Cunha
e Silva Filho
Enquanto as nossas autoridades constituídas, nos vários poderes, nas várias
instâncias de decisões efetivas e legais não
transformarem os gritos das ruas,
principalmente, no Rio de Janeiro e em São Paulo , em ações concretas, em mudanças visíveis de políticas públicas e sem tergiversações, o país
se vai tornando insuportável para
quem vive nas nossas grandes cidades.
Pipocam, aqui e ali, passeatas de diversas categorias profissionais, exigindo o mínimo de decência dos governantes.
A sociedade
civil, sobretudo através das vozes da juventude, está
determinada a dar um
ultimato aos políticos sobretudo ante o
estado de desconcerto
geral e de desmoralização no
trato da coisa pública. O povo não mais
acredita nos políticos e a porcentagem de
desaprovação praticamente
atinge 100% se fosse feita uma
enquete correta e
digna de crédito.
Não se confia mais
na governança das autoridades após tantos anos de crescente deterioração de nossas instituições.Se tivéssemos a
possibilidade de ouvirmos as conversas
nos lares brasileiros, na
intimidade das famílias, dos amigos, do
colegas de trabalho ver-se-ia facilmente o quanto
há de indignação no coração dos
nosso compatriotas diante de tudo que anda
errado no país. Chegou-se a uma
exaustão, ao limite
além do qual só
divisamos mais protestos
e senti mento de revolta
contra as instituições políticas, completamente desacreditadas no seio da população brasileira.
O quadro
político-institucional nada tem de
alvissareiro. Muito ao contrário. Durante algum tempo, acreditava-se que, se mudássemos os políticos
velhos por políticos jovens, a política brasileira melhoraria já que se presume que os moços
trazem novas ideias, limpas da lama
suja de políticos
meramente profissionais. Qual
nada, o
país tem conhecido novos
quadros de políticos e estes não se
mostraram em geral diferentes
dos mais velhos. Uma outra
agravante: os jovens bem
intencionados nada podem fazer
sozinhos e, de certa
forma, entram no jogo dos interesses pessoais, das mordomias, dos altos salários, da vaidade
e são cooptados pelo desmando e
pela falta de ética dos
desonestos. E essa ciranda
de práticas de malandragem política
contamina a todos. O jovem
político, vendo que nada pode
realizar sozinho, acomoda-se e passa a atuar
como figurante, sem peso nas
decisões dos líderes de plantão, indo
de roldão no vendaval da falta
de espírito público
dos que sabem maquinar o jogo
político com seus instrumentos
maquiavélicos.
Dessa
maneira, a falta de ética
toma conta de todos os espaços da prática
política, ou seja,
instaura-se o reinado da carnavalização das
atitudes, dos
comportamentos, das ações e das decisões tomadas
contra os reais interesses do povo no que respeita a vitais setores da
vida social: a educação, a saúde,
o transporte, a segurança.
Bastaria tudo isso
ser moralizado para o bem público que os
gritos pouco a pouco iriam
se abaixando até o silêncio que conduziria à normalidade da sociedade.
A
gritaria do povo imperiosamente tem
que ser levada em conta antes que seja tarde demais para a
manutenção dos princípios democráticos. Se os governantes teimarem em
suas posições arbitrárias,
autoritárias e sem ouvir as multidões, o país
sofrerá consequências imprevisíveis. Ora, se os
eleitores colocaram no poder
governantes ou seus representantes municipais,
estaduais e federais, cabe a
estes se submeterem à decisão popular, i.e., renunciarem
aos seus cargos ou mandatos. Somente assim se livrarão
da ira dos indignados e dos oprimidos.
Simplificadamente, esta é a realidade de um país
no qual a máquina do Estado vai mal praticamente em
quase todos os setores da sua estrutura. Se existe uma
massa ignorante de pessoas
que não acordaram para
estes desafios, o país, na maior
parte de seu todo, está descontente,
lesado em seus direitos
inalienáveis de cidadania, de prestação
de serviços, de viverem uma
vida mais humana, mais verdadeira, a salvo
das carências naqueles setores
vitais já citados.
A
normalidade do país está
nas mãos dos políticos e da
liderança máxima, que é a figura da Presidente da República. A única arma do povo
está nos seus protestos sem
vandalismos, mas na sua firmeza
de posições contra os desmandos políticos, a corrupção, a impunidade, a violência nas ruas ceifando
inocentes de todas as classes sociais.
A normalidade está nas mãos daqueles
que devem entregar seus cargos por incompetência, por desídia e malversações do erário
público.
O que o
brasileiro está exigindo dos que detêm os atuais mandatos políticos não é nada fora da realidade: é apenas o
direito de o cidadão dispor
do destino de seu voto.
Reconhecer esta circunstância por parte
dos governantes é mais digno
do que continuar no
poder sendo execrados pela coletividade. A maior
derrota de um político
é ser odiado por seu
povo.
A situação de
flagrante quebra de autoridade, a vivida atualmente pelo governo do Rio de Janeiro, cujo governante exibe o mais baixo
índice de aceitação dentre os
governadores do país e, na minha
opinião, o governante que mais
causou rejeição da população em
toda a história política do Estado do Rio de Janeiro, exige que Sérgio Cabral tome uma decisão séria: a de
renunciar ao cargo para o bem e
a manutenção da ordem e
paz do povo fluminense. Para ele, não há mais espaço político
e creio que ele mesmo também tenha a consciência de que esse lhe é o melhor caminho a seguir.
É óbvio
que, ao renunciar ao cargo, ele
não está imune às acusações que
pesam sobre a sua
administração.Os malfeitos de um
político não podem ficar
incólumes.E o mesmo se diria de
um prefeito, de um vereador,
de um deputado e de um
Presidente da República. Atendam ao
povo, se quiserem uma nação
unida, feliz e pacífica.
O nível de
amadurecimento de nosso povo
parece estar mudando e, se esta melhoria
de consciência política se
mantiver, seguramente em pouco tempo, teremos
um país na realidade democrático
para valer, não tipos de
democracias “relativas” ou democracias
“mascaradas “ praticando ações atrabiliárias usando
a força policial para
espancar professores, estudantes,
trabalhadores, cidadãos brasileiros, alimentando a rebeldia do
povo contra policiais truculentos e despreparados. Não é
lançando gás lacrimogêneo, tiros de borracha ou outros instrumentos de selvageria em país que se diz
democrático que os governantes
resolverão os protestos do povo.
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