domingo, 13 de julho de 2014

Quando o choro não consola




                                                     Cunha e Silva Filho



                  A Copa Mundial  de Futebol de 2014 acabou há pouco no Maracanã. Para os alemães foi uma apoteose. Os argentinos, à frente  Messi,   grande craque da Seleção argentina, jogaram  bem  e duramente. Foram  intrépidos,   fizeram tudo  o que  podiam   mas não  levantaram a tão  almejada  Taça, que, agora,  pertence à Alemanha até 2018.
Não vi o jogo do final do campeonato mundial  dentro  do Maracanã, esse magnífico estádio famoso mundialmente.. Estava em casa,  assistindo atentamente à partida   decisiva.
Já desde a manhã,  pelas ruas    principais  da Tijuca,  tropas da Polícia Militar  se  colocavam  estrategicamente,  fortemente armadas,  sobretudo  na  Praça Saens  Peña, coração do bairro. Quem saiu para comprar  alguma coisa  no   supermercado, pôde  verificar   a exibição de forças de segurança. Soube, mais tarde,  que na Praça Saens Peña, ia haver uma manifestação  de pessoas contra a Copa. À noite, na internet,  me informam que o número de  manifestantes   chegara a  400. No entorno do Maracanã  as ruas estavam todas  bloqueadas. Os jornais  informam que houve  tentativa  de  manifestação    perto do Maracanã, mas  os militares  dispersaram   o grupo energicamente, usando  bombas de efeito moral,  gás lacrimogêneo e tiros de paintball. Não preciso dizer que, mais uma vez,  no Rio de Janeiro,  a Polícia Militar  agiu  com truculência  com  um saldo de feridos e alguns presos.
Fico a imaginar: o estado  do Rio de Janeiro  tem condições de dar segurança  ao povo,. Entretanto,  não o faz  no dia-a-dia  da  população. O aparato  do Estado  Brasileiro foi  feito para atender aos maiorais,  nacionais ou  aos Chefes de Estado.Ah, se tudo isso fosse  dispensável, quer dizer,   se não houvesse essa  humanidade bárbara e violenta,  e todos  pudéssemos nos dar as mãos  sem  medo nem  desconfianças  num estado  deplorável de ver  inimigos em toda a parte do mundo e prontos a  aniquilar   dignitários   e o  povo   sem proteção. Sobre as cabeças  dos  homens   comuns  aos   dirigentes das nações  paira  uma grande  espada  de Dâmocles. Instaurou-se mais hoje do que no passado, em escala   planetária,   um clima de paranoia, a ameaça do inimigo  oculto que pode  surgir  de qualquer lugar  a fim de  destruir gente  importante ou mesmo  um cidadão  anônimo, mais aquela do que este.Todos desconfiam de   todos e, assim, a vida  em sociedade se vai   esgarçando,  perdendo  aquele estado   de tranquilidade e bem-estar,  de paz  e de alegria de viver.
Escrevo, agora, esta crônica, em meio ao barulho ensurdecedor dos  helicópteros  do Exército   levando, além de militares,  as autoridades nacionais e internacionais  que  compareceram   ao  Jogo Final do Campeonato  Mundial de Futebol. Os helicópteros  pousaram  e decolaram  no campo de esportes do Colégio Militar do Rio de Janeiro, na Tijuca, pertinho do  Maracanã e  de minha rua. Da TV pude ver  Ângela Merkel,  Putin, o Presidente da África do Sul,  a Presidente Dilma que recebeu algumas  vaias  e xingamentos de alguns  grupos   presentes  nas  arquibancada – gesto que reprovo  porque  não é assim que   devemos  tratar  um Presidente da República. Ainda  acredito que  o maior protesto de um  povo  que  não aceita  um governante  é  destituí-lo  pelo voto. Só o voto, em eleições  limpas, pode mudar  uma situação   política pela raiz.  Dizer  palavrões contra  um governante  é ato  de  incivilidade. Não serve para nada esse tipo de  falta de respeito.
Todos os erros do presente   governo  federal podem ser   denunciados   em manifestações  pacíficas, sem violência nem xingamentos. Nenhum aparato   policial pode fazer frente  a um clima pacífico de  cidadãos  brasileiros. Se o Brasil  tivesse um  povo  unido nas suas mais justas   reivindicações – e são muitas  e urgentes  -, poder-se-ia  alterar substancialmente  o quadro  de corrupção e de injustiças  sociais crônicas  em vários  setores  da  vida pública e privada. Porém, para isso – repito -  cumpre  que a nossa sociedade  seja mais  unida, solidária e honesta.
Voltemos  ao tema inicial de nossa crônica: o futebol. Já se  discutiu muito   a importância de um  esporte como  o futebol e dessa  importância  devemos extrair  um potencial que possa  ser canalizado  para   fortalecer as forças  solidárias  que  devem  orientar   nossos sentimentos de brasilidade,   de  amor  devotado ao nosso  país, de desejos  de que  a nossa sociedade  modifique  as suas tendências  de individualismo.
Querer  viver  numa redoma  de egoísmo  consumista, de desejar tudo em excesso e esquecendo  os irmãos da mesma pátria, como costumo    exprimir  o meu sentimentos de  repúdio às guerras fratricidas  do passado e do presente, é  uma forma  insana de  perpetuar   um status quo    indefensável  diante da dor alheia,  da  miséria , da  fome e da indiferença  pelo  outro.
Um volta aos velhos  hábitos de um  futebol  natural  praticado  sob a forma de fair  play, de torcidas  sem  traços   selvagens  de fanatismo é já um via  certa para  reformular  a convivência  entre as pessoas  de um  mesmo  país ou entre países. Dignificar  o esporte em geral é um passo  bem  dado em direção  a formas de sociabilidades   saudáveis.
Não queiramos  ser  sempre e teimosamente   nostálgicos. Contudo,  quem há de discordar  deste  cronista   que, no tempo de Pelé, de Garrincha, de Nilton Santos,  o futebol  não era mais  feliz e mais  espontâneo do que o de   agora? Do jogar pelo prazer de jogar sem  o canto de sereia  da indústria  lucrativa em que se transformaram os  esportes,  sobretudo  o  futebol, há uma  grande  distância. É justo que  jogadores sejam  bem pagos.
 No entanto,  não é justo que  o capitalismo    faça do  futebol  uma atividade exageradamente   rendosa para poucos. Ou seja, um negócio   envolvendo  clubes,  federações,   organismos   internacionais   que  dirigem   os esportes com  o pensamento de, antes  de tudo e acima de tudo,  gerar  altíssimos  lucros a ponto de  um  jogador de talento  primeiro  pensar  em ser  milionário e, em seguida,   em ser   um grande jogador,  por exemplo,  precisa  é  de talentos, não de   jogadores   que  só  visam  ao  enriquecimento.
Sei que remar contra a  corrente da  “filosofia” dos cartolas  e do big business nacional e  internacional é tentar   lutar contra  moinhos de vento, contra a engrenagem  avassaladora  de forças   subterrâneas poderosas e perigosas. Não custa,  entretanto,   humanizar  essas relações  mercadológicas de molde a  tornar   a vida  dos jogadores, dos torcedores  e do  esporte  em si  menos mercantilista e mais  amante da verdadeira   essência  do esporte, que é   proporcionar   alegria  e prazer  de ver  no esporte um meio influente  de aproximar   indivíduos da mesma  nação  ou de nações diferentes  em clima de  paz  e contentamento.
Estas reflexões   faço agora ao final da Copa no  país. Nossa Seleção  nos decepcionou. Temos culpados? Sim,  temos. Devemos   reestruturar  nossa Seleção? Sem dúvida. Desde o técnico  escolhido até o treinamento  dos jogadores convocados para compor  o time  brasileiro há que se fazer uma  avaliação isenta e criteriosa.
O futebol  brasileiro precisa  de  repensar toda a sua  estrutura. O legado  do nosso passado no país do futebol não pode ser  esquecido e é com  esse  legado que se há de  reconquistar   um nível  de qualidade de nossos   jogadores   de Copa. Preparemos primeiro  os jogadores  tendo em vista   alguns requisitos   básicos, ainda que na visão de um simples  leigo na matéria: 1)    talento  genuíno; 2)  alto desempenho do jogador no país; 3)  renome conquistado nos estádios; 3)  disposição  e prazer de jogar  em equipe, sem estrelismos.
 Finalmente, um recado  para  os responsáveis  pela escolha de nossos  técnicos: nossos  técnicos  têm que  ser   pessoas  que saibam  ouvir  a voz  dos  torcedores   brasileiros,  dos  especialistas  em  futebol. Um técnico não pode ser  autoritário. Ele tem que se humilde e ouvir  a voz  do povo. Um técnico   que não sabe ouvir  vozes discordantes  de sua atuação  só pode levar  ao vexame que acabamos de sofrer no jogo  com a Alemanha.



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