hábitos de um futebol natural
praticado sob a forma de fair
play, de torcidas sem traços
selvagens de fanatismo é já um
via certa para reformular
a convivência entre as
pessoas de um mesmo
país ou entre países. Dignificar
o esporte em geral é um passo bem dado em direção a formas de sociabilidades saudáveis.
Não
queiramos ser sempre e teimosamente nostálgicos. Contudo, quem há de discordar deste
cronista que, no tempo de Pelé,
de Garrincha, de Nilton Santos, o
futebol não era mais feliz e mais
espontâneo do que o de agora? Do
jogar pelo prazer de jogar sem o canto
de sereia da indústria lucrativa em que se transformaram os esportes, sobretudo
o futebol, há uma grande
distância. É justo que jogadores
sejam bem pagos.
No entanto, não é justo que o capitalismo faça do futebol uma atividade exageradamente rendosa para poucos. Ou seja, um negócio envolvendo clubes, federações, organismos internacionais que dirigem os esportes com o pensamento de, antes de tudo e acima de tudo, gerar altíssimos lucros a ponto de um jogador de talento primeiro pensar em ser milionário e, em seguida, em ser um grande jogador, por exemplo, precisa é de talentos, não de jogadores que só visam ao enriquecimento.
No entanto, não é justo que o capitalismo faça do futebol uma atividade exageradamente rendosa para poucos. Ou seja, um negócio envolvendo clubes, federações, organismos internacionais que dirigem os esportes com o pensamento de, antes de tudo e acima de tudo, gerar altíssimos lucros a ponto de um jogador de talento primeiro pensar em ser milionário e, em seguida, em ser um grande jogador, por exemplo, precisa é de talentos, não de jogadores que só visam ao enriquecimento.
Sei
que remar contra a corrente da “filosofia” dos cartolas e do big
business nacional e internacional é tentar lutar contra
moinhos de vento, contra a engrenagem
avassaladora de forças subterrâneas poderosas e perigosas. Não
custa, entretanto, humanizar
essas relações mercadológicas de
molde a tornar a vida
dos jogadores, dos torcedores e
do esporte em si
menos mercantilista e mais amante
da verdadeira essência do esporte, que é proporcionar alegria
e prazer de ver no esporte um meio influente de aproximar indivíduos da mesma nação ou
de nações diferentes em clima de paz e
contentamento.
Estas
reflexões faço agora ao final da Copa
no país. Nossa Seleção nos decepcionou. Temos culpados? Sim, temos. Devemos reestruturar
nossa Seleção? Sem dúvida. Desde o técnico escolhido até o treinamento dos jogadores convocados para compor o time
brasileiro há que se fazer uma
avaliação isenta e criteriosa.
O
futebol brasileiro precisa de repensar toda a sua estrutura. O legado do nosso passado no país do futebol não pode
ser esquecido e é com esse
legado que se há de reconquistar um nível
de qualidade de nossos
jogadores de Copa. Preparemos
primeiro os jogadores tendo em vista alguns requisitos básicos, ainda que na visão de um simples leigo na matéria: 1) talento
genuíno; 2) alto desempenho do jogador no país; 3) renome conquistado nos estádios; 3) disposição
e prazer de jogar em equipe, sem
estrelismos.
Finalmente, um recado para os responsáveis pela escolha de nossos técnicos: nossos técnicos têm que ser pessoas que saibam ouvir a voz dos torcedores brasileiros, dos especialistasem futebol. Um técnico não
pode ser autoritário. Ele tem que se
humilde e ouvir a voz do povo. Um técnico que não sabe ouvir vozes discordantes de sua atuação só pode levar
ao vexame que acabamos de sofrer no jogo
com a Alemanha.
Finalmente, um recado para os responsáveis pela escolha de nossos técnicos: nossos técnicos têm que ser pessoas que saibam ouvir a voz dos torcedores brasileiros, dos especialistas
Nenhum comentário:
Postar um comentário